Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: fmea

  • Apagão elétrico e Planos de Continuidade de Negócios

    O apagão controlado de energia do dia 19 de janeiro de 2015 emitiu um sinal de alerta sobre a ameaça crescente de racionamento de água e energia. Apesar das informações desencontradas entre o Ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, e do Diretor Geral do ONS, Hermes Chipp, sobre as causas da interrupção de energia em 10 Estados e Distrito Federal, sabe-se que foi uma restrição de fornecimento de energia na interligação Norte e Sul. Em outras palavras, a energia de sobra no Norte e Nordeste não teve como ser transmitida para a região Sul.

    O potencial de novas ocorrências é grande, ainda mais que 59% das obras dos 388 projetos de linhas de transmissão de energia estão atrasados. Atualmente, temos 107 mil quilômetros de linhas de transmissão de alta tensão, que devem ser constantemente inspecionadas para evitar falhas, sem dúvida, um grande desafio.

    A queda de uma torre de transmissão ou uma falha grave em um grande transformador de energia em uma subestação pode restringir, consideravelmente, o fornecimento de energia. A situação é tão crítica e sem saída para os humanos, que a única opção é rezar para São Pedro mandar chover e apostar na sorte para não ocorrer novas falhas no sistema.

    Infelizmente, os impactos são desastrosos para as empresas. As ações das empresas do setor elétrico tiveram forte queda na Bovespa no dia apagão: CPFL ON (-7,30%), Light ON (-6,58%), Cemig PN (-6,37%), Tractebel ON (-6,31%) e Copel PNB (-5,99%).

    Quem trabalha no mundo corporativo sabe que para todo risco deve existir uma ação de contingencia. Imagine um executivo relatando para seus superiores no exterior a crise de energia no país e o potencial risco de paralisação das operações e apresentar como plano de ação uma oração para São Pedro todos os dias no início do trabalho.

    Para muitas empresas, o plano de contingência é a instalação de geradores de energia a diesel, incluindo os data centers. Imagine uma falha grave no sistema elétrico por mais de 72 horas. Os tanques de combustível deverão ser reabastecidos. Sem energia, teremos um caos no trânsito, longos congestionamentos e difícil acesso dos caminhões de abastecimento, se é que existirão caminhões disponíveis para atender a todas as empresas. A consequência é que sua empresa ficará sem energia.

    Seguindo o mesmo raciocínio, se os reservatórios de água atingirem níveis insustentáveis haverá racionamento de água. Os restaurantes industriais ou dos arredores terão dificuldade em fornecer refeições. A higiene dos banheiros ficará comprometida. E o desastre total, não teremos cafezinho.

    As empresas que já adotam o trabalho remoto como prática e possuem uma infraestrutura de colaboração virtual terão menos impacto com uma falta prolongada de energia. Os funcionários poderão ser deslocados para regiões com energia para operar a empresa. Para acontecer isso, o data center deve estar ativo e os dados disponíveis via Internet. Nesses casos, empresas que adotam computação em nuvem (Cloud Computing) e virtualização de desktop ganham em flexibilidade e mobilidade.

    Apesar da TI viabilizar os planos de continuidade de negócio, o plano não é responsabilidade dela. A TI deve se concentrar em seu Plano de Recuperação de Desastre que já é, suficientemente, complexo para garantir a disponibilidade e segurança das informações.

    As empresas devem montar uma equipe multifuncional para elaborar e, principalmente, manter e atualizar os planos de continuidade de negócios, uma vez que mudanças são constantes nas empresas.

    Comece com um workshop para levantar os processos que devem ter prioridade. Identifique quais os potenciais riscos da falta de energia e outros que podem afetar o processo. Use o método FMEA (Failure Modes and Effects Analysis) para identificar ações de contorno e prioridades, baseado na probabilidade de ocorrência e impacto no negócio. Depois de definidas as ações e suas prioridades parta para a implementação e testes periódicos para avaliar sua eficiência.

     

  • Migrando para um modelo de gestão baseado em risco

    Muitas organizações buscam a eficiência operacional através de certificações, como a ISO9.000, ISO14.000, ISO50.001, ISO20.000, ISO26.000, ISO27.000, SOX, Cobit, ITIL, etc. Cada certificação exige investimento, tempo, treinamento, mobilização de toda ou parte da organização e adequação dos processos para atender aos requisitos da norma ou do framework. Muitas especificações são redundantes em vários frameworks. Como sabemos, muitas regras tornam complexo o processo de gestão e geram dúvidas de interpretação, podendo ter um resultado inverso ao esperado. Isso coloca em dúvida o retorno do investimento dos projetos de certificação. A proposta desse artigo é usar a disciplina de Gestão de Risco para direcionar as revisões de processos e a adoção de mecanismos de controle automatizados. O resultado é tornar os resultados tangíveis e alinhados com os objetivos e continuidade dos negócios.

    As organizações assumem o perfil de seus fundadores e suas disciplinas de valor. Cada organização assume uma cultura que pode ser orientada para a inovação, para o cliente ou para a excelência operacional. Por exemplo, as empresas da era digital têm orientação para a inovação, as consultorias de uma forma geral para os clientes, e a indústria para a excelência operacional. Cada organização tem um apetite para o risco de acordo com o perfil de seus fundadores e disciplinas de valor.

    O sucesso de uma organização deve levar em consideração diversos componentes interligados e seus habilitadores. Podemos considerar sete importantes habilitadores: (1) princípios, políticas e modelos; (2) processos; (3) estruturas organizacionais; (4) cultura, ética e comportamento; (5) informação; (6) serviços, infraestrutura e aplicativos; e (7) pessoas, habilidade e competências. A falta de alinhamento de um ou mais habilitadores impede que os objetivos e metas de crescimento sejam alcançadas.

    Observe que o perfil dos fundadores e disciplinas de valor têm um impacto direto nos habilitadores, resultando em um estilo organizacional próprio. Esse estilo é o que a distingue da concorrência e define seu sucesso empresarial.

    Uma alteração no modus operandi da organização devido a implantação de uma norma ou framework tem que ter uma excepcional justificativa para ser aceita sem resistência pela alta direção e funcionários.

    Minha proposta de adoção de um modelo de gestão baseado em risco se apoia na identificação de potenciais falhas e impactos dos habilitadores para justificar mudanças de processos e novos sistemas automatizados de controle.

    O modelo de governança corporativa deve garantir que as necessidades, condições e opções das partes interessadas sejam avaliadas frente aos objetivos acordados, definindo priorizações e tomadas de decisão. O modelo BSC – Balanced Scorecard – permite identificar os objetivos e métricas de desempenho de forma holística, considerando as perspectivas financeira, cliente, processos internos e, treinamento e crescimento. O BSC se adapta a qualquer estilo organizacional.

    Cabe aos diretores executivos implementar um modelo de gestão para atingir os objetivos organizacionais, envolvendo planejamento, desenvolvimento, execução e monitoramento das atividades.

    A fortíssima concorrência local e global focada em preço e qualidade dos produtos e serviços não oferece margem para desperdícios de tempo e dinheiro. O importante é focar nos objetivos organizacionais e em ações para mitigar os riscos que impactem as metas definidas.

    Cada gestor de negócio deve avaliar os habilitadores que garantem o atingimento de suas metas e avaliar os potenciais riscos de falha e ações para mitiga-los. Recomendo usar o FMEA – Failure modes and effects analysis – como instrumento para identificar potenciais falhas no design, processos de manufatura, produtos e serviços. O FMEA se aplica a qualquer processo organizacional. Usando o método PCDA (Plan-Do-Check-Act) é possível controlar e melhorar continuamente os processos e produtos. Programas mais avançados podem utilizar o DMAIC (Define, Measure, Analyze, Improve and Control) uma ferramenta de projetos Six-Sigma.

    Usando essa abordagem, a organização promove a gestão de risco e investe na automação dos processos que trazem retornos tangíveis. O uso de sistemas de informação eficientes dos processos críticos fornece a alta direção informações necessárias para tomadas de decisão mais precisas. Adotando técnicas de melhoria contínua, progressivamente, os processos se tornam mais robustos, reduzindo as falhas, aumentando a produtividade e reduzindo os custos operacionais.

    Para alinhar e envolver a direção, funcionários e fornecedores no programa sugiro adotar ciclos periódicos para revisão de riscos, revisão de processos e avaliação de resultados. Concentrando as atividades em períodos, gera mais sinergia e evita que ações ad hoc de uma área de negócio desvie da rotina outras áreas de negócios em diferentes épocas do ano. Caso seja necessário contratar uma consultoria especializada em gestão de risco e melhoria contínua, é possível concentrar as atividades e obter mais produtividade e ganhos do serviço contratado.

    Os resultados práticos dessa abordagem surgirão naturalmente na melhoria de produtividade, aumento da qualidade dos produtos e serviços, redução de custos operacionais, maior retorno do capital investido, satisfação dos clientes e maior atratividade de investidores.

    Entretanto, se houver a necessidade de uma avaliação externa e independente do trabalho realizado, é possível a contratação de uma empresa de auditoria externa para validar o modelo de gestão baseado em risco e os processos de negócio.

    Essa abordagem não invalida a obtenção das certificações tradicionais. Algumas são obrigatórias para participação em processos licitatórios, condição para participar da cadeia de fornecedores de grandes empresas e como parte de acordos com acionistas e entidades regulamentadoras.

    A grande vantagem do uso a priori do modelo de gestão baseado em risco sobre os processos tradicionais de certificação é que todo os processos já foram mapeados, os riscos identificados e as ações mitigatórias já definidas. Desta forma, o processo de certificação será meramente burocrático com a reunião das evidências na forma exigida pela norma.

     

     

     

  • Como reduzir os riscos do seu negócio

    Todo negócio tem seus riscos. Nas empresas pequenas e startups, o risco é potencializado pela falta de experiência dos empreendedores ou pela introdução de novos produtos para novos mercados. A má notícia é que você, em algum momento, passará por apuros. A boa é que você pode reduzir os riscos com um bom planejamento.

    A primeira coisa que você precisa fazer para reduzir os riscos é desenhar e implantar processos robustos na área financeira, fiscal, operacional e de relacionamento com clientes. Existe uma grande diferença entre desenhar e implantar. Você pode falhar na implantação de bons processos pela falta de treinamento e comprometimento do seu pessoal. Seja tolerante aos erros de pessoas que tentam melhorar o processo. Seja intolerante com quem for displicente na execução. A tecnologia não resolve as falhas de processos mau desenhados, ela potencializa os erros.

    Se você não tiver experiência na área de planejamento ou operacional, contrate um consultor. Quem não tem dinheiro mas tem uma boa ideia, deve encontrar um investidor anjo. Ou seja, alguém que possa investir não apenas dinheiro mas contribuir com sua experiência na implantação dos processos e ajustes no seu produto.

    Desenvolva um plano de gestão de riscos. Faça exercícios simulando situações de riscos e crie soluções antecipadas para esses cenários. Uma boa técnica é análise de falhas e efeito FMEA (Failure mode and effects analysis). Nela, você analisa para cada situação de falha potencial o grau de severidade, a probabilidade de ocorrência e facilidade de detecção do erro. Após essa análise você investe em ações de mitigação ou assume os riscos.

    Faça seguro de suas operações contra lucro cessante ou ações movidas por clientes por problemas de uso do seu produto. Pode não ser barato, mas pode ser um meio de salvar sua empresa da falência.

    Por último, não hesite em cortar despesas. Se no início você superdimensionou seu negócio e as vendas não estão cobrindo as despesas, corte despesas o mais rápido possível. Mude para um local mais barato. Corte parte do pessoal e elimine produtos ou serviços que não são lucrativos. Quanto mais tempo demorar, maior será o risco.

    Estar exposto ao risco é parte do negócio. Minimizá-lo é coisa de empreendedor de sucesso.