Sumário Executivo
O triênio 2026–2028 será decisivo para empresas brasileiras. Nos últimos anos, assistimos a choques que mudaram profundamente a lógica dos negócios: pandemias que desorganizaram cadeias globais, guerras que impactaram o custo da energia, tarifas comerciais que alteraram fluxos de exportação, crises climáticas que afetam safras e até rupturas tecnológicas que reconfiguram setores inteiros. O resultado é claro: planos estratégicos lineares e estáticos não resistem mais à realidade.
Modelos tradicionais de planejamento — como o waste-free, que reduz métricas e concentra foco em poucas iniciativas — continuam úteis, pois oferecem disciplina, clareza e foco. Contudo, seu ponto fraco é assumir que o ambiente competitivo seguirá relativamente estável. No cenário atual, em que variáveis econômicas, políticas e tecnológicas podem mudar em questão de semanas, essa lógica não se sustenta. O diferencial competitivo não está mais em prever com exatidão o que vai acontecer, mas em preparar a organização para prosperar diante de múltiplos futuros plausíveis.
Por que cenários prospectivos são essenciais
Os cenários prospectivos não são previsões. Eles são narrativas estruturadas que exploram alternativas de futuro com base em incertezas críticas e variáveis-chave: economia global, políticas comerciais, câmbio, geopolítica, tecnologia e sociedade. Ao invés de oferecer uma “bola de cristal”, eles fornecem um mapa de trajetórias possíveis, acompanhado de gatilhos de monitoramento que ajudam a identificar quando determinado cenário começa a se materializar.
Para empresas brasileiras, essa abordagem é ainda mais urgente. O país tem um mercado interno relevante, mas continua altamente dependente das exportações de commodities como soja, milho, petróleo, minério de ferro e carnes. Essa dependência torna a economia vulnerável a fatores externos. Uma decisão em Washington, uma desaceleração em Pequim ou um conflito que afete rotas marítimas pode, em semanas, modificar preços internacionais e pressionar o câmbio. Como o real responde de forma imediata a choques globais, a imprevisibilidade se amplia: margens são corroídas, custos de importação sobem e planos de investimento ficam paralisados.
Ao adotar cenários prospectivos, as empresas deixam de reagir apenas no improviso e passam a contar com planos estruturados para momentos de crise ou de oportunidade. Isso fortalece a resiliência prática, reduz riscos de paralisia e aumenta a confiança na tomada de decisão, tanto para grandes corporações quanto para pequenas e médias empresas.
Como os cenários são construídos
Diversos métodos já consagrados — como o Shell Scenarios, o Global Business Network (GBN) e o Intuitive Logics Approach — mostram que os cenários não são exercícios acadêmicos, mas ferramentas práticas de gestão. O processo segue etapas claras:
- Definição da incerteza central, como tarifas comerciais, transição energética ou política monetária.
- Mapeamento de variáveis críticas, incluindo preços de commodities, acordos internacionais e movimentos de câmbio.
- Construção de trajetórias alternativas, que podem incluir estabilidade relativa, agravamento da crise ou surgimento de novas oportunidades.
- Identificação de gatilhos observáveis, como anúncios de tarifas, decisões da OMC, sinais diplomáticos ou variações abruptas de câmbio.
Essa disciplina permite que líderes transformem informações dispersas em planos coerentes, capazes de antecipar riscos e aproveitar oportunidades.
📌 Um exemplo detalhado desse processo — aplicado às políticas comerciais dos Estados Unidos — está disponível no artigo completo:
👉 https://efagundes.com/blog/estrategia-incerteza-2026-2028/
Tecnologia como alavanca estratégica
No horizonte de 2026–2028, a tecnologia deixa de ser apenas suporte operacional e passa a integrar o núcleo da resiliência organizacional. Relatórios recentes de consultorias globais e institutos de pesquisa destacam três tendências-chave:
- Inteligência artificial e automação: já permitem prever demanda, otimizar estoques e ajustar produção quase em tempo real. Além disso, IA generativa e simulações inteligentes (gêmeos digitais combinados a algoritmos avançados) ampliam a capacidade de testar múltiplos cenários.
- Datacenters hiperconectados e 5G-Advanced: oferecem a infraestrutura necessária para suportar análise massiva de dados e baixa latência, essenciais em cadeias produtivas globalizadas. A evolução para redes AI-RAN permitirá a automação inteligente de processos de conectividade.
- Computação quântica e cibersegurança adaptativa: ainda em estágio inicial, mas já presentes em pilotos, essas tecnologias tendem a revolucionar a forma como empresas otimizam logística, reforçam criptografia e enfrentam riscos cibernéticos.
Para empresas brasileiras, integrar tecnologia ao planejamento de cenários significa ter capacidade de monitoramento contínuo e resposta imediata, transformando a incerteza em vantagem competitiva.
Conclusão
O planejamento estratégico precisa deixar de ser um ritual anual e passar a ser tratado como uma competência organizacional contínua. Assim como um músculo, ele deve ser exercitado com frequência para ganhar força e flexibilidade.
Empresas que incorporarem o uso disciplinado de cenários prospectivos estarão mais bem preparadas para atravessar choques externos, capturar oportunidades e manter a coerência mesmo em contextos adversos.
O que definirá o futuro competitivo não é quem prevê com exatidão o que virá, mas quem constrói organizações capazes de prosperar em qualquer futuro.



