Sumário Executivo
Nos últimos anos, empresas em todo o mundo têm revisto sua relação com a computação em nuvem. Depois de uma década marcada por migrações massivas, um movimento inverso vem ganhando força: a repatriação de workloads, ou seja, trazer de volta para infraestruturas próprias ou compartilhadas parte das aplicações que haviam sido transferidas para a nuvem.
Esse movimento não é um retrocesso, mas sim um sinal de maturidade digital. A experiência mostrou que a nuvem é extremamente útil para determinados tipos de aplicações, mas não é a melhor solução para todas elas. Hoje, líderes empresariais e de tecnologia entendem que cada aplicação — ou workload — precisa estar no ambiente mais adequado ao seu perfil.
Estudos recentes reforçam essa tendência. Llorente (2024), no EE Times Europe, mostra que 83% dos CIOs globais planejam repatriar parte de suas cargas, enquanto Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, indicam que 86% dos executivos de TI já iniciaram ou pretendem iniciar esse movimento. A principal motivação está nos custos: workloads de uso contínuo e previsível tornam-se mais caros na nuvem, onde o modelo de cobrança é variável e, muitas vezes, imprevisível. O caso do Outback Steakhouse, relatado pela TI Inside em fevereiro de 2025, ilustra bem essa realidade: ao revisar sua estratégia e adotar práticas de FinOps, a rede reduziu em 30% os gastos com nuvem.
Além do custo, outros fatores são decisivos. Questões de governança e conformidade — como a LGPD (Brasil), o GDPR (Europa) e o HIPAA (EUA) — exigem maior controle sobre dados sensíveis, especialmente em setores regulados (energia, saúde, finanças). A soberania de dados também ganhou centralidade: legislações como o CLOUD Act (EUA) e o EU Data Act (Europa) reforçam a necessidade de manter informações em datacenters sob jurisdição nacional (BRAUN et al., 2024).
O desempenho é outro ponto crítico. Aplicações industriais e de missão crítica — como sistemas SCADA, controle de turbinas, redes elétricas inteligentes e linhas de produção — não podem depender da latência da internet pública. Para esses casos, surge o edge computing, em que o processamento ocorre próximo da origem dos dados, garantindo velocidade e confiabilidade (COUPLAND, 2025; DONNELLAN et al., 2024).
Mas o “novo on-premises” não é o datacenter improvisado do passado. Empresas que repatriam workloads optam por colocation em data centers Tier III ou IV, com alta disponibilidade, redundância de energia, múltiplas conexões e certificações de segurança. Esses centros estão, muitas vezes, próximos às regiões onde atuam também os grandes provedores de nuvem, o que viabiliza arquiteturas híbridas — workloads sensíveis sob controle direto e workloads elásticos integrados a serviços públicos de nuvem.
Essa transição exige resiliência: redundância entre sites, replicação de dados em tempo real e planos robustos de recuperação de desastres. Sem essas medidas, a empresa corre o risco de trocar os problemas da nuvem por vulnerabilidades ainda maiores.
Outro desafio está nas pessoas. Operar infraestruturas híbridas demanda especialistas em cloud, redes, segurança e OT. Como nem todas as empresas conseguem manter internamente equipes completas, cresce a demanda por serviços de operação remota (RIM), que oferecem monitoramento 24/7 e acesso a talentos especializados (REED; TATAM, 2025).
Em síntese, a repatriação de workloads representa um ajuste estratégico natural. Não se trata de abandonar a nuvem, mas de utilizá-la de forma mais inteligente, em conjunto com soluções locais e regionais. O futuro das empresas será híbrido: workloads sensíveis em colocation e edge, workloads elásticos na nuvem pública, tudo sob uma lógica de governança sólida, custo previsível e resiliência operacional.
Para companhias em setores críticos, como energia, saúde e finanças, esse movimento não é opcional — é uma exigência de continuidade de negócios. As organizações que se anteciparem e estruturarem arquiteturas híbridas de forma robusta conquistarão não apenas maior segurança, mas também vantagem competitiva e confiança do mercado.
Mensagem-chave para conselhos e alta gestão
O verdadeiro desafio da transformação digital não está em escolher entre nuvem ou on-premises, mas em desenhar a arquitetura certa para cada aplicação crítica do negócio.
Contexto Global da Repatriação
Nos últimos dois anos, a expressão cloud repatriation deixou de ser uma exceção e passou a ser considerada uma estratégia predominante em grandes corporações. O que inicialmente era visto como um retrocesso em relação à migração para a nuvem agora é compreendido como um ajuste natural de maturidade tecnológica.
Segundo Llorente (2024), em pesquisa publicada no EE Times Europe, 83% dos CIOs globais afirmaram que planejam repatriar ao menos parte de seus workloads, contra 43% no levantamento anterior de 2022. Esse salto evidencia uma reavaliação crítica sobre os custos e a adequação de workloads à nuvem pública (LLorente, 2024).
Complementando esse panorama, Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, identificaram que 86% dos executivos de TI já haviam iniciado ou planejavam iniciar processos de repatriação. O estudo ressalta que a decisão não representa um abandono da nuvem, mas sim um refinamento estratégico, com foco em mover workloads específicos de volta para ambientes on-premises ou colocation em grandes datacenters Tier III ou IV (REED; TATAM, 2025).
Coupland (2025), em artigo no TechRadar Pro, reforça essa leitura ao destacar que a repatriação vem se consolidando como tendência global, sobretudo em setores que buscam custo previsível, governança sólida e resiliência operacional.
Dimensão Internacional
- Estados Unidos: Shaikh (2024) relata que 42% das empresas norte-americanas já moveram workloads de volta para ambientes on-premises. Casos notórios reforçam a tendência: o Dropbox economizou US$ 74,6 milhões em dois anos ao internalizar parte de sua infraestrutura (SVERDLIK, 2018). Outro exemplo é o Basecamp, que em 2023 anunciou a redução de custos e dependência da nuvem pública como parte de sua estratégia operacional.
- Europa: Braun et al. (2024), em análise publicada pela WilmerHale, destacam que o EU Data Act impõe novas regras de soberania digital e reforça a tendência de repatriação em setores regulados, como finanças, saúde e energia. A motivação central é reduzir a exposição a legislações extraterritoriais, como o CLOUD Act norte-americano.
- Ásia-Pacífico: Donnellan et al. (2024), no Uptime Institute Global Data Center Survey, mostram que países como Índia, Singapura e Coreia do Sul estão entre os líderes na adoção de edge datacenters, reduzindo latência em aplicações críticas de telecomunicações, manufatura e finanças, reforçando a repatriação parcial de workloads.
Síntese
Esses levantamentos revelam que a repatriação não é uma anomalia regional, mas um fenômeno global. Executivos de tecnologia estão ajustando suas estratégias para balancear custos, governança e desempenho, adotando modelos híbridos ou cloud-appropriate, em que cada workload é alocado ao ambiente mais eficiente — seja nuvem pública, datacenter privado ou edge.
Conceitos Fundamentais
Antes de aprofundar a análise sobre a repatriação de workloads, é fundamental compreender três conceitos-chave que estruturam toda a discussão atual de infraestrutura digital: on-premises, cloud computing e o modelo híbrido/edge. Esses termos são frequentemente utilizados de forma intercambiável, mas cada um possui características, vantagens e limitações próprias que precisam ser analisadas no contexto corporativo.
On-Premises
O modelo on-premises refere-se à infraestrutura de TI instalada fisicamente dentro da própria organização ou, em modelos mais modernos, em regime de colocation em grandes datacenters especializados (Tier III ou IV). Nesse formato, a empresa mantém controle total sobre dados, aplicações e sistemas, podendo customizar hardware, segurança e políticas de acesso de acordo com necessidades específicas.
No entanto, essa autonomia vem acompanhada de responsabilidade integral: é necessário investir em CAPEX (compra de servidores, sistemas de armazenamento, climatização, energia redundante) e manter equipes técnicas para garantir operação, manutenção, segurança cibernética e atualização contínua.
Aplicações típicas:
- Bancos de dados de missão crítica.
- Sistemas SCADA, DCS e EMS em plantas industriais e de energia.
- Ambientes que exigem conformidade regulatória rigorosa (ex.: dados financeiros e de saúde).
Cloud Computing
O modelo de cloud computing popularizou-se por meio de provedores como AWS, Microsoft Azure e Google Cloud, oferecendo escalabilidade praticamente ilimitada e elasticidade — ou seja, a capacidade de aumentar ou reduzir recursos em tempo real conforme a demanda.
Esse modelo é ideal para workloads dinâmicos, testes de novas aplicações, desenvolvimento de protótipos e inovação rápida, uma vez que elimina a necessidade de investimento inicial em infraestrutura. A lógica é OPEX puro: paga-se pelo que se consome.
Contudo, a flexibilidade pode gerar custos imprevisíveis. Taxas de tráfego (egress), workloads mal dimensionados ou dependência excessiva de recursos em nuvem acabam levando muitas empresas a uma “fatura surpresa” — um dos fatores centrais que têm motivado a atual onda de repatriação.
Aplicações típicas:
- Aplicativos web de alta variabilidade.
- Inteligência artificial e aprendizado de máquina em fase de testes.
- Plataformas de colaboração global.
- Processamento massivo não contínuo (ex.: renderização gráfica, simulações).
Modelo Híbrido / Edge
O modelo híbrido combina elementos da nuvem pública com infraestrutura on-premises ou edge computing — servidores físicos próximos ao ponto de geração ou uso do dado, muitas vezes instalados em plantas industriais, subestações ou hubs regionais.
Esse modelo busca o “cloud-appropriate”: cada workload é alocado no ambiente mais adequado. Workloads críticos em termos de latência, compliance ou disponibilidade permanecem em edge/on-premises, enquanto workloads menos sensíveis ou mais elásticos são mantidos em nuvem.
Pesquisas recentes confirmam que a estratégia híbrida se consolidou como tendência dominante no mercado global. Llorente (2024), em estudo publicado no EE Times Europe, mostra que 83% dos CIOs planejam repatriar parte de seus workloads, enquanto Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, apontam que 86% dos executivos de TI já iniciaram ou pretendem iniciar processos de repatriação. Coupland (2025), no TechRadar Pro, reforça que a adoção de arquiteturas híbridas deixou de ser exceção para se tornar o novo padrão corporativo.
Aplicações típicas:
- Monitoramento em tempo real de linhas de produção (edge).
- Smart grids e controle de subestações elétricas (edge + on-premises).
- Processamento histórico de dados e analytics em larga escala (cloud).
- Plataformas de colaboração e CRM (cloud).
Síntese
- On-Premises garante controle, previsibilidade e compliance, mas exige alto investimento e especialistas internos ou serviços de operação remota.
- Cloud entrega agilidade e elasticidade, mas pode comprometer previsibilidade de custos e compliance.
- Híbrido/Edge representa a maturidade estratégica: o equilíbrio pragmático entre inovação e controle, crucial em setores de missão crítica como energia, telecomunicações, óleo e gás e manufatura avançada.
Tabela Comparativa – On-Premises, Cloud e Híbrido/Edge
Dimensão | On-Premises / Colocation | Cloud Computing | Híbrido / Edge |
Controle | Controle total sobre dados, sistemas e segurança. | Controle limitado, dependência do provedor. | Balanceado: workloads críticos sob controle local, workloads elásticos em cloud. |
Custo | Alto CAPEX inicial, custos mais previsíveis a longo prazo. | Modelo OPEX, flexível mas frequentemente imprevisível. | Combinação CAPEX + OPEX, buscando otimização entre previsibilidade e elasticidade. |
Latência e Desempenho | Latência mínima e previsibilidade alta. | Latência variável, dependente da rede. | Resposta em tempo real no edge + capacidade de processamento massivo em cloud. |
Resiliência / Alta Disponibilidade | Depende de redundância local (ativo/ativo ou ativo/passivo) e DR próprio. | Redundância global do provedor, mas sujeita a falhas regionais. | Redundância combinada: edge para operação contínua + replicação global em cloud. |
Compliance / Soberania | Atende plenamente a regulações locais e setoriais (LGPD, ANEEL, ANP, HIPAA). | Risco de exposição a legislações externas (ex.: CLOUD Act). | Workloads sensíveis sob regras locais, workloads não críticos em cloud global. |
Escalabilidade | Limitada à capacidade física instalada. | Escalabilidade quase infinita, provisionamento sob demanda. | Escalabilidade inteligente: elasticidade na cloud, estabilidade no on-prem/edge. |
Especialistas Necessários | Exige equipe interna qualificada ou serviços de operação remota. | Menor exigência direta, mas demanda gestão contratual e governança de custos (FinOps). | Equipes multidisciplinares (cloud, OT, segurança) + parceiros estratégicos. |
Workloads Típicos | ERP, bancos de dados críticos, SCADA, DCS, sistemas regulados. | Testes, desenvolvimento, IA em piloto, aplicativos web variáveis, colaboração global. | OT e IoT críticos (edge), smart grids, analytics históricos em cloud, CRM e colaboração. |
Setores mais aderentes | Energia, manufatura, óleo e gás, saúde, finanças reguladas. | Startups, e-commerce, mídia digital, empresas de SaaS. | Indústrias reguladas, utilities, telecom, empresas de missão crítica global. |
Por que as empresas estão repatriando workloads?
A decisão de repatriar workloads não é fruto de modismos ou reações pontuais, mas sim de uma combinação de fatores estruturais que emergiram após mais de uma década de adoção massiva da nuvem pública. Pesquisas recentes — como o estudo de Llorente (2024), publicado no EE Times Europe, que aponta que 83% dos CIOs planejam repatriar parte de seus workloads, e a análise de Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, que mostra que 86% dos executivos de TI já iniciaram ou pretendem iniciar esse movimento — confirmam que os principais motores dessa transformação são os seguintes:
- Custo elevado e imprevisível
Embora a nuvem tenha sido promovida como sinônimo de economia e flexibilidade, a realidade mostrou-se mais complexa. Workloads estáveis e intensivos — como ERP, billing e bancos de dados — possuem perfil de consumo previsível. Nesses casos, manter a carga na nuvem costuma ser mais caro do que uma solução on-premises ou em colocation, devido ao custo recorrente de uso contínuo.
Shaikh (2024) identificou que 42% das empresas norte-americanas já moveram workloads de volta ao on-premises justamente pelo impacto financeiro. Da mesma forma, Llorente (2024) aponta que 83% dos CIOs globais planejam repatriar parte de suas cargas, em grande medida devido à insustentabilidade dos custos. Reed e Tatam (2025) reforçam que esse não é um movimento pontual, mas um ajuste estratégico de maturidade, no qual empresas reavaliam onde cada workload deve residir.
Um dos maiores problemas é o modelo de cobrança opaco: taxas de egress (para saída de dados), instâncias subutilizadas e escalabilidade pouco planejada frequentemente geram a chamada “conta surpresa” no fim do mês — transformando a promessa de economia em um risco financeiro de difícil previsão.
Exemplo prático: no Brasil, o Outback Steakhouse, junto com as marcas Abbraccio e Aussie, conseguiu reduzir em média 30% os custos de nuvem em 2025 ao adotar práticas de FinOps e otimizar workloads. O exemplo demonstra que a má alocação inicial de workloads pode se transformar em um fardo financeiro significativo, exigindo revisões estratégicas e práticas de governança de custos bem estruturadas [TI Inside, 13/02/2025]
- Governança e compliance
Setores regulados — como energia, saúde, financeiro e telecomunicações — estão sujeitos a exigências rígidas de auditoria, rastreabilidade e conformidade legal.
Leis como a LGPD (Brasil), o GDPR (Europa) e o HIPAA (EUA) determinam que dados sensíveis estejam sob controles específicos, muitas vezes inviáveis de serem garantidos em ambientes de nuvem pública.
Segundo Braun et al. (2024), o EU Data Act reforça essa tendência ao impor novas regras para o tratamento e a soberania de dados, pressionando empresas europeias a adotar modelos híbridos ou regionais de infraestrutura. Reed e Tatam (2025) acrescentam que a governança e o compliance estão entre os principais motores da repatriação global, especialmente em setores regulados. Coupland (2025) observa que, para empresas intensivas em requisitos legais, repatriar workloads não é uma escolha, mas um requisito de continuidade operacional e conformidade normativa.
- Desempenho e latência
Workloads de OT (Operational Technology), sistemas SCADA, automação de plantas industriais e aplicações de missão crítica não podem depender de latências variáveis da internet pública.
A nuvem é excelente para workloads batch ou análises históricas, mas para processos em tempo real — como controle de turbinas, redes elétricas inteligentes (smart grids) e veículos autônomos — a latência precisa ser mínima.
Coupland (2025), em análise publicada no TechRadar Pro, destaca que empresas de manufatura e energia lideram a repatriação parcial de workloads justamente por conta das demandas de latência e resiliência operacional.
O desafio é claro: em plantas de geração de energia, cada milissegundo conta para evitar falhas e interrupções. Delegar esse tempo crítico à nuvem é arriscado e pode gerar apagões ou acidentes industriais.
- Soberania de dados e risco geopolítico
A crescente fragmentação regulatória é um motor central da repatriação.
O CLOUD Act (EUA, 2018) permite que autoridades norte-americanas solicitem dados armazenados em servidores de empresas americanas, mesmo que esses dados estejam fisicamente em outros países.
Como reação, a União Europeia aprovou o EU Data Act (BRAUN et al., 2024), que reforça a necessidade de soberania digital e estimula a repatriação de dados sensíveis para datacenters regionais.
Braun et al. (2024) destacam que setores regulados como bancos, utilities e governos europeus estão entre os mais avançados na realocação de workloads para infraestruturas locais ou em colocation regional, reduzindo a exposição a legislações extraterritoriais.
- Inteligência Artificial e GenAI
A corrida por IA generativa (GenAI) trouxe um novo complicador para as estratégias de infraestrutura.
Workloads de IA costumam começar pequenos e baratos em fase de prototipagem, mas ao entrarem em produção em larga escala, os custos de GPU, armazenamento massivo e tráfego de dados explodem.
Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, destacam que cada vez mais empresas estão repatriando workloads de IA para clusters próprios ou colocation de alto desempenho, a fim de controlar custos de GPU, otimizar o treinamento de modelos e garantir compliance de dados sensíveis. Coupland (2025) reforça que a GenAI é hoje um dos principais motores para a consolidação do modelo híbrido, já que rodar modelos críticos exclusivamente em nuvem pública se tornou financeira e operacionalmente inviável.
Exemplo: empresas de saúde e finanças têm evitado rodar modelos de IA em nuvem pública por receio de vazamento de dados sensíveis, preferindo ambientes híbridos e controlados, nos quais conseguem combinar elasticidade da nuvem para experimentação com segurança e previsibilidade do on-premises em produção.
Síntese Estratégica
O movimento de repatriação de workloads é sustentado por um conjunto de drivers complementares: econômicos (custo), regulatórios (compliance e soberania), técnicos (latência) e estratégicos (IA e GenAI). Não se trata de rejeitar a nuvem, mas de corrigir excessos e reposicionar workloads de acordo com a lógica do cloud-appropriate (LLorente, 2024; REED; TATAM, 2025; COUPLAND, 2025; BRAUN et al., 2024; DONNELLAN et al., 2024):
- Nuvem pública para workloads elásticos, experimentais e de inovação acelerada.
- On-premises ou colocation para workloads estáveis, previsíveis e críticos em termos de custo ou compliance.
- Edge computing para workloads que demandam tempo real e alta resiliência, especialmente em contextos industriais e de OT.
Que workloads estão sendo repatriados?
A repatriação não significa um “abandono em massa” da nuvem, mas sim uma realocação estratégica e seletiva. Cada workload é avaliado conforme custo, criticidade, requisitos de compliance e desempenho, e então posicionado no ambiente mais apropriado — seja nuvem, on-premises ou edge.
Pesquisas recentes reforçam essa tendência: Llorente (2024), no EE Times Europe, aponta que 83% dos CIOs globais planejam repatriar parte de seus workloads; Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, mostram que 86% dos executivos de TI já iniciaram ou pretendem iniciar esse movimento; e Shaikh (2024), analisando empresas norte-americanas, destaca que 42% já moveram cargas de volta para on-premises. Donnellan et al. (2024), no Uptime Institute Survey, reforçam que a repatriação está fortemente ligada a demandas de baixa latência e resiliência operacional.
Esses levantamentos apontam três grandes categorias de workloads prioritariamente repatriados:
- Workloads previsíveis e estáveis
São aqueles cujo consumo de recursos é relativamente constante e, portanto, mais baratos e previsíveis em ambientes on-premises ou colocation.
- Bancos de dados de alta volumetria: sistemas que processam grandes volumes transacionais (como registros financeiros, históricos de clientes ou logs industriais). Em nuvem, custos de armazenamento e taxas de egress podem explodir; em on-premises, o custo é amortizado em infraestrutura própria.
- Sistemas de billing e ERP: softwares corporativos com uso intensivo e rotinas fixas, que não demandam elasticidade da nuvem. A previsibilidade torna o modelo local mais eficiente.
- Ambientes de backup e recuperação de desastres: embora a nuvem ofereça conveniência, a recuperação de grandes volumes de dados é lenta e onerosa. Muitas empresas têm trazido backups críticos para colocation com replicação síncrona, reduzindo tempo de recuperação (RTO/RPO) e custos de tráfego.
Insight: Reed e Tatam (2025), no Puppet Blog, mostram que workloads estáveis e previsíveis — como bancos de dados de alta volumetria e sistemas ERP — estão entre os mais repatriados, justamente pelo perfil de consumo contínuo que torna a nuvem financeiramente desvantajosa. Shaikh (2024) reforça essa evidência ao apontar que 42% das empresas norte-americanas já moveram esse tipo de aplicação de volta para ambientes on-premises.
- Aplicações de missão crítica (OT/Indústria)
Aqui reside a maior conexão com o universo da nMentors: workloads ligados à tecnologia operacional (OT) são altamente sensíveis a latência, resiliência e disponibilidade.
- SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition), EMS (Energy Management Systems) e DCS (Distributed Control Systems): sistemas que controlam usinas, plantas de energia e redes industriais, nos quais milissegundos fazem a diferença. Qualquer latência adicional pode comprometer segurança ou continuidade da operação.
- Controle de turbinas, linhas de produção e plantas de energia: funções de automação que requerem resposta imediata, não compatível com latências imprevisíveis da internet pública.
- Sistemas de segurança industrial e IoT crítico: monitoramento de válvulas, sensores, alarmes e equipamentos de alta criticidade. Esses workloads demandam edge computing, pois devem processar informações “no local” para garantir decisões em tempo real.
Exemplo prático: em utilities de energia, o EU Data Act (2023) levou empresas a migrar sistemas de controle para datacenters regionais ou colocation próximos às subestações, garantindo soberania e latência mínima.
- Workloads sensíveis a compliance
Empresas em setores regulados enfrentam normas que restringem onde e como dados podem ser armazenados e processados. A nuvem pública, ainda que robusta, muitas vezes não atende às exigências locais.
- Dados financeiros regulados: bancos e seguradoras frequentemente precisam manter dados sob jurisdição nacional (ex.: BACEN e CVM no Brasil).
- Informações de saúde: nos EUA, o HIPAA exige rastreabilidade rigorosa; no Brasil, a LGPD-Saúde obriga que dados médicos sigam padrões específicos de proteção e privacidade.
- Dados de clientes em setores regulados (utilities, telecom, energia): dados de consumo de energia, água ou telecomunicações são considerados críticos, e normas como a ANEEL 1.000/2021 já exigem maior rastreabilidade e proteção.
Insight: Braun et al. (2024), ao analisar o impacto do EU Data Act, mostram que setores regulados — como finanças, saúde e energia — estão entre os que mais avançaram na repatriação de workloads, motivados pela necessidade de conformidade regulatória e soberania de dados. Reed e Tatam (2025) reforçam que a governança e o compliance são hoje fatores centrais para a decisão de repatriar workloads em ambientes on-premises ou regionais.
Síntese Estratégica
- Estáveis: retornam para colocation/on-premises devido ao custo previsível.
- Críticos (OT/Indústria): migram para edge/on-premises por exigência de latência, disponibilidade e resiliência.
- Sensíveis (compliance): permanecem sob jurisdição local para evitar riscos legais e geopolíticos.
Esse quadro mostra que a repatriação não é retrocesso, mas sim maturidade estratégica: cada workload deve ser colocado no habitat certo, conforme seu perfil.
On-Premises no Século XXI: Colocation e Data Centers de Missão Crítica
O retorno ao modelo on-premises não significa, como muitos imaginam, reinstalar servidores em salas corporativas ou pequenos datacenters internos de difícil manutenção. A realidade do século XXI é outra: empresas estão migrando workloads críticos para data centers de missão crítica em regime de colocation, muitas vezes operados por gigantes globais como Equinix, Scala, Ascenty ou ODATA, ou por players regionais altamente especializados.
Esses ambientes oferecem infraestrutura de classe mundial, com certificações Tier III ou Tier IV, e são frequentemente construídos próximos aos grandes pontos de troca de tráfego (IXPs) e às regiões metropolitanas estratégicas onde os provedores de nuvem pública também mantêm seus regions e availability zones. Isso garante proximidade física entre workloads críticos on-premises e workloads elásticos em cloud, habilitando arquiteturas híbridas e multicloud de alta performance.
Benefícios Estratégicos do Colocation
- Proximidade ao ecossistema cloud
Empresas que optam por colocation podem estabelecer interconexões diretas (Direct Connect da AWS, ExpressRoute da Azure, Cloud Interconnect da GCP) com latência inferior a 2 ms em muitos casos. Isso permite manter workloads críticos sob controle próprio, mas com integração fluida aos serviços de nuvem pública.
- Alta disponibilidade e confiabilidade garantida por SLA
Data centers Tier III/IV são projetados com:
- Energia redundante (N+1 ou 2N), muitas vezes com subestações dedicadas.
- Conectividade multicarrier, reduzindo o risco de falhas de rede.
- Climatização redundante e sistemas de detecção e supressão de incêndio.
- SLAs que chegam a 99,982% a 99,995% de disponibilidade anual.
- Esse nível de confiabilidade supera, em muitos casos, as condições dos datacenters próprios que muitas empresas mantinham no passado.
- Escalabilidade sob demanda
Ao contrário do antigo modelo on-premises, limitado à capacidade física instalada, o colocation moderno oferece:
- Expansão rápida de racks e cages, de acordo com o crescimento da demanda.
- Flexibilidade de densidade energética por rack (de 3kW até 50kW, dependendo do cliente e do uso de GPUs/IA).
- Serviços de “bare metal as a service” em alguns operadores, que permitem contratar infraestrutura física dedicada com elasticidade semelhante à nuvem.
- Compliance e certificações
Data centers Tier III e IV de grandes operadores contam com certificações como ISO 27001, SOC 2, PCI-DSS, HIPAA e até adequações específicas para setores regulados (financeiro, saúde, energia). Isso reduz o esforço das empresas em auditorias de compliance e garante aderência imediata a requisitos legais.
A Nova Era do On-Premises
Esse movimento redefine o conceito de on-premises:
- Não se trata mais de “ter tudo dentro de casa”, mas sim de alocar workloads críticos em ambientes resilientes, próximos à nuvem e altamente conectados.
- O modelo viabiliza alta disponibilidade para aplicações OT, como SCADA e sistemas de missão crítica, ao mesmo tempo em que mantém a flexibilidade da nuvem para workloads elásticos.
- O colocation se torna, assim, o elo entre o legado industrial e a inovação digital, permitindo que empresas operem em um ecossistema híbrido sem abrir mão de controle, compliance e previsibilidade de custos.
Tabela Comparativa – On-Premises Tradicional x On-Premises Moderno (Colocation)
Dimensão | On-Premises Tradicional | On-Premises Moderno (Colocation) |
Localização | Instalações internas da própria empresa, muitas vezes em salas técnicas adaptadas. | Data centers Tier III/IV de classe mundial, operados por provedores especializados (Equinix, Scala, Ascenty, ODATA etc.). |
Infraestrutura | Limitada: energia elétrica sem redundância plena, climatização básica, conectividade dependente de 1–2 carriers. | Alta resiliência: energia redundante (N+1 ou 2N), climatização avançada, conectividade multicarrier, sistemas de segurança física de última geração. |
Disponibilidade | Sujeita a falhas locais; dificilmente supera 99,5% de uptime anual. | Garantia por SLA: até 99,982% (Tier III) ou 99,995% (Tier IV). |
Escalabilidade | Limitada à capacidade física instalada (precisa comprar e instalar novos servidores/racks). | Expansão sob demanda: racks, cages ou mesmo bare metal as a service, com provisionamento rápido. |
Conectividade com Cloud | Normalmente via internet pública, latência alta e imprevisível. | Interconexões diretas (AWS Direct Connect, Azure ExpressRoute, GCP Interconnect), com latência <2ms em muitos casos. |
Compliance | Baixa aderência a padrões internacionais; auditorias complexas e custosas. | Certificações ISO 27001, SOC 2, PCI-DSS, HIPAA, LGPD-ready, adequadas a setores regulados (financeiro, saúde, energia). |
Custos | Alto CAPEX inicial (servidores, infraestrutura física, manutenção contínua). | Modelo híbrido CAPEX/OPEX: aluguel de espaço + energia + serviços; previsibilidade de custos com escala profissional. |
Equipe necessária | Time interno dedicado para operação, manutenção e segurança. | Possibilidade de terceirizar operações (Remote Hands, NOC, SOC), reduzindo a necessidade de equipe local. |
Adequação | Pequenas e médias empresas que não tinham alternativas viáveis no passado. | Grandes corporações, utilities e setores regulados que precisam de alta disponibilidade, baixa latência e integração híbrida. |
Redundância e Alta Disponibilidade
Repatriar workloads críticos para ambientes on-premises ou colocation exige que a empresa replique o mesmo nível (ou superior) de resiliência operacional tradicionalmente associado aos grandes provedores de nuvem pública. Sem esse cuidado, a organização pode incorrer em riscos até maiores do que manter suas cargas em cloud.
O desafio é garantir que workloads críticos — especialmente os ligados a OT (Operational Technology) e missão crítica — tenham disponibilidade contínua, mesmo diante de falhas de hardware, falhas humanas ou desastres naturais.
- Redundância Ativa/Ativa e Ativa/Passiva
- Ativa/Ativa: dois ou mais sites processam workloads simultaneamente, compartilhando a carga de forma balanceada. Caso um site falhe, o outro já está em operação, garantindo continuidade imediata sem degradação perceptível.
- Usado em ambientes que não podem tolerar nenhum downtime (ex.: bolsas de valores, plantas de geração elétrica, operações hospitalares).
- Ativa/Passiva: um site opera em tempo real, enquanto outro permanece em “standby”. Em caso de falha, ocorre a ativação automática ou manual do site secundário.
- Mais econômico, mas pode gerar alguns minutos de indisponibilidade.
Empresas que migram workloads OT — como SCADA e sistemas de controle de turbinas — tendem a preferir arquiteturas ativa/ativa, dado o risco operacional elevado.
- Replicação Síncrona
Para workloads de missão crítica, a replicação síncrona entre sites é indispensável.
- Síncrona: cada transação é confirmada em ambos os sites simultaneamente. Isso garante consistência absoluta dos dados, eliminando perda de informações em caso de falha.
- Assíncrona: há um pequeno atraso na replicação (segundos ou minutos). Adequado para workloads menos críticos, como relatórios e arquivos de backup.
No contexto de OT, a replicação síncrona é especialmente importante:
- Sistemas de proteção de redes elétricas (EMS).
- Controle de válvulas em plantas químicas ou de óleo e gás.
- Automação de linhas de produção just-in-time.
- Disaster Recovery as a Service (DRaaS)
Mesmo com redundância e replicação, desastres naturais ou incidentes maiores (enchentes, incêndios, ataques cibernéticos) podem comprometer uma instalação inteira. Nesse cenário, o Disaster Recovery as a Service (DRaaS) é uma camada complementar:
- Permite que workloads sejam restaurados em ambientes terceirizados, geralmente em outro data center de colocation ou até mesmo na nuvem pública.
- Oferece testes regulares de recuperação (DR drills), algo muitas vezes negligenciado em ambientes on-premises legados.
- Garante continuidade de negócios (BCP) alinhada a padrões internacionais (ISO 22301, NIST 800-34).
- O Risco de Não Investir em Resiliência
Sem estratégias robustas de alta disponibilidade e recuperação, a repatriação pode gerar:
- Maior vulnerabilidade a falhas locais (queda de energia, incêndios, inundações).
- Indisponibilidade prolongada em workloads críticos (perda de receita, riscos de segurança e impactos regulatórios).
- Danos reputacionais irreversíveis em setores como financeiro, saúde e energia.
De fato, Donnellan et al. (2024), no Uptime Institute Global Data Center Survey, indicam que 69% das interrupções graves em TI continuam relacionadas a falhas de energia e refrigeração — riscos que só podem ser mitigados com estratégias robustas de redundância e alta disponibilidade.
Síntese Estratégica
A repatriação só faz sentido quando acompanhada de um desenho de resiliência robusto. O pacote mínimo envolve:
- Sites redundantes (ativa/ativa ou ativa/passiva).
- Replicação síncrona para workloads OT críticos.
- Plano de DRaaS integrado à estratégia de continuidade de negócios.
Em outras palavras: trazer workloads críticos de volta exige pensar como um provedor de nuvem, garantindo redundância, automação e testes regulares de recuperação.
Especialistas e Operação Remota
Migrar workloads críticos de volta ao on-premises, seja em colocation ou edge datacenters, não se resume à compra de infraestrutura. O verdadeiro desafio está na operação contínua. Diferente do modelo cloud-first, no qual o provedor assume parte da responsabilidade de gestão, a infraestrutura híbrida exige que a empresa disponha de equipes técnicas altamente qualificadas, com domínio de múltiplas camadas tecnológicas.
- A nova demanda por especialistas
As arquiteturas híbridas requerem competências multidisciplinares, que nem sempre estão disponíveis dentro das empresas:
- Cloud & FinOps – otimizar custos, gerenciar contratos com provedores e integrar workloads híbridos de forma eficiente.
- Redes & Conectividade – operar interconexões dedicadas (AWS Direct Connect, Azure ExpressRoute, GCP Interconnect) e redes de baixa latência.
- OT & Edge – compreender a lógica operacional de sistemas SCADA, EMS, DCS e IoT industrial, integrando-os a arquiteturas modernas.
- Cibersegurança OT/IT – implementar Zero Trust, segmentação de redes industriais, SOC (Security Operations Center) e práticas de detecção/resposta a incidentes.
- Gestão de Resiliência – arquitetar redundância, alta disponibilidade e planos de Disaster Recovery alinhados a normas ISO e NIST.
Essa mudança estrutural também expõe um gap de talentos. Operar ambientes híbridos e de missão crítica exige competências multidisciplinares em cloud, redes, OT e segurança, mas o mercado global ainda carece de profissionais com esse perfil. Muitas organizações relatam dificuldade em montar equipes internas completas, o que impulsiona a demanda por serviços especializados e operação remota (RIM) como alternativa estratégica.
- O papel da Operação Remota (RIM – Remote Infrastructure Management)
Para reduzir a dependência de equipes internas extensas, cresce a oferta de serviços de operação remota, também chamados de Remote Infrastructure Management (RIM). Esse modelo permite que empresas terceirizem parte ou a totalidade da gestão da infraestrutura.
Benefícios do RIM:
- Suporte 24/7: monitoramento contínuo de workloads críticos, com times globais distribuídos em diferentes fusos horários.
- Custo otimizado: reduz a necessidade de manter equipes internas locais em regime integral.
- Acesso a especialistas raros: engenheiros especializados em redes, segurança OT, automação e governança de nuvem podem ser contratados sob demanda.
- Maior resiliência operacional: incidentes são tratados por equipes experientes que já operam ambientes complexos de múltiplos clientes.
- Integração com BPO e PMO: algumas ofertas incluem gestão de projetos e governança financeira, alinhando a operação ao planejamento estratégico.
- Casos de uso típicos
- Indústria de energia: monitoramento remoto de subestações inteligentes, com resposta imediata a falhas detectadas em sistemas SCADA.
- Setor financeiro: suporte remoto para clusters de bancos de dados críticos em colocation, garantindo compliance com BACEN e CVM.
- Manufatura avançada: operação de sensores IoT industriais com detecção preditiva de falhas via RIM integrado a plataformas de IA.
Síntese Estratégica
Empresas que repatriam workloads sem investir em capacitação interna ou serviços de operação remota correm o risco de criar uma infraestrutura moderna, mas mal gerida. A combinação ideal envolve:
- Time interno estratégico (governança, compliance, gestão de contratos).
- Especialistas externos sob demanda (cloud, redes, OT, segurança).
- Serviços RIM para garantir monitoramento e operação contínua, com escalabilidade de competências.
Quadro Comparativo – Modelos de Operação para Infraestrutura Híbrida/On-Premises
Dimensão | Equipe Interna | Especialistas Externos (sob demanda) | Operação Remota (RIM – Remote Infrastructure Management) |
Foco Principal | Governança, compliance, gestão de contratos e alinhamento estratégico. | Conhecimento técnico especializado em áreas críticas (cloud, OT, redes, segurança). | Operação contínua e monitoramento 24/7 de workloads e infraestrutura. |
Escopo de Atuação | Planejamento de TI/OT, definição de políticas, gestão de riscos. | Projetos específicos, integração de novas tecnologias, auditorias de segurança. | Gestão diária da infraestrutura: alertas, correções, patches, performance. |
Exemplo de Competências | Conformidade regulatória (LGPD, ANEEL, BACEN), gestão financeira de TI (FinOps). | Cloud architecture, segurança OT/IT, interconexões dedicadas, Disaster Recovery. | NOC (Network Operations Center), SOC (Security Operations Center), automação de incidentes. |
Custo | Fixo (salários, benefícios, treinamento contínuo). | Variável (contratação sob demanda, consultorias, projetos pontuais). | Variável mensal (assinatura/contrato de serviços gerenciados). |
Benefícios | Conhecimento institucional, alinhamento direto com estratégia corporativa. | Acesso rápido a know-how raro e especializado. | Redução de custos com equipes locais, resiliência e disponibilidade 24/7. |
Limitações | Pode faltar profundidade técnica em áreas específicas. | Dependência de contratação externa; alto custo em contratos longos. | Necessidade de integração com governança interna para evitar dependência total. |
Adequação | Estratégia, compliance e visão de longo prazo. | Inovação, auditorias, modernização de workloads críticos. | Operação de missão crítica, continuidade de negócios, suporte global. |
Conclusão — A Repatriação como Maturidade Estratégica
A repatriação de workloads não deve ser interpretada como um retrocesso tecnológico ou como a negação do paradigma da nuvem. Pelo contrário, trata-se de um movimento de maturidade digital, no qual as organizações reconhecem que cada workload tem uma “casa adequada”, de acordo com seu perfil de uso, seus requisitos regulatórios e sua criticidade operacional.
O futuro das arquiteturas corporativas é híbrido e distribuído:
- Workloads sensíveis ou regulados encontram maior segurança em colocation e ambientes on-premises de missão crítica, com controle físico, redundância e conformidade assegurada.
- Workloads que demandam latência mínima ou resposta em tempo real, especialmente no universo OT/Edge, precisam estar fisicamente próximos aos processos industriais, garantindo confiabilidade e continuidade.
- Workloads flexíveis, experimentais ou de alto dinamismo, como aplicações de colaboração global, analytics exploratórios ou IA em fase de prototipagem, continuarão a se beneficiar da elasticidade e escalabilidade da nuvem pública.
A abordagem conhecida como cloud-appropriate strategy vem se consolidando como referência estratégica. Noureen (2025), em artigo publicado no Petri, relata que 97% das empresas de médio porte no Reino Unido planejam realocar parte dos workloads da nuvem pública para ambientes on-premises ou colocation nos próximos 12 meses, tomando como base critérios de desempenho, compliance e custo.
Implicações Estratégicas
- Governança e previsibilidade de custos: A repatriação permite transformar a “conta surpresa” da nuvem em orçamento previsível, especialmente em workloads estáveis e de alto consumo.
- Resiliência operacional: Empresas que atuam em setores críticos, como energia, saúde e finanças, precisam de alta disponibilidade. Para elas, o retorno de workloads não é apenas opção — é requisito de continuidade de negócios.
- Soberania de dados e conformidade regulatória: Em um mundo de legislações fragmentadas (LGPD, GDPR, CLOUD Act, EU Data Act), repatriar workloads garante jurisdição clara sobre dados críticos.
- Vantagem competitiva: Organizações que se anteciparem na criação de arquiteturas híbridas bem governadas poderão não apenas reduzir custos e riscos, mas também posicionar-se como líderes em resiliência digital, fortalecendo sua reputação diante de clientes, reguladores e investidores.
A Mensagem Central
A repatriação, quando vista sob a lente estratégica, não é um retorno ao passado. É a evolução para um modelo mais maduro, equilibrado e pragmático de infraestrutura digital — um modelo em que o controle convive com a inovação, e a previsibilidade caminha junto com a elasticidade.
Para empresas que operam OT e aplicações de missão crítica, essa escolha não é opcional: é o novo patamar mínimo de segurança e continuidade operacional. E para aquelas que se moverem com agilidade, a repatriação representa não apenas um ajuste técnico, mas uma alavanca de competitividade e longevidade corporativa.
“A verdadeira transformação digital não está em escolher entre nuvem ou on-premises, mas em desenhar a arquitetura certa para cada workload.”
Referências
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