O efeito Covid-19 acelerará a transformação digital nas empresas

A pandemia do Covid-19 trouxe uma profunda reflexão nos modelos de negócios das empresas. Mostrou a necessidade de acelerar a digitalização dos processos e focar na inovação para encontrar novas formas de trabalho e cortar custos. A transformação digital deixou de ser uma buzzword e tornou-se uma iniciativa prioritária para as empresas. O desafio é implementar uma metodologia para a inovação digital e mudar a cultura organizacional.

A Covid-19 dará início a um mundo onde a insegurança e a imprevisibilidade constituem o novo normal, segundo Tony Blair em entrevista a revista Time (22/10/2020). Segundo ele, o impacto disso, junto com a enorme conta da ressaca para lidar com o vírus e a perda da atividade econômica, será um fardo a mais para os mais vulneráveis. A injustiças pré-existentes parecerão ainda mais inaceitáveis, liberando a raiva reprimida e, possivelmente, uma agitação social. As divisões sociais ficarão ainda mais evidentes e exigirão liderança politica para analisar, compreender, explicar e apontar o caminho, segundo Blair.

Neste cenário de incertezas as empresas devem se adaptar ao novo normal, buscando novos modelos de negócios fortemente apoiados na digitalizarão e robotização dos processos industriais e administrativos.

O primeiro passo é criar cenários prospectivos futuros para o negócio em particular, não apenas seguindo as opiniões de especialistas de mercado ou apoiando-se na legislação vigente. Devem exercitar novas formas de atender os clientes com fortes diferenciais com o menor custo possível. Os métodos de cenários prospectivos indicam as melhores estratégicas para cada situação e quais os atores influenciadores. Com isto, as empresas podem agir de forma direta e eficaz nas ações de transformação de seus modelos de negócios.

Neste contexto, a digitalização é fundamental, criando mecanismos de comunicação em massa e altamente escaláveis, permitindo estabelecer um novo paradigma de margem de lucro. A redução do lucro por produto ou serviço é substituída pelo aumento de volume de vendas, sem aumentar os custos diretos e indiretos.

Nos processos fabris a robotização extrema, conhecida como Industria 4.0, trará flexibilização e aumento da produção sem aumento dos custos fixos. A robotização dos processos fabris traz a redução de dois custos significativos de produção, mão de obra e energia. A mão de obra é reduzida pela automação dos processos com o uso intensivo de robôs programados através de inteligência artificial, permitindo o setup rápido da linha de produção, reduzindo a ociosidade da linha de produção. A robotização melhora a eficiência energética, permitindo que as linhas de produção operem em horários de menor custo da energia.

A robotização dos processos administrativos, através de ferramentas de RPA (Robotic Process Automation), permite uma redução drástica do tempo das transações administrativas e um menor contingente de funcionários administrativos, significando maior eficiência e menores custos indiretos.

Reduzir a dependência de insumos externos é um fator estratégico importante, considerando a crescente deteriorização da relação EUA-China e como a comunidade internacional irá encontrar novas formas para cooperar com a China, bem como competir com ela e, até mesmo enfrentá-la. A China antes competitiva pela mão de obra barata e subsídios para a exportação, agora se torna altamente competitiva com a extrema robotização de processos e uso intensivo de inteligência artificial, associado ao aumento significativo de mão de obra especializada.
No Brasil, o exemplo do sucesso do agronegócio, que alcançou excelência internacional com o uso intensivo de tecnologia, deve ser seguido por outros setores da industria. O agronegócio foi pouco afetado no estágio inicial da pandemia da Covid-19 e favorecido pela valorização do dólar frente ao real, porém no médio e longo prazo pode ser afetado pela dependência de insumos externos, impactos pelo câmbio, e pela redução da renda da população dos países importadores. O agronegócio, assim como o restante da industria no Brasil, devem encontrar novos modelos de negócios para enfrentar a era pós-Covid-19.

A transformação digital dever ser antecedida pela transformação da cultura organizacional, com o objetivo de eliminar barreiras internas resistentes às mudanças. Deve ser implantado um amplo programa de requalificação dos funcionários e identificar aqueles que podem liderar as transformações necessárias na organização. Um forte liderança é fundamental para o sucesso da transformação digital, evitando que conflitos internos atrasem a implementação das mudanças. Negligenciar esta parte aumenta as chances de insucesso dos projetos.

Obviamente, que este movimento de transformação dos negócios afetará a maioria dos trabalhadores, podendo criar tensões sociais, como afirmou Blair. Aqui se coloca a importância da política e da responsabilidade social das empresas, criando programas de requalificação profissional e programas sociais de auxilio aos trabalhadores afetados por transformações tecnológicas e dos processos de negócios.

Estas transformações são inevitáveis, a pandemia da Covid-19 acelerou e deu urgência nas ações de transformação digital e cultural nas organizações.