Em uma entrevista, Roberto D’Avila perguntou a Bibi Ferreira (94) qual a diferença do mundo na sua juventude e agora, ela respondeu que no passado o mundo era mais “devagar”. Ao que parece nossas instituições públicas, algumas alas da sociedade e empresas ainda vivem no passado, se movimentando lentamente. O esforço dos “velozes” para superar os entraves colocados pelos “lentos” é muito maior que em outros países, reduzindo nossa competitividade. O resultado é a queda contínua do Brasil no ranking de competitividade mundial, monitorado pelo Fórum Econômico Mundial. Em 2016, passamos a ocupar a 81ª posição, perdendo 33 posições em quatro anos.
Marcos Lisboa, presidente do Insper, afirma que se o Brasil tivesse a mesma educação, saúde e impostos dos Estados Unidos, ainda seriamos 40% menos competitivos que eles. Seu argumento é que o nosso ambiente de negócios é arcaico e nada competitivo.
Por aqui tudo demora, inclusive as coisas que são muito importantes. Por exemplo, a mudança da legislação que transforma as ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação) de áreas industriais para empresariais está desde 2011 no Congresso sendo discutida. Enquanto isso, o Uruguai, Chile e Colômbia já implantaram suas zonas de livre comércio e estão atraindo investidores.
A mudança do modelo do ensino médio, começou a ser discutida em 2013 com a realização de workshops e vários estudos de especialistas em educação e, quando foi implantada via Medida Provisória, uma ala da sociedade (incluindo alguns jovens) se manifestaram contra, devido ao “pouco” tempo de discussão. Enquanto isso outros países que adotaram modelos mais eficientes de ensino já estão lá frente, incluindo o Chile, e nós ficamos nas últimas posições do PISA, uma avaliação internacional de conhecimentos em matemática, ciência e interpretação de texto, realizada com alunos do último ano do ensino fundamental.
Grandes decisões de Estado, como a reforma fiscal e da previdência, precisam ser discutidas para contemplar a vontade da sociedade. Felizmente, a democracia proporciona a discussão aberta e permite decisões que contemplem a diversidade, representando as mais diversas opiniões. Entretanto, quando a convergência para um consenso demora muito, todos são prejudicados.
O maior problema é quando a lentidão das decisões e ações acontecem nas empresas, por falta de empoderamento dos funcionários e centralização das decisões. Nos órgãos públicos, a lentidão é devida ao excesso de burocracia e corrupção, que infelizmente afetam as empresas mais velozes.
Esse cenário se deve a uma cultura de negócio ultrapassada e a uma máquina pública complexa, repleta de leis do século passado, tornando até o servidor público melhor intencionado ineficiente.
O que podemos fazer para manter e ampliar a competitividade das empresas velozes? Na minha opinião, investir em mercados onde o cenário de negócios é ágil e competitivo e trabalhar para mudar o cenário de negócios do Brasil com a experiência de outros mercados.
Vários países desenvolvidos possuem programas especiais para novas empresas investirem em seus mercados. Também, países em desenvolvimento com líderes visionários abrem suas portas para novos investimentos. Acredito que a experiência adquirida por empresas brasileiras nesses mercados ajude a transformar o nosso ambiente de trabalho.
As empresas velozes não podem sucumbir a um ambiente de negócios desfavorável, eliminando qualquer oportunidade de crescimento por razões que estão fora de seu controle. Entretanto, o Brasil é o oitavo maior mercado do mundo e não há como estar fora, principalmente, conhecendo suas idiossincrasias e oportunidades para fazer grandes negócios.
Fica minha sugestão de revisão das estratégias das empresas, mesmo as lentas, para incluir negócios no exterior para aproveitar seus talentos e agregar conhecimento de como fazer negócios mais velozes.
Ranking de competitividade elaborado pelo Fórum Econômico Mundial