Um fenômeno global é a baixa confiança dos cidadãos com seus governos e as finanças públicas sob stress. Isso resulta em um abismo entre as expectativas dos cidadãos e a capacidade dos governos de identificar e implementar programas para a população. Reforço que o problema atinge vários países, incluindo os Estados Unidos e vários países europeus. No Brasil, esse abismo pode ser maior devido as nossas características culturais e corrupção. Muitos buscam uma resposta dos governos federais, porém a solução está mais próxima do que se pensa, nas prefeituras. Entretanto, os prefeitos devem transformar o modelo tradicional de gestão para atender as novas expectativas dos cidadãos que exigem mais transparência do governo, mobilidade, segurança, saúde, educação e lazer, resultando em melhor qualidade de vida para as pessoas. A proposta é transformar os governos municipais em facilitadores em vez de provedores de soluções, transformando as cidades tradicionais em cidades inteligentes.
Ainda discutimos se os governos devem assumir o comando da infraestrutura e dos serviços ou se devem deixar para a iniciativa privada ou se os próprios cidadãos devem assumir o controle. Parece que a crise econômica e o baixo crescimento das economias estão forçando uma profunda revisão dos modelos de gestão do governo. Os governos municipais são os mais afetados, pois são eles que interagem diretamente com os cidadãos.
Mesmo em mundo ideal sem corrupção, as finanças públicas não conseguirão atender as expectativas crescentes dos cidadãos. A solução é os governos assumirem o papel de facilitadores na criação de plataformas de serviços e tecnológicas para serem exploradas pela iniciativa privada. A demora na adoção desse novo modelo de gestão pública traz prejuízos para os cidadãos, empresas e governo.
Um exemplo é a falta de atuação dos governos municipais na estratégia de redes inteligentes de energia elétrica, o chamado Smart Grid. No Brasil, o modelo de concessões na distribuição de energia permite que as concessionárias definam a tecnologia da infraestrutura de telecomunicações. Desta forma, cada empresa está criando uma infraestrutura própria sem planos de compartilhamento com outros serviços.
Por outro lado, muitos municípios estão implantando projetos de Internet para escolas, bibliotecas, prédios públicos e para os cidadãos, criando plataformas de telecomunicações próprias. Uma alternativa seria que a prefeitura assumisse o papel de facilitador e definisse uma plataforma comum de telecomunicações para compartilhar com todos os serviços, oferecendo esses serviços para as concessionárias de energia, água e gás. Isso permitiria que os investimentos redundantes fossem canalizados para outros projetos para os cidadãos, além de gerar receita adicional aos cofres municipais.
Poderíamos pensar que o papel de definir esse modelo de compartilhamento de telecomunicações, no nosso exemplo, seria das agências reguladoras, ANATEL e ANEEL, ou das agências estaduais, no caso de São Paulo, a ARSESP, Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. Infelizmente, essas agências estão, provavelmente, com desafios maiores e sem tempo para se dedicar ao assunto. Entretanto, essa falta de definição afeta, diretamente, as prefeituras em suas estratégias de cidades inteligentes.
Resumindo, acredito que os prefeitos e as câmaras municipais deveriam assumir seu papel de liderança e defesa dos interesses dos cidadãos e definir suas políticas e projetos para transformar suas cidades em cidades inteligentes, transformando o modelo de provedor de serviços para um modelo de facilitador de serviços.