Visão Geral do Evento
Entre os dias 17 e 19 de setembro de 2025, Manaus foi palco do CITEENEL 2025, um dos maiores encontros sobre inovação tecnológica e eficiência energética do setor elétrico brasileiro. Organizado pela ANEEL em parceria com empresas líderes do setor, o evento reuniu reguladores, utilities, startups, universidades, investidores e representantes do governo para debater o futuro da energia.
Este briefing executivo tem como objetivo traduzir as discussões técnicas e regulatórias em percepções estratégicas, oferecendo uma leitura clara e prática para conselhos de administração e executivos de alto nível. O foco está em identificar tendências globais, riscos regulatórios, oportunidades emergentes e caminhos de inovação, sempre com impacto direto no Brasil.
O Cenário Global: Acelerando a Transição Energética
O CITEENEL 2025 reforçou que o setor elétrico brasileiro está em um ponto de inflexão. Se, por um lado, o país já conta com uma matriz 88% renovável (ANEEL, 2025), por outro, enfrenta desafios crescentes de modernização regulatória, integração de tecnologias emergentes e atração de capital privado.
O cone de futuros apresentado na palestra de encerramento destacou três megatendências que devem guiar o setor até 2045:
- Inteligência Artificial e IoT (2025–2032): aplicadas em eficiência energética, automação de redes e previsão de consumo.
- Armazenamento de Energia (2030–2040): essencial para estabilizar o sistema e integrar fontes renováveis intermitentes.
- Hidrogênio Verde (2035 em diante): com potencial de transformar o Brasil em exportador global de energia limpa.
Esses vetores colocam o país diante de uma escolha: liderar a transição energética ou perder espaço competitivo para outras economias.
Riscos e Incertezas Regulatórias
Nenhuma inovação prospera sem segurança jurídica. O evento destacou que a revisão regulatória do Programa de Eficiência Energética (PEE) e dos fundos obrigatórios de P&D (Lei 9.991/2000) pode redefinir prioridades.
Entre os riscos mais citados:
- Incerteza regulatória: mudanças na metodologia podem inviabilizar projetos já planejados.
- Dispersão de recursos: sem critérios claros, há risco de financiar iniciativas com baixo impacto energético ou climático.
- Baixa maturidade de startups: 75% ainda estão em fase de MVP, dificultando escala.
A recomendação é acompanhar de perto a regulação e preparar portfólios flexíveis, que combinem inovação com foco em resultados comprováveis.
Oportunidades para o Brasil
Apesar dos riscos, o CITEENEL 2025 deixou evidente que o Brasil está diante de oportunidades únicas. A seguir, os principais destaques para diferentes atores:
1. Geração
- AIoT aplicado a plantas renováveis para otimização de desempenho.
- Hidrogênio Verde como diversificação e exportação.
- Captura de carbono como diferencial em projetos de gás natural.
2. Transmissão
- Baterias de grande porte (BESS) para amortecer picos de carga.
- Smart grids para integração de renováveis intermitentes.
- Digital twins para aumentar confiabilidade e reduzir custos de manutenção.
3. Distribuição
- Smart metering com IA para combater perdas não técnicas.
- Soluções de eficiência energética com IoT em clientes corporativos.
- Novos modelos de negócio como BaaS (Battery as a Service).
4. Startups e Inovadores
- Climate techs com soluções de armazenamento, mobilidade elétrica e automação.
- Programas de aceleração conectados a utilities.
- Venture building em parceria com fundos corporativos.
5. Academia
- Parcerias para transformar TRL baixo (1–3) em aplicações comerciais.
- Cooperação internacional em hidrogênio, captura de carbono e armazenamento térmico.
6. Investidores
- Expansão do Corporate Venture Capital (CVC) em energia.
- Estruturação de fundos híbridos (capital privado + crédito verde).
- Investimentos em early stage de deep techs voltadas ao setor energético.
7. Comunidades
- Inclusão social por meio de projetos comunitários de geração distribuída.
- Justiça energética como diferencial competitivo e reputacional.
- Licença social para operar como pré-requisito em regiões sensíveis como a Amazônia.
O Papel dos Conselhos de Administração
Um dos focos centrais do briefing é traduzir os debates em ações concretas para conselhos de administração e alta gestão. Sete movimentos estratégicos se destacaram:
- Antecipar mudanças regulatórias, criando comitês de monitoramento e interação constante com a ANEEL.
- Adotar portfólios de inovação integrados, equilibrando risco, retorno e impacto socioambiental.
- Explorar novos modelos de negócio, como serviços baseados em assinatura e plataformas P2P de energia.
- Investir em tecnologias de transição, especialmente IA, IoT e armazenamento.
- Apoiar startups e deep techs, reduzindo o “vale da morte” com capital paciente e parcerias.
- Fortalecer a governança ESG, incorporando métricas de equidade e justiça energética.
- Ampliar a internacionalização, conectando o Brasil a hubs globais de inovação energética.
Conclusão
O CITEENEL 2025 mostrou que o Brasil não pode se dar ao luxo de esperar. A transição energética está em curso, e as decisões tomadas hoje determinarão se o país será protagonista ou coadjuvante no cenário global.
Para os conselhos de administração e executivos seniores, a mensagem é inequívoca: é hora de sair da postura reativa e assumir protagonismo, investindo em inovação, governança e engajamento estratégico com todos os stakeholders.
Tabela Resumo – Riscos, Oportunidades e Recomendações
Tema | Riscos | Oportunidades | Recomendações para Conselhos |
---|---|---|---|
Regulação | Incerteza regulatória; dispersão de recursos | Nova revisão do PEE e fundos de P&D | Monitorar regulações e dialogar com ANEEL |
Inovação | Baixa maturidade de startups | Venture building e aceleração | Criar portfólio flexível com CVC e PoCs |
Geração | Competitividade global em renováveis | Hidrogênio, AIoT, captura de carbono | Diversificar fontes e internacionalizar projetos |
Transmissão | Gargalos de integração | BESS e digital twins | Investir em inovação para confiabilidade |
Distribuição | Perdas não técnicas; baixa digitalização | Smart metering, BaaS | Priorizar digitalização e novos modelos de negócio |
Sociedade | Resistência social e ambiental | Justiça energética e inclusão | Fortalecer ESG e licença social |
Capital | Volatilidade de investimentos | Crédito verde, fundos híbridos | Estruturar financiamentos sustentáveis |
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