Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: mercado livre de energia

  • A Geração Distribuída substituirá o Mercado Livre de energia?

    A Resolução Normativa nº 687/2015 da Aneel que trata sobre a geração distribuída, atualização da resolução nº 482, cria enormes oportunidades para novos modelos de negócios e projetos de geração de energia, principalmente na geração fotovoltaica. Esse novo cenário regulatório de geração distribuída (GD) pode superar o modelo atual de comercialização do Mercado Livre de energia.

    A nova resolução define como microgeração de energia até 75kWp e a minigeração até 3.000kW para fontes hídricas e até 5.000kWp para fontes renováveis (biomassa, eólica e fotovoltaica). Também, cria a oportunidade para consumidores se reunirem em cooperativas e consórcios, e ainda permite o consumo remoto. (mais…)

  • Autoprodução e Mercado Livre de Energia uma estratégia de continuidade de negócios

    Imagine investir R$1,4 bilhões em uma nova fábrica e deixar de operar por falta de energia. Ainda, como enfrentar o desafio de reduzir as emissões de gases de efeito estufa diminuindo custos e aumentando a produtividade. A solução da Holcim, multinacional do setor de cimentos, foi contratar 55MW médios por R$700 milhões até 2022 da CEMIG no mercado livre para sua nova planta em Barroso em Minas Gerais. Já a Honda decidiu investir R$100 milhões em geração eólica de 95MW/ano no litoral do Rio Grande Sul para abastecer sua fábrica em Sumaré em São Paulo, deixando de emitir 2.2 milhões de toneladas de CO2 (redução de 30% das emissões) e reduzindo entre 40-45% dos gastos em energia. A Volkswagen, usando uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) está suprindo 18% da sua demanda de energia. Esses fatos seguem os visionários fundadores da Votorantim que implantaram usinas de geração de energia para consumo próprio desde sua fundação em 1918. Não há dúvidas que a autoprodução e compra de energia no mercado livre é uma excelente alternativa para garantir as operações das fábricas com redução de impactos no meio ambiente. Os projetos garantem energia no curto prazo e retorno do investimento no longo prazo.

    As mudanças climáticas que o Brasil está experimentando coloca em discussão nossa matriz energética. Durante anos focamos na exploração dos nossos recursos hídricos e usinas operadas por combustíveis fósseis (óleo e gás). O uso de energia alternativa era inviabilizado por questões econômicas. Entretanto, com a mudança do cenário de geração e algumas decisões equivocadas da política energética as empresas devem assumir uma postura mais proativa para garantir a continuidade de seus negócios.

    O mercado livre de energia sofreu um revés no final de 2013 com um malfadado decreto lei que forçou a revisão dos contratos de fornecimento de energia no país. Esse decreto lei gerou um desequilíbrio nas contas das distribuidoras, pressionou o aumento dos preços de energia e criou uma percepção de insegurança jurídica de contratos no país. A estiagem que acometeu as regiões Sul e Sudeste forçou o uso das termelétricas, mais cara que as hidrelétricas. Esses fatos, colocaram o país em uma séria crise energética.

    O governo afirma que serão necessários investimentos de 2,6% do PIB para atender a demanda de consumo de energia até 2020. Essa expansão será apoiada por usinas hidrelétricas, eólicas e biomassa, que é o uso de matéria orgânica na geração de energia.

    Como foi anunciado pelo futuro ministro da fazenda, Joaquim Levy, o Brasil fará um esforço para criar superávit nas contas públicas. As previsões são de forte controle nos próximos dois anos, ou seja, até 2016. Provavelmente, as ações serão a eliminação ou redução dos incentivos à indústria, aumento das taxas de juros e aumento de impostos. Isso forçará ações internas de redução de custos das empresas.

    A queda do preço internacional do barril do petróleo em 30%, comercializado em torno de US$70, tem um lado positivo e outro negativo. Com a autossuficiência de petróleo dos Estados Unidos com a produção de energia a partir do gás de xisto, o preço cairá ainda mais.  O lado positivo é que, em teoria, o preço de geração de energia por termelétrica deve reduzir, viabilizando a construção de novas usinas poluidoras movidas a óleo. O lado negativo, além de ser energia suja, é que a Petrobrás, empresa com a maior dívida do planeta, não poderá reduzir o preço interno do petróleo sob o risco de insolvência e de perda da capacidade de investimento no pré-sal. Isso sem comentar as potenciais multas e indenizações a investidores internacionais, pelo menos, dos escândalos de corrupção que estão sob investigação.

    O Brasil deve enfrentar outro desafio importante para a sua economia que é a queda de 10-30% dos preços médios das commodities de minério de ferro, soja e farelo de soja que representam quase 30% do total exportado pelo país, devido a superoferta internacional. Somado a isso, é prevista a saída de investidores de mercado futuro de matérias-primas em busca de outros ativos, como os dos títulos públicos dos Estado Unidos. Isso deve impactar diretamente nossa balança comercial, reduzindo nossa capacidade de investimento.

    Esse cenário econômico e a previsão de crescimento oficial de 0,8% da economia brasileira para 2015, pode reduzir a capacidade de atrair investimentos para a construção de novas usinas geradoras de energia. Como evidência a essa afirmação, foi o fato que no último leilão de energia, realizado no dia 5/11 de energia existente, foram comercializados apenas lotes de 3 anos e nenhum lote de 5 anos, com o preço médio de R$197,09 por MWh, praticamente sem deságio. Esse fato, provavelmente, está associado as incertezas do futuro da economia e política do país, incluindo a falta de transparência dos números oficiais e insegurança jurídica dos contratos.

    Nesse cenário de incertezas, a melhor forma de garantir o fornecimento de energia para as operações atuais e projetos futuros de expansão das empresas é a autoprodução ou compra de energia no mercado livre. As empresas devem considerar um eventual sobrepreço no custo da energia como um seguro para garantir a continuidade de seus negócios e como uma ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

    Estou coordenando um grupo de usuários (GU) na SUCESU-SP, associação de usuários corporativos de TI, para discutir e apoiar a autoprodução e compra de energia no mercado para data centers, responsáveis por um grande consumo de energia nas empresas e emissor de gases do efeito estufa.

    Veja mais detalhes em http://efagundes.com/inovacao/index.php/sustentabilidade/

     

  • O desafio da energia para os data centers e o compromisso com a sustentabilidade

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    Em abril de 2014, o Greenpeace liberou um novo relatório sobre o uso de energia renovável pelos maiores data centers globais. Esse relatório apresenta um ranking dos data centers mais comprometidos com o uso de energia renovável com o objetivo de mitigar a emissão de gases do efeito estufa. O relatório destaca a Apple, Google e Facebook com um forte compromisso de uso de energia renovável e critica a Amazon Web Services (AWS) pelo uso de energia não renovável e pouca transparência no setor.

    figura-clean-data-center-greenpeace-company-scorecard-april-2014

    As estimativas são que em 2014 cerca de 2,5 bilhões de pessoas estão conectadas a Internet no mundo. As previsões são que teremos cerca de 3,6 bilhões de pessoas conectadas em 2017. Cada vez mais as pessoas e os negócios são dependentes da Internet e isso cada vez mais poder computacional para executar os serviços online.

    As empresas de tecnologia estão criando novas soluções para aumentar o poder computacional dos equipamentos e soluções de software para maximizar o uso da infraestrutura. Essas ações de eficiência computacional reduzem o consumo de energia e necessidade de refrigeração, contribuindo para a redução do uso de água para refrigerar o ambiente dos data centers.

    Na comparação de consumo de energia de países e Cloud Computing, mostra que em 2011 a energia consumida pelos data centers é a sexta maior no mundo.

    figura-clean-data-center-greenpeace-electricity-demand-april-2014

     

    Essa situação coloca a necessidade de um tratamento diferenciado para os data centers das políticas públicas e regulatórias dos países.

    No Brasil, existe um forte incentivo para o uso da Internet como um fator de inclusão social e desenvolvimento da economia. Entretanto, o Brasil apresenta um dos custos mais elevados de energia e telecomunicações do mundo. Isso tira a competitividade do setor e restringe a expansão do uso da Internet, principalmente, das classes menos favorecidas que representa a grande parcela da população.

    A única política do governo que permite a redução do custo de energia é a compra de energia no mercado livre para empresas que possuem uma demanda de eletricidade acima de 500kW.

    Essa política beneficia apenas os grandes data centers e, praticamente, elimina a competitividade dos pequenos e médios data centers.

    Infelizmente, o Brasil não tem uma política forte de incentivo a minigeração de energia renovável pelas empresas. Os custos de implantação de geração de energia solar fotovoltaica, eólica, biomassa e através de pequenas hidrelétricas ainda não são atrativas para os data centers.

    Uma política de subsídios para a geração de energia de energia renovável para o setor de data centers traria um grande benefício para a sociedade e para o crescimento da economia. Garantiria preços competitivos dos serviços digitais mesmo em períodos de grandes estiagens, que exigem a geração de energia por usinas termoelétricas que além de poluidoras são mais caras.

    A proposta é criar um regime especial para o setor de data centers com três pautas: (1) permitir que todos os data centers, independente da sua demanda de energia, possam comprar eletricidade no mercado livre; (2) isentar de impostos de importação os equipamentos não produzidos no Brasil para a construção de minigeradoras de energia pelos data centers; e, (3) redução do IPTU dos data centers que reduzirem a emissão de gases do efeito estufa que contribuem para o Plano Municipal de Mudanças Climáticas.