Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: serviços compartilhados

  • Quando a redução de custos destrói um negócio?

    O foco da operação de uma empresa é a busca incessantemente pela excelência operacional, procurando o equilíbrio a qualidade e o custo dos produtos ou serviços. Em épocas de crise econômicas ou forte concorrência de mercado a palavra de ordem é reduzir custos com a manutenção da qualidade. Entretanto, se as ações forem isoladas poderá causar a destruição da empresa. Desta forma, recomenda-se que qualquer ação de redução de custos deve ter visibilidade corporativa e avaliação de risco integrado.

    São vários casos de redução de custos que podem inibir o crescimento das empresas e gerar impacto negativo no médio e longo prazo. Um exemplo é a centralização de serviços comuns em corporações com várias unidades de negócios, os chamados serviços compartilhados (shared services).

    Na teoria, compartilhar recursos reduz custos, aumenta a robustez dos controles e padroniza os processos comuns na corporação. Isso é verdadeiro se todas as unidades de negócios tiverem a mesma importância e volume de receita na corporação. Entretanto, na prática, se existirem unidades de negócios menores o compartilhamento de serviços pode matar esses negócios.

    Vamos pegar o exemplo da área de tecnologia da informação (TI) operando dentro do modelo de serviços compartilhados. Uma grande vantagem para as unidades menores de negócio é adquirir licenças de uso de software com preços através de contratos corporativos que negociam grandes volumes.

    Agora vamos analisar a seguinte situação: uma unidade menor da corporação precisa desenvolver um software para um novo negócio que exige a alocação de 5 recursos da área de TI e que trará uma receita adicional de 50% anual. Considerando que essa empresa tem uma receita anual de R$50 milhões o ganho estimado será de R$25 milhões. Um resultado excepcional para a unidade de negócio.

    Paralelamente, a área de TI recebe uma solicitação de uma grande unidade de negócio para desenvolver um software que trará o aumento de 1% da sua receita anual e será necessário alocar os mesmos 5 recursos. Considerando que a receita anual dessa unidade é de R$10 bilhões, o resultado será o incremento de R$100 milhões.

    A decisão lógica nesse caso é alocar os recursos para a unidade maior que trará mais lucratividade para a corporação. Entretanto, essa decisão lógica destrói a oportunidade da unidade menor de crescimento e poderá decretar o fechamento da unidade menor por não atingir resultados atraentes.

    Neste caso, seria melhor a unidade menor ter a sua própria área de TI e contratar serviços compatíveis com o tamanho da sua operação, mesmo que isso significasse um aparente desperdício de recursos.

    Uma das causas dessas distorções é que a contabilidade pelos serviços internos é feita por rateio e não através de custeio ABC (Activity based Costing). O modelo de custeio ABC identifica claramente o impacto dos serviços em cada produto, permitindo ações pontuais para redução de custos de forma inteligente. Assista o curso online gratuito sobre Custeio ABC.

    Outra causa para o problema é quando a empresa contrata uma consultoria para redução de custos baseado em taxa de sucesso. Obviamente, que a consultoria irá buscar todas as opções de redução de custos, independente do impacto que trará para a receita da empresa. Cabe à empresa desenvolver estudos paralelos para avaliar esses impactos.

    Uma forma de avaliar os impactos é utilizar o modelo BSC com o mapa estratégico de negócios e um processo de avaliação de risco. Veja o artigo Migrando para um modelo de gestão baseado em risco.

  • Serviços Compartilhados, uma cultura de colaboração

    Um mapa de processos organizacionais identifica atividades redundantes e permite a criação de serviços compartilhados, com redução de custos e melhoria de qualidade. Defino serviços compartilhados (Shared Services) como a colaboração entre partes de uma organização para a prestação de um serviço que garanta a entrega de resultados com base em métricas definidas (KPIs, custo, qualidade, etc.). Por essa definição, serviços compartilhados é diferente de terceirização (outsourcing), onde a empresa paga para a execução de uma determinada atividade. Em grandes corporações é comum a criação de uma unidade de negócios autônoma. Em organizações pequenas e médias, é possível definir grupos internos com mais afinidade com um determinado serviço para executar tarefas para outras unidades. Serviços compartilhados típicos: TI, contabilidade, suprimentos, transportes, recursos humanos, jurídico, segurança patrimonial e outros. Entretanto, alguns serviços compartilhados não são recomendados para unidades de negócios pequenas dentro de uma grande corporação, principalmente startups.

    A primeira ideia que temos sobre serviços compartilhados é redução de custos, através da padronização de processos e ganhos em escala. De acordo com o Instituto Inglês de Contadores, mais de 30% das empresas da Fortune 500 relataram reduções de custos gerais de até 46%. Posso atestar essas economias nos projetos que participei na Ford e AES Corp.

    A experiência me mostrou que temos que olhar os serviços compartilhados sob outra ótica, a da colaboração. Aprendi que o sucesso de um shared services está na capacidade da transformação cultural da organização para a colaboração. A execução dos serviços deve ser ajustada as necessidades das áreas de negócios, sob o risco do impacto operacional neutralizar ou tornar o processo mais caro que o original, principalmente naqueles processos que envolvem a satisfação dos clientes finais.

    O objetivo é definir processos padronizados e medidos que possam ser repetidos em várias áreas de negócios. O desafio é a colaboração para o consenso entre as partes. Nessas situações a flexibilidade e o comprometimento com o sucesso da organização devem ser maiores que as posições pessoais dos atores.

    Dentro dessa visão de colaboração, temos que repensar a contratação de serviços terceirizados, o outsourcing. Defendo que o outsourcing deve ser encarado como uma joint-venture de serviços entre as empresas. Compartilhar as estratégias corporativas e manter um canal de diálogo com fornecedor para melhoria dos processos é fundamental para aumentar a eficiência operacional e reduzir ainda mais os custos.

    Vejo uma exceção no uso de serviços compartilhados, o uso de processos de uma grande corporação em pequenas unidades de negócios. Por exemplo, usar a complexa contabilidade de uma grande organização em uma startup. Ou ainda, um ERP sofisticado para gerenciar os processos de um pequeno negócio da empresa. Mesmo que a organização subsidie os custos, o peso da sofisticação dos processos irá sufocar a pequena organização e aniquila-la em pouco tempo. Defendo que as pequenas organizações devam ter suas próprias estrutura até atingirem um nível de desenvolvimento que permita o uso de serviços compartilhados.

    Acredito que uma organização está preparada para usar serviços compartilhados quando ela atingiu um nível de maturidade onde exista forte colaboração entre suas unidades de negócios.