Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Internet Grátis

Introdução

A Internet grátis é um assunto polêmico no Brasil. A associação dos provedores de internet no Brasil acusa os provedores de Internet grátis de práticas não competitivas, alegando que são subsidiados por empresas de telefonia. E, reivindicam as mesmas tarifas oferecidas aos provedores de internet grátis.

E não é para menos, atualmente no Brasil o mercado de Internet gera cerca de R$250 milhões por ano, com um total de 5,5 bilhões de minutos por mês. Desse total cerca de 50% dos usuários utilizam o acesso grátis.

Como funciona a Internet?

A Internet é conhecida como a rede das redes, pois ela é formada por várias redes espalhadas no mundo inteiro.Uma rede é formada por um conjunto de computadores e, normalmente, existe um ponto dessa rede que se conecta com uma ou mais redes.

Para que exista a conectividade total da rede, ou seja, a possibilidade de todos os computadores possam se comunicar entre si existe pontos na Internet que conhecem todas as rotas possíveis para se atingir um determinado ponto. Na verdade são 13 servidores localizados em diferentes localidades nos Estados Unidos, conhecidos como os roteadores ‘master’ da Internet.

No inicio a Internet foi financiada e mantida pelo governo nos Estados Unidos e cada países ou organização fora dos Estados Unidos financiava os custos de conexão ao ‘backbone’ da Internet. O governo americano deixou de subsidiar a rede e, atualmente, ela é totalmente mantida por organizações com ou sem fins lucrativos.

Porém uma regra continua na Internet. Os custos de conexão são pagos por quem se conecta na rede. Funcionando como uma ‘corrente’. Para exemplificar, a Embratel possui várias conexões de alta-velocidade com o ‘backbone’ da Internet. No Brasil, ela vende serviços de Internet para organizações privadas e públicas para pagar os acessos internacionais. Por sua vez, algumas dessas organizações vendem serviços de Internet para outras, chegando até a casa do usuário final.

Como se pode ver o usuário final é o último elo da corrente. A grande maioria desses usuários faz o acesso através de linhas telefônicas, utilizando a infraestrutura das companhias telefônicas.No Brasil, os custos da ligação telefônica são baseados no tempo e na distância de cada chamada.

O papel dos provedores de Internet

Os provedores de Internet são os elos de conexão entre as redes. Eles formam uma rede particular e criam condições para que os usuários dessa rede possam acessar outras redes que compõem a Internet.

Os provedores de Internet são responsáveis pela infraestrutura de formação da sua rede particular, garantir que somente usuários autenticados possam acessar seus computadores para acesso à Internet; e, prover um mecanismo inicial de tradução de nomes de sites para o correspondente endereço da Internet, conhecido como DNS. Além desses serviços básicos os provedores de serviços oferecem softwares de correio eletrônico, hospedagem de sites e conteúdo.

A infraestrutura de um provedor de médio e grande porte deve ser robusta para atender a milhares de usuários. Além, dos equipamentos deve se considerar o staff técnico e administrativo e o atendimento aos usuários.

O acesso à Internet pública

Para o provedor obter acesso à Internet ele deve contratar uma conexão de uma empresa de telecomunicações que revenda ou tenha acesso direto ao “backbone” da Internet nos Estados Unidos.

As conexões devem ser dimensionadas para atender a demanda de tráfego dos usuários conectados a sua rede, de forma que o tempo de resposta seja aceitável. Os grandes provedores de Internet, para garantir um serviço contínuo para os usuários contratam mais de uma conexão à Internet e, em alguns casos, de empresas diferentes para se ter acesso independente ao “backbone” da Internet.

A estrutura de custos da infraestrutura do Provedor de Internet

  1. Os provedores de Internet possuem, basicamente, a seguinte estrutura de custos:
  2. Infraestrutura de servidores para suporte aos serviços de Internet, tais como: Servidores Web; Servidores DNS; Firewall; Servidores de e-mail; Servidores de banco de dados; e, capacidade de disco para hospedar Web sites.
  3. Ambiente físico seguro para instalar e operar os servidores, com ar-condicionado, energia estabilizada; no-break; e, controle de acesso.
  4. Acesso à Internet.
  5. Infraestrutura de telefonia com modems para as conexões discadas dos usuários.
  6. Staff técnico e administrativo.
  7. Propaganda e marketing.
  8. Contabilidade e obrigações legais.
  9. Esses custos são proporcionais ao tamanho da operação que o provedor de Internet planeja operar.

Quem paga a Internet Grátis

Analisando a estrutura de custos de um provedor de Internet a primeira pergunta que vem é como viabilizar o negócio sem a remuneração dos assinantes do serviço. Economicamente, os usuários teriam suas próprias receitas em outras atividades e remunerariam o serviço de Internet para seu próprio uso. O provedor de Internet grátis tem ele próprio gerar receita para cobrir seus custos operacionais, sem contar com as assinaturas dos usuários.As alternativas são:

(1) Venda de publicidade;
(2) Venda de suporte técnico aos usuários;
(3) Venda de armazenamento de dados;
(4) Venda de hospedagem de Web sites;
(5) Consultoria e desenvolvimento de Web sites para empresas;
(6) Aplicações de comércio eletrônico para comunidades virtuais;

Porém, em muitos casos esse modelo de receita não é suficiente para o equilíbrio entre receita e despesas.

Uma opção viável é o subsídio dos custos por parte de algumas concessionárias de telecomunicações.

Este subsídio pode vir de várias formas:

  • Uso compartilhado dos servidores da concessionária de telecomunicações;
  • Hospedagem dos servidores no centro de processamento de dados da concessionária de telefonia;
  • Isenção dos custos de conexão à Internet e dos acessos remotos dos usuários;
  • Repasse
  • Telecomunicações, aproveitando toda a infraestrutura de ar-condicionado e energia.
  • Parte das tarifas de uso de telefonia para subsidiar parte dos custos de operação.

A pergunta que se coloca é: porquê as empresas de telecomunicações fariam tais concessões? A resposta é simples: o tráfego telefônico. Quanto maior o tráfego maior a receita.

Esse modelo é viável economicamente. Tanto é verdade que a Telefônica, Brasil Telecom e Telemar adotam esse modelo, ou parte dele. Por exemplo, o iBest, Yahoo! e UBBI usam parte da infraestrutura da Brasil Telecom. O provedor iTelefônica usa a infraestrutura do provedor Terra e Telefônica, todas do grupo Telefônica Empresas. O LigBr, embora com investimentos e operação próprios tem um acordo com a Intelig.

A Internet é realmente Grátis?

Bem, como já vimos não. Os acessos aos provedores de Internet grátis remuneram as concessionárias de telecomunicações, por meio da receitas das tarifas telefônicas. Um grande negócio, tanto que as próprias concessionárias fomentam e subsidiam o desenvolvimento de provedores grátis.

Então, se existem grupos fortes apoiando a Internet grátis, com infraestruturas robustas para garantir qualidade nos serviços, porque usar um provedor de Internet pago?

Os únicos motivos razoáveis são se o provedor pago oferece algum serviço adicional que valha o investimento, tal como o acesso a conteúdo exclusivo para assinantes ou se os custos de conexão ao provedor grátis for mais elevado do que o do provedor pago.

Atualmente, cerca de 50% do tráfico da Internet é feito através de provedores grátis. Outro dado interessante é que apenas 22% das cidades brasileiras possuem provedores de Internet locais. Isso penaliza os usuários de 88% das cidades não atendidas, pois é necessário fazer uma ligação DDD para acesso à Internet.

A discussão sobre a universalização do acesso à Internet é um dos temas de consultas públicas da ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações. Existe uma proposta para acesso à Internet através de serviços com tarifa única. A ANATEL busca a introdução do serviço 0700 não geográfico, isso quebraria o monopólio das operadoras de telefonia locais para o acesso à Internet.

Conclusão

O acesso à Internet não é grátis. A remuneração da infraestrutura de acesso faz parte de um modelo de negócio atrativo para as concessionárias de telecomunicações para aumentar suas receitas, através do uso do telefone.

Os provedores de Internet grátis possuem uma infraestrutura robusta e profissional o que garante a qualidade do serviço prestado.

Concluindo, só é recomendado o uso de provedores pagos se houver algum serviço privado relevante ou se os custos de conexão para um provedor grátis forem elevados.