Quais os motivos da baixa reputação de TI nas empresas?

Prazos longos e atrasos na entrega de projetos, estouro nos orçamentos e qualidade dos produtos são fatores que prejudicam a reputação da área de TI nas empresas e de empresas contratadas para desenvolvimento de projetos de sistemas. Mas afinal, falta competência dos profissionais de TI ou os recursos que a empresa oferece são limitados? Será que a desconfiança na área de TI é que reduz os orçamentos de TI? Porque, apesar de tanta tecnologia disponível e investimentos em treinamento a má percepção ainda persiste?

Discuto esse assunto nas minhas aulas de pós-graduação em governança de TI e os próprios alunos têm as respostas baseados nas suas experiências corporativas.

Difícil identificar a causa raiz do problema, pois a má reputação vem de uma sequência de fatos e atitudes comportamentais que desencadeiam outros problemas.

Vamos começar analisando como é feita a negociação de novos projetos. A experiência mostra que dos três expectativas de um projeto ideal só podemos atender a duas delas. As expectativas são: (1) qualidade do produto esperada; (2) entrega dentro do orçamento; e, (3) entrega dentro do cronograma prometido. Se as premissas do projeto é cumprir o orçamento e entregar no prazo, a expectativa de qualidade do produto deve ser reduzida. Se as premissas são a entrega com a qualidade esperada e dentro do cronograma prometido, haverá um possível estouro no orçamento.

As equipes que afirmam que cumprem as três premissas, provavelmente, não consideram alguns custos escondidos.  Por exemplo, definir um prazo com a entrega de todos os requisitos solicitados com um staff fixo alocado para o projeto, que definiria um custo fixo, pode esconder as horas extras feitas para compensar alterações de requisitos e desenvolver atividades não consideradas no cronograma inicial. As horas extras são custos adicionais que serão compensadas de alguma forma.

Estudos mostram que os programadores subestimam o tempo entre 20-30% das atividades e omitem cerca de 30-50% por acharem triviais. Outro estudo mostra que 75% dos programadores são introvertidos e que apenas 33% deles têm habilidades de negociação. Esse tipo de comportamento faz com que os gerentes das áreas de negócios ou vendedores de serviços de TI estabeleçam seus próprios prazos, orçamentos e requisitos sem questionamento por parte das equipes de TI.

A ausência de uma metodologia de desenvolvimento de sistemas e de métricas de desempenho e a falta de informações das lições aprendidas de outros projetos faz com que cada projeto comece do zero. Isso se agrava se as equipes de desenvolvimento são contratadas de fora da empresa de forma pontual.

A pressão por prazo é apontada como responsável por 40% dos erros de projeto, contribuindo para a baixa qualidade das entregas. Um programador pode entregar um programa para ser testado, mesmo sabendo que tem erros, para atender o prazo. Quando o programa retorna apontando os erros, o programador ganha novo prazo.

Entregar de qualquer jeito para atender o prazo pode gerar enormes impactos negativos nas operações da empresa. Se os testes individuais e integrados não foram realizados da forma correta, os problemas ocorrerão na produção, podendo comprometer de forma irreparável os dados da empresa.

Diante desses fatos entre outros, é compreensível a má percepção que as áreas de negócios têm da TI nas empresas.

O desafio é o que fazer para melhorar a reputação das áreas de TI nas empresas. A solução passa por implantar uma metodologia de desenvolvimento de sistemas com métricas e acompanhamento de resultados. Manter desenvolvedores treinados e com vivência no uso da metodologia e evitar altas taxas de turnover do pessoal. Desenvolver a habilidade de negociação dos desenvolvedores para acordar prazos e recursos compatíveis com os projetos. Trabalhar com total transparência com as áreas de negócio da empresa.