A Sustentabilidade e o Gerenciamento de Projetos

A opção corporativa de ser uma organização sustentável é inevitável. As pressões dos consumidores e dos governos tornam essa opção imperativa e cria ameaças para a organização se não cumpridas, como perda de mercado e pesadas multas dos órgãos regulatórios. O processo de adoção de práticas socioambientais deve ser top-down (de cima para baixo) e deve refletir em todas as ações da organização. Isso afeta diretamente os projetos da empresa e altera o seu gerenciamento e métricas de desempenho.

O conceito de sustentabilidade é sobre a harmonia entre a economia, a sociedade e o meio ambiente, criando a expressão “triple bottom line” ou “triple-P” (People, Planet, Profit). Em outras palavras, como obter “lucro” sem afetar os recursos naturais e sem causar impactos negativos às pessoas.

A questão da responsabilidade social é tão importante que foi criada a norma ISO 26000 para dar transparência, accountability e princípios para os stakeholders. Os sete princípios estão sintetizados abaixo (fonte: INMETRO)

  1. Accountability: Ato de responsabilizar-se pelas consequências de suas ações e decisões, respondendo pelos seus impactos na sociedade, na economia e no meio ambiente, prestando contas aos órgãos de governança e demais partes interessadas declarando os seus erros e as medidas cabíveis para remediá-los.
  2. Transparência: Fornecer às partes interessadas de forma acessível, clara, compreensível e em prazos adequados todas as informações sobre os fatos que possam afetá-las.
  3. Comportamento ético: Agir de modo aceito como correto pela sociedade – com base nos valores da honestidade, equidade e integridade, perante as pessoas e a  natureza – e de forma consistente com as normas internacionais de comportamento.
  4. Respeito pelos interesses das partes interessadas (Stakeholders): Ouvir, considerar e responder aos interesses das pessoas ou grupos que tenham um interesse nas atividades da organização ou por ela possam ser afetados.
  5. Respeito pelo Estado de Direito: O ponto de partida mínimo da responsabilidade social é cumprir integralmente as leis do local onde está operando.
  6. Respeito pelas Normas Internacionais de Comportamento: Adotar prescrições de tratados e acordos internacionais favoráveis à responsabilidade social, mesmo que não que não haja obrigação legal.
  7. Direito aos humanos: Reconhecer a importância e a universalidade dos direitos humanos, cuidando para que as atividades da organização não os agridam direta ou indiretamente, zelando pelo ambiente econômico, social e natural que requerem.

Comparando a sustentabilidade e o desenvolvimento de projetos observamos que existem diferenças significativas:

Desenvolvimento SustentávelGerenciamento de Projetos
Orientação ao longo prazo e ao curto prazoOrientação ao curto prazo
No interesse desta geração e de futuras geraçõesNo interesse dos interessados no projeto (sponsor e stakeholders)
Orientação ao ciclo de vidaOrientação à entrega e ao resultado
Orientação a Pessoas, Planeta e LucroOrientação ao escopo, prazo e orçamento
Ampliação da complexidadeRedução da complexidade

Ainda existe muita discussão de como atingir um ponto de equilíbrio entre a responsabilidade socioambiental e o desenvolvimento de projetos nas organizações.

  • Contexto do projeto: Como que os princípios e aspectos de sustentabilidade influenciam no contexto social e organizacional do projeto? Qual o grau de influência no projeto?
  • Stakeholders: Como os princípios de sustentabilidade (Pessoas, Planeta e Lucro) podem beneficiar mais pessoas no projeto? Como evitar as pressões de ambientalistas e organizações de defesa dos direitos humanos?
  • Conteúdo do projeto: Como que os princípios de sustentabilidade irão influenciar nos resultados, nos objetivos e nas condições de sucesso do projeto?
  • Caso de negócio: Como que os princípios de sustentabilidade serão justificados para a aprovação do projeto? Por exemplo, o caso de negócio deverá considerar fatores não tangíveis relacionados com a sociedade e o meio ambiente.
  • O sucesso do projeto: Quais as métricas de sustentabilidade deverão ser incluídas para avaliar o sucesso do projeto, além das tradicionais métricas de lucro, produtividade e competitividade.
  • Materiais e compras: O uso de materiais recicláveis e a contratação de empresas e pessoas para o projeto devem seguir os princípios de sustentabilidade. Por exemplo, as matérias primas adquiridas de fornecedores não deverão conter resíduos tóxicos e não terem utilizado mão de obra infantil no processo de fabricação.
  • Relatórios de projeto: Os relatórios de acompanhamento do projeto devem incluir as métricas de controle dos princípios de sustentabilidade.
  • Gestão de riscos: Com a inclusão dos aspectos sociais e do meio ambiente no escopo e objetivo dos projetos, a análise de risco deve também abordar esses aspectos.
  • Equipe do projeto: Outra área de impacto da sustentabilidade é a organização do projeto e gerenciamento da equipe. Especialmente seus aspectos sociais de igualdade de oportunidades e desenvolvimento pessoal.
  • A aprendizagem organizacional: A última área de impacto da sustentabilidade é o grau em que a organização aprende com o projeto. Sustentabilidade reduz o desperdício. As organizações devem aprender como reduzir os resíduos, a energia, os recursos e materiais a partir dos erros dos projetos.

A adoção de práticas de responsabilidade socioambiental nos projetos é fundamental para a transformação da empresa em uma organização sustentável. Entre os maiores desafios estão à mudança de visão dos empresários e do processo de mudança da cultura organizacional. Por outro lado, uma coisa é certa se sua empresa não incluir os princípios de sustentabilidade em sua operação os consumidores optarão no futuro pelo concorrente que adotou essas práticas mais cedo.