Pare de reclamar e esperar a ajuda do governo. Aumente sua produtividade e lucre mais.

O empresariado brasileiro precisa resolver o problema da nossa baixa produtividade, ponto. Viver sob a tutela dos subsídios do governo não cria condições para saltos, significativos, de produtividade. Temos parar de reclamar e esperar a ajuda do governo. Podemos trabalhar em cinco áreas para melhorar nossa produtividade: educação; tecnologia e inovação; burocracia; infraestrutura; e, competição externa. Esse artigo explora os desafios e apresenta algumas ideias para debate.

A produtividade no trabalho (PT) é a medida econômica que mede a produção de cada trabalhador por hora. A medida para um país é a divisão do PIB pelos trabalhadores ocupados ou o total de horas trabalhadas, considerando as horas extras. Nas empresas, é a divisão da produção total pelo número de horas/homem, incluindo não apenas as horas dedicadas ao processo de manufatura, mas os processos de gerenciamento e supervisão.

Segundo a entidade Conference Board que pesquisa a produtividade nos países, em 2013, o Brasil teve a menor entre os países latino americanos. Nesse período, a média brasileira foi de US$10,8, enquanto o Chile foi de US$20,8, México de US$16,8 e a Argentina de US$13,9.

A mesma entidade mostrou que em 2013 nossa produtividade cresceu apenas 0,8%, ante a um declínio de 0,4% em 2012. Como comparação, a China em 2013 teve um aumento de 7,1%.

A educação é um fator importante para o aumento da produtividade. Países como a Coreia do Sul que investiram em educação décadas atrás obtiveram aumentos significativos de produtividade e, consequentemente, crescimento econômico. Uma das razões para a educação não contribuir com o aumento da produtividade é a falta de alinhamento entre o currículo escolar e as necessidades do mercado.

O ensino técnico é importante para melhorar a produtividade. Entidades como o SENAI e o programa de PRONATEC contribuem no esforço de melhorar a produtividade. O FIES, financiamento estudantil, facilita o acesso dos estudantes a Universidade.

Aumentamos em dois anos do nível de escolaridade dos trabalhadores nos últimos anos, segundo o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), entretanto, esse fato pouco afetou na melhoria da produtividade. Um fator que prejudica o desempenho dos estudantes é o fato que, segundo o Instituto Paulo Monteiro, cerca de 40% dos nossos estudantes universitários são analfabetos funcionais.

Na área de tecnologia e inovação temos outro desafio. Isentar as altas taxas de importação de equipamentos só se não existir um similar nacional com a mesma função, mesmo que este use tecnologia ultrapassada. Embora essa medida proteja a indústria nacional, prejudica nossa produtividade se as empresas locais de equipamentos não investirem em pesquisa e desenvolvimento e ficarem com tecnologias obsoletas. Ou seja, importar equipamentos avançados pode ser inviabilizado pelos custos de importação.

O governo incentiva a inovação através da Lei do Bem, que oferece subsídios fiscais para investimentos em inovação. O FINEP oferece subvenção para empresas que contratem pesquisadores (doutores e mestres) para projetos de inovação. Existem vários programas federais e estaduais de incentivo a inovação, alguns a fundo perdido, como o Programa de P&D do setor elétrico que destina 0,25% da receita liquida das concessionárias para projetos de pesquisa.

Apesar dos incentivos, segundo o escritório Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello, especializado em propriedade intelectual, o Brasil fez 215 registros de patentes nos Estados Unidos em 2011, contra 3.174 da China, 1.234 da Índia e 298 da Rússia.

O excesso de burocracia no Brasil é crônico. As empresas têm que manter um contingente de pessoas na área administrativa para atender aos requisitos legais. A quantidade de impostos e o avanço do controle do governo sobre as contas das empresas exige a implantação de sistemas de informação que tem como único retorno de investimento o custo evitado de multas fiscais ou previdenciárias.

Nossa infraestrutura requer uma atenção à parte. Nossa malha ferroviária foi sucateada. Nossas rodovias quando boas, como no Estado de São Paulo, são caras devidos aos pedágios. Quando ruins, em sua maioria, deterioram os caminhões e ônibus exigindo mais manutenção, são perigosas e atrasam o escoamento da produção do agronegócio e de manufaturados, como os da Zona Franca de Manaus. Nossos portos estão esgotados. Apesar da nossa imensa costa marítima, temos poucos portos de grande capacidade para escoar nossa produção e importação de produtos e matéria prima. Os governos municipais priorizam obras de transporte público e automóveis interligando seus principais centros econômicos aos bairros residenciais. As empresas de taxis e motoristas independentes têm subsídios para a aquisição de carros, porém não tem subsídios para combustíveis e manutenção.

Os serviços de telecomunicações são caros e disponíveis com certa qualidade apenas nos grandes centros urbanos que trazem retorno de investimentos atrativos para as operadoras. Nossa produção e transmissão de energia é um fator que limita o desenvolvimento e a expansão da economia. Em 2014, o déficit das distribuidoras de energia deve fechar em cerca de R$60 bilhões devido a compra de energia mais cara das termelétricas e da impossibilidade de repasse dos preços para o consumidor por estratégia do governo. Esta dívida será paga pelos consumidores ao longo do tempo. Nosso saneamento básico, mesmo nos grandes centros urbanos, é precário.

Nossa competição externa é comprometida pela nossa baixa produtividade e supervalorização do Real. Além disso, o país tem poucos acordos bilaterais que incentivem o comercio e a transferência tecnologia. Incentivamos relações com países que oferecem pouco retorno a nossa economia, como países africanos e latino americanos, incluindo Cuba.

Por todos esses fatores e outros ainda mais complexos nossa economia tem crescimento próximo a zero. Nosso baixo índice de desemprego em torno de 5% não considera as pessoas que desistiram de procurar emprego e as pessoas do mercado informal. As empresas contratam vários empregados, com salários baixos, para compensar a falta de produtividade.

Reclamar não adianta. Nas últimas eleições, a maioria da população optou pela continuidade do atual governo e, dificilmente, o cenário governamental se altere.

Mas afinal, o que podemos fazer para melhorar a economia do nosso país, não esquecendo a sustentabilidade ambiental?

Irei compartilhar algumas ideias para debate. Salve o melhor juízo.

Na área da educação, as associações de classe e os sindicatos patronais poderiam se mobilizar para desenvolver currículos acadêmicos alinhados com as necessidades do setor que representam. Esses currículos seriam compartilhados com as faculdades locais para a criação de curso de extensão universitária, aperfeiçoamento e especialização. Esses cursos podem ser implantados rapidamente com aprovações internas das entidades de ensino, sem a interferência do MEC. Para os cursos técnicos, as associações e sindicatos podem requer aperfeiçoamento de cursos existentes e novos cursos do PRONATEC alinhados com as necessidades das empresas locais.

As empresas poderiam criar Universidades Corporativas em parcerias com empresas de treinamento especializadas ou Universidades para formar seus empregados com contrapartidas de ambos os lados. Compromissos com aumento de produtividade e aumento real de salários das pessoas comprometidas.

O ensino à distância deve ser incentivado pelas escolas e empresas. Vários estudos demonstram que o EaD é mais produtivo que o ensino presencial. Participei do projeto FORDSTAR da Ford nos Estados Unidos para treinamento de técnicos e vendedores das concessionárias. Nesse projeto os instrutores puderam cobrir entre 20-30%mais conteúdo durante o telecurso, as notas dos alunos foram 20% melhores e o tempo fora dos escritórios e oficina foi reduzido em mais de 50%. Através do FORDSTAR, a equipe treinamento foi capaz de atingir mais de 45.000 técnicos e 50.000 vendedores em questão de dias. A tecnologia de aprendizado reduziu o treinamento em classe de uma média de 31 dias para somente nove, e um grande número de pessoas puderam ser treinadas simultaneamente.

Na área de tecnologia e inovação, as associações e sindicatos patronais poderiam reivindicar novos critérios para a importação de equipamento de tecnologia avançadas. Um dos critérios seria o índice de produtividade que o equipamento traria para a empresa. Se ficar provado que o índice de produtividade é maior do equipamento a ser importado do que o similar nacional, seria aplicado um redutor nas alíquotas de importação. Isso incentivaria a indústria nacional a buscar a inovação, tanto do lado de equipamentos como das empresas usuárias desses equipamentos.

As Universidades, Centros Universitários, Faculdades e Centros de Pesquisa deveriam propor leis de incentivos fiscais federais, estaduais e municipais para investimentos de empresas em projetos de pesquisa e desenvolvimento. Atualmente, a maior parte dos fundos são provenientes do FINEP e outros órgãos governamentais de incentivo a inovação, como a FAPESP, limitando a capacidade de investimentos.

Novas tecnologias devem ser utilizadas para melhorar a produtividade, tais como: Cloud Computing; Big Data; Análise Avançada de Dados; Aplicativos Móveis; e, Internet of Things.

O Cloud Computing permite compartilhar uma fração de recursos computacionais de um grande fornecedor, reduzindo esforços de segurança, atualização tecnológica, operação, treinamento, eficiência energética e emissão de gases do efeito estufa. Além de reduzir o espaço físico e infraestrutura de refrigeração necessárias para um data center.

Big Data e ferramentas analíticas permitem manipular e analisar “montanhas” de dados para identificar tendências comportamentais de consumidores e ativos físicos. Na área de Marketing, os benefícios são enormes para a definição de novos produtos e modelos de negócios. Na área de monitoração e manutenção pode-se antecipar defeitos, evitando ou minimizando seus impactos. Também, são utilizadas para reduzir fraudes e mitigar riscos operacionais.

A Internet of Things (Internet das Coisas) permite a interação máquina a máquina (M2M), permitindo uma melhorar integração entre os atributos pessoais e de ativos físicos com aplicações móveis e outros sistemas. Por exemplo, é possível monitorar remotamente os sinais vitais de pacientes através do uso de sensores em contato com o corpo.

Para minimizar os efeitos da burocracia nas empresas uma solução é terceirizar os processos que não agregam valor para a empresa. Não faz sentindo manter funcionários na empresa apenas para atender as exigências fiscais e trabalhistas. Essas pessoas impactam no índice de produtividade de trabalho. O BPO – Business Process Outsourcing – são contratos de serviços que transfere parte da responsabilidade e operação de processos específicos de negócios para empresas especializadas. Nessa modalidade o fornecedor se responsabiliza por eventuais multas aplicadas por erros no processo, evitando desembolsos da empresa. Embora, a empresa seja, formalmente, responsabilizada. Muitos serviços de BPO envolve o uso do software do fornecedor, simplificando ainda mais o processo. Isso significa que todas as alterações de legislação e cumprimento de prazos legais ficam sob a responsabilidade do fornecedor.

Para mitigar os impactos da falta de infraestrutura existem várias alternativas. Uma ação é mapear onde os funcionários residem e montar escritórios próximo a suas casas. Isso evitaria o trajeto diário para o escritório central que, normalmente, fica localizado em centros empresarias. Isso aumentaria a qualidade de vida dos funcionários. Alguns poderão até almoçar em casa. Dependendo da localização, a manutenção do escritório tem custo menor por metro quadrado. Ajuda na retenção de talentos. Os escritórios servem, naturalmente, como estratégia de continuidade de negócios em caso de inoperância do escritório central. Se várias empresas adotarem a descentralização dos escritórios haverá uma redução do trânsito nas cidades e transportes públicos com menos passageiros.

Associado com a descentralização dos escritórios, o uso intensivo de ferramentas de colaboração remota trará um enorme salto de produtividade. O uso de videoconferência, compartilhamento de documentos, integração do sistema de voz corporativo com os smartphones pessoais entre outros, são exemplos de funcionalidades que aumentam a produtividade.

Para aumentar nossa competitividade externa temos que avançar no desenvolvimento de produtos inteligentes com alto valor agregado em software embarcado. Se não somos competitivos na manufatura de produtos, temos que agregar valor de outra forma. O desenvolvimento de produtos com tecnologia de Internet of Things é um dos caminhos para o crescimento. Ou seja, fazer com que nossos produtos, mesmo que parte fabricada no exterior, incorpore funcionalidade de interação para monitoração e controle por software. Com isso podemos desenvolver aplicativos móveis que interajam com os produtos. Como resultado conseguiremos coletar milhões de dados de clientes e criar novas gerações de produtos.

Software é um produto altamente escalável e não exige elevados investimentos de manufatura. Poderemos ser reconhecidos pela criatividade de soluções de interação com produtos físicos.

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