A complexa alavancagem da tecnologia IoT no Brasil

A tecnologia de IoT é compreendida e acessível, literalmente, por todos. Desde crianças desenvolvendo robôs até a grande indústria implantando automação extrema. Existem pontos a melhorar, tais como segurança e definição de protocolos para diferentes setores econômicos para atender suas características de negócios. Tecnicamente, a evolução da tecnologia deve seguir seu caminho, assim tantas outras. Entretanto, o maior desafio é a implantação do negócio de IoT, que envolve vários fatores, como: regulamentação, infraestrutura, capacidade de absorção da tecnologia pelas empresas e pelo mercado consumidor. Para avaliar o impacto na economia e desenvolver o planejamento das ações é necessário conhecer o tamanho do mercado. Para isso, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, o BNDES e entidades privadas pesquisam e fazem projeções de mercado. O desenvolvimento de um ecossistema de IoT é complexo, pois envolve aspectos de infraestrutura e um forte jogo de interesses das empresas e do governo, tanto nos aspectos fiscais e regulatórios, entre outros.

O primeiro desafio é projetar o mercado futuro utilizando apenas os modelos de negócios atuais, sem considerar inovações disruptivas que podem alterar, significativamente, as projeções. Por exemplo, como prever um novo serviço de troca de mensagens como o WhatsApp, que destruiu o negócio de chamadas telefônicas entre celulares e aumentou o trafego de dados na Internet móvel. Um aumento exponencial de trafego de Internet móvel, fundamental para a tecnologia IoT, exigirá maiores investimentos para a ampliação da infraestrutura das operadoras atuais ou a degradação da qualidade dos serviços.

No momento existe uma disputa de opiniões entre a Anatel e o Tribunal de Contas da União sobre o destino das multas aplicadas as operadoras por não terem atingidos as metas de qualidade de serviço. A Anatel defende a conversão da multa em investimentos para a melhoria da qualidade dos serviços e o TCU exige o pagamento das multas, fazendo cumprir os contratos das empresas autorizadas a operarem os serviços.

A questão da conectividade é, extremamente, crítica para a expansão das aplicações de IoT. Por exemplo, é necessário usar uma frequência de onda que consiga captar os sinais de sensores instalados em garagens subterrâneas para controlar o fluxo de veículos. Hoje, quando entramos em um elevador o sinal do celular cai. A ampliação da cobertura, eliminando as áreas escuras nas cidades e falta de sinais em algumas estradas, é fundamental para aplicações de rastreamento de cargas, por exemplo.

Felizmente, entre 70-80% das aplicações de IoT, pelo menos as conhecidas hoje, requerem baixo de trafego de dados com mensagens curtas. Isto mitiga altos investimentos em infraestruturas e podem operar em bandas de frequências mais estreitas. Para a implementação de outros serviços, como carros autônomos, é recomendado o uso de tecnologia 5G, devido a sua baixa latência de transmissão. No Brasil, o 5G deve começar a ser implantada a partir de 2020.

Um assunto que está em discussão no meio regulatório é se uma empresa que presta serviço de IoT e usa uma rede de transmissão, pode vender o serviço sem ter uma autorização para explorar serviços de dados. Por exemplo, a empresa que instala um rastreador de cargas e contrata o serviço de transmissão de dados de uma operadora autorizada pela Anatel, ela pode ou não vender o serviço, uma vez que proibido revender serviços de telecomunicações por empresas que não são autorizadas pela Anatel.

Outro ponto é a questão de privacidade de dados. Um dos pontos mais atraentes das tecnologias de IoT é monitorar ambientes e prestar serviços para as pessoas. Na prestação de serviços que envolve dados pessoais, existe cada vez mais restrições para uso destas informações para desenvolver novas oportunidades de negócios. Existem pelo menos três projetos de lei no Congresso que irão restringir ainda mais o uso dos dados, para proteger a privacidade das pessoas.

Uma questão jurídica que se coloca é sobre de quem é a responsabilidade quando uma máquina, toma uma decisão errada ou um serviço falha e fere, ou até mesmo mata, uma pessoa. Imagine a situação que uma pessoa contrata um serviço médico para monitoração de seus sinais vitais, com acionamento automático para um hospital quando detecta um problema de saúde. Em algum momento crítico, o sinal de dados da operadora falha e a pessoa morre por falta de assistência. De quem é a responsabilidade?

A alavancagem do potencial econômico da tecnologia IoT no Brasil depende do que se chama de “capacidade nacional de absorção”, que mede a capacidade de integrar inovação de ruptura. A CNA envolve: o conjunto de recursos disponíveis para as empresas realizarem suas operações; massa crítica para a tecnologia se propagar além dos mercados de nicho; mudanças mais amplas no comportamento de empresas, consumidores e sociedade; e, a capacidade da tecnologia produzir inovação e desenvolvimento autossustentáveis.

Infelizmente, o Brasil tem grandes desafios a vencer para atingir índices de CNA necessários para alavancar novas tecnologias, incluindo a IoT. Temos escassez de mão de obra especializada, nossa infraestrutura é ruim, incluindo telecomunicações, e a nossa baixa participação no mercado global de manufaturados e serviços.

Uma solução é buscar apoio efetivo das Universidades que contam com mão de obra altamente especializada de professores e pesquisadores, direcionar verbas de P&D para o desenvolvimento da IoT e selecionar um setor para investir os recursos com o objetivo de criar soluções inovadoras e disruptivas.

O setor industrial enfrenta, globalmente, o desafio de transformação da manufatura tradicional para a Industria 4.0, considerada a quarta revolução industrial. Aqui está uma oportunidade para reerguer a indústria nacional com novas tecnologias e alavancar a utilização de IoT.

Resumindo, a tecnologia IoT abre mais uma oportunidade de crescimento do PIB nacional e criação de empregos de qualidade. Embora os desafios sejam grandes, temos condições de vencer os obstáculos com a colaboração do governo, indústria, universidades, bancos de desenvolvimento e sociedade em geral.