Os desafios e oportunidades do crescimento sustentável brasileiro

Enfim uma sinalização sobre a economia brasileira. O ministro da Fazenda Joaquim Levy deu uma ótima notícia sobre as bases da economia para os próximos anos, em Davos no World Economic Forum. A direção é focar nos investimentos e estabilizar a transferência de renda através dos programas sociais. Ele mencionou a estratégia de formação de PPPs (Parcerias Público-Privadas) para atrair novos investimentos em infraestrutura. A operação Lava a Jato que investiga a corrupção na Petrobras deve conter a corrupção em outras áreas e melhorar o retorno dos investimentos no país. O desafio será transferir a mão de obra de setores da economia que perderam atratividade para os setores que investirão na infraestrutura.

Apesar do pessimismo em Davos, comparado com o ano passado, as ações mencionadas pelos governos devem surtir bons resultados no médio prazo. O programa QE europeu (Quantitative Easing), compra de ativos e títulos públicos, pelo EBC (European Central Bank) deve fomentar o crescimento econômico na Europa. A estabilização da economia americana e o anúncio do presidente Obama de um programa de distribuição de renda, incluindo US$320 bilhões de crédito estudantil e US$60 bilhões para colégios comunitários em 10 anos, deve criar novos mercados para produtos disruptivos de países emergentes. A afirmação do primeiro ministro chinês que o país deve crescer acima de 7% em 2015 deve manter as importações e exportações em níveis normais. A grande expectativa é que com a redução do preço do petróleo em 50% os países terão a oportunidade de reorganizar suas economias e criar um novo ciclo de crescimento.

Como afirmou o ministro Levy temos que arrumar a casa e nos prepararmos para acompanhar o novo ciclo de crescimento global. Infelizmente, se não fosse a corrupção colossal no país retardando o término das obras de infraestrutura para, através de aditivos contratuais, aumentar o faturamento e desvios de recursos, o Brasil estaria em condições de acompanhar o crescimento global e reduzir a distância social e econômica dos países desenvolvidos. Agora só nos resta captar dinheiro da iniciativa privada para concluir as obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e remunerar esses investimentos, aumentando os custos de produção e, esperançosamente, colocar os bandidos na cadeia.

Os desafios do Brasil são do seu tamanho:imenso e diversificado. Estamos sofrendo as conseqüências do descaso da sociedade que permitiu que empresas, governos e cidadãos corruptos se apropriassem de recursos da nação e mantivesse governantes incompetentes na gestão pública. A falta de combate efetivo do desmatamento da Amazonia está refletindo na forte estiagem nas regiões Sudeste e Cento-Sul. Essas regiões estão na faixa desértica do hemisfério sul e só são férteis devido a umidade vinda da região amazônica. O desmatamento e a fumaça das queimadas impedem a formação de chuva e antecipou em 15 anos a previsão da grande estiagem. O risco é tão grande de desertificação que pode acabar com o agronegócio e criar um êxodo da população para outras regiões, como segundo alguns estudos ocorreu entre os anos 1.000 e 1.300 que dizimou populações na região.

Infelizmente, a questão dos desmatamentos não é tão simples de se resolver. O Brasil tem a maior área cultivável do mundo e terá uma enorme responsabilidade para alimentar os mais de 9 bilhões de habitantes do planeta até 2050. Isso significa que cada metro quadrado de terra arável deve ser usada com máxima eficiência na produção de alimentos. Apesar de justos os movimentos pela reforma agrária, a agricultura e pecuária deve ser tratada como estratégia de Estado direcionando investimentos e regulamentando o setor para aumentar, significativamente, a produtividade no campo. Devem ser aplicados investimento pesados em agricultura de precisão, colocando a tecnologia a serviço da nação. Felizmente, temos a Embrapa que desenvolve avançados estudos e tecnologia para o campo com reputação internacional.

Exportar commodities reduz, consideravelmente, nossa capacidade de aumentar o superávit da nossa balança comercial. Empresas e governo devem investir na transformação da commodities em produtos industriais para exportação. As Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) devem ser incentivadas para focar na exportação e reduzir os tributos e burocracia interna. As áreas de serviços, incluindo tecnologia da informação, devem ser habilitadas para exportar serviços a partir das ZPE, fato que a legislação atual não permite.

Obviamente, para implementar qualquer plano de crescimento precisamos de mão de obra qualificada e ferramentas avançadas. Temos que coordenar a criação de cursos para atender as necessidades do mercado e orientar os jovens para as reais possibilidades de cada setor. As escolas técnicas e faculdades devem assumir a responsabilidade de formar profissionais que possam ingressar no mercado de trabalho habilitados, sem a necessidade de treinamento adicional pelas empresas ou de cursos de pós-graduação.

O período de retração e ajustes da economia brasileira está gerando uma massa de desempregados que precisam, rapidamente, retornar ao trabalho para não perderem a competitividade e criar um gap tecnológico. Sindicatos e governo devem promover treinamentos para novos postos de trabalho ajustando o perfil dos trabalhadores para as áreas com escassez de mão de obra.

Resumindo, temos desafios e oportunidades. Cabe a sociedade e seus governantes agirem de forma planejada e eficiente para colocar o Brasil no rumo do desenvolvimento sustentável.