O desafio da TI na horizontalização das empresas

Conceitualmente, empresa é uma atividade econômica exercida por um empresário para a produção ou circulação de bens ou serviços através da orquestração de fatores produtivos. Por muito tempo para aumentar a produtividade e controles internos as empresas contratam trabalhadores organizados de forma hierárquica e burocrática para a produção de seus produtos e serviços. Durante muito tempo a falta de sistemas de informação integrados exigiam uma forte interatividade entre os funcionários e fornecedores, gerando uma grande quantidade de reuniões e comunicação de voz e e-mails. Neste contexto, formou-se o paradigma que uma empresa deve ter funcionários que planejam, executam e controlam os processos produtivos, ou seja, uma visão verticalizada. A terceirização é aceita neste contexto como atividade operacional complementar e uma maneira para reduzir o custo da mão de obra. Nas últimas décadas, as empresas implantaram sistemas de gestão integrados (ERP) para operar e controlar todas as etapas da sua operação dentro do paradigma da verticalização. Fenômenos como a globalização, Internet, novas tecnologias da informação (Big Data, IoT, inteligência artificial e outras) e a massificação da produção nos países asiáticos mudaram as regras do jogo, exigindo que as organizações trabalhem por eventos para acompanhar a dinâmica do mercado. Para atingir altos níveis de produtividade e competitividade, resultando em produtos e serviços de qualidade e preço baixo, as empresas deverão se horizontalizar e permitir arranjos organizacionais múltiplos. A orquestração dos fatores produtivos deverá extrapolar ainda mais os limites das empresas. Os sistemas de informação e as organizações de TI deverão acompanhar essa dinâmica de mercado e transformações dos negócios.

A rápida transformação do comportamento dos consumidores abrem e fecham janelas de oportunidades na mesma velocidade, essas janelas, ou eventos, devem ser tratados por especialistas para reestruturar ou criar novos produtos ou modelos de negócios para a empresa. Organizações estruturadas com base no modelo tayloriano têm fortes restrições para mudanças rápidas de produção. Obviamente, existem tipos de indústrias que trabalham com processos contínuos de produção que exigem o modelo tayloriano, como o processo de produção de leite pasteurizado. Entretanto, essa mesma indústria pode ter outros processos baseados em eventos para a produção de determinados tipos de queijo para acompanhar demandas de mercado. O exemplo mostra que as empresas para serem competitivas devem operar com arranjos organizacionais múltiplos.

Manter recursos internos aguardando janelas de oportunidades é inviável, tanto do ponto de vista econômico como técnico, porque não é possível prever os recursos necessários para atender a novas demandas dos consumidores. A empresa que se diferenciará no mercado é aquela que tem a capacidade de orquestrar os fatores produtivos de forma rápida e eficiente, incluindo sistemas de informações capazes de se integrar a outros sistemas para criar fluxos de informação de controle.

O modelo de organização por eventos pode chegar ao limite de criar empreendimentos apenas para atender demandas pontuais dos consumidores. Isso implica em criar sistemas de informações por tempo determinado configurados para integrar diferentes sistemas. Isso cria um novo desafio para as organizações de TI que terão que se organizar a partir de diferentes arranjos organizacionais, interagindo com sistemas de informação estrangeiros. Nessas organizações o responsável por TI terá o desafio de apenas orquestrar as informações de diferentes sistemas da cadeia de valor.

Na prática, as novas organizações que adotarem o modelo por evento contratarão serviços de BPO (Business Process Outsourcing) com mão de obra qualificada operando com as melhores práticas de mercado apoiadas por sistemas de informação próprios ou de mercado configurados para suas necessidades.

A grande diferença é que os BPOs contratados não se limitarão as atividades meio das empresas, mas também as atividades fins, quebrando os paradigmas das empresas tradicionais. Essa horizontalização das empresas, a principio não teria limites, salvo alguma restrição da legislação.

Os desafios para a TI são grandes para atender aos novos modelos de negócios baseados em eventos, mesmo porque os fornecedores de software não estão preparados para operarem dentro desse modelo. A melhor opção é redirecionar o desenvolvimento de sistemas e investimentos em software para operar dentro do conceito de múltiplos arranjos organizacionais.