Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: Agricultura de Precisão

  • O desafio das empresas, cidades e campo nas próximas décadas

    Em 2008, atingimos a marca histórica de igualar o número de habitantes nas cidades e no campo, mundialmente. Em 2050, estima-se que 7 entre 10 habitantes estarão nas cidades, ou seja, é esperado um crescimento de 3,6 bilhões de pessoas atualmente que vivem nas cidades para mais de 6 bilhões na metade do século. Uma radical mudança em um século, quando em 1953 tínhamos apenas 3 habitantes morando nas cidades.

    Essa mudança exigirá maior produtividade no campo para a produção de alimentos, com a introdução de novas tecnologias agrícolas, mecanização extrema e alta tecnologia da informação para apoiar a agricultura de precisão. O desafio aumenta com as previsões, nada otimistas, de mudanças climáticas extremas. A imprevisibilidade do clima pode alterar o ciclo produtivo das regiões que conhecemos hoje.

    As anomalias nas precipitações pluviométricas, menos queda de neve e o derretimento das geleiras agravará a escassez de água, prejudicará a agricultura e a geração de energia das hidrelétricas. O impacto nas pequenas centrais hidrelétricas (PHC) pode ser significativo pela redução do volume de água. Porém, deve aumentar o tempo de radiação solar, favorecendo a geração de energia fotovoltaica.

    Esses fatores exigem maior racionalidade no uso dos recursos naturais, trazendo mudanças profundas no comportamento dos consumidores.

    Com o aumento da população e a expectativa de vida cada vez maior das pessoas apoiadas pelos avanços da medicina, melhor alimentação e condições sanitárias, produzirão mudanças na forma de trabalho e na economia. O trabalho fixo em empresas deverá ser substituído por atividades executadas por freelancers, ou seja, uma pessoa trabalhará para várias empresas de forma pontual. Atualmente, 34% dos trabalhadores americanos são freelancers e estima-se que serão 40% em 2020.

    A alta produtividade de manufatura e preços baixos na Ásia, principalmente na China, continuará a pressionar a indústria em todo o mundo, exigindo maior produtividade e inovação.

    A exceção de países que tenham commodities, como petróleo, gás, minério e produtos agrícolas, os demais terão que encontrar alternativas no desenvolvimento de tecnologia e serviços para gerar renda. O risco para quem produz apenas commodities é a substituição desses insumos por outros com novas descobertas tecnológicas, como novas técnicas para a extração do gás de xisto e novos materiais usando o grafeno.

    A progressiva substituição da matriz energética atual para uma matriz renovável com uso de usinas fotovoltaicas e eólicas devem reduzir as exportações de petróleo e gás que sustentam algumas economias de países como a Rússia, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Venezuela e Bolívia. Como resposta ao declínio das exportações do petróleo, principalmente devido a autossuficiência energética americana com o gás de xisto (shale gas), os maiores produtores reduziram o preço do barril do petróleo em cerca de 50%, prejudicando a expansão da produção de energia com outras fontes. Entretanto, existe um limite para a manipulação de preços e, inevitavelmente, o petróleo perderá importância na geração de energia.

    Nesse cenário prospectivo, a educação e o empreendedorismo são fundamentais para o crescimento da economia e melhoria da qualidade de vida das pessoas, tanto nas cidades como no campo.

    A visão estratégica de formação de mão de obra qualificada, principalmente de engenheiros e tecnólogos, é de segurança nacional e não apenas para proteger as empresas da concorrência nacional. Não criar oportunidades de trabalho para os jovens cria um exército de reserva para seitas, drogas e armas. Um exército de reserva qualificado aumenta os riscos de ataques cibernéticos e melhora a coordenação de movimentos terroristas e do crime organizado.

    Para estimular o crescimento econômico e gerar mais empregos é necessário adotar um sistema de inovação moderno: com fluidez de capital, flexibilidade da reserva de trabalho, receptividade do governo aos negócios, tecnologias de informação e comunicação, infraestrutura para o desenvolvimento do setor privado, sistemas legais para proteger os direitos de propriedade intelectual, capital científico e humano disponíveis, aptidões mercadológicas e propensão cultural para estimular a criatividade.

    A inovação abre oportunidades para a geração e distribuição de energia elétrica, desenvolvimento de fontes de água potável e a próxima geração de tecnologia de Internet e de informação, como Big Data, computação cognitiva e Internet of Things. A adoção imediata dessas tecnologias deve fornecer considerável vantagem competitiva e econômica.

    Um desafio neste cenário prospectivo é como deve ser a orquestração das ações para tomadas de decisão corretas, no tempo certo e na destinação de investimentos para garantir o desenvolvimento econômico e social dos países. Aparentemente, o “Capitalismo de Estado” é o modelo que está que sendo adotado pelos países, principalmente, nos momentos de crise aguda da economia.

    O conceito de “Capitalismo de Estado” é amplo e é usado para descrever um sistema de gerenciamento econômico que confere papel proeminente ao Estado, independente do regime politico do país. Em regimes com democracia plena é possível estabelecer um debate e apoio da sociedade para definir as diretrizes básicas. Em regimes mais fechados ou com baixa representatividade, as decisões são centralizadas e a implantação das ações pode não ser aceita pela população ou serem opções equivocadas não gerando resultados positivos, criando insatisfação e conflitos sociais.

    Ainda dentro desse cenário prospectivo, abre oportunidades para a chamada “economia do compartilhamento” ou “shared economy”, onde os consumidores preferem alugar ou compartilhar recursos ao invés de compra-los. Essa tendência traz um impacto significativo no regime capitalismo apoiado no consumo em massa.

    Entretanto, em um cenário de escassez de recursos, migração maciça de pessoas do campo para as cidades, imprevisibilidade das mudanças climáticas e redução da remuneração do trabalho, aparentemente, não existe outra opção a não ser o consumo compartilhado.

    Esse novo movimento traz profundas mudanças na economia, nas cidades, no campo, nos governos, na legislação trabalhista e nas estratégias das empresas tradicionais.

    Na economia, a produção maciça será substituída por valor agregado em inteligência nos produtos para facilitar o compartilhamento. As empresas, definitivamente, precisam se reinventar para continuarem no mercado e não serem aniquiladas pelas novas empresas.

    As cidades deverão implantar soluções inteligentes para fomentar a criatividade, oferecer grande capacidade de telecomunicações, serviços públicos digitais, pouca burocracia e apoio aos empreendedores e redirecionando investimentos para transporte público, incluindo ciclovias para estimular a atividade física e reduzir a emissão de gases do efeito estufa dos carros particulares.

    No campo, as ações públicas e privadas devem fomentar programas educacionais para qualificação da mão de obra, desenvolvimento de tecnologia para o agronegócio, incluindo agricultura de precisão com novas tecnologias como Big Data e Internet of Things.

    Os governos, se optarem pelo Capitalismo de Estado, devem criar mecanismos eficientes apoiados por tecnologia da informação para interagir com a população e conseguir adesão dos projetos de infraestrutura, sociais e econômicos, incluindo a flexibilização da legislação trabalhista.

    Resumindo, temos que nos preparar para as inevitáveis mudanças nas próximas décadas.

  • IoT, Big Data e Agricultura de Precisão

    A forte estiagem que atinge as regiões Sudeste e Centro-Sul era prevista para daqui a 15 ou 20 anos. Com a aceleração do desmatamento da Amazônia, a falta de umidade e a fumaça das queimadas impede a formação de nuvens e chuvas nessas regiões. A Amazônia e a Mata Atlântica são responsáveis por manter a região Sudeste com clima temperado e chuvas regulares, uma vez que essa região está na faixa dos desertos existentes no hemisfério sul (desertos australianos, africanos e do Atacama). Investigações geomorfológicas indicam que entre os anos 1.000 e 1.300 houveram secas generalizadas e várias populações desapareceram nas Américas.

    As mudanças climáticas extremas irão afetar diretamente a produção de alimentos no mundo. Estima-se que cerca de 70% da água doce do mundo é utilizada para a agricultura. O aumento da população mundial, estimada em mais de 9 bilhões de habitantes para 2050, exige a produção cada vez maior de alimentos. O Brasil, que detém a maior área cultivável do mundo e continuará sendo um dos maiores produtores mundiais de alimento.

    Infelizmente, a expansão da produção de alimentos e pecuária leva ao desmatamento de vastas áreas, que por sua vez aumenta o risco de escassez de água e desertificação da região Sudeste.

    As mudanças climáticas estão desafiando as previsões dos agricultores tradicionais, aqueles que sentindo o vento, a umidade, as movimentações dos pássaros sabiam que estava na hora de plantar ou colher.

    A solução para reduzir os riscos ambientais e da economia do país é a tecnologia, o que chamamos de agricultura de precisão. Com informações de sensores instalados no campo para medir a temperatura, umidade do solo e do ar circulante é possível fazer análises em tempo real para planejar, dinamicamente, o plantio e a colheita.

    Através de fotos de satélites ou drones robóticos é possível determinar a maturidade da cultura. Associando esses dados com a disponibilidade de equipamentos e mão de obra através de análise preditiva é possível tomar decisões mais acertadas sobre o plantio e colheita. Por exemplo, essas informações podem adiar a adubação de uma plantação antes de uma forte chuva para evitar o desperdício do adubo que seria levado pelas águas.

    Com a agricultura de precisão é possível aumentar, consideravelmente, a produtividade da agricultura e pecuária, reduzindo o desmatamento e seus efeitos desastrosos para o meio ambiente, para as populações e para a economia. O uso da agricultura de precisão deve ser uma regra e não uma exceção nos países produtores de alimentos.

    A agricultura de precisão gera empregos de qualidade no campo e novos negócios para fornecedores de equipamentos e produtos para o campo. Por exemplo, as plantadeiras e semeadeiras conectadas via Internet aos bancos de dados com informações precisas sobre a qualidade do solo, podem liberar a quantidade e o tipo de adubo para cada metro quadrado de solo, reduzindo o desperdício e aumentando a produtividade do solo.

    Tecnologias como Internet of Things, Big Data, Analytics e Cloud Computing devem ser comuns ao agricultor e pecuarista moderno. O governo deve fomentar a pesquisa, formação de especialistas e utilização da agricultura de precisão.

    Obviamente, os compradores de commodities e analistas de mercado estão atentos ao uso destas tecnologias pelos agricultores em todo o mundo através de imagens de altíssima definição dos satélites. Essas imagens são analisadas por sofisticados softwares que conseguem determinar a qualidade e volume da safra, informações que serão utilizadas para investimentos e negociação do preço das commodities, incluindo o mercado futuro.