O atual paradoxo do Triple Bottom Line

O Triple Bottom Line, o triplé da sustentabilidade (People, Planet and Profit), apresenta um paradoxo se a sociedade não mudar seus conceitos econômicos. O desafio é conseguir o equilíbrio nas ações que buscam o bem-estar das pessoas, a proteção ambiental do planeta e o lucro aceitável nos negócios. A questão é como conseguir o equilíbrio entre pessoas e planeta de forma harmônica com a economia?

Existe o consenso que devemos devemos adotar atitudes responsáveis para minimizar as mudanças climáticas e reduzir a desigualdade social, como por exemplo, adotar práticas de consumo consciente. Ninguém questiona isto. Eu mesmo, reduzi consideravelmente o desperdício e adotei práticas de menor consumo, resultando em uma economia substancial nos meus gastos. Essa atitude, compartilhada por muitos, tem impacto na economia. Adicionalmente, as novas tecnologias e serviços tem trazido bem-estar para as pessoas, como o Uber, Airbnb, Netflix, Spotify, entre outros, com redução de custos significativos. Várias pessoas estão abdicando o segundo carro. Optam por apartamentos ou quartos em residências, deixando de se hospedar em hotéis. Escutam musicas e assistem filmes via serviços de streaming, deixando de comprar CDs e DVDs. Os novos produtos são manufaturados com componentes reciclados, evitando a extração de minério e outras substâncias da natureza.

Como a maioria das empresas ainda adotam modelos de negócios antigos, onde o aumento do consumo é fator de crescimento, cresce o desemprego e o fechamento de negócios. Com isto pressionamos os governos a adotarem ações para promover o crescimento. Quando as tomam, reclamamos que impactam planeta. Na verdade, não é o governo que deve tomar as decisões (muitas vezes influenciadas pelos grandes grupos econômicos), mas sim a sociedade: eu e você.  É fato que as pessoas convivem com paradoxos, mesmo sem se dar conta. Por exemplo, muitos acreditam, simultaneamente, em Deus e Diabo. A maioria quer o fim da desigualdade social, entretanto, são contra o aumento de impostos e acham que poderiam pagar menos. Muitos querem a ampliação dos empregos, porém não se qualificam em novas habilidades e querem continuar a fazer a mesma coisa, com o agravante de querem ganhar mais fazendo a mesma coisa. Todos querem uma aposentadoria decente, entretanto não poupam durante a vida economicamente ativa.

Muitos culpam o desemprego no Brasil pela corrupção e incompetência do governo. Eu diria que conseguiram potenciar o caos e não tomarem ações para minimizar o inevitável. Por exemplo, o governo português está discutindo com a industria a transição da manufatura tradicional para a Industria 4.0, que adotando a automação extrema, reduzirá substancialmente o número de empregos. Emmanuel Macron, jovem presidente francês, está destinando 10 milhões de euros para tornar a França uma nação Startup. Infelizmente, nossos governantes, influenciados pelo poder econômico, estão tomando ações antigas para tentar o crescimento do país, isto pode até funcionar no curto-prazo, mas será um desastre no médio e longo prazo.

Para o Triple Bottom Line funcionar temos que rever alguns conceitos econômicos. Por exemplo, se estamos reduzindo o desperdício e utilizando novos serviços para o nosso bem-estar e protegendo o planeta, não é mais aceitável medir o sucesso de um país pelo PIB. Podemos até admitir PIBs negativos, desde que as pessoas tenham bem-estar e consigam mitigar os impactos das mudanças climáticas. Os setores da economia não precisam crescer, basta os mais eficientes destruirem os menos eficientes e tomarem seus clientes, onde individualmente as empresas aumentarão seus lucros. Nesta linha, os salários não precisam crescer, podemos adotar hábitos mais saudáveis, reduzir o desperdício e adotar serviços e produtos mais baratos, aumentando nosso bem-estar e protegendo o planeta. O aumento de renda virá com maiores contribuições dos trabalhadores para destruir outras empresas e tomarem seus clientes.

No passado o domínio era pela força e poder econômico, hoje o domínio é pela inovação disruptiva que leve bem-estar as pessoas e proteja o planeta, através da destruição de modelos de negócios ultrapassados para alcançar o lucro.