Armazenamento de energia é vital para a estabilidade do sistema elétrico

Muito se comenta sobre energias renováveis e, sem dúvida, são importantes para na matriz energética dos países. Entretanto, a energia fotovoltaica e eólica tem geração intermitente, podendo gerar instabilidade no sistema elétrico. Com o crescimento da geração eólica no Brasil, que hoje responde a 5,8% da energia instalada e com previsão entre 20-25% até 2030, os riscos de instabilidade do sistema aumentam. Isso se deve ao fato que um autogerador pode reduzir sua geração de energia de 100% para 10% em poucos segundos, dependendo das rajadas de ventos. Para equalizar a geração uma solução é usar baterias de alta capacidade ou outras tecnologias de armazenamento de energia, como armazenamento de ar na forma comprimida (evitei a palavra vento). Os estudos sobre baterias já estão bem avançados, principalmente nos Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Aqui no Brasil, a Aneel planeja iniciar programas de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) a partir do segundo semestre de 2016.

O negócio de armazenamento de energia deve movimentar cerca de US$70 bilhões até 2020. Já existem em operação comercial algumas iniciativas. A AES, já possui algumas plantas em operação e em construção, inclusive uma no Chile, com uma capacidade total de armazenamento de 346 megawatts (MW). Uma unidade na Irlanda do Norte, inaugurada em 2015 tem capacidade de 10 MW e planeja ampliar sua capacidade para 200 MW até 2017.

Os projetos no Brasil serão apoiados por verbas do programa de P&D da Aneel com recursos das concessionárias do setor. A legislação (Lei nº 9.991/2000) prevê que as distribuidoras de energia são obrigadas a destinar, anualmente, no mínimo 0,75% da sua receita operacional líquida (ROL) para programas de pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico e 0,25% em eficiência energética. Já as empresas geradoras e transmissoras de energia são obrigadas a investir, anualmente, no mínimo 1% da ROL em pesquisa e desenvolvimento. Em 2014 foram 181 projetos de P&D, com investimentos de R$646 milhões.

Como sempre, o grande desafio para as novas tecnologias é o custo. Atualmente, estima-se que um custo de US$1 mil (em torno de R$4 mil) para cada quilowatt (kW) instalado de sistemas de armazenamento de energia. Para se ter uma ideia, as usinas fotovoltaicas têm um custo entre R$3 mil e R$5 mil por kW instalado, números dos últimos leilões de energia fotovoltaica no Brasil. Entretanto, ganhando em escala pode competir com as caras e poluidoras usinas termelétricas, que hoje tem um custo de R$600/MW.

E a tal usina de ar comprimido? Essa entra em operação nas próximas semanas em Manchester, no Reino Unido, com capacidade de 5MW. Esse projeto da empresa Highview Power Storage teve um investimento de 8 milhões de libras, equivalente a R$45 milhões. A usina usará a queima do lixo para aquecer o ar comprimido para gerar energia, aumentando a eficiência do projeto de 60% para 80%.

Todas essas pesquisas têm ajudado a indústria automobilística que está em uma fase de transição dos motores poluentes a combustão para energia elétrica.

Mas, quem está bem na foto é a Bolívia que possui a maior reserva de lítio do mundo, ou pelo menos deveria, se souberem aproveitar o potencial que tem. A maior reserva se concentra logo abaixo da crosta branca de Uyuni. Quase nada foi tocado: apesar de a jazida ter atraído o interesse de empresas de várias partes do mundo, o presidente Evo Morales decidiu desenvolver toda a cadeia com tecnologia própria. Segundo afirmou Morales, “desejo um carro Toyota movido a lítio, mas feito na Bolívia”.

O Brasil tem 0,18 milhões de toneladas de reservas de lítio, enquanto nossos vizinhos têm as maiores reservas do mundo: Bolívia, 9 milhões de toneladas; Chile, 7,5 milhões de toneladas; e Argentina, 6,5 milhões de toneladas. Depois aparecem os Estados Unidos com 5,5 milhões de toneladas, a China com 5,4 milhões de toneladas e o Canadá com 1 milhão de tonelada.

Dinheiro para pesquisa e desenvolvimento de baterias estará disponível no Brasil, vamos torcer para que os projetos de pesquisa se tornem produtos comerciais em breve.