Contratação de tarefas por demanda transforma as estruturas organizacionais

Existe uma máxima no mercado, cunhada pelo alemão Peter Schutz, que diz “contrate carácter e treine habilidades”, dentro de uma visão que as empresas devem contratar pessoas. Acredito que esta concepção está se transformando para “contrate uma tarefa, independentemente de onde for executada”. O home-office forçado provou que muitas tarefas que eram executadas nos espaços físicos das empresas podem ser executadas de forma remota, com mesma ou maior eficiência. Isto abre uma oportunidade de transformação da forma como se contrata recursos nas empresas.

O conceito de contratação de tarefas por demanda não é novo. O mercado de freelancers é gigantesco e objeto de vários de estudos econômicos, como o do Banco Mundial (2015) que afirma a terceirização online (OO, online outsourcing) tornou-se uma alternativa promissora ao emprego tradicional na era digital atual. Para os empregadores, a OO fornece acesso mais amplo a habilidades especializadas, processos de contratação mais flexíveis e mais rápidos e produtividade 24 horas. Para os trabalhadores, essa forma de terceirização criou oportunidades de acesso e competir nos mercados globais de trabalho, de qualquer lugar a qualquer momento, desde que tenham acesso ao computador e à Internet.

O Banco Mundial define as atividades de microtrabalho e freelances online, comentando que a terceirização on-line é altamente relevante, podendo beneficiar significativamente indivíduos desfavorecidos em áreas de baixo emprego. Suas definições são:

  • Microtrabalho, onde projetos e tarefas são divididos em microtarefas que podem ser concluídas em segundos ou minutos. Para os trabalhadores de microtrabalho são requeridas habilidades básicas, por exemplo, para marcação de imagem, transcrição de texto e entrada de dados. Os trabalhadores são pagos para cada tarefa concluída, e as barreiras à entrada são menores do que no freelancer on-line, tornando-o particularmente atraente para indivíduos desempregados e subempregados sem habilidades especializadas.
  • Freelancer online, Freelancer online, onde os clientes contratam serviços profissionais para distribuição de trabalhadores terceirizados. O freelancer on-line muitas vezes requer um nível mais alto de experiência do que o microtrabalho, com os trabalhadores tipicamente possuindo habilidades técnicas ou profissionais. Tarefas de freelancer on-line tendem a ser projetos maiores que são executadas por horas, dias ou meses. Exemplos incluem design gráfico, desenvolvimento web, redação de relatórios técnicos e modelos matemáticos de inteligência artificial.

O microtrabalho e freelancer online muitas vezes se sobrepõem, a grande diferença entre eles muitas vezes sendo o tamanho e a complexidade das tarefas, bem como a remuneração oferecida. Algumas das plataformas OO mais populares incluem Freelancer, Upwork, Crowdflower, Amazon Mechanical Turk (AMT), Samasource e CloudFactory.

A crítica que se faz aos modelos de contratação de microtrabalho e freelancer online é a desvalorizações das remunerações dos trabalhadores, pois com a grande oferta global de serviços nestas modalidades, sob diferentes regimes tributários e custo de vida, sempre haverá alguém que fará a tarefa, com a qualidade esperada, por um preço menor. Consequentemente, isto obrigará as pessoas a trabalharem mais, por mais horas, reduzindo sua qualidade de vida. Infelizmente, este fenômeno aconteceu com os entregadores de aplicativos no período da pandemia do Covid-19.

O atenuante para as desvantagens destes modelos é o compromisso de governos e grandes empresas com os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) das Nações Unidas que preveem a eliminação da pobreza, erradicação da fome e trabalho digno para os trabalhadores, entre outros objetivos.

Acredito que a solução proativa dos trabalhadores para aproveitar as vantagens deste modelo de negócio é criar o seu próprio negócio, tornando-se um empreendedor. Esta atitude, também, mitiga riscos futuros de desemprego.

Para criar o seu próprio negócio, você tem duas alternativas: ser um empresário ou ser um empreendedor.

Um empresário é o dono ou dirigente de uma empresa ou que opera no agenciamento de negócios. Já um empreendedor, segundo Joseph A. Schumpeter, é o agente básico do processo de destruição criativa que move a economia, também definido como aquele que realiza uma tarefa difícil e árdua. Por exemplo, um franqueado é um empresário, o fundador de uma startup com uma proposta disruptiva de mercado é um empreendedor.

Em ambos casos, o foco tem que ser executar tarefas com maior qualidade, com maior velocidade, mais baratas e com classe internacional. As tarefas devem incorporar tecnologia que permite alta escalabilidade, auto-gestão e alta flexibilidade. Provavelmente, para incorporar todos estes atributos será necessário o uso de algoritmos de inteligência artificial.

Tirando o fator humano para a execução das tarefas será possível executá-las por frações de dólares, tornando seu uso altamente competitivo no mercado internacional. Ou seja, tecnologia e escalabilidade são atributos importantes.

Processos mau desenhados requerem pessoas para decidir em pontos ambíguos, reduzindo a velocidade de execução dos processos. Ou seja, desenhos bem definidos ou algoritmos de inteligências artificial fazendo auto-gestão, eliminam a necessidade de tomadas de decisão de pessoas e aumentam a velocidade dos processos.

As empresas de maior sucesso e de alto valor de mercado trabalham com o conceito de microsserviços, pequenas tarefas que se somam a outras para a execução de um negócio. Eles usam uma abordagem arquitetônica e organizacional de desenvolvimento de software com pequenos serviços independentes que se comunicam usando APIs bem definidas. Esses serviços são desenvolvidos e mantidos por pequenas equipes autossuficientes.

A adoção de microsserviços torna as empresas muito mais ágeis e flexíveis para enfrentar as mudanças naturais do mercado. Usando equipes autossuficientes e autogerenciáveis de até 10 membros, permite as empresas manter estruturas organizacionais mais enxutas e achatadas, eliminando custos desnecessários e aumentando a agilidade nas tomadas de decisão.

Todos estes movimentos levam a uma transformação na forma de contratação de pessoas e nas estruturas organizacionais da empresa.

Isto força e motiva as pessoas a se tornarem empreendedores e a criarem suas próprias startups incorporando tecnologia e inteligência, mesmo que seja de uma única pessoa.