Como transformar conectividade, energia e regulação em vantagem estratégica para data centers
A América do Sul vive um momento decisivo na disputa global por infraestrutura digital. Com crescimento estimado de 20% ao ano, o mercado de data centers na região deve alcançar US$ 8 a 10 bilhões até 2029, puxado por aplicações cada vez mais intensivas em dados. Inteligência artificial, simulações de engenharia, análises climáticas, sistemas financeiros digitais, streaming, jogos online e soluções em nuvem estão no centro dessa nova demanda, que exige capacidade computacional, baixa latência, energia limpa e conformidade regulatória.
Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai disputam esses investimentos com diferentes estratégias. O Brasil lidera em escala, com 70 data centers, energia 86% renovável e infraestrutura robusta de cabos submarinos (EllaLink, Firmina, GlobeNet). A Redata e a LGPD garantem segurança jurídica, mas impõem exigência de armazenamento local de dados sensíveis, exigindo modelos híbridos. A proposta de taxar Big Techs pode afastar investimentos, e os gargalos de transmissão entre Nordeste e Sudeste ainda são desafios técnicos. A Argentina destaca-se como aposta promissora, com gás de xisto de Vaca Muerta viabilizando projetos de curto prazo e reatores modulares SMRs previstos para 2030 na Patagônia. No entanto, há instabilidade política e limitações de conectividade fora de Buenos Aires. O Chile oferece estabilidade política, um hub consolidado (AWS em Santiago) e boa conectividade com os Estados Unidos e Ásia. Mas sofre com secas recorrentes e custos energéticos altos, exigindo investimentos em soluções ESG como resfriamento a ar. O Uruguai destaca-se pela baixa latência (10–20 ms), estabilidade institucional e pela presença do data center da Google em Canelones. Sua capacidade, no entanto, é limitada a apenas nove data centers. Já o Paraguai atrai por seu baixo custo de energia (US$ 16,71/MWh em Itaipu), mas não possui cabos submarinos, o que resulta em alta latência e dependência de rotas terrestres via Brasil ou Argentina.
A conectividade submarina é um diferencial estratégico. O Brasil é o principal hub da região, enquanto Uruguai e Chile têm boa conexão com o exterior, mas pouca integração leste-oeste. Um único cabo interliga Argentina e Chile, representando vulnerabilidade. O Paraguai está fora dessa rede, o que limita seu uso em aplicações sensíveis ao tempo de resposta. Em termos regulatórios, o Brasil exige armazenamento local de dados pessoais. Já Uruguai e Chile seguem padrões próximos ao GDPR europeu, permitindo processamento de dados anonimizados. Argentina e Paraguai têm marcos legais em evolução, exigindo contratos rigorosos para garantir conformidade com a LGPD brasileira.
A recomendação central para empresas e conselhos é adotar uma estratégia de infraestrutura híbrida. Armazene dados sensíveis no Brasil, conforme exige a Redata, e processe tarefas pesadas ou análises com dados não sensíveis no Uruguai, Chile ou Argentina. Parcerias com Big Techs como Google, AWS e Microsoft são importantes para garantir conformidade e acesso a tecnologia de ponta. Dados anonimizados e contratos com cláusulas de segurança (criptografia, auditorias, certificações ISO) são fundamentais para mitigar riscos. Projetos no Paraguai ou na Patagônia argentina exigem investimento em fibra óptica para reduzir latência. No Brasil, reforçar a transmissão entre regiões é crítico. E no Uruguai, a ampliação da capacidade instalada deve ser planejada com antecedência.
Como plano de ação, empresas devem mapear os fluxos de dados e classificar sua sensibilidade, decidir quais aplicações exigem baixa latência, avaliar a maturidade regulatória de cada país parceiro e acompanhar de perto os desdobramentos da Redata e da taxação de Big Techs no Brasil. Além disso, é essencial alinhar a estratégia de infraestrutura digital com metas ESG, priorizando energia limpa, eficiência térmica e soluções de baixo impacto ambiental.
Em resumo, quem souber equilibrar custo, desempenho e regulação em um cenário geopolítico em transformação terá uma vantagem estrutural nos próximos anos. A América do Sul está pronta para receber data centers inteligentes. O desafio agora é escolher onde, como e com quem construir essa nova camada da competitividade digital.
País | Vantagens Estratégicas | Riscos e Limitações | Uso Recomendado |
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Brasil | Escala (70 data centers), energia 86% renovável, conectividade internacional robusta | Gargalos na transmissão elétrica Nordeste–Sudeste, proposta de taxação de Big Techs, exigência de armazenamento local (LGPD/Redata) | Armazenamento de dados sensíveis, operações em larga escala |
Argentina | Gás de Vaca Muerta (energia térmica de baixo custo), planos de SMRs, apoio dos EUA | Conectividade de dados limitada fora de Buenos Aires, instabilidade política, marco regulatório em transição | Processamento de IA e engenharia em Buenos Aires (curto prazo) |
Chile | Estabilidade política, hub da AWS, boa conectividade de dados com o Pacífico | Escassez hídrica, custo alto de energia, baixa redundância de rotas leste-oeste | Processamento confiável e análises em aplicações que toleram latência |
Uruguai | Baixa latência (10–20 ms), estabilidade institucional, conectividade com cabos Firmina e Tannat | Capacidade instalada limitada (9 data centers), risco hídrico | Aplicações em tempo real, IA leve, análises climáticas regionais |
Paraguai | Energia mais barata da região (Itaipu), proximidade geográfica com o Brasil | Sem cabos submarinos (dependência terrestre de dados), alta latência, infraestrutura limitada | Projetos de baixo custo e menor exigência de tempo de resposta |