Tecnologia: salvadora ou vilã da economia?

A economia mundial começou a se transformar de forma mais visível depois da Revolução Industrial no século XIX e andou a passos lentos, mas agora as transformações estão ocorrendo de forma exponencial fortemente impactada pelas tecnologias da informação. Esse novo contexto cria novas empresas com capacidade quase infinita de serviços e aumentos brutais de produtividade, trazendo altos salários para os trabalhadores do conhecimento e empreendedores. Por outro lado, acelera a concentração de renda, mantem os salários dos trabalhadores estagnados e cria um enorme desafio para os governos garantir empregos e salários decentes para as pessoas.

Esse contexto começou a mudar com o surgimento de novos serviços baseados em negócios digitais – e-Business – que, praticamente, rompeu o paradigma de escassez de produtos. A tecnologia digital permite o acesso rápido e barato (alguns gratuitos) a informação, possibilitando maior conhecimento sobre produtos e comparações de preços. Nos dias de hoje, dificilmente alguém compra um bem de consumo sem pesquisar os preços na Internet. Em tese, por haver uma competição mais aberta os preços devem se manter estáveis e com baixas margens de lucro.

Como consequência desse novo contexto de negócios provocado pela tecnologia, existe uma busca incessante pela produtividade, resultando altos salários para os trabalhadores do conhecimento e baixos salários para os trabalhadores operacionais. Apesar do crescimento dos Estados Unidos nas últimas décadas, o salário médio dos americanos está estagnado desde 1979 e a desigualdade explodiu.

A Suécia ilustra uma tendência perigosa, cresce o PIB (3,9%), os salários (2,2%) e o crédito (7,3%), porém a inflação segue extremamente baixa (0,1%). Com inflação muito baixa ou deflação os consumidores não antecipam compras e alguns esperam que os preços baixem ainda mais, criando uma bomba relógio para a economia no futuro. Por lá, 95% da população acessa a Internet regularmente e quase a metade trabalha intensivamente com o conhecimento, criando uma força deflacionária estrutural.

Por outro lado, economias que dependem fortemente de commodities em abundância no mercado com preços baixos, como o petróleo, estão enfrentando dificuldades e alta da inflação. Entretanto, as ondas de produtividade geradas pela tecnologia da informação desconhecem fronteiras e forçam a estagnação dos salários dos trabalhadores operacionais, reduzindo o poder de compra.

Aparentemente, estamos caminhando de uma economia da “escassez” para uma economia da “abundância” a medida que cada vez mais consumimos produtos digitais que se levados ao limite não custam quase nada para serem reproduzidos. Veja o caso do WhatsApp, uma empresa de 55 pessoas, que vale mais que a Sony e foi comprada pelo Facebook por US$19 bilhões. Outros exemplos, são a Google, o iTunes da Apple, o Wise e tantos outros.

Agora, como medir o impacto dessas empresas na economia atual? Como medir o impacto na produtividade quando alguém consegue chegar mais rápido a um destino usando o Wise, um serviço que combina Big Data e colaboração gratuita de seus usuários? O Wise, por exemplo, otimizando rotas de entrega de encomendas pode reduzir a quantidade de caminhões de uma transportadora e, consequentemente, deixa de comprar novos veículos e reduz a quantidade de motoristas e auxiliares. Essa situação coloca mais motoristas a procura de empregos, mais metalúrgicos procurando empregos demitidos porque houve queda na produção de caminhões, provocando salários mais baixos no mercado e desemprego.

Como a economia irá se acomodar nesse contexto? Confesso que tenho dúvidas. Uma certeza é que devemos estimular a educação e o empreendedorismos nas pessoas, principalmente nos jovens. Os governos, globalmente, devem criar estratégias para garantir uma melhor distribuição de renda e salários decentes para as pessoas possam oferecer boa qualidade de vida para suas famílias.

Afinal, o que você acha? A tecnologia é a salvadora ou a vilã nessa história?