Energia assume alto nível de risco em análises de continuidade dos negócios

Após um aumento médio de 45,98% na conta de energia da indústria e uma alta prevista entre 5% e 10% (mesmos com a queda das bandeiras tarifárias), muitas empresas estão reavaliando seus negócios. Sem a mão do governo o aumento poderia ser de 12% a 15%, mas como conhecemos a história de muito intervencionismo do governo essa conta virá mais cedo ou mais tarde. Entretanto, existem outros fatores que as empresas devem se preocupar e desenvolver planos de contingência para o fornecimento de energia, entre eles ataques cibernéticos a rede pública de transmissão e distribuição de energia e as mudanças climáticas.

Ações de eficiência energética são fundamentais para garantir o uso racional de energia, incluindo renovação do parque de máquinas instalado por equipamentos mais eficientes, a troca da iluminação convencional por lâmpadas LED, revisão periódica do sistema de ar condicionado e ações administrativas e educacionais contra o desperdício de energia.

Veja o caso da operadora de telecomunicações Oi. Ela gastou R$1,1 bilhão em energia em 2015, o equivalente ao consumo de 750.000 residências. Diante desse fato, eles estão construindo um parque solar com investimento de R$1 bilhão para atender cerca de 15% da energia consumida.

Outra medida para reduzir os custos é a migração para o mercado livre de energia, onde atualmente os preços por MW estão na faixa de R$30,25 nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

Combinando ações de autoprodução de energia, eficiência energética e mercado livre é possível reduzir os custos de energia no curto e médio prazo.

Uma questão polêmica é se teremos energia disponível para garantir o crescimento da economia brasileira a partir de 2018-19. O setor elétrico está relativamente tranquilo porque a recessão econômica reduziu o consumo de energia pela redução da atividade econômica e pelo controle da demanda dos consumidores devido aos altos custos de energia. Muitas concessionárias de energia estão se recapitalizando depois do desastre da MP 579/2013, transformada na Lei nº 12.783, que criou novas regras para a renovação das concessões de geração e transmissão de energia. A Aneel, está realizando novos leilões de energia para aumentar a capacidade de geração, muitos deles para energia fotovoltaica e eólica. Existe uma disposição do governo para explorar o gás de xisto (shale gas) que tem custos menores que o gás natural, porém tem enfrentado forte resistência das comunidades onde se encontram nossas reservas, devido ao alto risco de vazamento e contaminação dos rios e lençóis freáticos. Por outro lado, precisamos de energia de base que garanta o fornecimento contínuo de energia, fato que não ocorre com as energias fotovoltaicas e eólicas devido as variações bruscas do vento e da irradiação solar (nuvens, por exemplo).

Outro desafio é enfrentar as mudanças climáticas. Estamos presenciando a cada dia eventos extremos do clima, em Porto Alegre um forte temporal deixou mais de 250 residências sem energia por várias horas. O Sistema de Vigilância Meteorológica de Porto Alegre informou que foi uma tempestade incomum pela violência e longa duração (quase uma hora), uma das mais intensas das últimas décadas.

Um evento desses que interditou várias ruas e avenidas mostra que a logística de distribuição de alimentos, combustíveis e encomendas pode ser dramaticamente afetada. Isso significa que aquele grupo gerador a diesel adquirido para emergência pode ter tempo limitado de funcionamento.

Outro evento extremo que presenciamos foi a longa estiagem na região Sudeste que afetou os níveis dos principais reservatórios de água que abastecem as grandes cidades e as usinas hidrelétricas. O resultado foi a falta de água em várias regiões e o aumento brutal do custo da energia pelo acionamento das usinas termelétricas, somado com a baixa adesão das geradoras as novas regras de concessão, o mercado spot de energia chegou a R$822,83/MW. O mercado spot é a energia disponível comprada para atender a demandas extras fora dos contratos entre as geradoras e distribuidoras de energia.

A região Sudeste é fértil por uma combinação de fatores que mostra que Deus é brasileiro. Graças as correntes úmidas que vêm da região amazônica e a Mata Atlântica temos uma área produtiva que permite uma agricultura forte e chuvas regulares para manter o abastecimento de água de reserva. Diferente de outras regiões na mesma longitude, onde encontramos regiões desérticas, como o deserto do Atacama no Chile, o deserto do Kalahari na África do Sul e o deserto australiano. A má notícia é o desmatamento da região amazônica e da Mata Atlântica, onde a ação do homem está destruindo nosso bioma.

Os mais pessimistas preveem que a nossa região Sudeste pode voltar a ser desértica como no período entre os anos 1.000 e 1.300, segundo estudos geomorfológicos. Imagine as consequências para uma cidade como São Paulo ficar no meio de um deserto com altas temperaturas e sem água. Muitos deixarão a cidade e a economia colapsará. Como parte da cidade de Santos estará inundada pelo aumento do nível do mar devido ao degelo das calotas polares, a opção será ir para o interior.

Como se não bastasse ainda temos o risco de ataques cibernéticos ao sistema elétrico. Na busca de eficiência de operação e redução de custos, o sistema elétrico está se digitalizando e, consequentemente, assumindo os riscos inerentes a tecnologia da informação. Se há 40 anos atrás já era possível construir sistemas de rádio com esquemáticos da revista Eletrônica Popular e do curso por correspondência do Instituto Universal Brasileiro para transmitir música no horário da Hora do Brasil na mesma frequência de uma rádio popular, imagine hoje com toda a informação disponível na Internet e o poder computacional da AWS (Amazon Web Services) para quebrar senhas fortes.

As concessionárias de distribuição de energia estão construindo suas próprias redes de comunicação para suporte os novos serviços de redes inteligentes, o Smart Grid. Isso porque não confiam no serviço das atuais operadoras de telecomunicações. Com razão, uma vez que os níveis de serviços não são bons. Segundo a Anatel, a média de atingimento dos 14 indicadores de qualidade dos serviços da Resolução nº 575/2011 é de apenas 68,1% para telefonia móvel e de 70,4% da telefonia fixa (1T2015). Obviamente, não é possível apoiar um sistema de missão crítica para acionamento de equipamentos de proteção com esses níveis de serviço.

Cada concessionária de distribuição de energia está adotando, ou testando como elas afirmam para usar os 0,25% do fundo obrigatório de P&D da Aneel, em sistemas de comunicação próprios, muitas utilizando o sistema de comunicação com nós de rádio organizados em uma topologia mesh, ou seja, os roteadores e gateways se comunicam uns com os outros através dos rádios, usando protocolos 802.11, 802.15 ou 802.16.

Como sabemos não existem sistemas totalmente seguros. Os sistemas de topologia mesh apresentam vulnerabilidades nos protocolos de roteamento, no controle de acessos e autenticações, ameaças na segurança física e na detecção de intrusões.

O grande desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre as camadas de proteção, como senhas fortes e criptografia, e garantir o tempo de resposta mínimo para acionamento de um dispositivo de proteção do sistema elétrico. Os equipamentos mais antigos não possuem capacidade de processamento para adotar procedimentos mais seguros sem comprometer o tempo de resposta. Imagine o envio de um comando para abrir um seccionador de energia e ele demorar para executar a ação, como as vezes acontece no nosso smartphone. Esse mesmo problema pode ocorrer se algum hacker estiver atacando o sistema. Isso poderá gerar um apagão de energia (blackout).

Como vimos nossas empresas estão a mercê de um potencial problema de continuidade de negócios. O que fazer para assumir o controle ou pelo mesmo parte dele? Distribuindo a operação da empresa e adotando programas de eficiência energética e autoprodução de energia.

Se sua empresa não tem uma cultura de inovação e um planejamento de longo prazo você não precisa se preocupar com isso, pois sua empresa deixará de existir antes da falta de energia e das mudanças climáticas.

Se pretende fazer sua empresa durar, você precisa redefinir seu planejamento fazendo análises de risco considerando o fornecimento de energia e as mudanças climáticas. Busque alternativas de autoprodução de energia e locais onde a energia é mais barata. A Honda investiu R$100 milhões em um parque eólico em Xangri-lá no Rio Grande do Sul para fornecer energia para sua fábrica em São Paulo. O governo do Paraguai está oferecendo a energia da sua parte de Itaipu muito mais barata que no Brasil. Avalie as simulações de clima para decidir onde instalar suas próximas fábricas. A empresas de seguro estão fazendo isso e podem oferecer valores menor de seguro em regiões de baixo risco. Se você exporta, avaliar se instalar em uma ZPE, Zona de Processamento de Exportação, e ganhar duplamente em benefícios fiscais e redução de riscos operacionais.