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Autor: Eduardo Fagundes

  • O Quantative Easing (QE) e o crescimento do poder das Big Techs

    O Quantative Easing (QE) e o crescimento do poder das Big Techs

    A flexibilização quantitativa (QE – Quantative Easing) é uma política monetária onde um banco central compra em escala títulos do governo ou outros ativos financeiros para injetar dinheiro no mercado para expandir a atividade econômica. Esta política, já utilizada pelo Banco do Japão (BOJ) desde o início dos anos 2000, foi adotada amplamente pelos principais bancos centrais como solução para sair da crise econômica global de 2007-2008, provocada pela concessão de empréstimos hipotecários de alto risco (subprime loan) e em resposta à pandemia da Covid-19, em 2020 (Wikipedia, 2021).

    Interessante observar, que a partir do uso do QE na crise econômica de 2007-08, algumas empresas iniciaram uma escalada crescente de valorização, principalmente, as sete maiores empresas de tecnologia, as Big Techs Apple, Microsoft, Amazon, Alphabet, Facebook, Tesla e Nvidia. No conjunto, adicionaram US3,4 trilhões em valor só em 2020 (LEVY, 2020). Em termos comparativos, o PIB do Brasil em 2020 é estimado em US$1,4 trilhão (UOL, 2020). Embora eu não seja economista, esta coincidência me chamou a atenção.

    O Quantative Easing afeta inevitavelmente o mercado de ações

    Segundo (ROSS, 2020), o programa de QE do Federal Reserve afeta inevitavelmente o mercado de ações. Evidências sugerem que existe uma correlação positiva entre uma política de QE e um mercado de ações em alta. Segundo Ross, alguns dos maiores ganhos do mercado de ações na história dos Estados Unidos ocorreram enquanto uma política de QE estava em andamento. Uma das vantagens é que os investidores antecipam receitas de negócios mais fortes e investem em empresas que devem ter lucro.

    Como as políticas de QE empurram as taxas de juros para baixo, os investidores são forçados a migrarem de investimentos mais seguros para investimentos, relativamente, mais arriscados para obterem retornos mais atraentes. Muitos investidores criam carteiras de ações e com isto elevam os preços do mercado de ações. Isto explica por que algumas Big Techs ultrapassarem a marca de US$1 trilhão em valor de mercado, como a Apple que atingiu o valor de mercado de US$2 trilhões em agosto de 2020, ultrapassando o PIB de 95% dos países (BBC Brasil, 2020).

    Como os juros ficam baixos em períodos de crise, as empresas são incentivadas a tomarem empréstimos para expandir seus negócios. Este é o caso da Netflix, que mesmo com uma dívida de US$15 bilhões, conseguiu captar US$1 bilhão para investir em conteúdo original (Forbes Brasil, 2020).

    A Covid-19 e o Quantative Easing

    A pandemia da Covid-19 provocou, além da crise humanitária, uma nova crise economia a partir do isolamento social e paralisação da maioria dos negócios. Este fato obrigou os países a implementar novas políticas de flexibilização monetária (QE). Embora a taxa de letalidade da Covid-19 seja mais baixa do que outras pandemias, variando entre 0,5% e 1%, segundo artigo da FAPESP “O enigma da letalidade” de Frances Jones (JONES, 2020) e seja semelhante à da pneumonia, segundo conclusão de um trabalho do professor de Stanford John Ioannidis (PINTO, 2020), o impacto desta pandemia na economia foi o maior de todas. O Federal Drug Administration (FDA), órgão governamental dos EUA que faz o controle dos medicamentos nos Estados Unidos aprovou vários medicamentos para o tratamento da Covid-19, conforme artigo da Harvard Medical School (Harvard Medical School, 2021). Entretanto, assim como as vacinas aprovadas de forma emergencial pelas agências de saúde dos países, ainda os resultados estão em estudos. Com o início dos programas de vacinação os resultados serão mais bem avaliados.

    Infelizmente, a imunização da população mundial levará meses, iniciando pelos mais vulneráveis a doença. Isto significa que durante o ano de 2021 os governos terão que manter seus programas de ajuda para as pessoas e as empresas, reforçando a continuidade da flexibilização monetária (QE).

    O Quantative Easing no Brasil

    O Brasil entrou na onda do QE para combater os problemas com a Covid-19, assim como outros países. O Congresso Nacional ratificou em maio de 2020 uma emenda constitucional histórica que permite ao banco central iniciar o que espera ser o maior programa de flexibilização quantitativa do mundo emergente para combater as dificuldades econômicas da pandemia do coronavírus (SCHIPANI, 2020). Desta forma, o banco central recebeu poderes de combate à crise para comprar uma série de ativos públicos e privados, incluindo títulos do governo e corporativos, para garantir a liquidez e sustentar uma economia que deverá encolher cerca de 4,5% em 2020 (MARTELLO, 2020).

    Aumento da poupança no Brasil durante a Covid-19

    Outro fenômeno interessante que aconteceu no Brasil, porém deve ter acontecido em outras partes do mundo, foi o aumento da poupança das pessoas, principalmente da classe média e ricos. No Brasil, no segundo trimestre de 2020, período em que a crise foi mais acentuada, a taxa de poupança do brasileiro cresceu 1,4 ponto percentual e ficou em 15,5% do PIB (Produto Interno Bruto). O percentual, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é formado com base na poupança bruta do brasileiro, que é o valor da renda que não consumido, chegando a uma economia de R$ 256,8 bilhões. No mês de setembro de 2020, o saldo do investimento, que é a soma de todo montante aplicado, alcançou pela primeira vez na história a marca de R$ 1 trilhão. No acumulado de março a setembro de 2020, os depósitos superaram os saques em R$ 153,1 bilhões (Jornal de Brasília, 2020). A expectativa é que parte desta poupança volte ao mercado para aquecer a economia com o início da vacinação e tratamentos eficazes de combate a Covid-19.

    O pacote de resgate da economia americana de Joe Biden

    O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou um pacote de resgate de US$1,9 trilhão para incentivar o aumento nos empregos e gastos que muitos economistas dizem ser necessários para evitar danos de longo prazo de uma recessão pandêmica recorde (SAPHIR, 2021). Se a lógica de valorização das ações das Big Techs se manter com a injeção de dinheiro no mercado, elas aumentarão ainda mais seus valores de mercado.

    Aumento do poder de decisão das empresas aproveitando o QE

    Uma das estratégias das empresas listadas nas bolsas de valores, aproveitando a abundância de crédito no mercado devido ao QE, é fazer a recompra de ações com direito a voto, como as ações de classe A e B listadas no Nasdaq, deixando apenas ações classe C e preferenciais que não dão direito a voto. No Brasil, a B3 tem três segmentos de listagens de ações: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado. As empresas dos segmentos Nível 1 e 2, possuem ações ordinárias com direito a voto e ações preferências que não dão direito a voto, diferente da categoria Novo Mercado que só operam com ações ordinárias na condição de uma ação, um voto. O nível de governança corporativa é mais elevado no Novo Mercado com maiores exigências de transparência e práticas para evitar conflitos de interesse. Esta prática leva ao controle da empresa por seus fundadores e controladores, evitando o chamado conflito de agência, onde as disputas e diferenças de opiniões entre controladores e acionistas minoritários podem desgastar as relações entre os acionistas e atrasar as tomadas de decisões estratégicas.

    Recuperação da economia em forma de K

    Depois de várias discussões de como seria a recuperação econômica pós-pandemia da Covid-19, em V ou em L, aparentemente, a recuperação será em forma de K. Ou seja, algumas áreas da economia voltarão ao normal assim que a recessão passar, enquanto outras experimentarão um crescimento mais lento ou mesmo declínio ainda maior. A recuperação em forma de K pode revelar a existência da chamada “destruição criativa”, conceito desenvolvido pelo economista austríaco Josef Schumpeter em 1942, quando as novas tecnologias e indústrias tomam o lugar das antigas durante uma recessão (Economics Online for Students of Economics, 2020).

    Na recuperação em forma de K pode ser observada em vários segmentos de mercado. Enquanto algumas empresas aumentarão, significativamente, seu faturamento e valor de mercado, outras perderam faturamento e valor. O comércio online, o ensino a distância, streaming de vídeo e infraestrutura para home-office foram alguns setores que cresceram, enquanto lojas físicas, eventos presenciais, transporte aéreo de passageiros e turismo declinaram. Aqui um alerta para as empresas para as empresas que podem declinar na recuperação da economia. Uma das poucas saídas é a transformação digital de seus negócios.

    O poder desproporcional dos fundadores e executivos das Big Techs

    Todas Big Techs cresceram durante a pandemia da Covid-19, que incluem coleta e tratamento de dados com o uso intensivo de algoritmos de inteligência artificial. A Tesla, talvez uma exceção do clube, colhe os resultados da iniciativa de transformação da mobilidade de veículos a combustão para veículos elétricos. Liderada por Elon Musk, investe em mega projetos como a da SpaceX que superou players tradicionais em viagens espaciais, como a Boeing.

    Neste novo ambiente de negócios, impulsionado pela crise econômica de 2007-08 e pela pandemia da Covid-19, os fundadores e executivos das Big Techs assumiram um poder desproporcional no cenário global. Google e Facebook são, constantemente, questionados pelos países e comunidade europeia sobre ações predatórias no mercado. Ações conjuntas entre as Big Techs podem ser ainda mais prejudiciais ao mercado, como uma revelação do Wall Street Journal em dezembro de 2020, que afirma que o Facebook e Google acertaram cooperar um com outro caso se tornassem alvos de uma eventual investigação sobre seu pacto relativo a anúncio online. Dez procuradores-gerais, liderados pelo do Texas, alegam que as duas fecharam um acordo, em setembro de 2018, para que o Facebook não concorresse com as ferramentas de propaganda online do Google, em troca de tratamento especial quando os utilizasse (Agência Estado, 2020).

    Fake News

    Como a matéria-prima das Big Techs é informação, identificar e banir fake news é crítico nas plataformas de redes sociais. Curiosamente, a maioria dos sites que propagam fake news é financiada por anúncios do Google, diz estudo da Universidade de Oxford (G1, 2020). Os sites que publicam consistentemente ‘junk news‘ mostram estratégias profissionais de SEO (Search Engine Optimization, usadas para aumentar o alcance das publicações) para disseminar seu conteúdo por meio de mecanismos de pesquisa, diz o estudo da Universidade de Oxford.

    Notícias falsas e boatos existem desde antes do advento da Internet. A definição amplamente aceita de notícias falsas na Internet é: artigos fictícios fabricados deliberadamente para enganar os leitores. A mídia social e os meios de comunicação publicam notícias falsas para aumentar o número de leitores ou como parte de uma guerra psicológica. No mundo das notícias falsas, existem sete categorias principais e, dentro de cada categoria, o conteúdo da notícia falsa pode ser visual e/ou linguístico. Para detectar notícias falsas, pistas linguísticas e não linguísticas podem ser analisadas usando vários métodos. Embora muitos desses métodos de detecção de notícias falsas sejam geralmente bem-sucedidos, eles apresentam algumas limitações (Wikipedia, 2021).

    O esforço é grande das Big Techs para evitar a publicação e disseminação de fake news. A Goolge criou uma página sobre “Mitos e Fatos sobre Desiformação” (Google, 2021) com o objetivo de divulgar apenas informações úteis e confiáveis. Sem dúvida um grande desafio.

    Lembro que quando estudava a teoria geral da relatividade de Albert Einstein me deparei com várias críticas negacionistas sobre a descoberta de Einstein. A teoria da relatividade atiçou a fúria dos newtonianos contra Einstein, indignados com alemão desde 1905, quando a série de artigos publicados na Annalen der Physik colocava em xeque a visão mecanicista do universo, afirmando que nada poderia viajar mais rápido que a luz, contrariando a ideia de qua a gravidade era uma força instantânea, como afirma Isaac Newton. Fico imaginando como a publicação da teoria da geral da relatividade de Einstein seria encarada hoje se estivéssemos um mundo onde a “verdade” seria a visão mecanicista de Newton, provavelmente, ela teria grandes chances de ser considerada fake news e excluída das redes sociais, assim como o próprio Albert Einstein teria sua conta no Facebook cancelada.

    Em defesa da livre manifestação do pensamento

    Apesar da livre manifestação do pensamento ser um ato universalmente aceito, em alguns regimes tiranos a livre opinião é duramente punida com a repressão do governo. O milionário chinês Jack Ma, fundador da Alibaba sumiu após fazer críticas à China. O discurso de Ma ia contra os “métodos do passado” utilizados para regulamentar novos negócios no país, criticando as autoridades na China. No Brasil, alguns jornalistas, blogueiros e políticos foram alvo de prisões e cerceamento da livre opinião pelo poder judiciário, com a justificativa de incitamento a ordem pública e as instituições.

    No caso de países, o poder de censura é do Estado e, provavelmente, apoiados por alguma legislação especifica aprovada pelo poder legislativo de seus países. Entretanto, o cancelamento das contas do Twitter, Facebook e Instagram do Presidente Donald Trump foram iniciativas dos executivos das redes sociais. Sem entrar no mérito do conteúdo publicado por Trump, o bloqueio de sua conta gerou preocupação internacional, sendo inclusive criticada pela rival alemã chanceler Angela Merkel, que considerou “problemático” o cancelamento da conta do presidente dos Estados Unidos do Twitter. Questionada sobre a decisão do Twitter, o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, disse que os operadores das plataformas de mídia social “têm grande responsabilidade para que a comunicação política não seja envenenada pelo ódio, pela mentira e pelo incitamento à violência”. Seibert afirma que a suposta atitude de Trump de incitamento à violência deve ser julgada de acordo com a lei e dentro da estrutura definida pelos legisladores, não de acordo com uma decisão da administração das plataformas de mídia social (Euronews e AP, 2021).

    Privacidade dos Dados

    A questão da privacidade de dados é ainda mais preocupante depois do escândalo do Facebook e a Cambridge Analytica, onde um aplicativo coletou os dados de 87 milhões de perfis do Facebook e a Cambridge Anallytica procurou vender os dados dos eleitores americanos para campanhas políticas e assistência e análises para as campanhas presidenciais de 2016 de Ted Cruz e Donald Trump. Supostamente, a Cambridge Analytica também foi contratada como uma empresa de consultoria para a campanha de independência do Reino Unido durante 2016, como um esforço para convencer as pessoas a apoiar o Brexit (Wikipedia, 2021).

    Conclusão

    Concluindo, as crises econômicas de 2007-08, crise do subprime, e da pandemia da Covid-19 provocaram o uso da política de flexibilização monetária, conhecida como Quantative Easing (QA), para aumentar a oferta de moeda na economia. Coincidentemente, a aplicação desta política monetária as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como Big Techs, tiveram uma forte alavancagem de lucratividade e valor de mercado, onde apenas em 2020 ganharam US$3,4 trilhões em valor de mercado. Este domínio das Big Techs acaba dando aos seus fundadores e executivos poderes desproporcionais na economia e na sociedade, a ponto de interferir na livre expressão de pensamento das pessoas, bloqueando contas de forma unilateral, alegando discursos de ódio e propagação de fake news. Esta situação preocupa os defensores da liberdade de expressão e coloca em risco o direito de cada pessoa buscar informações de forma livre e independente. Provavelmente, em 2021 com o anúncio de vários pacotes de auxílio a recuperação da economia global, através de QE, as Big Techs acabarão se tornando ainda mais poderosas.

    Referências

    Agência Estado. (22 de dezembro de 2020). Google e Facebook combinam aliança contra possível ação antitruste, diz ‘WSJ’. Fonte: InfoMoney: https://www.infomoney.com.br/negocios/google-e-facebook-combinam-alianca-contra-possivel-acao-antitruste-diz-wsj/

    BBC Brasil. (20 de agosto de 2020). Apple vale US$ 2 tri: valor de empresa nascida em garagem já é maior que PIB de 95% dos países. Fonte: BBC Brasil: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53847955

    Economics Online for Students of Economics. (2020). Explaining The K-Shaped Economic Recovery from Covid-19. Fonte: Economics Online for Students of Economics: https://www.economicsonline.co.uk/uncategorized/explaining-the-k-shaped-economic-recovery-from-covid-19.html

    Euronews e AP. (12 de janeiro de 2021). Donald Trump’s Twitter ban is ‘problematic’, says Angela Merkel. Fonte: Euronews: https://www.euronews.com/2021/01/12/donald-trump-s-twitter-ban-is-problematic-says-angela-merkel

    Forbes Brasil. (22 de abril de 2020). Netflix captará US$1 bi para investir em conteúdo original. Fonte: Forbes Brasil: https://forbes.com.br/negocios/2020/04/netflix-captara-us-1-bi-para-investir-em-conteudo-original/

    G1. (7 de agosto de 2020). Maioria dos sites que propagam fake news é financiada por anúncios do Google, diz estudo. Fonte: G1 Economia: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/08/07/maioria-dos-sites-que-propagam-fake-news-e-financiada-por-anuncios-do-google-diz-estudo.ghtml

    Google. (2021). Mitos e fatos sobre o combate à desinformação no Google. Fonte: Google: https://events.withgoogle.com/mitos-e-fatos-sobre-desinformacao-no-google/#content

    Harvard Medical School. (13 de janeiro de 2021). Treatments for COVID-19. Fonte: Harvard Health Publishing: https://www.health.harvard.edu/diseases-and-conditions/treatments-for-covid-19

    JONES, F. (outubro de 2020). O enigma da letalidade. Fonte: Pesquisa FAPESP: https://revistapesquisa.fapesp.br/o-enigma-da-letalidade/

    Jornal de Brasília. (26 de outubro de 2020). BC conta com poupança das classes média e alta para estimular economia após fim do auxílio. Fonte: Jornal de Brasília: https://jornaldebrasilia.com.br/economia/bc-conta-com-poupanca-das-classes-media-e-alta-para-estimular-economia-apos-fim-do-auxilio/

    LEVY, A. (31 de dezembro de 2020). Tech’s top seven companies added $3.4 trillion in value in 2020. Fonte: CNBC: https://www.cnbc.com/2020/12/31/techs-top-seven-companies-added-3point4-trillion-in-value-in-2020.html

    MARTELLO, A. (17 de novembro de 2020). Governo reduz de 4,7% para 4,5% projeção de queda do PIB em 2020. Fonte: G1 Economia: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/11/17/governo-reduz-de-47percent-para-45percent-projecao-de-queda-do-pib-em-2020.ghtml

    PINTO, A. E. (19 de outubro de 2020). Letalidade da Covid-19 é semelhante à da pneumonia, calcula estudo. Fonte: Folha de Pernambuco: https://www.folhape.com.br/noticias/letalidade-da-covid-19-e-semelhante-a-da-pneumonia-calcula-estudo/158804/

    ROSS, S. (24 de novembro de 2020). How Quantitative Easing (QE) Affects the Stock Market. Fonte: Investopedia: https://www.investopedia.com/ask/answers/021015/how-does-quantitative-easing-us-affect-stock-market.asp

    SAPHIR, A. (14 de janeiro de 2021). Analysis: Biden’s $1.9 trillion rescue package offers bridge for hard-hit economy. Fonte: yahoo!finance: https://uk.finance.yahoo.com/news/analysis-bidens-1-9-trillion-233529720.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAAHEpryjaw0oINw254v6mpN0mACR3aHon6gBUgEnaPZ1CnlFdhgSECHR7__sBY8G0uUJkhBn478aJ4UYSVFyWh2QHjLmqndZT

    SCHIPANI, A. H. (7 de maio de 2020). Brazil approves quantitative easing to fight coronavirus woes. Fonte: Financial Times: https://www.ft.com/content/42328c4a-3e35-4d3a-bc94-7ee77acda8ff

    UOL. (10 de novembro de 2020). Brasil deve deixar de ser uma das 10 maiores economias do mundo, diz estudo. Fonte: UOL Economia: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/11/09/fgv-ibre-estudo-brasil-dez-maiores-economias-pib.htm#:~:text=Em%20d%C3%B3lares%2C%20o%20PIB%20brasileiro,economias%20do%20mundo%20em%202020%20(

    Wikipedia. (2021). Detecting fake news online. Fonte: Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Detecting_fake_news_online

    Wikipedia. (2021). Facebook–Cambridge Analytica data scandal. Fonte: Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Facebook%E2%80%93Cambridge_Analytica_data_scandal

    Wikipedia. (2021). Quantitative easing. Fonte: Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Quantitative_easing

  • A nova onda da terceirização de TI: microsserviços

    A nova onda da terceirização de TI: microsserviços

    A terceirização de TI teve várias ondas de implementação nas organizações. A primeira onda foi com o objetivo de redução de custos, onde as empresas substituíram o pessoal interno de TI por consultores de TI, via empresas de terceirização, conhecido como body shop. A Stefanini começou com body shop para bancos. A segunda onda foi a absorção completa da área de TI por uma empresa, onde todas as responsabilidades de TI eram delegadas para o fornecedor. Um exemplo, foi o contrato global da EDS com General Motors que incluía os datacenters da GM. Uma terceira onda foi o insourcing, quando as empresas retomaram parte de suas atividades de TI. Tivemos uma enorme onda de terceirização com o Y2K, o Bug do Milênio, onde entraram em cena as empresas indianas e israelenses para a conversão de sistemas legados, muitas dentro do conceito de fábricas de software. A SAP, neste período, deu um salto de crescimento implementando seu ERP nas organizações, que de uma certa forma terceirizou o desenvolvimento dos sistemas de gestão das empresas. O sucesso do processamento em nuvem – Cloud Computing – está terceirizando as operações de data centers das organizações. Apesar do Itaú Unibanco possuir um dos maiores data centers do mundo com um investimento de R$3,3 bilhões em 2015, em 2020, contratou a AWS para transferir parte de suas operações. Agora, a nova onda de terceirização é o desenvolvimento de soluções para a transformação digital baseadas em microsserviços, pequenas partes de software que trabalham integradas.

    A discussões sobre vantagens e desvantagens da terceirização de TI devem partir das necessidades e estratégia dos negócios. Particularmente, sempre defendi que softwares que implementam processos legais obrigatórios e práticas commodities de um negócio devem ser terceirizados. Meu argumento é que, basicamente, não devemos reinventar a roda e que contratar sai mais barato, se considerarmos o TCO – Total Cost Ownership. Por exemplo, sistemas de RH, fiscal e tributário. Já a experimentação de novos processos e funcionalidades únicas, que geram inovação e competitividade estratégica, devem ser desenvolvidos por pessoal interno. Reforço meu argumento com o crescente emprego de metodologias ágeis para desenvolvimento incremental de novos processos.

    Entretanto, assim como no bug do milênio, onde todas as empresas correm, ao mesmo tempo, para desenvolver novos modelos únicos de negócios digitais para ter diferencial no mercado, este desenvolvimento deve ser terceirizado, resolvendo o problema de escassez de mão de obra especializada.

    Nestas circunstâncias, diferente dos modelos anteriores, o prestador de serviços deve estar comprometido com a inovação e transformação digital do cliente. Uma coisa é desenvolver uma aplicação a partir de uma especificação do cliente e outra é o fornecedor conceber as ideias de inovação e desenvolvê-las para os clientes. Aqui entra a questão de propriedade intelectual e royalties. Esta situação pode gerar conflitos de interesses e bloquear as negociações entre as empresas.

    Uma estratégia para avançar rápido e oferecer alta flexibilidade para novas soluções de transformação digital é optar por uma operação baseada em microssserviços. O que considero a nova de terceirização baseada em microsserviços.

    O que são microsserviços?

    Microsserviços são uma abordagem de arquitetura para a criação de aplicações formadas por partes menores que funcionam juntas, mas de maneira integrada. Os pequenos serviços independentes se comunicam usando API (Application Program Interface) bem definidas. Os microsserviços podem estar hospedados em diferentes provedores de computação em nuvem, dentro do conceito de multicloud. Desta forma, conseguimos alta escalabilidade e agilidade no desenvolvimento de aplicativos, acelerando o tempo de introdução de novos recursos no mercado, o time-to-market.

    Os microsserviços são publicados nos provedores de computação em nuvem e podem ser consumidos por aplicações das empresas, a partir de pagamentos por uso. Existem vários microsserviços já disponíveis, como por exemplo reconhecimento de objetos e características pessoas a partir de fotos de pessoas utilizando inteligência artificial. Ao invés da equipe de desenvolvedores investir longas horas desenvolvendo, coletando informações para treinamento e testes dos algoritmos de IA, basta chamar um microsserviço e a resposta vem em poucos milissegundos.

    As startups já trabalham dentro do conceito de microsserviços, ganhando tempo de desenvolvimento e reduzindo custos, diferencial que deve ser buscado por empresas já constituídas.

    Desta forma, um dos desafios para as empresas implementarem seus planos de transformação digital, é fundamental transformar a cultura de desenvolvimento monolítico de software para uma cultura baseada em microsserviços.

    Trabalhar com microsserviços implica em implementar modelos de governança para orquestrar o uso de microsserviços, incluindo processos de validação, gestão de mudança e monitoração de desempenho. Neste cenário, muitas vezes, você não conhecerá o desenvolver do serviço, transferindo parte da responsabilidade de garantia de qualidade e segurança para o provedor de computação em nuvem.

    Como em todos os modelos de terceirização existem desafios a serem vencidos. Aqui, além do desafio técnico temos o que vencer o desafio cultural. Mas, afinal estamos falando de transformação.

  • Por que da surpresa da Ford deixar de fabricar carros no Brasil?

    Por que da surpresa da Ford deixar de fabricar carros no Brasil?

    Curioso ler comentários de surpresa sobre a Ford deixar de fabricar carros no Brasil. Este caso é parte de um movimento global de adequação da indústria automobilista para os veículos elétricos. Infelizmente, o maior impacto é a perda de 5.000 postos de trabalho. Na mesma segunda-feira (11/01), o Banco do Brasil anunciou o plano de fechamento de 361 agências e a redução de 5.000 funcionários. Na semana anterior foi anunciada a fusão da FCA e PSA, criando a Stellantis, que pretende economizar 5 bilhões de euros por ano após a reestruturação que inclui, certamente, a redução de funcionários. Ainda na mesma semana, o valor de mercado da Tesla ultrapassou US$ 800 bilhões, superando o Facebook no ranking de empresas mais valiosas do mundo. Em dezembro de 2020, a Mercedes e Audi anunciaram o encerramento da produção de automóveis no Brasil. Como vemos a transformação dos negócios está em pleno movimento e, acredito, que tenha assumido uma curva exponencial com a pandemia da Covid-19. Muitas pessoas ainda não se deram conta que o ambiente de negócios mudou. Entretanto, uma coisa é certa, quem não acompanhar as transformações dos negócios não encontrará espaço para trabalhar em breve.

    A Ford é uma empresa centenária com grande capacidade para se reinventar. Sua missão é “tornar a vida das pessoas melhor, tornando a mobilidades acessível e econômica”. Ao longo dos anos aprendeu a acompanhar as transformações tecnológicas e as mudanças do comportamento dos consumidores. O mercado automobilístico mudou, significativamente, com a mudança do comportamento dos consumidores, optando por serviços compartilhados, e pelas fortes pressões de proteção ao meio ambiente. Em 2016, anunciou que pararia de vender carros de passeio nos Estados Unidos, como parte de um processo mais amplo de transformação que a empresa já vem investindo há algum tempo. Na prática, o objetivo é investir em segmentos mais lucrativos e em projetos de soluções de mobilidade. Dentro desta linha, a aposta é nas SUVs, provável razão para manter a fábrica na Argentina que produz a picape Ranger e descontinuou a produção do Focus. A nota que comunica o fechamento das fábricas no Brasil, a Ford diz estar comprometida com os consumidores no Brasil e na América do Sul com a nova picape Ranger, a Transit e vários de seus modelos mais icônicos, com planos de lançar diversos novos veículos conectados e eletrificados. O que chama a atenção é para a nova geração de carros conectados e eletrificados.

    Basicamente, existem duas formas de as empresas com velhos modelos de negócios sobreviverem por mais um tempo: obtendo subsídios dos governos ou associando-se entre si para uma sobrevida nos negócios. O subsídio é a forma mais fácil, porém nociva para a sociedade pela renúncia de impostos. Por questões de responsabilidade social, as empresas e os governos devem avaliar muito bem a concessão de subsídios para não prejudicar a sociedade. Em alguns casos, como para incentivar a introdução de um novo modelo de negócio, que comprovadamente seja benéfico para a sociedade no longo prazo, o subsídio pode ser justificado. A outra opção de fusão de empresas, é mais complexa, porém uma boa alternativa de transição para outros negócios, pois a economia nas operações pode financiar a criação de novos modelos de negócios, caminho seguido pela FCA e PSA com a criação da Stellantis em 2021 e por uma nova aliança global entre Ford e Volkswagen para a criação de novos produtos e tecnologias, estabelecida em 2019.

    Transformação no setor automobilístico

    A corrida no setor automobilístico é para o lançamento de carros elétricos. As novas legislações dos países europeus, destacando a Alemanha, é a proibição da fabricação de carros a combustão a partir de 2030, coincidindo com a agenda dos objetivos sustentáveis das Nações Unidas. Entretanto, várias fabricantes de carros já anteciparam o término da produção de carros a combustão. O Estado da Califórnia anunciou a proibição da venda de veículos a gasolina e diesel a partir de 2035, permitindo apenas a venda de veículos elétricos. A Volkswagen produziu o último veículo com motor a combustão na sua fábrica de Zwickau, na Alemanha, em junho de 2020. Neste movimento, muitas montadoras estão investindo em países que ainda não colocaram restrições aos carros de motores a combustão para maximizar seus investimentos em produtos. Ou seja, quando um país recebe investimento para ampliar a produção de carros a combustão não significa que o país é privilegiado.

    A Tesla, de Elon Musk, soube aproveitar as oportunidades e agregou novos conceitos no mercado automobilístico. O fato de a plataforma do Tesla ser open source, ou seja, qualquer um pode baixar e usar as patentes dos carros é uma inovação no mercado automobilístico, exceção óbvia é a tecnologia das baterias de alto desempenho. Isto significa que podemos baixar uma parte do carro e mandar imprimir em uma impressora 3D.

    A Tesla construiu em Sparks, Nevada, uma Gigafactory, nome vem da palavra ‘Giga’, a unidade de medida que representa “bilhões”. O conceito é construir em fases para que a Tesla possa começar a fabricar imediatamente dentro das seções acabadas e continuar a expandir depois disso, mesmo conceito da fábrica da Ford em Camaçari, em 2020. Outra Gigafactory está sendo construída em Berlin-Brandenburg, para produzir baterias, powertrains para uso em veículos Tesla, e para montar o Tesla Model Y, com um início de produção previsto para o final de 2021.

    Tesla Gigafactory

    Outra Gigafactory deverá ser construída na China. O governo brasileiro tenta trazer uma para o Brasil. Poucas fábricas, altamente automatizadas, produzindo bilhões de peças para atender a demanda mundial. As Gigafactories são projetadas para construir todas as partes de um carro e, provavelmente, qualquer outro produto.

    Uma mudança para as atuais concessionárias de veículos é se tornarem centros de impressão 3D de partes de carros, tornando o modelo de fábricas atuais de carros obsoleto. Desta forma, você compra uma plataforma, como por exemplo o Blanc Robot da australiana Applied EV, e em casa você projeta o seu próprio carro e manda imprimir em uma concessionária.

    Blanc Robot

    Transformação no setor financeiro

    A transformação no setor financeiro também está em curso. A venda das operações de varejo do Citibank e HSBC, globalmente, mostrou uma nova tendência do mercado financeiro. No Brasil, as operações de varejo do Citibank foram adquiridas pelo Itaú e o Bradesco ficou com as operações do HSBC, ambas em 2016. Atualmente, os bancos comerciais tradicionais enfrentam uma forte concorrência das fintechs, startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro, tendo como vantagem competitiva custos operacionais muito menores comparados às instituições tradicionais.

    Muito se irá discutir sobre os impactos da pandemia da Covid-19. Um dos impactos foi a enorme bancarização da população brasileira, com a inclusão dos chamados “invisíveis” no setor bancário. O diretor de organização do sistema financeiro e resolução do Banco Central (BC), João Manoel Pinho de Mello, afirmou em dezembro de 2020 que a autoridade monetária quer “lentamente” substituir o uso do dinheiro físico por meios de pagamentos eletrônicos. Movimento que avança e agora acelerado com o PIX, patrocinado pelo Banco Central.

    Dentro deste cenário, as atuais agências bancárias se tornam obsoletas. Os serviços de atendimento a clientes operados por sistemas de inteligência artificial podem, tranquilamente, substituir os humanos. Isto irá gerar uma nova onda de demissões no setor bancário, assim como aconteceu décadas atrás com a automação bancária.

    O futuro do emprego

    No final do dia, quando discutimos transformação de cenários de negócios com a introdução de novas tecnologias, entre na pauta as questões do emprego e da renda. É fato que uma grande parte das atividades humanas repetitivas no trabalho, sejam elas manuais ou intelectuais, será substituída pela automação. O relatório The Future of Jobs de 2020 mostra que 43% das empresas pesquisadas indicam que reduzirão sua força de trabalho devido à integração de tecnologia, 41% planejam expandir o uso de contratados para tarefas especializadas e 34% planejam expandir sua força de trabalho devido à integração de tecnologia.

    O relatório ainda mostra que, embora o número de empregos destruídos seja superado pelo número de “empregos de amanhã”, a criação de empregos está diminuindo enquanto a destruição de empregos se acelera. Os empregadores esperam que, até 2025, as funções cada vez mais redundantes caiam de 15,4% da força de trabalho para 9% (queda de 6,4%), e que as profissões emergentes cresçam de 7,8% para 13,5% (crescimento de 5,7%) da base total de funcionários, com base das empresas que responderam à pesquisa. Com base nesses números, estima-se que em 2025, 85 milhões de empregos podem ser substituídos por uma mudança na divisão de trabalho entre humanos e máquinas, enquanto 97 milhões de novos papéis podem surgir que são mais adaptados à nova divisão de trabalho entre humanos, máquinas e algoritmos.

    O grande desafio é qualificar a mão de obra para assumir os “empregos de amanhã”. O ensino à distância (EaD) assume um papel importante na qualificação da mão de obra. Segundo o relatório, houve um aumento de quatro vezes na procura de cursos online por iniciativa própria das pessoas, as empresas aumentaram em cinco vezes a disponibilidade de cursos online para seus empregados e um aumento de nove vezes de pessoas que buscam cursos online em programas governamentais. Interessante observar que as pessoas que estão empregadas deram ênfase a cursos de desenvolvimento pessoal (aumento de 88%) e as pessoas desempregadas buscaram o aprendizado de habilidade digitais, como análise de dados, ciência da computação e tecnologia de informação. Ao que parece, os desempregados estão mais bem preparados para assumir os “empregos de amanhã” que os atuais empregados.

    O papel da sociedade e do governo

    Para acompanhar as novas tecnológicas disruptivas, a transformação dos negócios e as mudanças culturais da sociedade, é necessário a disposição e colaboração de toda a sociedade e do governo. Como, em tese, o governo deve atender aos anseios e atender as demandas da sociedade, as instituições do governo, em todas as esferas administrativas, devem participar dos movimentos de transformação da economia e sociedade, coordenando iniciativas e programas para facilitar a criação de novos negócios e garantindo que existam programas educacionais que qualifiquem as pessoas para atuarem no mercado de trabalho. Os empresários devem, de forma organizada, elaborar cenários prospectivos antevendo movimentos do mercado e criar diretrizes para os órgãos do governo avaliarem os impactos na sociedade, incluindo meio ambiente, e criar arcabouços legais e programas executivos para atender as demandas. As escolas e Universidades, com base nas diretrizes, oferecem cursos e treinamentos adequados para atender as demandas de qualificação. As pessoas, conhecendo as diretrizes, buscarem qualificação para atender as demandas do mercado, incluindo iniciativas de empreendedorismo.

    As audiências públicas são importantes para obter contribuições da sociedade, vindas de qualquer cidadão, para o aperfeiçoamento de decretos, normas regulatórias de agências e projetos de lei.

    Um bom exemplo é a política industrial desenhada para ajustar os rumos do setor automotivo até 2030, a legislação que criou o programa Rota 2030. O programa concede incentivos para pesquisa, desenvolvimento e nacionalização de autopeças, eficiência energética e adoção de equipamentos e sistemas de segurança veicular. Segundo Antonio Megale, presidente da Anfavea, associação dos fabricantes de veículos, a indústria ganhou metas e ferramentas para investir e melhorar seus produtos, tornando-os mais eficientes e seguros. O programa prevê renúncia fiscal para o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos elétricos híbridos que usem motor a combustão flex capazes de rodar com etanol ou gasolina em qualquer proporção.

    O programa Rota 2030 criou várias obrigações para os veículos vendidos no Brasil, nacionais ou importados, independente de adesão ao programa de incentivos: rotulagem veicular para informações sobre eficiência energética, consumo em km/l e emissão de CO2; metas de eficiência energética; e, metas de segurança. A superação destas metas gera descontos extra na alíquota no IPI a partir de 2023.

    Na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D), os fabricantes de veículos ou autopeças devem se comprometer a fazer investimento anuais em P&D com aportes obrigatórios mínimos, nas áreas de direção autônoma, soluções de mobilidade e logística, dispositivos de segurança, eficiência energética, modernização de processos de produção, abertura de novas fábricas e desenvolvimento de fornecedores e componentes. Com isto, os fabricantes podem deduzir até 30% dos investimentos realizados em P&D no Imposto de Renda (IR) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), limitado a 30% dos tributos devidos. Caso não registrem lucro, as empresas poderão acumular esses créditos tributários para abatimento futuro.

    A dedução aumenta para 45% do IR e CSLL caso o investimento seja feito em áreas consideradas estratégicas, que são: Manufatura avançada; Conectividade veicular e industrial; Mobilidade e logística; Propulsão alternativa a combustíveis fósseis; Direção autônoma; Inteligência artificial; Ferramental; Nanotecnologia; e, Big data.

    Outro exemplo, foi a discussão sobre o Marco Legal das Startups, dispõe sobre medidas de estímulo à criação startups e estabelece incentivos aos investimentos por meio do aprimoramento do ambiente de negócios no país. O Projeto de Lei Complementar n. 146 de 2019 foi apensado ao Projeto de Lei n. 249 de 2020, que “institui o marco legal das startups e do empreendedorismo inovador”, de autoria do Poder Executivo.

    Ou seja, temos instrumentos institucionais com diretrizes claras para o desenvolvimento do ambiente de negócios no país. Cabe a mobilização da sociedade.

    Conclusão

    Assim como a Ford deixou de fabricar no Brasil, outras empresas e setores estão em processo de transformações de seus negócios e devem causar a demissão de milhares de trabalhadores. A automação extrema das fábricas, conhecida como Indústria 4.0, reduz a mão de obra de baixa qualificação, porém requer trabalhadores altamente qualificados. As startups de tecnologia ganham espaço no mercado com novos modelos de negócios, atraindo ondas de consumidores, desafiando grandes empresas com modelos de negócios ultrapassados. O desafio é criar políticas públicas, elaboradas de forma colaborativa entre sociedade e governo, para garantir a transição dos cenários de negócios e o emprego.

  • O impacto da IA no varejo, atacado e distribuição

    O impacto da IA no varejo, atacado e distribuição

    Quando o consumidor compra um produto no MercadoLivre, Americanas, Magazine Luiza, Aliexpress ou Amazon não imagina a complexidade por trás desta operação. A simplicidade na compra, no acompanhamento do pedido e na entrega é resultado de poderosos sistemas de informação interligados em tempo real. Desde sistemas de sugestões de compras para os consumidores, sistemas antifraudes para aceitar um pedido, sistemas que garantam que os produtos mais solicitados estejam no estoque e sistemas de distribuição com rastreamento de encomendas e sistemas de avaliações para auxiliar nas tomadas de decisão de futuros compradores. Todo isto para oferecer uma experiência de compra que entre um produto em horas, no dia seguinte ou irritantes entregas com mais de um dia, que só são aceitáveis pela relação custo/benefício. Sem sistemas de inteligência artificial é impossível gerenciar todo este ecossistema de forma eficiente.

    No mercado eletrônico atual os conceitos varejo e atacado se confundem, pois as grandes lojas virtuais operam como varejistas e atacado ao mesmo tempo, conhecido com atacarejo, neologismo que reúne as duas formas de comercialização. O consumidor pode fazer a compra de um produto em uma pequena loja virtual, porém toda a infraestrutura de armazenagem, sistema de pagamento e distribuição é do Magazine Luiza ou Amazon, permitindo que a pequena loja virtual tenha um preço competitivo. Ou, comprando das Americanas o produto é enviado de um pequeno varejista que usa apenas o portal de compras das Americanas, que aumentando seu volume de vendas pode ter preços competitivos com os grandes varejistas.

    Se os critérios que os consumidores adotam para suas compras forem preço, prazo de entrega e atendimento pós-vendas, no limite, teremos poucos atacarejo virtuais com milhares de varejistas associados, permitindo vender com preços de atacado. Ou seja, voos solitários sobreviverão apenas para produtos de nicho e únicos.

    Por trás desta revolução está a inteligência artificial, reunindo montanhas de dados em seus big datas, vindos de dispositivos IoT, sites de vendas, informações bancárias dos consumidores para decisões antifraude, estoques nos armazéns, informações de rotas para otimização, despachos, recebimentos, avaliações de clientes, reclamações de órgão de defesa do consumidor, sistemas de sugestões de compras e tantas outras informações e decisões incapazes de serem tomadas por um ser humano ou organizações. Lembrando que quanto maior o número de pessoas envolvidas em tomadas de decisão maior a probabilidade de erros e lentidão nos processos.

    Isto significa, que no limite, todo varejista deve ter uma infraestrutura de atacadista, própria ou terceirizada. Quando pensamos em atacado, um dos maiores custos é a manutenção do estoque, ou seja, quanto custa manter o estoque de um determinado produto. Este custo é composto por impostos, funcionários, custos de climatização, custos de oportunidades do espaço, depreciação, seguro e custos administrativos do negócio.

    A IA entra como uma ferramenta vital para manter os custos mais baixos possíveis, monitorando o tempo que o estoque termina até o tempo que um fornecedor leva para enviar a reposição do estoque. Imagine monitorar milhões de itens em um estoque sem automação e com algoritmos de aprendizado de máquina – machine learning – para sincronizar perfeitamente o fornecimento com a demanda necessária com os melhores custos possíveis.

    Agora imagine um armazém muito grande controlado por algoritmos de IA determinando onde há espaço, qual grupo de produtos deve estar onde e como levar esses produtos para uma estação de separação, tudo de forma automática. Como nos armazéns da Amazon onde todo o transporte é realizado por robôs com algoritmos de IA para reconhecer padrões mais eficientes para se movimentarem. Em armazéns menores, os benefícios da IA estão associados ao planejamento de capacidade e alocação do espaço. Os sistemas de IA entendem o tamanho do espaço, as dimensões de cada produto e otimizará o espaço para o armazenamento do produto.

    Quando uma empresa opera diversos centros de distribuição (CD) é importante colocar os produtos certos perto da demanda. Isto evita maiores percursos, atrasos de consistentes, recursos mal alocados e custos de frota mais elevados para as entregas. A IA pode controlar o tempo do tráfego, disponibilidade de um produto, flutuações de demanda e otimização de rotas, além de reduzir as tarefas operacionais de controle da frota e notificações para os transportadores automaticamente.

    Para que faz transporte de carga sabe que um dos desafios da entrega é a última milha, que consome entre 25-28% dos custos totais de entrega. Muitas cidades têm restrições de tipo de veículo em determinados horários e a alocação de tipo certo de veículo pode otimizar as entregas com redução de combustível, economia de tempo, redução das distâncias percorridas, entre outros fatores. Um sistema eficiente de roteirização operador por um sistema de IA pode definir rotas otimizadas, automaticamente.

    O Picking, seleção de produtos no armazém, pode ser otimizado por sistemas de IA orientando os robôs ou traçando rotas otimizadas de um funcionário. Um sistema de IA aprende quais as viagens mais frequentes e otimiza tanto o local de armazém dos produtos como as rotas mais rápidas para separar os pedidos. O Packing, embalagem dos produtos, pode ser otimizado com sistemas de IA aprendendo, dinamicamente, a melhor classificação dos pacotes associado a configuração das correias transportadoras.

    Como vimos um dos critérios de compra dos consumidores é o preço. Desta forma, os varejistas e atacadistas devem monitorar constantemente os preços dos produtos, seus similares e substitutos no mercado. Os sistemas de IA e robôs de pesquisa de preços analisam os preços dos concorrentes, avaliam as margens de lucros e sugerem novos preços para aumentar as vendas, com aprovação de um supervisor ou automaticamente.

    A muito tempo, os sistemas de EDI – Electronic Data Exchange – apoiam os sistemas de reposição de produtos nos armazéns com pedidos automáticos baseados em determinados critérios pré-estabelecidos, como de estoque mínimo. Os sistemas de IA podem otimizar os sistemas de reposição alterando os critérios de abastecimento dos armazéns baseados em previsões de flutuação de demanda.

    A completa robotização dos armazéns irá tornar a operação mais barata e mais eficientes, podem trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semanas sem reduzir a produtividade, aumentando a confiabilidade das entregas e a satisfação dos clientes. O grande desafio das empresas é construir um sistema de inteligência artificial que orquestre todas as funções do varejo, atacado e distribuição como um ecossistema único – um Big Brother. Isto é possível com as novas tecnologias de IoT, Big Data, Cloud Computing, Edge Computing, robôs, Robotic Process Automation (RPA), Digital Twins, Blockchain, drones, veículos autônomos, 5G e reconhecimento de imagens controlados por inteligência artificial.