Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

Assine a Newsletter no Linkedin

Tag: zpe

  • ZPEs brasileiras podem mitigar riscos globais e alavancar nosso crescimento

    Acredito que temos um poderoso mecanismo para alavancar nosso crescimento e mitigar alguns dos principais riscos globais que, infelizmente, não estamos usando e nem sequer está na pauta de discussões –  as Zonas de Processamento de Exportação (ZPE).

    As ZPEs são parques industriais, limitados fisicamente, para a instalação de indústrias exportadoras localizadas em regiões com potencial de desenvolvimento econômico. O Brasil tem 24 ZPEs autorizadas e algumas em funcionamento, como a ZPE do Complexo do Pecém no Ceará. A ZPE Paulista está localizada na cidade de Fernandópolis. A atual legislação permite apenas o funcionamento de indústrias e a obrigatoriedade de exportação de 80% da produção. O grande benefício das ZPEs é a isenção de impostos de exportação e importação e alguns impostos estaduais e municipais. Está sendo discutido no Congresso a extensão dos benefícios para áreas de serviços, incluindo serviços de data centers, fábricas de software e call centers.

    Um dos destaques do Fórum Econômico Mundial 2016 em Davos foi a discussão dos riscos globais com base no relatório Global Risks 2016, resultado da avaliação de 750 especialistas sobre 29 riscos globais e seus impactos e probabilidades de ocorrência no horizonte de 10 anos. O maior potencial de impacto é a falha das ações para mitigação das mudanças climáticas. Esta é a primeira vez desde 2006 que um risco ambiental está no topo da classificação, superando o uso de armas de destruição em massa (2), crise hídrica (3), imigração involuntária em larga escala (4) e severas mudanças no preço de energia (5).

    Entretanto, as maiores probabilidades de ocorrência em 2016 são: a migração involuntária em larga escala, seguido de eventos climáticos extremos (2), falha na mitigação das mudanças climáticas (3), conflitos regionais (4) e catástrofes naturais (5).

    Para os próximos 18 meses são: migração involuntária em larga escala (52,0%); colapso ou crise nos Estados (27,9%); conflitos regionais (26,3%); desemprego ou subemprego (26,0%) e falhas nos governos nacionais (25,2%).

    Para os próximos 10 anos, o relatório menciona como maiores probabilidades de ocorrência: crise no abastecimento de água (39,8%); falha na mitigação das mudanças climáticas (36,7%); eventos extremos do clima (26,5%); crise de alimentos (25,2%); e, o aprofundamento da instabilidade social (23,3%).

    Todos esses eventos geram consequências em outras áreas. Veja o mapa de risco a partir dessas análises:

    Global-Risks-Interconnections-Map-2016 (2)

    No caso brasileiro, nosso maior risco e impacto está na falha da governabilidade nacional. A crise no Congresso e o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, geram incertezas na economia e na sociedade. Situação nada favorável para investimentos externos.

    É nesse cenário complexo e desafiador que estão as grandes oportunidades para as ZPEs brasileiras. A atual legislação para as ZPEs garante os contratos e blinda as empresas das mudanças políticas e de legislação no país. Essa segurança facilita e garante o planejamento de longo prazo das empresas instaladas no quadrilátero da ZPE.

    Se analisamos o quadro abaixo nossas vantagens estão nas ameaças em outros países. Por exemplo, Temos poucas ameaças e probabilidade de desastres naturais extremos, crise alimentar (pelo contrário, somos exportadores de alimentos), ataques terroristas, falhas na implementação de ações de mitigação de mudanças climáticas entre outras. Além disso, as empresas podem utilizar energia renovável, contribuindo para a neutralização do carbono em seus países. Uma das maiores motivações das empresas virem para as ZPEs brasileiras é a redução dos riscos de operarem em países onde as ameaças e probabilidades são maiores.

    Brazil-Risks-2016

    Para nós, as vantagens começam com a redução do desemprego, categoria que está no top da lista. Utilizando uma estratégia correta para fornecimento de energia para as empresas da ZPE, utilizando autoprodução de energia ou comprando do Mercado Livre de energia é possível reduzir custos e blindar as variações dos preços, incluindo o aumento do valor do barril do preço previsto para os próximos anos.

    Outros problemas com crise fiscal, falhas na governabilidade e aprofundamento da instabilidade social serão superadas no médio prazo. O atual período de turbulência que o país atravessa é irrelevante para projetos de longo prazo.

    Praticamente, temos uma ZPE por Estado, permitindo que as empresas se instalem próximas das fontes de matéria-prima mais importantes para a sua produção ou logística de distribuição. Podem ainda elaborar planos de continuidade de negócios usando mais de uma ZPE.

    O uso mais intenso das ZPEs brasileiras depende mais dos empresários do que do governo. Como a legislação e processos de homologação das empresas para operarem dentro das ZPEs já está estabelecido basta apenas atrair empresas internacionais para operarem nas ZPEs, que pode ser realizado pelas administradoras das ZPEs ou por empresários locais interessados em parcerias internacionais. O governo pode ajudar na divulgação através de seus órgãos de fomento e divulgação, embaixadas e escritórios comerciais no exterior.

    O Congresso Nacional pode ajudar acelerando a aprovação da alteração de lei que permite a extensão dos benefícios das ZPEs para a área de serviços, abrindo enormes oportunidades de emprego nas cidades onde estão instaladas as ZPEs.

    Enfim, não podemos perder mais uma oportunidade de crescimento econômico e melhoria de emprego por falta de iniciativa.

  • Indústria de software é a chave para aumentar as exportações e produtividade interna

    Nas intensas discussões sobre saídas para a economia brasileira crescer existe o consenso em pelo menos duas: precisamos aumentar nossas exportações e melhorar, significativamente, nossa produtividade interna. Dois desafios que estão fortemente associados. Para aumentar as exportações nossa indústria precisa ser competitiva, globalmente. Esse desafio é maior para a indústria de bens de consumo, dominada pelos produtos chineses nos últimos 20 anos. Com uma política cambial desfavorável tornou-se melhor ser distribuidor do que fabricante e trabalhar com mão de obra pouca qualificada. Agora com a forte crise econômica interna temos que reverter esse cenário. Uma das poucas indústrias que consegue ter uma reação rápida é a indústria de software com o benefício de ajudar nas exportações e melhorar a produtividade de todas as indústrias e serviços.

    Confesso que é triste ver facas Tramontina “Made in China”, outrora, orgulho da indústria gaúcha de facas e canivetes. Curioso ver as lojas da Nespresso lotadas comercializando capsulas de café, enquanto o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e com uma participação insignificante na exportação de café industrializado. Desapontado em ver os motoristas abastecerem carros com motores híbridos com gasolina, enquanto a indústria de etanol definha e importamos gasolina.

    Revitalizar a indústria de consumo e de base no Brasil é um desafio colossal. Não é possível alterar a política cambial de um dia para o outro. Ao longo dos últimos anos a indústria se adaptou ao câmbio e desenvolveu uma nova cadeia de fornecedores e substituição de produtos. Alterar o câmbio de forma brusca geraria uma quebradeira geral e a escassez de produtos no Brasil, além de afetar nossas exportações de commodities.

    Obviamente, precisamos de um plano de médio e longo prazo para reverter a situação e avançarmos no crescimento econômico e social, com maiores salários pela qualificação dos empregados, incluindo a absorção pelo mercado de alunos do PRONATEC e do ensino superior.

    Esse plano tem que ser transparente e de fácil entendimento pela população em geral. Desta forma, quando o motorista estiver pagando um pouco mais pelo etanol ele saberá que é para desenvolver indústria sucroalcooleira. Quando o consumidor estiver pagamento um pouco mais por um conjunto de facas ele saberá que está dando emprego para brasileiros e desenvolvendo a indústria nacional. Quando em casa ou na cafeteria ele estiver consumindo café filtrado ou expresso comum ele saberá que está economizando divisas do país.

    Isso não significa nos fecharmos para o mundo. O Brasil tem que continuar a importar muito, porém substituindo os produtos de consumo por tecnologia e equipamentos de base. É melhor pagar royalties por tecnologia chinesa de sustentabilidade ambiental do que por facas e canivetes. É melhor importar tecnologia e equipamentos de industrialização de café do que capsulas de Nespresso.

    A modernização da indústria e do agronegócio exige softwares especialistas e de gestão. As maiores empresas de software do mundo estão no Brasil e, muitas delas, com laboratórios de pesquisa locais. Um programa amplo de revitalização da indústria nacional exigirá profissionais qualificados e incentivos para o setor de educação, incluindo cursos de engenharia de software e programação no PRONATEC.

    Por outro lado, acredito que uma boa parte da mão de obra qualificada de software está sendo mal aproveitada, desenvolvendo e mantendo softwares legados. Como parte da modernização da indústria de consumo e de serviços, incluindo os serviços bancários, é a adoção de softwares modernos que já contemplam as melhores práticas de gestão e controle mundiais e requerem baixa manutenção. Essa mão de obra qualificada poderia ser melhor aproveitada para desenvolver softwares para exportação e prestar serviço de manutenção e testes de software para o mercado internacional.

    A economia dos nossos vizinhos na América do Sul está crescendo e criando oportunidades na indústria de software que, certamente, podemos atender. Para isso, é fundamental aprovar uma nova legislação para exportar software através das Zonas de Processamento de Exportação (ZPE). As ZPE são zonas de livre comércio internacional com benefícios fiscais que impulsionam as exportações de bens e serviços no mundo inteiro. Infelizmente, no Brasil nossas 24 ZPE são limitadas para a indústria de transformação e não contemplam serviços de qualquer natureza.

    O esforço para aumentar as exportações e revitalizar a indústria nacional deve ser um esforço conjunto entre a sociedade e o governo. Os partidos da base do governo e da oposição devem se unir para aprovar, rapidamente, novas leis que flexibilizem os negócios no Brasil e nos tire da incomoda penúltima posição em competitividade da pesquisa do CNI com outros 14 países (Argentina, Colômbia, México, Polônia, Turquia, Índia, Rússia, África do Sul, Chile, China, Espanha, Austrália, Coreia do Sul e Canadá).

  • ZPE uma solução para exportação de software no Brasil

    Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) são áreas de livre comércio voltadas para a produção de bens e serviços a serem comercializadas para o exterior com um regime diferenciado de tributos. Atribui-se as ZPE o significativo aumento das exportações da China, onde em 1980 exportava US$18 bilhões saltando para US$1.578 bilhões em 2010, enquanto no mesmo período o Brasil passou de US$20 bilhões para US$210 bilhões em exportações. A atual legislação brasileira para ZPE é muito restritiva e contempla apenas a indústria. Um Projeto de Lei está tramitando no Congresso desde 2013 para ampliar e modernizar a legislação para as ZPE, incluindo os setores de serviços, particularmente, os serviços de TI.

    Em 2013, as receitas de software e hardware geram US$61,6 bilhões no mercado doméstico e apenas US$1,2 bilhões em exportações, segundo a ABES – Associação Brasileira de Software. Essa receita coloca o Brasil na 8ª posição mundial do setor. Os números mostram que o mercado interno absorve quase a totalidade dos recursos do setor. Como existe falta de pessoal qualificado no país no setor, podemos inferir há existência de um potencial de crescimento interno, mesmo com baixo crescimento econômico, e excepcionais oportunidades para exportação.

    A região Sudeste concentra 63,91% do mercado nacional, seguido pela região Centro-Oeste com 13,21, pela região Sul com 12,31% e Nordeste com 8,41%. Considerando apenas desenvolvimento e produção de software de 2.708 empresas, 43,9% são microempresa, 49,6% pequenas empresas, 5,2% médias empresas e 1,3% grandes empresas. Essa distribuição mostra o desafio do setor para aumentar a exportação de software, onde as micro e pequenas empresas enfrentam barreiras para comercializar seus produtos no exterior (língua, cultura, canais e investimentos). A Lei do Bem, oferece incentivos fiscais para a exportação e inovação.

    A qualificação do pessoal é chave para o desenvolvimento de software de qualidade com baixo custo, possibilitando o uso de metodologias de engenharia de software e ferramentas de produtividade. É fato que a procura dos jovens por cursos de TI tem reduzido nos últimos anos, reforçando a necessidade de aumentar, consideravelmente, a produtividade do setor. O aumento da eficiência no desenvolvimento deve contribuir para o aumento de salários do setor, sem impactar na lucratividade das empresas.

    A ZPE é uma excelente opção para exportar software com a possibilidade de oferecer parte dos produtos no mercado interno. O Chile, Colômbia e Uruguai já implantaram suas ZPE para serviços de TI e obtiveram adesão de empresas nacionais e internacionais. No Brasil, estamos na dependência da aprovação do Projeto de Lei nº 5.957/2013 que tramita no Congresso.

    As infraestruturas de telecomunicações e energia são importantes para uma ZPE. Devem ser redundantes e operadas por distintas operadoras de telecomunicações e de energia. No caso brasileiro, como a regulamentação do setor elétrico autoriza apenas uma concessionária de distribuição a operar na área, a alternativa para a redundância é a autoprodução de energia na ZPE.

    O grande atrativo das ZPEs é a isenção de impostos, como: imposto de importação, IPI, PIS/PASEP, COFINS e Adicional de frete para renovação da marinha mercante (AFRMM). Outro atrativo é manutenção das receitas de exportação no exterior, entre outras.

    Reunindo várias empresas de software especialistas em uma ZPE é possível compartilhar a divulgação e participação em feiras internacionais, facilitando a penetração em outros mercados.

    As vantagens das ZPEs são evidentes e as experiências em outros países mostraram que são alavancadoras do crescimento econômico. Agora, temos que aguardar a aprovação do Projeto de Lei para intensificarmos as exportações de software.