O impacto da IA no varejo, atacado e distribuição

Quando o consumidor compra um produto no MercadoLivre, Americanas, Magazine Luiza, Aliexpress ou Amazon não imagina a complexidade por trás desta operação. A simplicidade na compra, no acompanhamento do pedido e na entrega é resultado de poderosos sistemas de informação interligados em tempo real. Desde sistemas de sugestões de compras para os consumidores, sistemas antifraudes para aceitar um pedido, sistemas que garantam que os produtos mais solicitados estejam no estoque e sistemas de distribuição com rastreamento de encomendas e sistemas de avaliações para auxiliar nas tomadas de decisão de futuros compradores. Todo isto para oferecer uma experiência de compra que entre um produto em horas, no dia seguinte ou irritantes entregas com mais de um dia, que só são aceitáveis pela relação custo/benefício. Sem sistemas de inteligência artificial é impossível gerenciar todo este ecossistema de forma eficiente.

No mercado eletrônico atual os conceitos varejo e atacado se confundem, pois as grandes lojas virtuais operam como varejistas e atacado ao mesmo tempo, conhecido com atacarejo, neologismo que reúne as duas formas de comercialização. O consumidor pode fazer a compra de um produto em uma pequena loja virtual, porém toda a infraestrutura de armazenagem, sistema de pagamento e distribuição é do Magazine Luiza ou Amazon, permitindo que a pequena loja virtual tenha um preço competitivo. Ou, comprando das Americanas o produto é enviado de um pequeno varejista que usa apenas o portal de compras das Americanas, que aumentando seu volume de vendas pode ter preços competitivos com os grandes varejistas.

Se os critérios que os consumidores adotam para suas compras forem preço, prazo de entrega e atendimento pós-vendas, no limite, teremos poucos atacarejo virtuais com milhares de varejistas associados, permitindo vender com preços de atacado. Ou seja, voos solitários sobreviverão apenas para produtos de nicho e únicos.

Por trás desta revolução está a inteligência artificial, reunindo montanhas de dados em seus big datas, vindos de dispositivos IoT, sites de vendas, informações bancárias dos consumidores para decisões antifraude, estoques nos armazéns, informações de rotas para otimização, despachos, recebimentos, avaliações de clientes, reclamações de órgão de defesa do consumidor, sistemas de sugestões de compras e tantas outras informações e decisões incapazes de serem tomadas por um ser humano ou organizações. Lembrando que quanto maior o número de pessoas envolvidas em tomadas de decisão maior a probabilidade de erros e lentidão nos processos.

Isto significa, que no limite, todo varejista deve ter uma infraestrutura de atacadista, própria ou terceirizada. Quando pensamos em atacado, um dos maiores custos é a manutenção do estoque, ou seja, quanto custa manter o estoque de um determinado produto. Este custo é composto por impostos, funcionários, custos de climatização, custos de oportunidades do espaço, depreciação, seguro e custos administrativos do negócio.

A IA entra como uma ferramenta vital para manter os custos mais baixos possíveis, monitorando o tempo que o estoque termina até o tempo que um fornecedor leva para enviar a reposição do estoque. Imagine monitorar milhões de itens em um estoque sem automação e com algoritmos de aprendizado de máquina – machine learning – para sincronizar perfeitamente o fornecimento com a demanda necessária com os melhores custos possíveis.

Agora imagine um armazém muito grande controlado por algoritmos de IA determinando onde há espaço, qual grupo de produtos deve estar onde e como levar esses produtos para uma estação de separação, tudo de forma automática. Como nos armazéns da Amazon onde todo o transporte é realizado por robôs com algoritmos de IA para reconhecer padrões mais eficientes para se movimentarem. Em armazéns menores, os benefícios da IA estão associados ao planejamento de capacidade e alocação do espaço. Os sistemas de IA entendem o tamanho do espaço, as dimensões de cada produto e otimizará o espaço para o armazenamento do produto.

Quando uma empresa opera diversos centros de distribuição (CD) é importante colocar os produtos certos perto da demanda. Isto evita maiores percursos, atrasos de consistentes, recursos mal alocados e custos de frota mais elevados para as entregas. A IA pode controlar o tempo do tráfego, disponibilidade de um produto, flutuações de demanda e otimização de rotas, além de reduzir as tarefas operacionais de controle da frota e notificações para os transportadores automaticamente.

Para que faz transporte de carga sabe que um dos desafios da entrega é a última milha, que consome entre 25-28% dos custos totais de entrega. Muitas cidades têm restrições de tipo de veículo em determinados horários e a alocação de tipo certo de veículo pode otimizar as entregas com redução de combustível, economia de tempo, redução das distâncias percorridas, entre outros fatores. Um sistema eficiente de roteirização operador por um sistema de IA pode definir rotas otimizadas, automaticamente.

O Picking, seleção de produtos no armazém, pode ser otimizado por sistemas de IA orientando os robôs ou traçando rotas otimizadas de um funcionário. Um sistema de IA aprende quais as viagens mais frequentes e otimiza tanto o local de armazém dos produtos como as rotas mais rápidas para separar os pedidos. O Packing, embalagem dos produtos, pode ser otimizado com sistemas de IA aprendendo, dinamicamente, a melhor classificação dos pacotes associado a configuração das correias transportadoras.

Como vimos um dos critérios de compra dos consumidores é o preço. Desta forma, os varejistas e atacadistas devem monitorar constantemente os preços dos produtos, seus similares e substitutos no mercado. Os sistemas de IA e robôs de pesquisa de preços analisam os preços dos concorrentes, avaliam as margens de lucros e sugerem novos preços para aumentar as vendas, com aprovação de um supervisor ou automaticamente.

A muito tempo, os sistemas de EDI – Electronic Data Exchange – apoiam os sistemas de reposição de produtos nos armazéns com pedidos automáticos baseados em determinados critérios pré-estabelecidos, como de estoque mínimo. Os sistemas de IA podem otimizar os sistemas de reposição alterando os critérios de abastecimento dos armazéns baseados em previsões de flutuação de demanda.

A completa robotização dos armazéns irá tornar a operação mais barata e mais eficientes, podem trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semanas sem reduzir a produtividade, aumentando a confiabilidade das entregas e a satisfação dos clientes. O grande desafio das empresas é construir um sistema de inteligência artificial que orquestre todas as funções do varejo, atacado e distribuição como um ecossistema único – um Big Brother. Isto é possível com as novas tecnologias de IoT, Big Data, Cloud Computing, Edge Computing, robôs, Robotic Process Automation (RPA), Digital Twins, Blockchain, drones, veículos autônomos, 5G e reconhecimento de imagens controlados por inteligência artificial.