Para conselhos, C-level e investidores institucionais
Objetivo do Relatório
Este relatório tem como propósito oferecer uma análise clara e pragmática do atual cenário econômico brasileiro e suas implicações para investimentos no setor elétrico. Ele foi elaborado para orientar conselheiros de administração, executivos de alta gestão e investidores institucionais na tomada de decisão sobre alocação de capital em ativos energéticos estratégicos, com foco em Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e em Sistemas de Armazenamento por Baterias (BESS).
Sumário-Executivo
O Brasil apresenta um contexto de elevada pressão fiscal e instabilidade política. O país convive com déficits recorrentes, baixo espaço para corte de despesas e um ambiente de crescente desconfiança dos investidores. Em reportagem publicada pelo jornal O Estado de São Paulo (10/09/2025), a agência Fitch Ratings foi categórica ao afirmar que o Brasil não deve recuperar o grau de investimento no curto prazo. O motivo central está na incapacidade de gerar superávits primários consistentes, condição essencial para estabilizar a trajetória da dívida pública. Sem esse equilíbrio, o risco-país permanece elevado, pressionando a curva de juros e aumentando o custo de financiamento de longo prazo.
Do lado do setor privado, na mesma cobertura do jornal, a análise da economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, vai na mesma direção. Segundo ela, o ajuste fiscal necessário ultrapassa R$ 95 bilhões apenas em 2025, número que não pode ser alcançado com medidas paliativas ou aumentos pontuais de tributos. A especialista reforça que, sem enfrentamento estrutural — que inclui revisão de gastos obrigatórios e racionalização de subsídios —, a agenda econômica continuará travada em torno de medidas emergenciais, em vez de avançar para reformas que sustentem crescimento e competitividade.
Ainda na cobertura do jornal, a crítica ganha reforço com a visão de Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e hoje executivo do setor privado. Para ele, o nível atual de gastos pode ser considerado sustentável em termos absolutos, mas a escolha de financiar a máquina pública por meio de aumento de impostos gera um círculo vicioso. Esse modelo, ao invés de ampliar a confiança, desestimula o investimento de longo prazo e reduz a competitividade das empresas brasileiras. A consequência é clara: menor capacidade de atrair capital estrangeiro, fuga de investimentos produtivos e maior dependência de fontes de financiamento de curto prazo, com impacto direto no crescimento potencial da economia.
Esse diagnóstico converge em um ponto: sem reformas estruturais e compromisso político com a qualidade do gasto, o Brasil seguirá preso a um ciclo de baixo crescimento, alta percepção de risco e juros persistentemente elevados. Para investidores, isso significa que apenas setores com arcabouço regulatório robusto, contratos de longo prazo e aderência a megatendências globais conseguirão oferecer previsibilidade e retornos ajustados ao risco. O setor elétrico, nesse sentido, destaca-se como uma das poucas alternativas capazes de combinar estabilidade contratual com potencial de inovação.
Nesse ambiente, o prêmio de risco permanece elevado, os juros reais seguem entre os mais altos do mundo e o acesso a crédito de longo prazo exige estruturas sofisticadas de financiamento. Para investidores institucionais, o caminho é buscar ativos que combinem previsibilidade de receita, resiliência regulatória e alinhamento às tendências globais de descarbonização.
É nesse contexto que PCHs e BESS se destacam:
- PCHs oferecem energia firme, com contratos de longo prazo e horizonte operacional de 30 a 50 anos, atuando como âncora de estabilidade.
- BESS agrega flexibilidade, capturando valor em regiões de congestão e viabilizando contratos 24/7 com grandes consumidores.
A estratégia vencedora não é escolher entre os dois, mas combinar ambos em um portfólio que equilibre estabilidade e inovação.
Leitura de Cenário — “Clássico com visão de futuro”
O ambiente macroeconômico é marcado por riscos permanentes: déficit fiscal estrutural, juros elevados e volatilidade global. O setor elétrico, no entanto, permanece relativamente atrativo por ser intensivo em contratos e ancorado na transição energética.
Ainda assim, é fundamental destacar que a regulação brasileira, frequentemente vista como “madura”, é alvo de críticas. Especialistas apontam que o excesso de complexidade, a judicialização recorrente e as intervenções políticas distorcem incentivos econômicos. No caso de tecnologias emergentes como o armazenamento em baterias, não existe ainda um arcabouço estável de remuneração. Assim, os investimentos devem ser feitos com plena consciência de que a previsibilidade é maior do que em outros setores, mas está longe de ser absoluta.
Por outro lado, há vetores positivos que funcionam como amortecedores: a transição energética é política de Estado, a demanda por confiabilidade cresce com a digitalização da economia (data centers e indústrias eletrointensivas) e projetos de menor porte têm mais capilaridade política e social.
PCHs: O ativo clássico que ancora portfólios
As Pequenas Centrais Hidrelétricas voltaram a ganhar relevância ao serem incluídas nos mecanismos de contratação de energia de reserva. Esse movimento abre espaço para receitas estáveis e de longo prazo.
O valor das PCHs está em sua capacidade despachável e em sua vida útil longa, com receitas que acompanham a inflação e risco operacional relativamente baixo. Elas também funcionam como um hedge natural à intermitência de solar e eólica.
No entanto, os desafios não são triviais: o licenciamento pode ser demorado, os custos de conexão são elevados e a competição com fontes mais baratas pressiona a atratividade. O CAPEX de implantação, segundo estudos da EPE e da ANEEL, pode variar de R$ 7 milhões a R$ 14 milhões por MW, dependendo da localização. Essa amplitude mostra que cada projeto exige análise própria e rigor técnico-financeiro.
BESS: O ativo flexível que monetiza congestionamento e curtailment
O armazenamento em baterias surge como a resposta mais promissora ao problema do curtailment, que já se tornou estrutural em regiões como o Nordeste. Ao armazenar excedentes de energia solar e eólica, o BESS permite liberar essa energia em horários de maior demanda e preço.
Além da arbitragem temporal, o BESS entrega serviços ancilares (reserva de potência, controle de frequência, black start) e habilita contratos 24/7 com grandes consumidores. É, portanto, uma tecnologia que conecta a expansão renovável com a demanda corporativa por energia limpa e confiável.
O desafio está no modelo de remuneração. A ANEEL ainda não definiu de forma clara como será o pagamento pelos serviços de armazenamento no mercado regulado. Hoje, projetos de BESS no Brasil são estruturados de forma oportunista, com receitas “empilhadas” e contratos customizados. O CAPEX, que varia entre R$ 2,0 e R$ 2,7 milhões por MWh, ainda é elevado, mas deve cair com a evolução da cadeia global.
Estratégia Integrada: PCH + BESS
A melhor tese de investimento é combinar a estabilidade das PCHs com a flexibilidade do BESS. Essa integração cria portfólios resilientes a choques macroeconômicos e regulatórios, capazes de monetizar atributos distintos:
- Estabilidade de receita via contratos longos das PCHs.
- Captura de volatilidade horária e serviços ancilares via BESS.
- Atendimento a demandas corporativas ESG, como PPAs verdes com garantia de fornecimento contínuo.
Em um país onde o risco fiscal é elevado e a regulação está em evolução, essa estratégia “clássico + flex” oferece um caminho seguro e inovador para investidores.
Considerações Finais
As reportagens do Estadão apontam para uma realidade: sem ajuste fiscal, o Brasil seguirá enfrentando juros altos e baixa confiança. Esse cenário restringe investimentos em setores dependentes do consumo interno, mas abre espaço para ativos que oferecem contratos de longo prazo e serviços sistêmicos.
As PCHs e os BESS representam, cada uma a seu modo, a convergência entre resiliência e transição energética. Mas é preciso cautela: a atratividade depende não só de engenharia financeira, mas da capacidade de navegar um ambiente regulatório em constante mudança.
Para conselheiros de administração e investidores institucionais, a mensagem é clara: investir em energia no Brasil continua sendo uma oportunidade relevante, desde que se adote uma postura seletiva, criteriosa e integrada. O futuro pertence a quem souber equilibrar a solidez das fontes clássicas com a inovação das tecnologias flexíveis.


