Autoprodução e Mercado Livre de Energia uma estratégia de continuidade de negócios

Imagine investir R$1,4 bilhões em uma nova fábrica e deixar de operar por falta de energia. Ainda, como enfrentar o desafio de reduzir as emissões de gases de efeito estufa diminuindo custos e aumentando a produtividade. A solução da Holcim, multinacional do setor de cimentos, foi contratar 55MW médios por R$700 milhões até 2022 da CEMIG no mercado livre para sua nova planta em Barroso em Minas Gerais. Já a Honda decidiu investir R$100 milhões em geração eólica de 95MW/ano no litoral do Rio Grande Sul para abastecer sua fábrica em Sumaré em São Paulo, deixando de emitir 2.2 milhões de toneladas de CO2 (redução de 30% das emissões) e reduzindo entre 40-45% dos gastos em energia. A Volkswagen, usando uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) está suprindo 18% da sua demanda de energia. Esses fatos seguem os visionários fundadores da Votorantim que implantaram usinas de geração de energia para consumo próprio desde sua fundação em 1918. Não há dúvidas que a autoprodução e compra de energia no mercado livre é uma excelente alternativa para garantir as operações das fábricas com redução de impactos no meio ambiente. Os projetos garantem energia no curto prazo e retorno do investimento no longo prazo.

As mudanças climáticas que o Brasil está experimentando coloca em discussão nossa matriz energética. Durante anos focamos na exploração dos nossos recursos hídricos e usinas operadas por combustíveis fósseis (óleo e gás). O uso de energia alternativa era inviabilizado por questões econômicas. Entretanto, com a mudança do cenário de geração e algumas decisões equivocadas da política energética as empresas devem assumir uma postura mais proativa para garantir a continuidade de seus negócios.

O mercado livre de energia sofreu um revés no final de 2013 com um malfadado decreto lei que forçou a revisão dos contratos de fornecimento de energia no país. Esse decreto lei gerou um desequilíbrio nas contas das distribuidoras, pressionou o aumento dos preços de energia e criou uma percepção de insegurança jurídica de contratos no país. A estiagem que acometeu as regiões Sul e Sudeste forçou o uso das termelétricas, mais cara que as hidrelétricas. Esses fatos, colocaram o país em uma séria crise energética.

O governo afirma que serão necessários investimentos de 2,6% do PIB para atender a demanda de consumo de energia até 2020. Essa expansão será apoiada por usinas hidrelétricas, eólicas e biomassa, que é o uso de matéria orgânica na geração de energia.

Como foi anunciado pelo futuro ministro da fazenda, Joaquim Levy, o Brasil fará um esforço para criar superávit nas contas públicas. As previsões são de forte controle nos próximos dois anos, ou seja, até 2016. Provavelmente, as ações serão a eliminação ou redução dos incentivos à indústria, aumento das taxas de juros e aumento de impostos. Isso forçará ações internas de redução de custos das empresas.

A queda do preço internacional do barril do petróleo em 30%, comercializado em torno de US$70, tem um lado positivo e outro negativo. Com a autossuficiência de petróleo dos Estados Unidos com a produção de energia a partir do gás de xisto, o preço cairá ainda mais.  O lado positivo é que, em teoria, o preço de geração de energia por termelétrica deve reduzir, viabilizando a construção de novas usinas poluidoras movidas a óleo. O lado negativo, além de ser energia suja, é que a Petrobrás, empresa com a maior dívida do planeta, não poderá reduzir o preço interno do petróleo sob o risco de insolvência e de perda da capacidade de investimento no pré-sal. Isso sem comentar as potenciais multas e indenizações a investidores internacionais, pelo menos, dos escândalos de corrupção que estão sob investigação.

O Brasil deve enfrentar outro desafio importante para a sua economia que é a queda de 10-30% dos preços médios das commodities de minério de ferro, soja e farelo de soja que representam quase 30% do total exportado pelo país, devido a superoferta internacional. Somado a isso, é prevista a saída de investidores de mercado futuro de matérias-primas em busca de outros ativos, como os dos títulos públicos dos Estado Unidos. Isso deve impactar diretamente nossa balança comercial, reduzindo nossa capacidade de investimento.

Esse cenário econômico e a previsão de crescimento oficial de 0,8% da economia brasileira para 2015, pode reduzir a capacidade de atrair investimentos para a construção de novas usinas geradoras de energia. Como evidência a essa afirmação, foi o fato que no último leilão de energia, realizado no dia 5/11 de energia existente, foram comercializados apenas lotes de 3 anos e nenhum lote de 5 anos, com o preço médio de R$197,09 por MWh, praticamente sem deságio. Esse fato, provavelmente, está associado as incertezas do futuro da economia e política do país, incluindo a falta de transparência dos números oficiais e insegurança jurídica dos contratos.

Nesse cenário de incertezas, a melhor forma de garantir o fornecimento de energia para as operações atuais e projetos futuros de expansão das empresas é a autoprodução ou compra de energia no mercado livre. As empresas devem considerar um eventual sobrepreço no custo da energia como um seguro para garantir a continuidade de seus negócios e como uma ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

Estou coordenando um grupo de usuários (GU) na SUCESU-SP, associação de usuários corporativos de TI, para discutir e apoiar a autoprodução e compra de energia no mercado para data centers, responsáveis por um grande consumo de energia nas empresas e emissor de gases do efeito estufa.

Veja mais detalhes em http://efagundes.com/inovacao/index.php/sustentabilidade/