Não precisamos de crédito bancário, precisamos de bons negócios e menos intervenção na economia

Existe muita gente com dinheiro sem opções para investir no Brasil. Com certeza, aplicar dinheiro em bancos privados é um péssimo investimento. As pessoas com grandes fortunas estão perdendo dinheiro e ainda correndo o risco de aumento de impostos. Nossa bolsa de valores é frágil e restritiva para muitas empresas. No final de 2015 as 289 empresas com ações negociadas na bolsa valiam, juntas US$463,751 bilhões, menos que os US$528,448 bilhões do Google. Parece, e aqui no Brasil tudo parece, que a nova regulamentação de “equity crowdfunding” – sistema de financiamento coletivo para startups – está saindo do papel e deve facilitar a captação de fundos de apoio as novas empresas. O fato é que precisamos de bons negócios, liderados por empreendedores sérios e obstinados, para alavancar novos negócios, gerando mais riqueza e crescimento da economia brasileira. O governo (executivo e legislativo) tem um papel importante, que pode atrapalhar ou ajudar. Atrapalha se continuar a mudar as regras do jogo e legislando unilateralmente. Ajuda se criar mecanismos para simplificar o funcionamento das startups e reduzir os riscos de investidores individuais.

O sucesso de um negócio começa antes dele ser lançado e está ligado diretamente à rede de relacionamento do empreendedor e sua capacidade de identificar novas oportunidades no mercado.

O primeiro passo é identificar uma nova oportunidade de negócio, formata-la e testa-la na sua rede de relacionamento. Manter sua ideia em segredo com medo que alguém roube é uma visão equivocada. Colete feedbacks das pessoas e aperfeiçoe sua ideia. Monte um pitch e vá atrás de dinheiro. Evite ao máximo usar dinheiro próprio, compartilhe o risco.

O segundo passo é os empreendedores colocarem como última opção a busca de crédito bancários para seus negócios. Devem explorar outras opções através da sua rede de contatos, de associações de classe, comunidades locais e programas de incentivo do governo (sim, existem, mas pouco divulgados).

Uma boa opção é utilizar um sistema de financiamento coletivo para startups – equity crowdfunding – uma nova estrutura para a captação de recursos dentro do sistema de crowdfunding. O modelo usa sociedades de propósito específico (SPE) para investir nas statups. A SPE, também chamada de consórcio societário, é um tipo de personalidade jurídica, organizada na forma sociedade limitada ou anônima, constituída, para um determinado fim, com atuação limitada. Nesse modelo, os investidores fazem aportes por meio de campanhas online nos sites de equity crowdfunding adquirindo títulos de dívida conversíveis emitidos pela SPE. Isso beneficia tanto os investidores, reduzindo o risco de responsabilização que os sócios correm quando ocorrem problemas na empresa, como para os empreendedores que elimina o risco de pulverização de participantes, que inibe a captação de grandes investidores.

O terceiro passo é buscar colaboradores capacitados e alinhados com a visão do empreendedor e… trabalhar pra caramba!

O governo tem um papel importante na regulamentação do mercado. A crise econômica de 2008-09 foi, mais uma vez, gerada pela desregulamentação do mercado. Depois das políticas de incentivo dos governos dos países ricos usando o QE – Quantitive Easing – onde o Banco Central compra títulos, tais como títulos do governo, dos bancos e dinheiro eletrônico para aumentar o tamanho de suas reservas bancárias pela quantidade de ativos comprados (daí vem o nome quantative) para baixar os juros e estimular a economia, existe um receio que parte desse fluxo de caixa tenha sido utilizado de forma irresponsável. Isso pode gerar uma nova crise financeira.

Outro ponto que exige reflexão é como a economia mundial permite que apenas 62 pessoas tenham uma riqueza maior que 3,5 bilhões de pessoas pobres. Isso coloca a necessidade de uma revisão global do sistema financeiro e como melhorar a distribuição de renda. Aqui o papel da comunidade internacional é fundamental para criar um movimento de mudança, um país sozinho não consegue mudar devido ao forte vínculo do poder econômico com os políticos. Um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, onde o Brasil é signatário, tem o compromisso de corrigir essa distorção.

Entretanto, o governo não pode assumir a condução sozinho da economia e mudar as regras do jogo toda hora. O pior cenário econômico é aquele que muda sem aviso.

Continuo convencido que a única forma de sairmos da crise econômica e social é o empreendedorismo.