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Autor: Eduardo Fagundes

  • Brasil e Argentina firmam acordo para importação de gás de Vaca Muerta: o que isso significa para a transição energética e a economia regional?

    Brasil e Argentina firmam acordo para importação de gás de Vaca Muerta: o que isso significa para a transição energética e a economia regional?

    Em novembro de 2024, foi anunciado um acordo histórico entre Brasil e Argentina que prevê a importação de gás natural dos campos de Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás de xisto do mundo. Este memorando de entendimento, assinado durante a Cúpula do G20, promete estimular a cooperação energética entre os países e impactar profundamente o panorama econômico e ambiental da região.

    Por que esse acordo é relevante?

    Para a Argentina, trata-se de uma oportunidade estratégica. Exportar gás natural para o Brasil equilibra a balança comercial entre os países, injeta recursos na economia argentina e acelera sua recuperação econômica em meio a uma grave crise fiscal. Além disso, a exportação de gás consolida Vaca Muerta como uma peça-chave no mercado energético global.

    Para o Brasil, o acordo reflete uma necessidade imediata de diversificar o abastecimento energético e lidar com a crescente demanda por gás natural, em um momento em que a produção interna de gás convencional não acompanha o ritmo do consumo. No entanto, o Brasil enfrenta críticas pela sua incapacidade de explorar suas próprias reservas de gás de xisto, devido a restrições ambientais e regulatórias.

    Impactos ambientais e a controvérsia do gás de xisto

    O acordo reacende o debate sobre o fraturamento hidráulico (fracking), técnica utilizada para explorar o gás de xisto. Essa prática, amplamente criticada por seus impactos ambientais – como contaminação de aquíferos, emissões de metano e riscos sísmicos –, é praticamente proibida no Brasil. Ao importar gás extraído por meio de fracking, o Brasil pode ser acusado de contradizer seus compromissos ambientais globais e de fomentar indiretamente uma prática considerada controversa.

    Entretanto, há um potencial de inovação. Novas tecnologias em desenvolvimento prometem tornar o fracking mais sustentável, reduzindo seus impactos ambientais. Caso a Argentina demonstre avanços nesse sentido, isso pode abrir um precedente para o Brasil reavaliar suas reservas de gás de xisto com um viés mais tecnológico e sustentável.

    Implicações econômicas e geopolíticas

    Esse movimento é extremamente positivo para a Argentina, que não apenas fortalece sua posição no mercado energético, mas também transforma sua abundância de recursos naturais em vantagem competitiva. Para o Brasil, embora a importação ajude a suprir a demanda energética, ela destaca a dependência externa e a urgência de políticas mais eficazes para maximizar o uso de seus próprios recursos.

    Além disso, o acordo reforça os laços bilaterais entre as duas maiores economias do Mercosul e pode criar uma plataforma para novas cooperações no setor de infraestrutura energética, como a construção de novos gasodutos.

    Oportunidade ou contradição?

    O acordo levanta uma questão essencial: como o Brasil pode balancear a necessidade de energia com os compromissos de sustentabilidade? Por um lado, a parceria com a Argentina oferece uma solução rápida para a demanda crescente por gás natural. Por outro, ela expõe a vulnerabilidade do país em relação à gestão de seus próprios recursos e sua posição frente às mudanças climáticas.

    No longo prazo, a decisão de importar gás de Vaca Muerta deve vir acompanhada de investimentos em eficiência energética e em fontes renováveis, para que a matriz energética brasileira permaneça coerente com seus compromissos ambientais.

    Esse é mais um capítulo do complexo desafio da transição energética, que exige equilíbrio entre segurança energética, desenvolvimento econômico e sustentabilidade. A pergunta que fica é: estamos prontos para enfrentar esses desafios com visão estratégica e inovação tecnológica?

    Compartilhe suas opiniões. Qual o impacto desse acordo para o futuro da energia na América do Sul?

  • Amazon e Tesla: A Revolução dos Robôs Está Apenas Começando

    Amazon e Tesla: A Revolução dos Robôs Está Apenas Começando

    Nos últimos anos, temos testemunhado uma revolução silenciosa nos bastidores de grandes empresas de tecnologia. De um lado, a Amazon está automatizando suas gigantescas operações logísticas com uma frota de robôs avançados. Do outro, a Tesla está desenvolvendo robôs humanoides, como o Tesla Bot (Optimus), que prometem transformar a maneira como realizamos atividades humanas. Mas como essas inovações estão conectadas e o que isso significa para o futuro?

    A Robótica da Amazon: Mais de 75% dos Pedidos Já São Automatizados

    Atualmente, mais de 75% dos pedidos feitos nos Estados Unidos pela Amazon passam pelas mãos (ou “garras robóticas”) de máquinas desenvolvidas pela própria empresa. Modelos como o Proteus, Pegasus e Robin são os responsáveis por tarefas essenciais dentro dos armazéns. Desde separar, transportar e até empilhar mercadorias, esses robôs garantem eficiência, rapidez e precisão em um cenário onde o volume de pedidos não para de crescer.

    A história dessa automação na Amazon começou em 2012, com a aquisição da startup Kiva Systems, que trouxe para a gigante do varejo uma plataforma revolucionária de robótica aplicada a logística. Hoje, a Amazon opera com mais de 20 milhões de produtos manipulados por robôs em instalações de última geração, como o novo depósito em Shreveport, Louisiana.

    Tesla Bot: A Próxima Fronteira

    Enquanto a Amazon automatiza seu vasto ecossistema logístico, a Tesla está apostando em robôs humanoides que poderão executar tarefas que hoje exigem intervenção humana direta. O Tesla Bot, também conhecido como Optimus, está sendo desenvolvido com o objetivo de realizar uma variedade de tarefas manuais — desde o trabalho em fábricas até atividades domésticas.

    Ao contrário dos robôs da Amazon, que têm funções específicas e são otimizados para espaços industriais, os humanoides da Tesla são projetados para serem versáteis, operando em ambientes mais diversos. A ideia de Elon Musk é que esses robôs possam substituir humanos em atividades repetitivas, perigosas ou fisicamente extenuantes, liberando tempo para outras tarefas criativas e produtivas.

    O Futuro do Trabalho Automatizado

    A automação está deixando de ser um conceito distante e se tornando uma realidade concreta, tanto nas operações da Amazon quanto nos futuros planos da Tesla. À medida que essas empresas continuam a investir pesado no desenvolvimento de robôs, uma questão se torna cada vez mais clara: como será o futuro do trabalho?

    Na Amazon, a integração de robôs já está otimizando processos, mas os executivos garantem que os humanos ainda terão papéis críticos, especialmente em tarefas que envolvem decisões complexas. Da mesma forma, o Tesla Bot não visa substituir toda a mão-de-obra humana, mas sim complementá-la, permitindo que as pessoas se concentrem em atividades de maior valor agregado.

    Ambos os projetos são apenas o começo de uma transformação que pode remodelar completamente a maneira como trabalhamos e vivemos. Se hoje os robôs já são capazes de realizar tarefas repetitivas com eficiência, o que podemos esperar de amanhã?

    Seja na logística automatizada da Amazon ou no futuro com robôs humanoides da Tesla, uma coisa é certa: o futuro será moldado por máquinas, e a maneira como as empresas e as pessoas se adaptam a isso determinará o sucesso nessa nova era.

  • Como Reduzir Perdas em Sistemas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica: Soluções e Benefícios

    Como Reduzir Perdas em Sistemas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica: Soluções e Benefícios

    Este post tem o objetivo de discutir formas de reduzir as perdas em sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Primeiramente, são descritos os tipos de perdas, técnicas e não técnicas, e seus impactos. Em seguida, são apresentadas soluções para redução de perdas técnicas, como recabeamento de redes, alocação de geração distribuída, instalação de capacitores, e aumento da tensão operacional, com dados de simulações que mostram reduções de até 66,86% nas perdas. As perdas não técnicas também são abordadas, com destaque para o uso de medidores inteligentes e algoritmos de machine learning. O post foi escrito para oferecer dados práticos e embasados em fontes confiáveis sobre a importância de reduzir perdas elétricas para aumentar a eficiência energética.

    As perdas de energia nos sistemas de transmissão e distribuição são um desafio crítico para o setor elétrico. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), aproximadamente 8% da eletricidade gerada globalmente é perdida durante o processo de transmissão e distribuição . Essas perdas não só impactam os custos operacionais, como também afetam a sustentabilidade e a eficiência do sistema elétrico.

    Tipos de Perdas no Sistema Elétrico

    As perdas elétricas podem ser divididas em dois tipos principais:

    • Perdas Técnicas: Resultam da resistência elétrica em condutores e equipamentos. São inerentes ao sistema e incluem perdas ôhmicas e de aquecimento.
    • Perdas Não Técnicas: Estas perdas ocorrem por fraudes, como furtos de energia, adulteração de medidores e erros de processamento de dados. Países como o Brasil enfrentam altos índices de perdas não técnicas, que chegam a representar até 16% da eletricidade gerada .

    Soluções para Reduzir Perdas Técnicas

    Diferentes estratégias podem ser aplicadas para reduzir as perdas técnicas nos sistemas de distribuição e transmissão de energia:

    1. Reconfiguração de Redes Elétricas: A alteração na topologia de redes pode otimizar a distribuição de carga, resultando em uma redução de até 31,15% nas perdas ativas, como demonstrado em uma rede de 33 barras utilizada em simulação .
    2. Recabeamento de Redes: A substituição de condutores antigos por cabos com menor resistência elétrica pode reduzir as perdas técnicas em até 32,15%. Apesar de sua eficácia, essa solução exige um investimento significativo em materiais e mão de obra .
    3. Alocação de Geração Distribuída (GD): Inserir fontes de energia mais próximas ao ponto de consumo pode reduzir as perdas de transmissão. No exemplo da simulação, a instalação de uma fonte de 2 MW de GD reduziu as perdas ativas em 36,76% .
    4. Bancos de Capacitores: A instalação de capacitores melhora o fator de potência e reduz a demanda de corrente, resultando em uma redução de perdas de aproximadamente 8,7% .
    5. Aumento da Tensão de Operação: Ao aumentar a tensão de operação, a corrente necessária para fornecer a mesma quantidade de energia é reduzida, diminuindo as perdas ôhmicas. Na simulação, o aumento da tensão de 12,66 kV para 21 kV resultou em uma redução de perdas ativas de 66,86% .

    Redução de Perdas Não Técnicas

    Para combater as perdas não técnicas, soluções como medidores inteligentes são fundamentais. Esses dispositivos permitem monitorar o consumo em tempo real, facilitando a identificação de fraudes, irregularidades e desvios de energia. A grande vantagem dos medidores inteligentes é a capacidade de coletar grandes volumes de dados detalhados sobre o consumo, que, quando analisados de forma eficiente, podem revelar padrões ocultos de uso anômalo de energia.

    Nesse contexto, o uso de algoritmos de inteligência artificial (IA), especialmente os de aprendizado de máquina, tem se mostrado uma ferramenta poderosa. Esses algoritmos podem analisar os dados de consumo em tempo real, aprendendo automaticamente a distinguir entre padrões normais de uso e comportamentos suspeitos. Ao identificar irregularidades, os algoritmos são capazes de sinalizar possíveis fraudes, como adulteração de medidores ou ligações clandestinas, de forma muito mais rápida e precisa do que as abordagens tradicionais.

    Além disso, algoritmos de IA podem ser treinados para prever padrões de consumo com base em dados históricos. Isso permite que as concessionárias comparem o consumo real com o consumo previsto, e assim, detectem discrepâncias significativas que possam indicar perdas não técnicas. Com o tempo, esses sistemas de IA podem se adaptar continuamente, aprimorando a precisão na identificação de fraudes, ajustando-se a novas formas de adulteração que possam surgir e reduzindo as perdas de maneira mais eficiente.

    Outro benefício é a aplicação de IA na segmentação de consumidores. Através da análise de dados, algoritmos podem agrupar perfis de consumo similares, permitindo uma fiscalização mais direcionada em áreas ou clientes com maior probabilidade de apresentar perdas não técnicas. Isso gera uma otimização dos recursos das empresas de energia, que podem concentrar seus esforços de inspeção e manutenção onde há maior risco de fraudes, economizando tempo e custos operacionais.

    Ao integrar IA com sistemas de Internet das Coisas (IoT), os medidores inteligentes e outros dispositivos conectados podem fornecer um ecossistema digital completo para monitoramento da rede. A análise contínua dos dados por IA, combinada com a capacidade de comunicação em tempo real dos dispositivos IoT, oferece uma visão detalhada e atualizada do estado da rede, melhorando significativamente a detecção de perdas não técnicas e possibilitando ações corretivas imediatas.

    O uso de algoritmos de IA não só potencializa a eficácia dos medidores inteligentes, mas também representa uma abordagem inovadora e automatizada para a redução de perdas não técnicas, gerando maior eficiência e confiabilidade no sistema de distribuição de energia.

    Benefícios da Redução de Perdas

    A redução de perdas elétricas traz benefícios significativos:

    • Economia de Custos: Menores perdas resultam em menores custos operacionais para concessionárias e consumidores.
    • Sustentabilidade: A diminuição das perdas reduz a necessidade de construção de novas usinas, contribuindo para a preservação de recursos naturais.
    • Confiabilidade: Redes com menores perdas operam de forma mais estável, com menor risco de sobrecargas e interrupções.

    Conclusão

    Investir em tecnologias e métodos para reduzir as perdas elétricas é essencial para garantir um sistema mais eficiente e sustentável. As simulações mostraram que estratégias como recabeamento de redes, alocação de geração distribuída e aumento de tensão podem reduzir significativamente as perdas, melhorando a eficiência operacional. A adoção dessas práticas pode gerar benefícios econômicos e ambientais a longo prazo.

    Referências

    1. Agência Internacional de Energia (IEA). “World Energy Outlook 2023”. Disponível em: https://www.iea.org/reports/world-energy-outlook-2023

    2. Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE). “Relatório Anual de Perdas e Eficiência Energética 2022”. Disponível em: https://www.abradee.org.br

    3. Joel David Melo Trujillo. “Perdas Técnicas e Não Técnicas em Sistemas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica”. Fascículo O Setor Elétrico 2023.

  • O Futuro Energético dos Data Centers: Abordagem Técnica, Reguladora e Estratégica

    O Futuro Energético dos Data Centers: Abordagem Técnica, Reguladora e Estratégica

    Com o avanço da tecnologia digital e o crescimento exponencial da Inteligência Artificial (IA), os data centers tornaram-se o coração da infraestrutura global de processamento de dados. Esse aumento na demanda, entretanto, tem um custo energético significativo. Atualmente, estima-se que os data centers já consumam entre 1% e 2% da eletricidade mundial, podendo chegar a 4% até o final da década​. Esse consumo elevado é impulsionado principalmente pelos sistemas de servidores e resfriamento, além de outros dispositivos de TI essenciais para o funcionamento contínuo dessas infraestruturas.

    Diante desse cenário, é necessário repensar como o fornecimento de energia para data centers pode ser otimizado, levando em consideração fatores técnicos, regulatórios e de localização. O foco não pode estar apenas na escolha das fontes de energia, mas também em onde esses centros são instalados, como eles operam e como podem se alinhar às metas de sustentabilidade das empresas.

    Principais Fontes de Consumo de Energia nos Data Centers

    Os data centers consomem energia de diversas maneiras, sendo as principais fontes de gasto elétrico os servidores e os sistemas de resfriamento. Esses sistemas de resfriamento são cruciais para garantir que o equipamento funcione de maneira ideal e que o calor gerado pelos servidores não comprometa o desempenho ou cause falhas. De acordo com estimativas, o resfriamento pode representar até 40% do consumo de energia de um data center​.

    Para mitigar esse consumo, estratégias inovadoras como o uso de sistemas de contenção de corredores quentes e frios têm sido adotadas. Esse método separa fisicamente o ar quente do ar frio, evitando que eles se misturem e, assim, aumentando a eficiência do resfriamento​. Outra tecnologia emergente é o resfriamento por imersão líquida, onde o hardware é imerso em líquidos não condutores que dissipam o calor de maneira muito mais eficiente do que o ar​.

    Além dessas tecnologias, o uso de inteligência artificial (IA) para otimizar o consumo de energia tem ganhado destaque. A IA pode monitorar em tempo real o uso de energia, prever picos de demanda e ajustar os sistemas de resfriamento de forma dinâmica, o que pode resultar em uma economia de até 40% no consumo energético​.

    O Impacto do Processamento de Inteligência Artificial no Consumo Energético

    A demanda crescente por IA é um dos principais fatores que está pressionando os data centers a consumir ainda mais energia. O processo de treinamento de modelos de IA envolve cálculos extremamente complexos e intensivos, que exigem o uso de servidores especializados com alto poder computacional. Durante o treinamento, grandes volumes de dados precisam ser processados, muitas vezes em redes neurais profundas que simulam bilhões de parâmetros. Isso consome grandes quantidades de eletricidade, tanto no processamento como no resfriamento desses equipamentos.

    Os modelos de IA, especialmente aqueles usados para aprendizado profundo, demandam processamento contínuo em GPUs (Unidades de Processamento Gráfico) ou TPUs (Unidades de Processamento de Tensores), que são componentes extremamente poderosos, mas com alto consumo energético. Para cada fase do treinamento, que pode levar dias ou semanas, esses sistemas precisam operar em capacidade máxima, o que aumenta significativamente o uso de energia nos data centers​.

    A intensificação desse consumo com o uso da IA significa que, mesmo com melhorias em eficiência, a demanda por eletricidade pode ultrapassar a capacidade instalada de muitos centros de dados em regiões metropolitanas. Isso coloca em evidência a necessidade de repensar a forma como esses centros são alimentados e resfriados.

    O Impacto da Localização dos Data Centers

    A escolha de onde os data centers são instalados é outro fator crucial para a eficiência energética. A concentração desses centros em grandes áreas metropolitanas pode sobrecarregar a infraestrutura elétrica local. Em muitos casos, os sistemas de transmissão e distribuição de energia nessas regiões já estão operando próximos ao limite, e a instalação de grandes data centers pode exigir altos investimentos em novas linhas de transmissão. Além disso, esses investimentos são demorados para serem implementados, o que pode comprometer a estabilidade do fornecimento de energia para a população​.

    Por outro lado, existem regiões no Brasil com baixa densidade populacional e industrial, mas com grande potencial para o desenvolvimento de data centers. Nessas áreas, é possível integrar data centers com plantas fotovoltaicas, o que não só aliviaria a pressão sobre os grandes centros urbanos, mas também promoveria o desenvolvimento econômico regional, gerando empregos e modernizando a infraestrutura​.

    Regulação e Incentivos para o Cumprimento do ESG

    As empresas estão cada vez mais pressionadas a atender às metas de ESG (Environmental, Social, and Governance), que incluem a redução das emissões de carbono e a promoção de práticas sustentáveis. Para alcançar essas metas, é necessário que governos e reguladores ofereçam incentivos que promovam o uso de energias renováveis nos data centers, bem como a adoção de tecnologias que otimizem o consumo energético.

    O Brasil, por exemplo, possui programas como o Programa de Eficiência Energética da ANEEL, que incentiva distribuidoras de energia a investir em projetos que promovam o uso eficiente da eletricidade​. Expandir esses programas para o setor de data centers pode ser uma solução eficaz para reduzir o impacto ambiental dessas operações, ao mesmo tempo em que mantém a competitividade do país no cenário digital global.

    Tecnologias Emergentes para Eficiência Energética

    A modernização dos sistemas de resfriamento e a adoção de novas tecnologias são essenciais para enfrentar os desafios energéticos dos data centers. O resfriamento por imersão líquida é uma das tecnologias mais promissoras. Ao imergir componentes eletrônicos em fluidos que dissipam o calor de forma mais eficiente do que o ar, é possível reduzir significativamente a necessidade de resfriamento ativo, diminuindo o consumo de energia​.

    Além disso, o uso de inteligência artificial para monitorar e ajustar dinamicamente o consumo de energia pode maximizar a eficiência. Grandes empresas, como a Google, já estão utilizando IA para otimizar o resfriamento de seus data centers, o que resultou em uma economia de até 40% no uso de energia para resfriamento​.

    Conclusão: O Futuro Sustentável dos Data Centers

    O crescimento contínuo da demanda por dados e o avanço da Inteligência Artificial colocam os data centers no centro de um debate sobre eficiência energética e sustentabilidade. Para atender a essa demanda crescente sem comprometer os recursos naturais e as redes elétricas existentes, é necessária uma abordagem multifacetada que inclua a adoção de novas tecnologias, incentivos regulatórios e a escolha estratégica de localização.

    A descentralização dos data centers, com foco em áreas de baixa densidade populacional e alto potencial para energias renováveis, oferece uma oportunidade única de equilibrar o desenvolvimento tecnológico com a sustentabilidade. Ao mesmo tempo, os avanços em tecnologias de resfriamento e o uso de IA permitirão que os data centers do futuro operem de maneira muito mais eficiente, reduzindo seu impacto ambiental e alinhando-se às metas de ESG. Dessa forma, o Brasil pode se posicionar como líder global em inovação tecnológica e sustentabilidade, ao mesmo tempo em que impulsiona o desenvolvimento de regiões menos industrializadas e melhora a qualidade do fornecimento de energia nas grandes cidades.

    Esse movimento em direção a um futuro mais sustentável para os data centers é um passo essencial para garantir que a revolução digital continue a crescer sem comprometer os recursos do planeta.

    Referências

    [1] G. Rostirolla et al., “A survey of challenges and solutions for the integration of renewable energy in datacenters”, Renewable and Sustainable Energy Reviews, vol. 155, p. 111787, mar. 2022, doi: 10.1016/j.rser.2021.111787.

    [2] S. Govindan, A. Sivasubramaniam, e B. Urgaonkar, “Benefits and limitations of tapping into stored energy for datacenters”, em Proceedings of the 38th annual international symposium on Computer architecture, em ISCA ’11. New York, NY, USA: Association for Computing Machinery, jun. 2011, p. 341–352. doi: 10.1145/2000064.2000105.

    [3] “Cutting-Edge Technologies Enhancing Energy Efficiency in Data Centers”, Prismecs. Acesso em: 10 de outubro de 2024. [Online]. Disponível em: https://prismecs.com/blog/energy-efficiency-in-data-centersblog/energy-efficiency-in-data-centers

    [4] “Data centers barulhentos e ‘famintos’ se tornam pesadelo para comunidades americanas”. Acesso em: 10 de outubro de 2024. [Online]. Disponível em: https://www.estadao.com.br/economia/data-centers-barulho-comunidades-eua/

    [5] D. Wang, C. Ren, A. Sivasubramaniam, B. Urgaonkar, e H. Fathy, “Energy storage in datacenters: what, where, and how much?”, em Proceedings of the 12th ACM SIGMETRICS/PERFORMANCE joint international conference on Measurement and Modeling of Computer Systems, em SIGMETRICS ’12. New York, NY, USA: Association for Computing Machinery, jun. 2012, p. 187–198. doi: 10.1145/2254756.2254780.

    [6] J. Shuja, S. A. Madani, K. Bilal, K. Hayat, S. U. Khan, e S. Sarwar, “Energy-efficient data centers”, Computing, vol. 94, no 12, p. 973–994, dez. 2012, doi: 10.1007/s00607-012-0211-2.

    [7] M. Pedram, “Energy-Efficient Datacenters”, IEEE Transactions on Computer-Aided Design of Integrated Circuits and Systems, vol. 31, no 10, p. 1465–1484, out. 2012, doi: 10.1109/TCAD.2012.2212898.

    [8] M. Zakarya, “Energy, performance and cost efficient datacenters: A survey”, Renewable and Sustainable Energy Reviews, vol. 94, p. 363–385, out. 2018, doi: 10.1016/j.rser.2018.06.005.

    [9] K. Haghshenas, B. Setz, Y. Blosch, e M. Aiello, “Enough hot air: the role of immersion cooling”, Energy Informatics, vol. 6, no 1, p. 14, ago. 2023, doi: 10.1186/s42162-023-00269-0.

    [10] S. Marcacci, “How Much Energy Do Data Centers Really Use?”, Energy Innovation: Policy and Technology. Acesso em: 10 de outubro de 2024. [Online]. Disponível em: https://energyinnovation.org/2020/03/17/how-much-energy-do-data-centers-really-use/

    [11] J. Shuja et al., “Survey of Techniques and Architectures for Designing Energy-Efficient Data Centers”, IEEE Systems Journal, vol. 10, no 2, p. 507–519, jun. 2016, doi: 10.1109/JSYST.2014.2315823.

    [12] “Understanding Data Center Energy Consumption – C&C Technology Group”. Acesso em: 10 de outubro de 2024. [Online]. Disponível em: https://cc-techgroup.com/data-center-energy-consumption/