Transição Energética: Desafios e Oportunidades no Cenário Global

A transição energética está se tornando um dos tópicos mais discutidos no cenário global. Ela envolve a transformação do sistema energético, movendo-se de uma matriz baseada em combustíveis fósseis para uma matriz mais limpa e sustentável, com foco em energias renováveis, eficiência energética e tecnologias de captura e armazenamento de carbono. As discussões sobre o tema, como observado nas recentes reuniões do G20 e em iniciativas nacionais e internacionais, mostram que, embora a transição seja inevitável, ela apresenta desafios e oportunidades únicos para países, empresas e a sociedade como um todo.

A Declaração do G20 e o Reconhecimento da Neutralidade Tecnológica

Uma das principais vitórias diplomáticas na recente reunião do G20 foi a declaração conjunta do Grupo de Trabalho de Transições Energéticas, que reconheceu a necessidade de criar padrões globais para medição de emissões e destacou a importância de considerar as circunstâncias locais de cada país. A declaração também enfatizou a “neutralidade tecnológica”, sugerindo que o caminho para a descarbonização pode incluir diversas tecnologias, não apenas as fontes renováveis tradicionais como solar e eólica.

Esse ponto é crucial, pois países como o Brasil, que têm grande dependência de fontes de energia não renováveis, também estão investindo em tecnologias de transição. Isso inclui o gás natural como combustível de transição e o desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCUS). Essa neutralidade permite que cada país explore suas próprias soluções tecnológicas, considerando suas particularidades econômicas, sociais e ambientais.

Biocombustíveis: Aposta do Brasil para a Descarbonização

Um dos pontos de destaque nas discussões do G20 foi o foco nos biocombustíveis, uma área em que o Brasil tem uma vantagem competitiva significativa. A inclusão dos biocombustíveis como uma solução viável para a descarbonização no setor de transportes foi uma vitória importante para o Brasil. O país já é um dos líderes mundiais na produção de etanol e biodiesel, e o governo está buscando expandir essa liderança para o mercado global.

A promoção dos biocombustíveis no G20 mostra que o Brasil está focado em explorar suas vantagens competitivas naturais, ao mesmo tempo em que contribui para a redução das emissões globais. Além disso, os biocombustíveis podem ajudar a mitigar as emissões de Escopo 3 – aquelas provenientes de cadeias de fornecimento e uso de produtos por consumidores – o que pode gerar economia e oportunidades de crescimento para empresas que adotam práticas sustentáveis.

O Papel da Captura e Armazenamento de Carbono (CCUS)

Outra tecnologia fundamental para a transição energética é a captura e armazenamento de carbono (CCUS), uma solução tecnológica que visa capturar o dióxido de carbono antes que ele seja emitido na atmosfera e armazená-lo de forma segura, geralmente em formações geológicas subterrâneas. Recentemente, o Brasil aderiu a uma iniciativa internacional que integra 15 países, incluindo grandes economias, com o objetivo de acelerar a implementação dessa tecnologia.

O Brasil já está estudando maneiras de integrar a CCUS à sua matriz energética, e isso pode ter um impacto significativo na descarbonização de setores difíceis de abater, como a indústria pesada e a produção de petróleo e gás. A Braskem, por exemplo, está desenvolvendo um estudo com a University of British Columbia sobre a viabilidade de produzir metanol a partir de monóxido de carbono capturado. Se bem-sucedido, esse tipo de inovação pode ser um divisor de águas para o setor industrial brasileiro.

A Estratégia Norueguesa: Gás Natural e Hidrogênio

Em países como a Noruega, o gás natural está sendo usado como uma solução de curto prazo para descarbonizar setores como o de transporte marítimo. A estratégia norueguesa prevê o uso do gás natural como combustível de transição, enquanto desenvolve paralelamente o hidrogênio verde como uma solução de longo prazo. Essa abordagem gradual reflete as realidades de muitos países que dependem fortemente de combustíveis fósseis, mas que estão investindo em tecnologias emergentes para atingir suas metas de descarbonização.

O Brasil pode aprender muito com a estratégia norueguesa, principalmente na forma como o país está integrando novas tecnologias ao seu sistema energético sem comprometer a competitividade econômica de setores chave. Assim como a Noruega, o Brasil tem o potencial de explorar o gás natural como combustível de transição e avançar na direção do hidrogênio verde no futuro.

Desafios na Criação de um Mercado Global para SAF

A criação de um mercado global para combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) é outro tema que vem ganhando destaque nas discussões sobre transição energética. Com mais de 43 companhias comprometidas a usar cerca de 16,25 bilhões de litros de SAF até 2030, os combustíveis sustentáveis estão sendo apontados como uma solução para reduzir as emissões do setor de aviação, um dos maiores poluidores globais.

Entretanto, para que o SAF se torne uma realidade no mercado global, é necessário um acordo sobre padrões de sustentabilidade. Isso inclui assegurar que a produção do SAF não contribua para a degradação ambiental, como o desmatamento, e que ele seja economicamente viável para as companhias aéreas. O Brasil, com sua expertise em biocombustíveis, pode desempenhar um papel importante no desenvolvimento e exportação de SAF, consolidando sua posição como líder em soluções energéticas sustentáveis.

Riscos Climáticos e Oportunidades Econômicas

O combate aos riscos climáticos também pode gerar oportunidades econômicas significativas. Um relatório recente destacou que as empresas que cortaram suas emissões de Escopo 3 economizaram US$ 13,6 bilhões globalmente, sendo US$ 298,18 milhões somente na América Latina. Isso mostra que a adoção de práticas sustentáveis não é apenas uma exigência ambiental, mas também uma vantagem competitiva para as empresas.

O Brasil, ao investir em tecnologias como CCUS, biocombustíveis e SAF, pode não só atingir suas metas de descarbonização, mas também criar oportunidades econômicas, atraindo investimentos internacionais e promovendo o crescimento de indústrias verdes.

Conclusão: O Caminho para uma Economia Descarbonizada

A transição energética é um processo inevitável e necessário para reduzir os impactos das mudanças climáticas e criar uma economia mais sustentável. No entanto, ela não será simples. Países como o Brasil, que ainda dependem de combustíveis fósseis, enfrentam desafios significativos, mas também têm à sua disposição tecnologias inovadoras que podem facilitar essa transição.

A adoção de uma abordagem neutra em termos tecnológicos, como destacado na declaração do G20, permitirá que cada país encontre seu próprio caminho para a descarbonização, utilizando as soluções que melhor se adaptam às suas realidades. Para o Brasil, isso significa aproveitar sua expertise em biocombustíveis, investir em tecnologias de captura de carbono e explorar novas fronteiras, como o hidrogênio verde e os combustíveis sustentáveis de aviação.

O futuro da transição energética está nas mãos daqueles que conseguirem equilibrar inovação tecnológica com políticas públicas eficientes e parcerias globais. E o Brasil, com suas vastas riquezas naturais e sua capacidade de inovação, está bem posicionado para ser um dos líderes globais nessa transformação.