O setor elétrico brasileiro está prestes a atravessar a maior transformação desde a reestruturação dos anos 1990. A abertura total do mercado livre de energia, combinada com a digitalização das redes, a descentralização da geração e a chegada de novas tecnologias, impõe um reposicionamento estratégico profundo para distribuidoras, comercializadoras, órgãos reguladores e agentes de mercado. O tradicional modelo de negócios baseado na concessão e na venda de energia a tarifa regulada está sendo substituído por um modelo orientado à infraestrutura, serviços e inteligência de rede.
Este movimento, conhecido como “transição do monopólio ao fio puro”, exige uma visão clara sobre os novos papéis das distribuidoras, agora posicionadas como operadoras de redes de distribuição inteligentes (DSOs). Este modelo, já adotado em países como Reino Unido, Alemanha e Índia, separa as funções de comercialização e operação de rede, garantindo neutralidade no acesso e permitindo o florescimento de novos modelos de negócios baseados em eficiência energética, geração distribuída, armazenamento, mobilidade elétrica e soluções digitais.
O que está mudando
A Medida Provisória nº 1.300/2025, que integra a Reforma do Setor Elétrico e o programa “Luz do Povo”, antecipou formalmente o cronograma de abertura do mercado livre de energia elétrica. Conforme a nova norma, consumidores do Grupo B não residencial poderão migrar a partir de 1º de agosto de 2026, enquanto o acesso será estendido ao segmento residencial em dezembro de 2027. Esse movimento representa uma mudança estrutural: mais de 70 milhões de unidades consumidoras terão liberdade para escolher seus fornecedores. Em paralelo, as distribuidoras perderão a exclusividade na comercialização e passarão a ser remuneradas exclusivamente pelo uso da rede — atuando sob o modelo de “fio puro”, com foco na operação da infraestrutura técnica em regime de neutralidade elétrica.
Essa nova realidade exige:
- Modelos tarifários eficientes, que garantam remuneração adequada pela infraestrutura.
- Plataformas digitais capazes de integrar medição, controle e precificação em tempo real.
- Estratégias para concorrer na prestação de serviços energéticos, como armazenamento, gestão de demanda, qualidade de energia e suporte a DERs (Distributed Energy Resources).
O papel das distribuidoras no novo modelo
O novo contexto não elimina o papel das distribuidoras — mas o transforma. Elas deixam de ser operadoras de energia para se tornarem gestoras de infraestrutura e dados, com responsabilidades ampliadas na coordenação de recursos distribuídos, confiabilidade da rede e atendimento ao consumidor final.
Para isso, é essencial investir em:
- Sistemas de automação e controle (como SCADA, ADMS e DERMS) que ofereçam visibilidade total da rede.
- Cultura digital e requalificação de equipes, com foco em analytics, cibersegurança e inteligência operacional.
- Parcerias estratégicas com startups e provedores de tecnologia, para acelerar a inovação.
Distribuidoras que não se adaptarem podem perder espaço para novos players — como agregadores de demanda, provedores de energia como serviço e plataformas de gestão descentralizada.
Oportunidades para comercializadoras, startups e integradores
Com a quebra da exclusividade das distribuidoras, o mercado de energia se abre para novos agentes. Comercializadoras passam a atender milhões de novos clientes; integradores de energia solar, eólica e baterias podem operar como microconcessionárias virtuais; empresas de tecnologia podem fornecer plataformas para gestão de energia, billing, CRM e análise de perfil de consumo.
Startups também ganham espaço com soluções de:
- Eficiência energética baseada em dados (Big Data e IoT).
- Aplicações com inteligência artificial para forecast e precificação.
- Financiamento de projetos via blockchain e contratos inteligentes (smart contracts).
- Mobilidade elétrica com integração tarifária.
O ecossistema energético passa a ser multiplataforma, orientado por software e interconectado em tempo real.
O desafio regulatório e os aprendizados internacionais
A experiência internacional mostra que a transição para o fio puro não é apenas técnica — é política e institucional. Em países como Reino Unido (Ofgem), Alemanha (BNetzA) e Estados Unidos (Califórnia e Nova York), a implementação do modelo DSO exigiu:
- Definição clara das atribuições do operador de rede.
- Transparência na formação de tarifas.
- Mecanismos de coordenação entre distribuição e transmissão.
- Políticas de proteção ao consumidor e à segurança energética.
No Brasil, o papel da ANEEL e do MME será fundamental para garantir uma regulação equilibrada, que permita a modernização sem comprometer a universalização do serviço.
O que sua empresa deve fazer agora
As mudanças são inevitáveis. A questão é: sua empresa está pronta?
Para distribuidoras, comercializadoras, empresas de engenharia e fornecedores de tecnologia, este é o momento de agir estrategicamente. Algumas ações recomendadas:
- Mapear os impactos organizacionais e operacionais da abertura do mercado.
- Revisar o modelo de negócios, considerando cenários com e sem base regulada.
- Investir em capacitação de lideranças e times técnicos para lidar com o novo ambiente.
- Avaliar parcerias com empresas de tecnologia, integradores e agentes de mercado.
- Desenhar novos serviços para o consumidor final, com foco em valor agregado e experiência.
Ignorar essas mudanças pode significar perda de relevância, receitas e competitividade em poucos anos.
Um convite à ação: o e-book “Do Monopólio ao Fio Puro”
Para apoiar essa transição, disponibilizamos gratuitamente o e-book “Do Monopólio ao Fio Puro: Novos Modelos de Negócio para Distribuidoras de Energia”, uma análise estratégica e didática sobre o novo momento do setor elétrico brasileiro. O material apresenta:
- Conceitos essenciais da separação entre rede e fornecimento;
- Análise das experiências internacionais e seus resultados;
- Desafios tecnológicos, regulatórios e organizacionais;
- Propostas de ação para empresas do setor.

Mais que um estudo, o e-book é uma ferramenta prática para orientar decisões estratégicas e formar times prontos para atuar na nova era do setor elétrico.
Se você é gestor, técnico ou executivo do setor de energia, este é o momento de assumir o protagonismo na transição energética brasileira. Não espere a nova regra chegar. Antecipe-se.