Qual a maior dificuldade das empresas para a transformação digital?

Generalizando, é a falta de ação do conselho de administração e diretoria executiva a principal dificuldade para a transformação digital das empresas. A falta de ação é decorrente da falta de visão para estruturar negócios disruptivos bem estruturados. Projetos com universidades e programas de aceleração com startups privilegiam a inovação incremental e não negócios disruptivos para reduzir riscos de insucesso e perdas financeiras. A falta de pessoal capacitado para lidar com complexas tecnologias emergentes restringe projetos disruptivos. No final do dia, a maior dificuldade é ter pessoas com conhecimento, habilidades e atitudes para a transformação digital nas empresas.

Conselheiros de administração e diretores executivos são eleitos obterem os maiores dividendos para os acionistas, em empresas de capital aberto. Nas empresas de capital fechado, os executivos estão comprometidos com o lucro e, assim como os executivos das empresas de capital aberto, os bônus estão vinculados ao atingimento de metas para satisfazer os objetivos corporativos. Implementar planos de transformação digital em ambientes de negócios voláteis, incertos, complexos e ambíguos significa um grande risco para os indicadores de performance (KPI) ou objetivos e principais resultados (OKR) dos executivos e do staff em geral. A melhor forma de se proteger é trabalhar na zona de conforto usando o modelo de negócios atual.

Outra dificuldade para a transformação digital é a falta de capacidade dos tomadores de decisão de enxergar o futuro e modelar negócios disruptivos que podem, inclusive, destruir o modelo de negócio atual. Para quem não convive e não adota no seu cotidiano novos hábitos tem dificuldade em reconhecer novas oportunidades de negócios. Mesmo sendo alertados pelo seu staff, clientes, fornecedorese com amplo material na Internet muitos executivos experientes não conseguem se sensibilizar com as mudanças e não tomam as decisões necessárias para a transformação nas suas empresas. Isto não ocorre apenas no alto escalão, mas também na média gerência, bloqueando valiosos feedbacks dos clientes, fornecedores e funcionários mais atentos as mudanças.

Cada vez mais os conselheiros e diretores executivos das empresas incluem em seus discursos a necessidade de cooperação e inovação aberta. Materializam o discurso com a implementação de programas de incentivo com universidades através de hackathons e programas de aceleração de startups. Os programas são excelentes, pois criam oportunidades para a inovação, explorando novos produtos e identificando novos comportamentos dos consumidores. Entretanto, em muitos casos, os projetos selecionados ficam dentro zona de conforto dos responsáveis pelo programa, aprovando apenas projetos de inovação incremental para reduzir os riscos financeiros do programa. Esta atitude restringe as oportunidades de testar modelos de negócios disruptivos que podem, efetivamente, causar a transformação digital na organização. Por falta de engajamento dos conselheiros e diretores executivos nos programas, a aprovação dos projetos fica com a média gerência que, algumas vezes, possui poucas informações estratégicas.

Outro ponto importante é falta de compreensão e pessoal capacitado desenvolver projetos com tecnologias emergentes, como Big Data, IoT e Inteligência Artificial. Utilizar tecnologias emergentes não é uma questão de modismo, mas uma decorrência e necessidade de modelos de negócios disruptivos. Ou seja, o negócio está na frente da tecnologia. Invertendo a ordem, os projetos, fatalmente, fracassam e saem fortalecidos os que apostam na manutenção do atual modelo de negócio, afinal para eles, time que está ganhando não se mexe.

Resumindo, a principal dificuldade da transformação digital nas empresas é a falta de ação dos conselheiros e diretores executivos, uma vez que são eles que tomam as decisões e têm os recursos para realizar as mudanças.