Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: sustentabilidade

  • IoT, Big Data e Agricultura de Precisão

    A forte estiagem que atinge as regiões Sudeste e Centro-Sul era prevista para daqui a 15 ou 20 anos. Com a aceleração do desmatamento da Amazônia, a falta de umidade e a fumaça das queimadas impede a formação de nuvens e chuvas nessas regiões. A Amazônia e a Mata Atlântica são responsáveis por manter a região Sudeste com clima temperado e chuvas regulares, uma vez que essa região está na faixa dos desertos existentes no hemisfério sul (desertos australianos, africanos e do Atacama). Investigações geomorfológicas indicam que entre os anos 1.000 e 1.300 houveram secas generalizadas e várias populações desapareceram nas Américas.

    As mudanças climáticas extremas irão afetar diretamente a produção de alimentos no mundo. Estima-se que cerca de 70% da água doce do mundo é utilizada para a agricultura. O aumento da população mundial, estimada em mais de 9 bilhões de habitantes para 2050, exige a produção cada vez maior de alimentos. O Brasil, que detém a maior área cultivável do mundo e continuará sendo um dos maiores produtores mundiais de alimento.

    Infelizmente, a expansão da produção de alimentos e pecuária leva ao desmatamento de vastas áreas, que por sua vez aumenta o risco de escassez de água e desertificação da região Sudeste.

    As mudanças climáticas estão desafiando as previsões dos agricultores tradicionais, aqueles que sentindo o vento, a umidade, as movimentações dos pássaros sabiam que estava na hora de plantar ou colher.

    A solução para reduzir os riscos ambientais e da economia do país é a tecnologia, o que chamamos de agricultura de precisão. Com informações de sensores instalados no campo para medir a temperatura, umidade do solo e do ar circulante é possível fazer análises em tempo real para planejar, dinamicamente, o plantio e a colheita.

    Através de fotos de satélites ou drones robóticos é possível determinar a maturidade da cultura. Associando esses dados com a disponibilidade de equipamentos e mão de obra através de análise preditiva é possível tomar decisões mais acertadas sobre o plantio e colheita. Por exemplo, essas informações podem adiar a adubação de uma plantação antes de uma forte chuva para evitar o desperdício do adubo que seria levado pelas águas.

    Com a agricultura de precisão é possível aumentar, consideravelmente, a produtividade da agricultura e pecuária, reduzindo o desmatamento e seus efeitos desastrosos para o meio ambiente, para as populações e para a economia. O uso da agricultura de precisão deve ser uma regra e não uma exceção nos países produtores de alimentos.

    A agricultura de precisão gera empregos de qualidade no campo e novos negócios para fornecedores de equipamentos e produtos para o campo. Por exemplo, as plantadeiras e semeadeiras conectadas via Internet aos bancos de dados com informações precisas sobre a qualidade do solo, podem liberar a quantidade e o tipo de adubo para cada metro quadrado de solo, reduzindo o desperdício e aumentando a produtividade do solo.

    Tecnologias como Internet of Things, Big Data, Analytics e Cloud Computing devem ser comuns ao agricultor e pecuarista moderno. O governo deve fomentar a pesquisa, formação de especialistas e utilização da agricultura de precisão.

    Obviamente, os compradores de commodities e analistas de mercado estão atentos ao uso destas tecnologias pelos agricultores em todo o mundo através de imagens de altíssima definição dos satélites. Essas imagens são analisadas por sofisticados softwares que conseguem determinar a qualidade e volume da safra, informações que serão utilizadas para investimentos e negociação do preço das commodities, incluindo o mercado futuro.

  • Adote uma usina de energia renovável

    O apagão forçado coordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) em 19 de janeiro de 2015, provou que o sistema elétrico brasileiro opera no limite e qualquer elevação de demanda se torna instável. A restrição de oferta atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, ou seja, as regiões de maior concentração das atividades econômicas do país. O episódio mostrou nossa forte dependência das hidrelétricas, que tiveram sua capacidade de geração reduzida devido a longa estiagem que reduziu os níveis dos lagos de reserva. Infelizmente, episódios como este podem ocorrer com mais frequência. Embora, algumas empresas tenham geradores a diesel esses não são suficientes para atender toda a demanda ou, se atendem, por períodos pequenos, como é o caso dos data centers. Sistemas elétricos integrados, como o brasileiro, são eficientes se bem dimensionados e modernos (alto grau de automação), caso contrário, uma falha gera um efeito domino. Minha sugestão é que grandes consumidores de energia adotem uma usina de energia renovável e se instalem próximo a ela.

    Acredito que o futuro será da geração distribuída, onde empresas e pessoas gerarão sua própria energia para consumo. Hoje com um investimento de cerca de R$17.000 é possível instalar um sistema de microgeração de energia fotovoltaico para atender uma residência com quatro pessoas, com a possibilidade de repassar para a concessionária de distribuição local o excedente produzido durante o dia, compensando o consumo noturno. A Honda investiu R$100 milhões em um parque eólico de 27MW em Xangri-lá (RS) para atender a demanda da sua fábrica em Sumaré (SP) com uma redução entre 40-45% do custo em energia. Infelizmente, a Honda compartilha o mesmo sistema elétrico integrado para o transporte da energia que em caso de colapso do sistema ela será afetada.

    O Ministério das Comunicações e a Itaipu Multinacional assinaram um acordo de colaboração para a criação de um condomínio de data centers no parque tecnológico dentro da usina. Isso, a princípio, garantirá energia continua e barata (se aprovado algumas isenções fiscais) para os data centers. Nessa situação, mesmo com um colapso do sistema elétrico integrado, os data centers continuariam operando com a energia de Itaipu.

    Uma opção é que os governos (federal, estadual e municipal) criassem condições regulatórias e fiscais para as indústrias, incluindo a de serviços (Call Centers, Data Centers e outras) se instalassem próximas as usinas de geração, principalmente as de fontes renováveis como biomassa, eólica e fotovoltaica.

    Além de garantir maior confiabilidade de fornecimento de energia, desenvolveria as regiões próximas as fontes geradoras, que normalmente estão afastadas dos grandes centros metropolitanos, e estariam em conformidade com a política de redução de emissão de gases do efeito estufa.

    Isso vale também para um movimento que estou apoiando para criar Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) para a indústria de software.

     

  • Controle da demanda de energia é uma questão de sobrevivência empresarial

    Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o aumento da energia resultará um custo estrutural de R$401,30 por MWh até o final de 2015 para a indústria. Em 2013, o custo médio da indústria era de R$263,00 por MWh. A introdução das bandeiras tarifárias em 2015 representará um custo adicional de R$18,90 nos custos da indústria, elevando o custo da energia para R$420,20 por MWh. Isso associado ao baixo crescimento previsto da economia brasileira, exigirá ações drásticas de redução de custos nas empresas. A velha expressão “pense fora da caixa” deverá passar do discurso para a prática. Algumas ações deverão ser articuladas por sindicatos patronais e associações de empresas e sociedade em geral.

    Vamos começar com uma breve revisão do modelo do setor elétrico no Brasil. Nosso modelo, como em vários países, é regulado pelo governo para garantir a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia necessária para garantir a demanda em todas as regiões do país. O modelo inclui a concessão para empresas privadas explorarem mercados cativos de consumidores em regiões definidas pelo governo e distribuídas através de leilões públicos. A compra de energia pelas concessionárias de distribuição é feita através de leilão de energia já disponível das usinas geradoras, chamados leilões A1, e através de compromissos de compra de energia de usinas planejadas ou em construção com previsão de entrada em operação em 3 e 5 anos, chamados leilões A3 e A5, respectivamente. A construção e manutenção das linhas de transmissão de alta tensão também são concessões e obtidas através de leilão.

    A composição da matriz energética é planejada para ser diversificada, incluindo hidrelétricas, termelétricas, eólicas, biomassa e fotovoltaicas. Para incentivar a diversificação da matriz e evitar disparidade de preços devido as diferentes tecnologias são realizados leilões específicos para novas tecnologias, como eólica e fotovoltaica. Também, existem leilões específicos para PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas).

    Existem duas formas de comercialização de energia: por quantidade e por disponibilidade. Por quantidade, é a compra de montantes de energia nos leilões por um preço fixo, normalmente, aplicáveis para hidrelétrica em leilões A1. Nesta modalidade, os geradores estão sujeitos a riscos de sobras ou déficits de energia que devem ser liquidados no mercado spot (PLD – Preço de Liquidação da Diferenças). Esses riscos são minimizados pelo chamado Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) entre as usinas participantes do sistema integrado nacional (SIN). Por disponibilidade, é quando uma usina geradora é remunerada para manter uma determinada capacidade de energia de reserva para ser acionada (despachada) quando necessário. Quando acionada, os custos operacionais são cobrados adicionalmente, como por exemplo o combustível utilizado na geração de energia.

    Devido à crise hídrica que assola a região sudeste houve uma redução de geração de energia pelas hidrelétricas compensada pela geração das termelétricas, acionando os contratos por disponibilidade, aumentando os custos de geração de energia. Esse custo adicional é pago pelos consumidores em suas contas de energia através das bandeiras tarifárias. A Aneel determina no final de cada mês qual será a bandeira (verde, amarela ou vermelha) do próximo mês. A bandeira vermelha significa um custo adicional de R$3,00 para cada 100 kW consumido. A bandeira amarela, um custo adicional de R$1,50 para 100 kW consumidos e a bandeira verde sem custo adicional. As bandeiras tarifárias são definidas por região (Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte) com exceção dos Estados que não estão no sistema integrado.

    Com as intensas ondas de calor existe um aumento da demanda de energia com o uso de equipamentos de ar condicionado, ventiladores e aumento do número de banhos com chuveiros elétricos. Praticamente, o sistema elétrico está operando a plena carga todo o dia. Começa pela manhã com o acionamento do ar condicionado nos escritórios se prolongando a noite nas residências, incluindo os banhos usando chuveiros elétricos a partir das 18 horas até as 21 horas (cerca de 111 milhões nesse período). Isso faz com que o ONS, Operador Nacional do Sistema, ordene o despacho de energia das termelétricas do início do dia até a noite. Esse fato é o que determina a bandeira tarifária vermelha.

    Note que temos uma redução significativa de demanda entre 22h00 e 7h00, ou seja, na madrugada. Em tese, o valor definido para cada bandeira tarifária já leva em consideração esse fato.

    Para reduzir as despesas operacionais das empresas deve-se reduzir a demanda e o consumo de energia para compensar a alta do preço da energia. Para consumidores industriais e comerciais com demandas acima de 500 kW é possível negociar a compra de energia através do mercado livre. Para consumidores cativos, comerciais e residenciais, que pagam as tarifas definidas pela Aneel, têm como única alternativa a redução da demanda (kW) e o consumo de energia (kWh).

    Explicando, demanda é a quantidade de energia necessária para fazer funcionar todos os equipamentos elétricos ligados em um determinado momento. Consumo é o tempo que utilizamos a energia ao longo de um período. As instalações industriais e comerciais pagam uma taxa fixa para que a concessionária garanta uma determinada demanda. Se a demanda utilizada for maior que a contratada é cobrado um valor adicional e o consumidor deve contratar uma demanda maior se isso ocorrer com frequência.

    As concessionárias de distribuição contratam montantes de energia nos leilões baseadas nas estimativas de demanda do seu mercado cativo. Caso necessite demandas adicionais, devem comprar energia no mercado spot, com preços significativamente maiores, sem poder transferir para as contas dos consumidores, exceção daqueles que contrataram demandas menores. Isso faz com que as concessionárias de distribuição se preocupem e incentivem o controle da demanda de seus usuários cativos. A Aneel, obriga as distribuidoras a investirem 0,25% da sua receita líquida em projetos de redução da demanda na sua área de concessão. Projetos comuns são a troca de geladeiras antigas por novas e substituição de lâmpadas antigas por mais eficientes para comunidades de baixa renda, gratuitamente. Existem projetos de troca de sistemas de ar condicionado antigos por novos em órgãos públicos e hospitais. Essa verba pode ser utilizada a fundo perdido ou para financiar projetos em empresas privadas com taxas muito atrativas.

    Os workshops e projetos que realizo sobre eficiência energética tem estimulado a criatividade de técnicos e executivos. Por exemplo, repensar o processo de produção para acionar máquinas em diferentes horários para reduzir a demanda de energia ou transferir a produção para o período noturno para reduzir o uso de ar condicionado, negociando melhores tarifas com a distribuidora. Mesmo com o pagamento de adicional noturno para os funcionários, alguns projetos são atraentes.

    Existem muitas alternativas para a redução de demanda e consumo de energia. O importante é a empresa considerar esse assunto estratégico e envolver todos os funcionários na identificação de oportunidades. Uma forma de estruturar essa iniciativa é adotar uma metodologia aderente a ISO 50.001 para avaliar e implantar as melhores ideias. Isso não é uma atividade “nice to have”, hoje é uma questão de sobrevivência das empresas.

     

  • As cidades inteligentes exigem novos modelos de gestão municipal

    Um fenômeno global é a baixa confiança dos cidadãos com seus governos e as finanças públicas sob stress.  Isso resulta em um abismo entre as expectativas dos cidadãos e a capacidade dos governos de identificar e implementar programas para a população. Reforço que o problema atinge vários países, incluindo os Estados Unidos e vários países europeus. No Brasil, esse abismo pode ser maior devido as nossas características culturais e corrupção. Muitos buscam uma resposta dos governos federais, porém a solução está mais próxima do que se pensa, nas prefeituras. Entretanto, os prefeitos devem transformar o modelo tradicional de gestão para atender as novas expectativas dos cidadãos que exigem mais transparência do governo, mobilidade, segurança, saúde, educação e lazer, resultando em melhor qualidade de vida para as pessoas. A proposta é transformar os governos municipais em facilitadores em vez de provedores de soluções, transformando as cidades tradicionais em cidades inteligentes.

    Ainda discutimos se os governos devem assumir o comando da infraestrutura e dos serviços ou se devem deixar para a iniciativa privada ou se os próprios cidadãos devem assumir o controle. Parece que a crise econômica e o baixo crescimento das economias estão forçando uma profunda revisão dos modelos de gestão do governo. Os governos municipais são os mais afetados, pois são eles que interagem diretamente com os cidadãos.

    Mesmo em mundo ideal sem corrupção, as finanças públicas não conseguirão atender as expectativas crescentes dos cidadãos. A solução é os governos assumirem o papel de facilitadores na criação de plataformas de serviços e tecnológicas para serem exploradas pela iniciativa privada. A demora na adoção desse novo modelo de gestão pública traz prejuízos para os cidadãos, empresas e governo.

    Um exemplo é a falta de atuação dos governos municipais na estratégia de redes inteligentes de energia elétrica, o chamado Smart Grid. No Brasil, o modelo de concessões na distribuição de energia permite que as concessionárias definam a tecnologia da infraestrutura de telecomunicações. Desta forma, cada empresa está criando uma infraestrutura própria sem planos de compartilhamento com outros serviços.

    Por outro lado, muitos municípios estão implantando projetos de Internet para escolas, bibliotecas, prédios públicos e para os cidadãos, criando plataformas de telecomunicações próprias. Uma alternativa seria que a prefeitura assumisse o papel de facilitador e definisse uma plataforma comum de telecomunicações para compartilhar com todos os serviços, oferecendo esses serviços para as concessionárias de energia, água e gás. Isso permitiria que os investimentos redundantes fossem canalizados para outros projetos para os cidadãos, além de gerar receita adicional aos cofres municipais.

    Poderíamos pensar que o papel de definir esse modelo de compartilhamento de telecomunicações, no nosso exemplo, seria das agências reguladoras, ANATEL e ANEEL, ou das agências estaduais, no caso de São Paulo, a ARSESP, Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Infelizmente, essas agências estão, provavelmente, com desafios maiores e sem tempo para se dedicar ao assunto. Entretanto, essa falta de definição afeta, diretamente, as prefeituras em suas estratégias de cidades inteligentes.

    Resumindo, acredito que os prefeitos e as câmaras municipais deveriam assumir seu papel de liderança e defesa dos interesses dos cidadãos e definir suas políticas e projetos para transformar suas cidades em cidades inteligentes, transformando o modelo de provedor de serviços para um modelo de facilitador de serviços.

  • Medição inteligente multisserviços de energia, água e gás

    Precisamos adotar novos conceitos de gestão para viabilizar o crescimento da economia brasileira. Continuar usando modelos de gestão e regulamentação de mercado criados no passado já não atendem mais aos desafios dos complexos modelos de negócios globais. A crise energética e hídrica que estamos atravessando deve ser o gatilho para uma profunda revisão dos modelos de negócios e normas regulatórias.

    No setor elétrico, os desafios são aumentar a capacidade de geração de energia, diversificar a matriz energética e adotar medidas para o controle da demanda. O aumento da capacidade de geração e diversificação da matriz energética exige planejamento, capital intensivo, avaliação de impactos ambientais e capacidade de execução. O controle da demanda exige a adoção de equipamentos mais eficientes, conscientização dos consumidores e uma tecnologia de medição inteligente (smart metering). O crescimento da autoprodução de energia pelos consumidores e seu acoplamento nas redes de distribuição de energia adicionará uma maior complexidade na medição. Neste contexto, devemos incluir o uso de gás natural na geração de energia e a substituição alguns equipamentos que utilizam eletricidade e nos meios de transporte.

    No abastecimento de água, os desafios são aumentar os reservatórios que abastecem as cidades, ampliar a capacidade de tratamento de água, aumentar o reuso e evitar o desperdício de água. As ações necessárias são análogas ao do setor elétrico, incluindo a melhoria do controle da demanda.

    A solução é adoção em larga escala de redes inteligentes no setor elétrico e sistemas de monitoração e controles mais inteligentes na distribuição de gás e água.

    Apesar dos enormes benefícios das redes inteligentes (Smart Grid), tanto para os usuários como para as concessionárias, os projetos avançam de forma tímida. Os medidores analógicos de energia não permitem a gestão da demanda pelos usuários e exigem a presença física do pessoal das concessionárias para cortes e religações. Os métodos analógicos de medição de consumo de água não são precisos e a falta de gestão remota dificulta o ajuste da pressão nas tubulações, podendo gerar rompimento dos tubos ou falta de água para os consumidores. A falta de inteligência dos pontos de consumo de gás podem resultar em risco de vida e aumenta o custo de manutenção do serviço.

    Os altos custos de implantação e o tempo de retorno dos investidores inibem o avanço rápido dos projetos de redes inteligentes. Como o mercado de energia, água e gás são regulados, onde as agências reguladoras monitoram investimentos e despesas para definir as tarifas dos serviços, os projetos, na maioria das vezes, não se viabilizam.

    Uma solução seria a adoção do conceito de multi-utilities, ou seja, um fornecedor passaria a oferecer vários serviços (energia, gás, água, etc.), obtendo sinergia na utilização de equipamentos, sistemas de monitoração e controle, e pessoal.

    Infelizmente, o modelo de concessões adotado no Brasil não permite que uma concessionária opere mais de um serviço.

    Entretanto, nada impede que várias concessionárias adotem uma infraestrutura única de medição de energia, água e gás – smart metering.  O resultado seria a melhoria dos serviços aos usuários, redução de custos de implantação e operação da infraestrutura de monitoração e controle e a viabilização de projetos de redes inteligentes.

    Os benefícios do smart metering através de uma empresa de serviços são muitos:

    • Automação da medição de vários serviços;
    • Aumento de receita das concessionárias pela melhoria da medição;
    • Aumento da satisfação dos usuários;
    • Aumento da receita das concessionárias pela introdução de novos serviços inteligentes;
    • Substituição de investimentos (CAPEX) por despesas (OPEX);
    • Comando remoto para corte e religa sem a necessidade de equipes de campo;
    • Integração dos serviços de medição com os sistemas de informação das concessionárias;
    • Possibilidade de regionalização dos serviços de medição de uma mesma concessionária, reduzindo os riscos de grandes e complexos sistemas e investimentos;
    • Descentralização dos investimentos (CAPEX) entre vários fornecedores de serviço de medição para aquisição de equipamentos e sistemas, mitigando o risco de um único fornecedor;
    • Compartilhamento da infraestrutura de medição (equipamentos de multi-medição, redes de comunicações, sistemas de informação, pessoal técnicos, etc.) com vários serviços;
    • Redução de custo dos serviços de medição devido ao compartilhamento da infraestrutura;
    • Abertura de oportunidades para pequenos fornecedores de serviços de medição em regiões de pequena densidade populacional;
    • Aceleração do desenvolvimento do mercado de equipamentos, software e consultoria de Smart Grid;
    • Criação de novos empregos especializados;
    • Redução da quantidade de chamadas nos serviços de atendimento ao consumidor;
    • Aumento de oportunidades de negócios para os fornecedores de serviços pela possibilidade de regionalização dos serviços;

    Um modelo de negócios de medição multisserviços é viável. Participei ativamente no projeto da ANFAVEA, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, na implantação do EDI (Electronic Data Exchange) para fornecedores, envolvendo a colaboração de todas as montadoras do país. Em 2000, estive envolvido nas operações da Covisint, uma empresa de B2B criada pela Ford Motor Co., General Motors, e DaimlerChrysler, para comprar em conjunto autopeças no mercado americano e internacional. A criação da Covisint teve o desafio de reunir fortes concorrentes do setor automobilístico, entretanto, se viabilizou pela necessidade de redução de custos para enfrentar a competição internacional.

    O desafio da Covisint não se aplica as concessionárias no Brasil, pois o regime de concessão garante a reserva de mercado. A questão é quem começa. Existe pouca interação entre as atuais concessionárias de serviços. A relação mais próxima é como fornecedor e usuário entre eles ou, em poucos casos, em projetos municipais que exigem a coordenação de obras de várias concessionárias.

    Uma opção é o governo tomar a iniciativa de convidar as concessionárias para uma discussão sobre o modelo de negócio e criar condições para viabilizar o negócio. Ou, as próprias concessionárias tomarem a iniciativa. Ou ainda, um grande fornecedor se estruturar para oferecer o serviço. Essa última opção, talvez seja a mais fácil, pois existem empresas multinacionais que já executam serviços similares em outros países.

    Coloco a disposição um fórum virtual de discussão no Efagundes.com para ampliar essa discussão e buscar formas de viabilizar essa iniciativa.

  • Iluminação Pública a porta de entrada para uma cidade inteligente

    A partir de 2015 todas as prefeituras assumirão os ativos e serviços de iluminação pública de seus municípios. Na maioria dos casos, as prefeituras contratavam esse serviço das concessionárias de distribuição de energia da sua região que incluía os ativos e atendimento ao cidadão. Cada domicilio com uma ligação de energia paga na conta de luz uma Contribuição para Custeio da Iluminação Pública (Cosip), que varia de município para município, determinada pela Câmara de Vereadores. A delegação para a concessionária de energia operar o serviço de iluminação necessitava de um decreto de lei municipal. Atualmente, existem mais de 15 milhões de pontos de iluminação pública no Brasil.

    Existem, basicamente, duas estratégias das prefeituras para operar o serviço: criar um departamento próprio ou estabelecer uma parceria público privada (PPP). Algumas prefeituras estão criando consórcios públicos para operar o serviço em conjunto. As licitações para a formação das PPPs preveem a substituição das lâmpadas tradicionais por iluminação LED, de forma gradativa. Algumas licitações, como a do município de São Paulo, preveem a remuneração do serviço por luminária acessa com um sistema de monitoração integrado ao Centro de Controle Operacional.

    Entretanto, pelo que tenho acompanhado, as prefeituras estão focando apenas no serviço de iluminação pública, deixando escapar a oportunidade de iniciar um projeto mais abrangente de cidade inteligente.

    Os postes de iluminação púbica estão presentes na maioria das concentrações habitacionais e comerciais. Eles são altos e possuem, obviamente, energia. Se tornássemos cada poste de iluminação em um poste inteligente levaríamos muito mais serviços para a população, dentro do conceito de cidades inteligentes.

    Com a tecnologia de Internet of Things é possível, via Internet, monitorar e controlar vários dispositivos remotos instalados nos postes inteligentes. Poderíamos por exemplo:

    • Variar a intensidade da iluminação por faixa de horário ou por detecção de movimento, reduzindo o consumo de energia;
    • Instalar câmeras de monitoração que inibiriam assaltos e ajudariam a identificar os assaltantes, além de identificar veículos estacionados em locais proibidos e outras infrações;
    • Instalar radares de controle de velocidade;
    • Aproveitar os pontos de telecomunicações para oferecer Internet gratuita para os cidadãos;
    • Identificar locais de estacionamento vagos para auxiliar os motoristas via aplicativo móvel, reduzindo o tempo de busca e economizando combustível;
    • Identificar acidentes de trânsito ou incêndios em casas ou em terrenos baldios;
    • Usar o sistema de telecomunicações dos postes para apoiar os serviços de medição e controle de fornecimento de água e eletricidade (Smart Grid).

    Todos esses serviços reduziriam, significativamente, a necessidade de funcionários em campo, aumentando a eficiência dos serviços aos cidadãos através da automação de processos. Todas essas informações seriam concentradas no Centro de Controle Operacional do município, aumentando a sinergia entre os órgãos de segurança municipal e estadual, entre as concessionárias de serviços público e departamentos de trânsito.

    Um projeto integrado de cidade inteligente reduz a emissão de gases do efeito estufa e aumenta a eficiência energética do município, sendo parte integrante do Plano Municipal de Mudanças Climáticas que tem financiamento e suporte do governo federal.

  • Autoprodução e Mercado Livre de Energia uma estratégia de continuidade de negócios

    Imagine investir R$1,4 bilhões em uma nova fábrica e deixar de operar por falta de energia. Ainda, como enfrentar o desafio de reduzir as emissões de gases de efeito estufa diminuindo custos e aumentando a produtividade. A solução da Holcim, multinacional do setor de cimentos, foi contratar 55MW médios por R$700 milhões até 2022 da CEMIG no mercado livre para sua nova planta em Barroso em Minas Gerais. Já a Honda decidiu investir R$100 milhões em geração eólica de 95MW/ano no litoral do Rio Grande Sul para abastecer sua fábrica em Sumaré em São Paulo, deixando de emitir 2.2 milhões de toneladas de CO2 (redução de 30% das emissões) e reduzindo entre 40-45% dos gastos em energia. A Volkswagen, usando uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) está suprindo 18% da sua demanda de energia. Esses fatos seguem os visionários fundadores da Votorantim que implantaram usinas de geração de energia para consumo próprio desde sua fundação em 1918. Não há dúvidas que a autoprodução e compra de energia no mercado livre é uma excelente alternativa para garantir as operações das fábricas com redução de impactos no meio ambiente. Os projetos garantem energia no curto prazo e retorno do investimento no longo prazo.

    As mudanças climáticas que o Brasil está experimentando coloca em discussão nossa matriz energética. Durante anos focamos na exploração dos nossos recursos hídricos e usinas operadas por combustíveis fósseis (óleo e gás). O uso de energia alternativa era inviabilizado por questões econômicas. Entretanto, com a mudança do cenário de geração e algumas decisões equivocadas da política energética as empresas devem assumir uma postura mais proativa para garantir a continuidade de seus negócios.

    O mercado livre de energia sofreu um revés no final de 2013 com um malfadado decreto lei que forçou a revisão dos contratos de fornecimento de energia no país. Esse decreto lei gerou um desequilíbrio nas contas das distribuidoras, pressionou o aumento dos preços de energia e criou uma percepção de insegurança jurídica de contratos no país. A estiagem que acometeu as regiões Sul e Sudeste forçou o uso das termelétricas, mais cara que as hidrelétricas. Esses fatos, colocaram o país em uma séria crise energética.

    O governo afirma que serão necessários investimentos de 2,6% do PIB para atender a demanda de consumo de energia até 2020. Essa expansão será apoiada por usinas hidrelétricas, eólicas e biomassa, que é o uso de matéria orgânica na geração de energia.

    Como foi anunciado pelo futuro ministro da fazenda, Joaquim Levy, o Brasil fará um esforço para criar superávit nas contas públicas. As previsões são de forte controle nos próximos dois anos, ou seja, até 2016. Provavelmente, as ações serão a eliminação ou redução dos incentivos à indústria, aumento das taxas de juros e aumento de impostos. Isso forçará ações internas de redução de custos das empresas.

    A queda do preço internacional do barril do petróleo em 30%, comercializado em torno de US$70, tem um lado positivo e outro negativo. Com a autossuficiência de petróleo dos Estados Unidos com a produção de energia a partir do gás de xisto, o preço cairá ainda mais.  O lado positivo é que, em teoria, o preço de geração de energia por termelétrica deve reduzir, viabilizando a construção de novas usinas poluidoras movidas a óleo. O lado negativo, além de ser energia suja, é que a Petrobrás, empresa com a maior dívida do planeta, não poderá reduzir o preço interno do petróleo sob o risco de insolvência e de perda da capacidade de investimento no pré-sal. Isso sem comentar as potenciais multas e indenizações a investidores internacionais, pelo menos, dos escândalos de corrupção que estão sob investigação.

    O Brasil deve enfrentar outro desafio importante para a sua economia que é a queda de 10-30% dos preços médios das commodities de minério de ferro, soja e farelo de soja que representam quase 30% do total exportado pelo país, devido a superoferta internacional. Somado a isso, é prevista a saída de investidores de mercado futuro de matérias-primas em busca de outros ativos, como os dos títulos públicos dos Estado Unidos. Isso deve impactar diretamente nossa balança comercial, reduzindo nossa capacidade de investimento.

    Esse cenário econômico e a previsão de crescimento oficial de 0,8% da economia brasileira para 2015, pode reduzir a capacidade de atrair investimentos para a construção de novas usinas geradoras de energia. Como evidência a essa afirmação, foi o fato que no último leilão de energia, realizado no dia 5/11 de energia existente, foram comercializados apenas lotes de 3 anos e nenhum lote de 5 anos, com o preço médio de R$197,09 por MWh, praticamente sem deságio. Esse fato, provavelmente, está associado as incertezas do futuro da economia e política do país, incluindo a falta de transparência dos números oficiais e insegurança jurídica dos contratos.

    Nesse cenário de incertezas, a melhor forma de garantir o fornecimento de energia para as operações atuais e projetos futuros de expansão das empresas é a autoprodução ou compra de energia no mercado livre. As empresas devem considerar um eventual sobrepreço no custo da energia como um seguro para garantir a continuidade de seus negócios e como uma ação para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

    Estou coordenando um grupo de usuários (GU) na SUCESU-SP, associação de usuários corporativos de TI, para discutir e apoiar a autoprodução e compra de energia no mercado para data centers, responsáveis por um grande consumo de energia nas empresas e emissor de gases do efeito estufa.

    Veja mais detalhes em http://efagundes.com/inovacao/index.php/sustentabilidade/

     

  • O desafio da energia para os data centers e o compromisso com a sustentabilidade

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    Em abril de 2014, o Greenpeace liberou um novo relatório sobre o uso de energia renovável pelos maiores data centers globais. Esse relatório apresenta um ranking dos data centers mais comprometidos com o uso de energia renovável com o objetivo de mitigar a emissão de gases do efeito estufa. O relatório destaca a Apple, Google e Facebook com um forte compromisso de uso de energia renovável e critica a Amazon Web Services (AWS) pelo uso de energia não renovável e pouca transparência no setor.

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    As estimativas são que em 2014 cerca de 2,5 bilhões de pessoas estão conectadas a Internet no mundo. As previsões são que teremos cerca de 3,6 bilhões de pessoas conectadas em 2017. Cada vez mais as pessoas e os negócios são dependentes da Internet e isso cada vez mais poder computacional para executar os serviços online.

    As empresas de tecnologia estão criando novas soluções para aumentar o poder computacional dos equipamentos e soluções de software para maximizar o uso da infraestrutura. Essas ações de eficiência computacional reduzem o consumo de energia e necessidade de refrigeração, contribuindo para a redução do uso de água para refrigerar o ambiente dos data centers.

    Na comparação de consumo de energia de países e Cloud Computing, mostra que em 2011 a energia consumida pelos data centers é a sexta maior no mundo.

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    Essa situação coloca a necessidade de um tratamento diferenciado para os data centers das políticas públicas e regulatórias dos países.

    No Brasil, existe um forte incentivo para o uso da Internet como um fator de inclusão social e desenvolvimento da economia. Entretanto, o Brasil apresenta um dos custos mais elevados de energia e telecomunicações do mundo. Isso tira a competitividade do setor e restringe a expansão do uso da Internet, principalmente, das classes menos favorecidas que representa a grande parcela da população.

    A única política do governo que permite a redução do custo de energia é a compra de energia no mercado livre para empresas que possuem uma demanda de eletricidade acima de 500kW.

    Essa política beneficia apenas os grandes data centers e, praticamente, elimina a competitividade dos pequenos e médios data centers.

    Infelizmente, o Brasil não tem uma política forte de incentivo a minigeração de energia renovável pelas empresas. Os custos de implantação de geração de energia solar fotovoltaica, eólica, biomassa e através de pequenas hidrelétricas ainda não são atrativas para os data centers.

    Uma política de subsídios para a geração de energia de energia renovável para o setor de data centers traria um grande benefício para a sociedade e para o crescimento da economia. Garantiria preços competitivos dos serviços digitais mesmo em períodos de grandes estiagens, que exigem a geração de energia por usinas termoelétricas que além de poluidoras são mais caras.

    A proposta é criar um regime especial para o setor de data centers com três pautas: (1) permitir que todos os data centers, independente da sua demanda de energia, possam comprar eletricidade no mercado livre; (2) isentar de impostos de importação os equipamentos não produzidos no Brasil para a construção de minigeradoras de energia pelos data centers; e, (3) redução do IPTU dos data centers que reduzirem a emissão de gases do efeito estufa que contribuem para o Plano Municipal de Mudanças Climáticas.