A saída do Brasil é pelo Pacífico

Uma boa parte dos países banhados pelo oceano Atlântico Sul está enfrentando dificuldades econômicas e sociais. Podemos citar o Brasil, Venezuela, Argentina e Angola na África. Por outro lado, os países banhados pelo oceano Pacífico estão prosperando, como os Estados Unidos, México, Japão e os nossos vizinhos Chile, Peru e Colômbia. A situação dos países do Pacífico deve melhorar ainda mais com o tratado Trans-Pacific que permitirá o livre comércio de cerca de 90% produtos entre eles. Esse tratado comercial envolve 40% da economia mundial e exclui a China. A economia brasileira não pode mais se manter fechada para o resto do mundo, pois a globalização é chave para o crescimento econômico e social dos países. A bonança da commodities acabou, fato que sustentou o crescimento e a distribuição de renda nos últimos 12 anos em vários países. No Brasil, a facilidade do crédito ofuscou a falta de competitividade da indústria nacional e a supervalorização do Real permitiu a importação de produtos, fatores que simplesmente sucatearam nosso parque industrial. Estamos diante de novas escolhas: aguardamos um novo ciclo de bonança das commodities para voltar a crescer ou investimos pesadamente na reconstrução da nossa indústria.Aguardar um novo ciclo de bonança das commodities não é uma escolha aceitável. A recessão econômica no Brasil nos últimos meses já levou mais de 3 milhões de famílias a retroceder na escala econômica. A forte consciência ecológica da sociedade internacional e da responsabilidade socioambiental das empresas faz aumentar a reciclagem de materiais, reduzindo a compra de matéria prima para a manufatura de novos produtos, como o minério de ferro. A diversificação da cadeia de suprimentos da China e seus investimentos em grandes áreas cultiváveis no mundo devem manter as commodities de alimentos nos níveis atuais por um período maior. O impacto da eliminação da lei do filho único só será sentida daqui há muitos anos. O aumento do uso de energia renovável e o gás de xisto para produção de energia deve manter o preço do barril de petróleo baixo, frustando muitos projetos de crescimento apoiados na receita de exportação de petróleo e de captação de investimentos para extração em locais de difícil acesso, como nas camadas do pré-sal.

Nossa opção é investir na indústria, tornando-a forte e altamente competitiva no mercado internacional. O Brasil tem um PIB de US$2,3 trilhões de dólares e uma população estimada de 204 milhões de habitantes. As dimensões continentais do país permite uma economia diversificada e, até agora, com poucas ocorrências de eventos climáticos extremos. Analisando apenas o Estado de São Paulo, que detém 33% do PIB nacional, se somarmos o PIB estadual e o dinheiro roubado da Petrobrás teríamos a soma dos PIBs do Chile, Peru e Colombia juntos. Ou seja, temos um potencial enorme de crescimento.

Talvez esse potencial de crescimento e as benesses dos governos fechando nossa economia atrapalhem a visão de expansão internacional dos nossos empresários e ações mais efetivas de melhoria da produtividade nas fabricas. Como consequência tivemos o rebaixamento no ranking internacional de competitividade do Fórum Econômico Global. Esses fatos prejudicam a imagem no país no exterior e a atração de investimentos em fabricas vindos do exterior.

Investir em fabricas no exterior para neutralizar o “Custo Brasil” pode parecer ser pouco atrativo em países menores como Chile (PIB de US$258 bilhões), ou Peru (PIB de US$202 bilhões) ou Colombia (PIB de US$378 bilhões), mesmo que esses países estejam crescendo a taxas de mais de 3% ao ano, no mínimo. Ainda mais agora que esses países fazendo parte do acordo Trans-Pacific, onde nossos produtos teriam baixa competitividade com produtos de outros países. Pouco atrativo seriam os países mais pobres na America do Sul: Equador (PIB de US$100 bilhões), Bolivia (PIB de US$33 bilhões) e Paraguai (PIB de US$30 bilhões). Se olharmos para os nossos vizinhos do Atlântico Sul, Argentina (PIB de US$543 bilhões) e Venezuela (US$510 bilhões) a instabilidade econômica e política são desmotivadoras.

Outro desafio para montar operações fora do país é que precisamos de mais dinheiro devido a desvalorização do Real frente as principais moedas internacionais, como o dólar.

O cenário ideal seria eliminar o “Custo Brasil”, construir fabricas modernas sem pagar impostos de importação da infraestrutura, utilizar os insumos brasileiros sem carga tributária, importar bens e serviços do exterior sem pagamento de taxas de importação, exportar produtos sem impostos de exportação, empregar mão de obra local aproveitando a desvalorização do Real frente ao dólar e usar esse modelo para melhorar a competitividade interna.

Parece sonho? Por incrível que pareça essas condições estão disponíveis para empresas de qualquer porte, nacional ou internacional, nas ZPEs brasileiras, as Zonas de Processamento de Exportação.

Está tramitando no Congresso uma alteração na atual legislação para ampliar o percentual de produtos que podem ser comercializados no mercado interno, passando de 20% para 40%, e liberando as ZPEs para operações de serviços, hoje exclusivas para a indústria.

Nesse cenário, as empresas podem operar no Brasil fabricando produtos com preços competitivos internacionais e aproveitar o crescimento econômico dos nossos vizinho do Pacífico e participarmos, mesmo que indiretamente, do acordo Trans-Pacific.

Resumindo, nossa saída é pelo Pacífico utilizando as ZPEs como fator de modernização da indústria e atingindo níveis de competitividade internacional.