Sumário Executivo
A construção de rodovias sempre foi um reflexo da capacidade de uma sociedade de organizar seu território e sustentar seu desenvolvimento. Hoje, vivemos um ponto de inflexão. Se no passado a inovação estava na introdução do asfalto moderno ou das máquinas de compactação, agora a transformação vem da inteligência artificial, da robótica e das redes digitais.
O caso da China, que recapeou 158 quilômetros de uma rodovia estratégica sem presença humana em campo, simboliza essa mudança de era. Pela primeira vez, máquinas autônomas assumiram integralmente um projeto rodoviário em escala real, operando com precisão, eficiência e segurança. Essa realização não é apenas um marco técnico, mas também um alerta: o futuro da infraestrutura será cada vez mais moldado pela automação e pela gestão baseada em dados.
Os impactos são claros. A produtividade cresce porque as máquinas trabalham 24 horas por dia sem pausas. Os custos se reduzem pela eliminação de despesas associadas à mão de obra presencial. A qualidade aumenta com a aplicação uniforme das camadas de asfalto e a redução de retrabalhos. E a segurança se amplia, pois a ausência de trabalhadores em campo praticamente elimina os riscos de acidentes.
Mas a inovação também traz dilemas. A substituição de empregos tradicionais desafia sociedades a criarem novos papéis, como operadores remotos, supervisores de sistemas de IA e engenheiros de dados. Surgem riscos de concentração tecnológica em poucos fornecedores e a necessidade de marcos regulatórios que acompanhem a velocidade das mudanças. Ao mesmo tempo, abre-se a oportunidade de repensar a engenharia como ciência de integração, em que o conhecimento clássico se une a plataformas digitais, sensores e algoritmos.
Nos próximos vinte anos, três cenários são possíveis. No primeiro, a automação parcial segue como realidade predominante, com máquinas inteligentes ainda supervisionadas por operadores. No segundo, a automação plena se consolida em países ou empresas com maior capacidade de investimento. No terceiro, mais visionário, as rodovias tornam-se infraestruturas auto-regenerativas, monitoradas por gêmeos digitais e reparadas por frotas de robôs e drones de forma preditiva.
A lição que fica é clara: as rodovias autônomas são um marco civilizatório. Elas nos obrigam a repensar não apenas como construímos estradas, mas como equilibramos eficiência e inclusão, inovação e ética, máquinas inteligentes e protagonismo humano. O futuro da infraestrutura dependerá da nossa capacidade de transformar essa tecnologia em um instrumento de progresso sustentável, seguro e compartilhado.
Introdução: O marco da rodovia autônoma no século XXI
Desde que os primeiros impérios começaram a organizar seus territórios, as estradas se tornaram símbolos de integração, poder e desenvolvimento. Os romanos deixaram seu legado com vias capazes de resistir a séculos de uso, enquanto no século XIX a Revolução Industrial trouxe máquinas a vapor para auxiliar no nivelamento e na compactação do solo. Já no século XX, o advento do asfalto moderno e a popularização dos automóveis deram origem às grandes autoestradas que moldaram economias e transformaram a mobilidade em todo o planeta.
Ao longo dessa trajetória, cada salto tecnológico na construção rodoviária esteve associado a uma ideia central: fazer mais, em menos tempo, com maior durabilidade e segurança. Se antes o desafio era pavimentar quilômetros de estradas em países em processo de industrialização, hoje a pressão é diferente: manter, modernizar e expandir infraestruturas em um contexto de custos elevados, escassez de mão de obra e necessidade de reduzir impactos ambientais.
Nas últimas décadas, a digitalização e a automação começaram a penetrar no setor. Tecnologias como sistemas de compactação inteligente (IC), uso de GNSS e satélites de alta precisão para controle de máquinas, drones para monitoramento e modelagem BIM/Digital Twin abriram caminho para uma nova lógica de projeto e execução. A construção rodoviária, tradicionalmente manual e dependente da experiência empírica, passou a ser influenciada por dados em tempo real, algoritmos e equipamentos semiautônomos.
É nesse contexto de transformação gradual que surge um feito capaz de reposicionar a discussão: a execução de um trecho rodoviário inteiramente realizada por máquinas autônomas, guiadas por inteligência artificial, sem trabalhadores humanos no local. Trata-se de uma inovação que não apenas representa ganhos de eficiência, mas que coloca em xeque o papel do trabalho humano no canteiro de obras.
O caso chinês da reabilitação de 158 km de rodovia, realizado com robôs, drones e sistemas de automação avançada, não é apenas um exemplo isolado. Ele deve ser entendido como síntese de um movimento global que tende a redefinir os rumos da infraestrutura no século XXI. Mais do que um marco técnico, é um sinal de que estamos diante de um novo paradigma em que a engenharia civil se torna, cada vez mais, uma ciência de sistemas inteligentes e integrados.
Panorama global de automação na construção civil e rodoviária
A automação na construção civil vem se desenvolvendo de forma incremental em diferentes partes do mundo. O Japão, pioneiro na integração de robótica em obras de infraestrutura, já testava, desde os anos 1990, rolos compactadores dotados de sensores e algoritmos de controle, voltados a reduzir a dependência da mão de obra humana e a garantir maior precisão em ambientes controlados (SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023). Esse movimento foi motivado pela escassez de trabalhadores e pela busca por maior padronização em grandes projetos.
Nos Estados Unidos, a trajetória se consolidou a partir de projetos-piloto de compactação inteligente (IC) coordenados pela Federal Highway Administration (FHWA). A IC introduziu o uso de valores de medição (ICMVs) para avaliar, em tempo real, a qualidade da compactação. Estudos realizados em estados como Oklahoma demonstraram ganhos de uniformidade e redução de retrabalho, embora ainda houvesse desafios em correlacionar ICMVs diretamente com a densidade atingida no campo (CONGRESS et al., 2021 ; VON QUINTUS et al., 2023). Além disso, a literatura mostra que muitos Departamentos Estaduais de Transportes (DOTs) vêm incorporando tecnologias como paver-mounted thermal profiling e sistemas dielétricos para complementar as medições (VON QUINTUS et al., 2023).
Na Europa, fabricantes como a BOMAG têm liderado a fronteira experimental com o desenvolvimento de rolos autônomos em regime de testes, capazes de operar de forma coordenada e comunicativa em canteiros de obras. Estudos relatam que a cooperação entre múltiplos rolos, guiados por algoritmos de trajetória colaborativa, pode aumentar significativamente a eficiência do processo e reduzir falhas de compactação (DECKER et al., 2025). Ensaios realizados na Alemanha exploraram protocolos de comunicação sem fio e estratégias de coordenação conhecidas como “move forward and backward together”, indicando avanços consistentes em direção a operações totalmente autônomas (ROPERTZ et al., 2018).
Apesar desses progressos, a maior parte das aplicações no Ocidente ainda permanece em estágio de automação parcial. Pavimentadoras e compactadores são equipados com GNSS, sensores térmicos e softwares de coleta de dados, mas continuam fortemente dependentes da supervisão humana (ZHANG et al., 2019). Os drones para monitoramento de qualidade e a integração com plataformas BIM/Digital Twin já aparecem em alguns contratos de concessão e em projetos de pesquisa, mas seu uso ainda é fragmentado e pouco sistemático (RANJBAR et al., 2022).
Nesse contexto, o diferencial da China ganha destaque. O país rompeu com a lógica de avanços graduais e realizou um salto qualitativo ao executar 158 km de recapeamento rodoviário sem operadores em campo. A centralização política, a capacidade de mobilização em escala nacional e a ousadia em converter avanços laboratoriais em empreendimentos reais colocam a experiência chinesa em um patamar singular. Mais do que um piloto, trata-se de um ensaio de política pública em larga escala, no qual a automação não apenas apoia, mas estrutura todo o processo construtivo (ZHANG et al., 2023).
Tecnologias empregadas no projeto
O marco tecnológico que colocou a China no centro do debate global sobre automação na construção civil ocorreu na rodovia Pequim–Hong Kong–Macau, uma das mais estratégicas do país, utilizada tanto para transporte de cargas quanto de passageiros em um dos corredores econômicos mais importantes da Ásia. O projeto consistiu em recapear 158 quilômetros de extensão sem a presença física de trabalhadores em campo, apoiando-se integralmente em máquinas autônomas, drones, sensores e sistemas de inteligência artificial.
A ousadia do empreendimento não está apenas na distância percorrida, mas no fato de ter funcionado como um projeto de demonstração em larga escala, sinalizando ao mundo que a China é capaz de levar tecnologias que até então se restringiam a pilotos acadêmicos ou a canteiros controlados para uma aplicação real, em infraestrutura de alto impacto. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos ou na Europa, onde a automação tem avançado em projetos fragmentados e de caráter experimental (SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023 ; CONGRESS et al., 2021), a China decidiu apostar em uma implementação plena e centralizada, resultado da integração entre universidades, fabricantes de equipamentos e órgãos de infraestrutura.
Essa iniciativa foi viabilizada pela convergência de cinco pilares tecnológicos principais:
- Sistemas de pavimentação autônomos – O destaque foi a utilização do modelo SAP200C-10, uma pavimentadora capaz de aplicar camadas de asfalto com alta precisão em passadas únicas. O equipamento é operado de forma autônoma, seguindo rotas pré-definidas e corrigindo desvios em tempo real a partir de algoritmos de controle. Estudos anteriores já haviam demonstrado a viabilidade de retrofitar pavimentadoras e rolos convencionais com sistemas de automação baseados em trajetória predefinida e sensores de posicionamento (DECKER et al., 2025).
- Compactadores robóticos sincronizados – A configuração utilizada, descrita como 1+3+3+3, reuniu uma pavimentadora seguida por grupos de três rolos compactadores que operam em sincronia. Essa abordagem deriva de pesquisas em coordenação multi-robôs, que exploram algoritmos colaborativos para definir a trajetória e o tempo de atuação de cada máquina de modo a evitar sobreposição ou falhas de compactação (ROPERTZ et al., 2018).
- Drones para mapeamento e monitoramento – Durante a execução, drones equipados com câmeras de alta resolução e sensores LiDAR foram responsáveis por mapear continuamente a superfície, alimentando os sistemas centrais com informações atualizadas. Os dados coletados eram integrados a algoritmos de visão computacional que permitiam identificar irregularidades e ajustar os parâmetros de pavimentação e compactação em tempo real (RANJBAR et al., 2022 ; PEDDINTI et al., 2024). Além disso, o uso do sistema Beidou de navegação por satélite garantiu posicionamento de alta precisão, fundamental para alinhar as máquinas e validar os resultados (ZHANG et al., 2023).
- Inteligência Artificial aplicada à logística da obra – O gerenciamento do projeto foi apoiado por algoritmos de IA capazes de realizar planejamento dinâmico, reprogramando rotas e recursos de acordo com variações de temperatura do asfalto, condições ambientais ou eventuais falhas nos equipamentos. Essa lógica já vem sendo estudada em aplicações de compactação inteligente, onde a IA auxilia a interpretar dados de sensores e a correlacioná-los com resultados de densidade e desempenho (CHEN et al., 2021).
- Redes de comunicação e sensores – Todo o ecossistema foi interligado por redes de baixa latência, que permitiram a coordenação entre máquinas e drones, além de sistemas redundantes de comunicação para garantir confiabilidade em ambientes de alto tráfego. Experimentos europeus já haviam mostrado a importância da comunicação digital robusta entre rolos e pavimentadoras autônomas (ROPERTZ et al., 2018), mas a China avançou ao incorporar esse conceito em escala de dezenas de quilômetros, integrando sensores térmicos, GNSS e sistemas de segurança baseados em cercas eletrônicas virtuais (ZHENG et al., 2021).
Assim, o projeto chinês se consolidou não apenas como um caso pioneiro, mas como a primeira demonstração prática de um canteiro de obras rodoviárias verdadeiramente autônomo, sustentado pela fusão de tecnologias que até então apareciam de forma isolada em diferentes partes do mundo.
Arquitetura de segurança e confiabilidade
Em qualquer sistema autônomo, sobretudo em operações de grande escala como a pavimentação rodoviária, a segurança operacional é o ponto central de legitimidade. A confiança pública, a aceitação regulatória e a viabilidade técnica só se consolidam quando há garantias robustas de que máquinas inteligentes não representam riscos ao ambiente ou às pessoas. No caso chinês, a arquitetura de segurança foi concebida de forma a criar camadas de proteção redundantes, alinhadas com o princípio de que cada função crítica deveria contar com mecanismos de monitoramento e resposta múltiplos.
Cercas virtuais e barreiras de segurança eletrônicas foram utilizadas para delimitar o espaço de operação dos equipamentos. Baseadas em tecnologias de geofencing apoiadas no sistema de navegação Beidou, essas barreiras estabeleciam perímetros digitais que, em caso de violação, disparavam alertas imediatos e acionavam procedimentos automáticos de parada. Estudos recentes demonstram que a aplicação de cercas eletrônicas em obras de infraestrutura é viável para controlar riscos e reduzir interferências externas, garantindo maior previsibilidade das operações (ZHENG et al., 2021).
Além disso, os equipamentos eram equipados com sistemas de parada de emergência e redundância operacional, permitindo que falhas críticas em sensores ou algoritmos não resultassem em acidentes. A redundância foi projetada em múltiplos níveis: redundância de sinal (GNSS e inercial), de comunicação (redes paralelas de baixa latência) e de controle (possibilidade de intervenção humana remota). Essa abordagem está em linha com recomendações internacionais sobre automação de compactadores e pavimentadoras, que destacam a necessidade de duplicação de sistemas críticos em ambientes não estruturados (ROPERTZ et al., 2018).
Outro componente fundamental foi a detecção de obstáculos e resposta a riscos ambientais. Sensores LiDAR, câmeras de visão estereoscópica e algoritmos de visão computacional foram integrados para reconhecer objetos inesperados na via — desde barreiras físicas até variações de temperatura do asfalto. Estudos aplicados em drones para monitoramento de pavimentos mostram que a integração de múltiplos sensores melhora significativamente a capacidade de segmentar superfícies, identificar anomalias e acionar correções em tempo real (RANJBAR et al., 2022).
Por fim, o sistema previa protocolos de fallback, ou seja, regras claras para a intervenção humana remota em situações de risco ou anomalias persistentes. Nessas condições, engenheiros em centros de controle podiam assumir manualmente a supervisão das máquinas, redefinindo rotas ou ordenando a paralisação da operação. Essa prática, descrita em pesquisas sobre cooperação entre múltiplos rolos autônomos, garante que mesmo em um canteiro automatizado exista um “último recurso humano” capaz de evitar consequências graves (DECKER et al., 2025).
A soma dessas estratégias resultou em um sistema não apenas eficiente, mas também confiável e seguro, capaz de demonstrar que a automação em obras rodoviárias pode ser aplicada em larga escala sem comprometer padrões de segurança. Ao contrário, a integração de cercas digitais, redundâncias e fallback humano estabelece um patamar de proteção que dificilmente seria replicado por operações convencionais, historicamente mais expostas a acidentes de trabalho.
Como se constrói hoje no Brasil, EUA e Europa
O avanço chinês não pode ser analisado de forma isolada. Para compreender seu real significado, é necessário observar como se constrói e se automatiza atualmente em outras partes do mundo. O contraste entre os modelos revela o quanto a China optou por uma estratégia disruptiva, enquanto Brasil, Estados Unidos e Europa seguem trajetórias mais graduais e conservadoras.
Brasil – A realidade brasileira ainda é marcada pelo predomínio de processos manuais e semi-mecanizados. Usinas móveis de asfalto alimentam pavimentadoras convencionais, seguidas por rolos compactadores conduzidos por operadores humanos. Embora o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) venha estimulando a digitalização, o uso de sistemas de nivelamento por GPS e de drones para inspeção permanece restrito a projetos-piloto e a iniciativas de concessionárias privadas (SANTOS, 2024 ; PEREIRA, 2022). A literatura nacional aponta gargalos significativos: falta de padronização, baixo investimento em tecnologias digitais e carência de mão de obra especializada em automação (CABRAL MELO; RUSCHEL, 2023). Em outras palavras, há um abismo entre a prática predominante e a perspectiva de um canteiro totalmente automatizado.
Estados Unidos – No cenário norte-americano, fabricantes como Caterpillar e Komatsu já oferecem máquinas semi-autônomas, muitas vezes operadas por controle remoto ou equipadas com sistemas de nivelamento automatizado. É comum o uso intensivo de GPS e LiDAR para topografia e controle de qualidade (CONGRESS et al., 2021). Apesar disso, os canteiros continuam fortemente dependentes da atuação humana, e os pilotos de obras autônomas se concentram em estradas rurais e ambientes controlados, com fins experimentais. A estratégia norte-americana se apoia fortemente em programas federais conduzidos pelo DOT e pela FHWA, que incentivam a digitalização da infraestrutura por meio da adoção de BIM e digital twins (VON QUINTUS et al., 2023). A literatura mostra avanços na correlação entre compactação inteligente e desempenho de pavimentos (ZHANG et al., 2019), mas ainda em contexto de pesquisa aplicada, e não de aplicação plena em larga escala.
Europa – Países como Alemanha, Suécia, Noruega e Reino Unido se destacam pelo esforço em integrar máquinas automatizadas com plataformas BIM. A construção rodoviária europeia tem apostado na criação de digital twins de rodovias e na instalação de sensores IoT voltados à manutenção preditiva, o que permite antecipar falhas e otimizar investimentos públicos (CONSILVIO et al., 2022 ; LIU et al., 2025). Já existem pilotos de compactação autônoma e pavimentadoras com controle remoto, conduzidos por fabricantes e institutos de pesquisa (DECKER et al., 2025). No entanto, as limitações regulatórias e culturais são significativas: normas trabalhistas rígidas e a tradição de valorização da mão de obra humana dificultam a substituição total por sistemas autônomos (ROPERTZ et al., 2018).
Assim, observa-se que o Ocidente avança em direção à automação por meio de incrementos graduais, testando tecnologias em ambientes restritos, enquanto o Brasil ainda enfrenta barreiras estruturais de digitalização. O contraste com o caso chinês é evidente: enquanto Japão, EUA e Europa experimentam, e o Brasil engatinha, a China saltou diretamente para a aplicação plena em escala, reposicionando os termos do debate sobre o futuro da construção rodoviária.
Impactos operacionais
O maior argumento em favor da automação plena em obras rodoviárias está nos impactos operacionais observados em campo. O projeto chinês, ao eliminar a presença física de trabalhadores no canteiro, demonstrou um conjunto de ganhos que dificilmente poderiam ser alcançados por métodos tradicionais.
O primeiro deles é a produtividade contínua. Enquanto equipes humanas precisam lidar com pausas, turnos e limitações físicas, as máquinas autônomas são capazes de operar 24 horas por dia, sete dias por semana, com interrupções mínimas apenas para manutenção preventiva. Pesquisas em compactação inteligente já apontavam que o uso de algoritmos de controle pode otimizar o número de passagens dos rolos, ajustando em tempo real o padrão de operação e evitando sobre ou sub-compactação (HU et al., 2018). A experiência chinesa validou essa hipótese em escala inédita, mostrando que a continuidade do trabalho gera não apenas maior velocidade de entrega, mas também redução drástica no tempo total de execução.
Outro ponto relevante é a redução de custos operacionais. Ao prescindir de mão de obra presencial em grande escala, a operação elimina despesas diretas com trabalhadores em campo e diminui custos indiretos, como seguros contra acidentes e logística de alojamento. Estudos norte-americanos já destacavam o potencial de tecnologias como paver-mounted thermal profiling e sensores dielétricos para ampliar a eficiência do processo de aceitação de obras (VON QUINTUS et al., 2023). A aplicação chinesa levou esse raciocínio adiante, ao transformar tais ganhos incrementais em economias sistêmicas.
A precisão milimétrica na aplicação de camadas de asfalto foi outro diferencial. Equipamentos como o SAP200C-10 e os rolos sincronizados em configuração 1+3+3+3 trabalharam em regime de coordenação algorítmica, garantindo uniformidade de espessura e densidade. A literatura demonstra que, quando múltiplos rolos operam de forma cooperativa sob planejamento de trajetória, a variação nos resultados é drasticamente reduzida (DECKER et al., 2025). Esse aspecto não apenas aumenta a vida útil do pavimento, mas também reduz custos de manutenção ao longo do ciclo de vida da rodovia.
Por fim, a automação plena resultou em redução de falhas, retrabalhos e acidentes. Em métodos convencionais, o controle de qualidade é feito por meio de testes pontuais e ensaios destrutivos, que muitas vezes não capturam a variabilidade da obra. Com a automação, sensores embutidos nos rolos e drones de monitoramento garantem cobertura total e em tempo real, diminuindo a probabilidade de erros não detectados (ZHANG et al., 2019). Além disso, a ausência de trabalhadores no canteiro elimina a exposição humana a riscos físicos, de calor e de tráfego — uma das principais causas de acidentes em obras viárias (SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023).
Em síntese, os impactos operacionais do projeto chinês podem ser resumidos em quatro grandes ganhos: velocidade, economia, qualidade e segurança. Juntos, eles desenham um cenário em que a automação não é apenas uma promessa, mas uma alternativa concreta para transformar a produtividade da infraestrutura rodoviária em escala global.
Implicações socioeconômicas
O impacto da automação rodoviária vai além da engenharia. A substituição de trabalhadores por sistemas inteligentes tem efeitos profundos sobre a organização do trabalho, os mercados e até mesmo a geopolítica das infraestruturas. O projeto chinês, ao realizar 158 quilômetros de recapeamento sem operadores humanos, tornou explícita uma questão que antes estava restrita a debates teóricos: o que acontece com os empregos na construção civil tradicional quando máquinas autônomas assumem o canteiro de obras?
O primeiro efeito é o deslocamento de postos de trabalho manuais. A pavimentação e a compactação historicamente absorveram mão de obra de baixa e média qualificação, sendo setores estratégicos para a inclusão de trabalhadores em economias emergentes. Ao eliminar essa camada, a automação tende a reduzir oportunidades em áreas já vulneráveis. Estudos recentes sobre compactação inteligente apontam que a digitalização diminui a dependência de inspeções manuais e testes destrutivos, deslocando a função humana da execução para a supervisão (SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023 ; HU et al., 2018).
Por outro lado, surgem novos papéis humanos. Operadores de rolos e pavimentadoras deixam de estar fisicamente no campo e passam a atuar como operadores remotos, acompanhando sistemas em centrais de comando. Engenheiros de obra se transformam em supervisores de IA, calibrando algoritmos e interpretando alertas emitidos pelos equipamentos. Além disso, cresce a demanda por engenheiros de dados, capazes de lidar com a volumetria de informações geradas por drones, sensores de compactação e plataformas digitais de gêmeos digitais. Pesquisas sobre BIM e Digital Twin em rodovias já destacam essa mudança, em que o valor do trabalho não está mais na execução física, mas no gerenciamento da informação (LIU et al., 2025 ; CONSILVIO et al., 2022).
Os efeitos também alcançam o setor de transporte, logística e manutenção. Com pavimentos mais uniformes e duráveis, há uma tendência de redução de custos logísticos a longo prazo, dado que estradas de melhor qualidade diminuem tempo de viagem e desgaste de veículos. Ao mesmo tempo, a digitalização cria condições para um modelo de manutenção preditiva, em que falhas são detectadas antes de se transformarem em buracos ou trincas graves, o que pode alterar toda a cadeia de serviços associada à conservação viária (ZHANG et al., 2023).
Por fim, há os riscos de concentração tecnológica e dependência de fornecedores de IA. A automação plena exige integração entre algoritmos, sensores, satélites, drones e máquinas pesadas — tecnologias que estão concentradas em poucos fabricantes globais. Isso pode gerar dependência de soluções proprietárias, restringindo a autonomia de países que não desenvolvem suas próprias plataformas. Trabalhos recentes sobre cooperação de rolos autônomos chamam atenção para a necessidade de protocolos abertos e interoperáveis, sob pena de criar monopólios tecnológicos em áreas críticas da infraestrutura (DECKER et al., 2025).
Assim, as implicações socioeconômicas da rodovia autônoma não se limitam à engenharia. Elas tocam o coração da política pública, da gestão de trabalho e da soberania tecnológica. O desafio, portanto, não está apenas em adotar máquinas mais inteligentes, mas em redefinir a relação entre sociedade, tecnologia e infraestrutura.
Convergências tecnológicas: IA, IoT, Big Data e 5G
A inovação chinesa vai muito além da mecanização de processos de pavimentação. Ela revela o início de uma nova era em que a rodovia se transforma em uma verdadeira plataforma digital, integrando inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), big data e redes de comunicação de altíssima velocidade. O pavimento deixa de ser apenas uma camada física de asfalto e passa a ser um sistema ciberfísico, permanentemente monitorado, analisado e otimizado.
A noção de rodovia como plataforma está diretamente relacionada ao uso de sensores embarcados, drones e satélites capazes de coletar dados contínuos sobre temperatura, vibração, densidade e deformações. Esses dados, quando tratados por algoritmos de IA, são capazes de identificar padrões invisíveis a olho nu, antecipando falhas e otimizando decisões operacionais. Trabalhos recentes demonstram que a integração de sistemas inteligentes de compactação com plataformas geoespaciais e BIM permite criar réplicas digitais da infraestrutura, abrindo caminho para o conceito de Digital Twin rodoviário (LIU et al., 2025 ; CONSILVIO et al., 2022).
Um desdobramento natural desse processo é a integração futura com veículos autônomos. Se as estradas forem capazes de comunicar em tempo real sua condição estrutural, variações de aderência ou eventuais falhas, os veículos poderão ajustar automaticamente seu comportamento. Isso cria uma camada adicional de segurança e eficiência para sistemas de mobilidade baseados em automação. Pesquisas já destacam que a cooperação entre máquinas rodoviárias autônomas e sistemas de transporte inteligentes é uma tendência inevitável para a próxima década (DECKER et al., 2025 ; ROPERTZ et al., 2018).
A digitalização também transforma os dados em um ativo estratégico. A coleta massiva e contínua de telemetria gera bancos de dados capazes de alimentar modelos preditivos de manutenção, identificando com antecedência regiões da rodovia que apresentam risco de fissuras ou recalques. Estudos recentes em monitoramento digital de pavimentos indicam que a integração de IoT, Beidou e 5G pode viabilizar sistemas de alerta precoce, reduzindo custos de conservação e aumentando a vida útil da infraestrutura (ZHANG et al., 2023).
Assim, a convergência entre IA, IoT, big data e 5G redefine o papel da rodovia no século XXI. De infraestrutura passiva, ela se transforma em plataforma inteligente, conectada a veículos, cidades e sistemas de logística. O que se desenha não é apenas uma nova forma de construir, mas um novo modelo de gestão da mobilidade, no qual cada quilômetro pavimentado é também um nó em uma rede de dados estratégicos para economia e sociedade.
Lições aprendidas e próximos passos
O caso chinês não deve ser lido apenas como uma conquista tecnológica isolada, mas como um ensaio sobre o futuro das infraestruturas. Ao realizar 158 km de recapeamento sem mão de obra presencial, a China mostrou que a automação em larga escala é viável não apenas em ambiente experimental, mas em projetos reais de impacto econômico e logístico. Esse feito oferece ao mundo um conjunto de lições que merecem atenção cuidadosa.
A primeira delas é a questão da escalabilidade para outros países. Embora os resultados chineses sejam impressionantes, sua replicação em diferentes contextos enfrenta barreiras relevantes. Em países como Brasil ou nações da União Europeia, a fragmentação institucional e a diversidade de concessionárias dificultam a aplicação centralizada de soluções tecnológicas. Além disso, a heterogeneidade das rodovias, muitas vezes em condições precárias, exige adaptações para que algoritmos de trajetória e compactação operem de forma eficiente. A literatura sobre compactação inteligente mostra que resultados consistentes dependem de calibração contínua e de infraestrutura de suporte em satélites, redes de comunicação e gestão de dados (HU et al., 2018 ; SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023).
Outro ponto crítico são os obstáculos regulatórios e culturais. Enquanto a China pôde avançar de forma centralizada, em países ocidentais há legislações trabalhistas rígidas, que dificultam a substituição de operadores humanos, e marcos regulatórios que ainda não contemplam a responsabilidade legal em caso de falhas de máquinas autônomas. A literatura europeia enfatiza que a adoção de rolos autônomos exige protocolos claros de comunicação, redundância e supervisão humana, justamente para responder a esse desafio normativo (ROPERTZ et al., 2018).
No plano ético, emerge a questão central: até onde vamos automatizar?. Se a eliminação do trabalho manual reduz acidentes e aumenta a produtividade, ela também exclui oportunidades de emprego em larga escala. A discussão não é apenas técnica, mas moral e política: é legítimo substituir integralmente trabalhadores em nome da eficiência? Pesquisas recentes sobre inteligência artificial aplicada a pavimentos destacam que os ganhos em uniformidade e vida útil devem ser ponderados diante de implicações sociais e da necessidade de criar novos papéis profissionais (XU et al., 2020 ; CONSILVIO et al., 2022).
Por fim, há o papel da engenharia clássica nesse cenário. Longe de ser descartada, a prática tradicional continua indispensável. É ela que fornece os parâmetros de desempenho, os métodos de ensaio, as normas de dimensionamento e a experiência acumulada em séculos de construção. O futuro das estradas autônomas não é um abandono da engenharia civil, mas sua evolução: uma disciplina que se abre à integração com ciência de dados, robótica e sistemas ciberfísicos. Em outras palavras, a engenharia clássica permanece como a espinha dorsal do julgamento técnico, agora complementada por ferramentas digitais que expandem sua capacidade de ação (LIU et al., 2025).
As lições chinesas, portanto, apontam para um horizonte de oportunidades e dilemas. Se bem conduzida, a automação pode inaugurar uma era de estradas mais seguras, duráveis e inteligentes. Mas sua adoção em escala global exigirá sensibilidade regulatória, prudência ética e a valorização da engenharia como disciplina orientadora das decisões.
Conclusão e visão de futuro
A experiência chinesa de recapeamento de 158 quilômetros sem mão de obra presencial tornou-se um símbolo de uma nova era da infraestrutura. Se no passado as grandes estradas representavam a capacidade de uma nação em organizar seu território e expandir sua economia, hoje elas se transformam em vitrines de integração entre engenharia civil, inteligência artificial, robótica e redes digitais. A rodovia autônoma da China não é apenas uma conquista técnica, mas uma declaração de que o futuro das obras viárias será moldado pela automação em larga escala e pela gestão baseada em dados.
Contudo, esse futuro exige cautela. O desafio não está somente em perseguir a eficiência máxima, mas em encontrar o equilíbrio com a preservação do protagonismo humano. Engenheiros, técnicos e operadores deixam de ser mão de obra direta no campo para assumirem funções mais estratégicas: programadores de trajetórias, supervisores de IA, analistas de dados e gestores de sistemas complexos. A literatura em compactação inteligente e digital twins reforça que o valor humano não desaparece, mas se desloca para níveis de decisão e integração que algoritmos sozinhos não conseguem ocupar (CONSILVIO et al., 2022 ; LIU et al., 2025).
Olhando para os próximos vinte anos, é possível projetar três cenários prospectivos. O primeiro, de automação parcial, já visível hoje em Brasil, EUA e Europa, onde sensores e sistemas inteligentes convivem com operadores humanos. O segundo, de automação plena, tende a se consolidar em países com forte coordenação estatal ou em contratos privados de grande porte, nos quais a redução de custos e a produtividade contínua justificam o investimento. O terceiro, mais visionário, é o da infraestrutura auto-regenerativa, em que estradas serão monitoradas em tempo real por gêmeos digitais, capazes de identificar microfissuras, enviar drones de reparo e coordenar frotas de máquinas autônomas para intervenções preventivas. Pesquisas recentes já apontam para esse horizonte, sugerindo que a combinação de IA, IoT e manutenção preditiva pode transformar completamente a forma como entendemos a durabilidade e a sustentabilidade das rodovias (ZHANG et al., 2023 ; SIVAGNANASUNTHARAM et al., 2023).
Em síntese, a rodovia autônoma chinesa é mais do que um experimento: é um marco civilizatório. Ela nos obriga a repensar não apenas como construímos estradas, mas também como organizamos trabalho, tecnologia e sociedade. O futuro da infraestrutura dependerá da capacidade de conciliar inovação com ética, eficiência com inclusão, e máquinas inteligentes com a sabedoria humana acumulada pela engenharia clássica.
Referências
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Glossário de Termos
Asfalto – Material betuminoso utilizado na pavimentação de rodovias, formado por agregados minerais e ligantes derivados do petróleo.
Automação parcial – Situação em que máquinas possuem sensores e sistemas de apoio (GNSS, LiDAR, termômetros) mas ainda dependem da supervisão e operação humana.
Automação plena – Modelo em que equipamentos funcionam de forma totalmente autônoma, com intervenção humana apenas em situações de emergência ou supervisão remota.
Beidou – Sistema chinês de navegação por satélite (equivalente ao GPS e ao Galileo), utilizado para fornecer posicionamento de alta precisão a máquinas autônomas.
BIM (Building Information Modeling) – Metodologia de modelagem da informação da construção, que permite representar digitalmente todas as fases de um projeto, desde o planejamento até a operação.
Canteiro de obras digital – Conceito em que todos os equipamentos, sensores e processos de uma obra civil são interconectados e monitorados em tempo real por meio de plataformas digitais.
Compactação inteligente (IC) – Tecnologia que equipa rolos compactadores com sensores e sistemas de monitoramento para avaliar em tempo real a densidade e a uniformidade do pavimento.
Compaction Meter Value (CMV) / Intelligent Compaction Measurement Values (ICMVs) – Indicadores numéricos gerados por sensores instalados em rolos compactadores, que permitem estimar o grau de compactação da camada asfáltica ou do solo.
Configuração 1+3+3+3 – Estratégia de operação autônoma utilizada no projeto chinês, na qual uma pavimentadora é seguida por três blocos de compactadores que trabalham de forma sincronizada.
Digital Twin (Gêmeo Digital) – Réplica digital de um ativo físico, utilizada para monitorar em tempo real seu desempenho, prever falhas e planejar manutenções.
Drones/UAVs (Unmanned Aerial Vehicles) – Veículos aéreos não tripulados utilizados para mapear superfícies, monitorar qualidade de obras e realizar inspeções visuais ou com sensores embarcados.
Geofencing (Cerca eletrônica) – Tecnologia que cria barreiras virtuais baseadas em coordenadas geográficas, utilizada para limitar o espaço de atuação de equipamentos autônomos.
GNSS (Global Navigation Satellite System) – Conjunto de sistemas globais de navegação por satélite, incluindo GPS (EUA), Galileo (UE), GLONASS (Rússia) e Beidou (China).
Infraestrutura auto-regenerativa – Conceito prospectivo em que estradas seriam monitoradas por gêmeos digitais capazes de identificar defeitos e acionar máquinas autônomas de reparo sem intervenção humana.
IoT (Internet of Things) – Rede de dispositivos físicos conectados à internet que coletam e compartilham dados em tempo real, aplicável a sensores de pavimentos e máquinas.
LiDAR (Light Detection and Ranging) – Sensor óptico que usa pulsos de laser para medir distâncias e criar mapas tridimensionais de superfícies e obstáculos.
Logística de obra inteligente – Uso de algoritmos de IA para planejar dinamicamente rotas, alocação de máquinas e recursos em um canteiro automatizado.
Manutenção preditiva – Estratégia de conservação baseada na previsão de falhas a partir de dados de sensores, evitando que defeitos se tornem problemas graves.
Paver (Pavimentadora) – Equipamento utilizado para aplicar camadas de asfalto de forma contínua e nivelada sobre a superfície da via.
SAP200C-10 – Modelo de pavimentadora autônoma utilizada no projeto chinês, capaz de aplicar camadas de asfalto com alta precisão em uma única passada.
Telemetria – Coleta e transmissão remota de dados de desempenho e condições de equipamentos e infraestruturas, permitindo monitoramento e análise em tempo real.
Trajetória colaborativa – Estratégia de controle em que múltiplas máquinas autônomas operam de forma coordenada para otimizar eficiência e reduzir falhas no processo de compactação.
Veta – Software utilizado para análise de dados de compactação inteligente, desenvolvido em cooperação com a FHWA nos Estados Unidos, aplicado em validação e QA/QC de pavimentos.