A indústria brasileira vive um paradoxo silencioso. De um lado, a maioria das grandes empresas já fala de ESG, divulga metas de redução de emissões, assina compromissos públicos e sente, todos os dias, o peso da conta de energia. De outro, o PEE segue subutilizado pela indústria, apesar de ser um programa regulatório obrigatório, com recursos relevantes destinados justamente à eficiência energética.
O e-book “Programa de Eficiência Energética e ESG na Indústria: Como usar o PEE na indústria como alavanca para metas ESG” nasceu para atacar esse descompasso. Este artigo apresenta, em formato corrido, a tese central da obra e o caminho proposto para transformar o PEE em instrumento concreto de competitividade, redução de risco e entrega de metas de ESG. Ao final, o leitor poderá acessar o e-book completo e aprofundar cada etapa.
Energia: de linha de custo a eixo de risco e competitividade
Em muitos segmentos industriais, poucos centavos por unidade produzida decidem o futuro de uma planta. Tradicionalmente, a energia entra nessa conta como mais uma linha de despesa. Esse olhar é insuficiente.
A combinação de volatilidade tarifária, riscos climáticos, pressões regulatórias e compromissos de ESG reposiciona a energia em um novo patamar: ela passa a ser, ao mesmo tempo, variável de margem, indicador de risco e componente da reputação corporativa. Decisões sobre contratos, tecnologia, automação, eficiência e uso do PEE deixam de afetar apenas o resultado do mês e passam a influenciar a capacidade da empresa de competir em cadeias globais cada vez mais sensíveis à pegada de carbono e à previsibilidade de custos.
Nesse contexto, continuar tratando energia apenas como custo operacional é abrir mão de vantagem competitiva. O desafio é construir uma visão integrada que conecte consumo, risco, emissões e governança.
O que o PEE é – e o que não é
Um dos problemas recorrentes na indústria é a percepção equivocada sobre o PEE. Em muitas organizações, o programa é visto como algo “da distribuidora”, “do regulatório” ou “do jurídico”, distante do chão de fábrica e das decisões de investimento.
Na prática, o PEE é um programa obrigatório para todas as concessionárias de distribuição de energia elétrica no Brasil. A regulação determina que essas empresas apliquem, todos os anos, um percentual de sua receita operacional líquida em projetos de eficiência energética em sua área de concessão. Não se trata de patrocínio, verba promocional ou iniciativa voluntária. É obrigação regulatória.
Recursos do PEE são direcionados a projetos capazes de gerar redução de consumo de energia elétrica, com resultados medíveis e verificáveis. Há critérios técnicos de elegibilidade, exigências de adicionalidade e regras claras para medição e verificação. A boa notícia é simples: do ponto de vista da indústria, existe, todos os anos, um orçamento regulatório disponível para apoiar projetos de eficiência, desde que esses projetos sejam bem estruturados e aderentes às regras.
A questão deixa de ser “se há dinheiro” e passa a ser “como a empresa se posiciona para acessar esse instrumento de forma planejada, alinhada à sua estratégia de negócios e às metas de ESG”.
Relatórios de sustentabilidade como mapa de oportunidades
Praticamente todas as grandes empresas industriais produzem relatórios de sustentabilidade ou relatórios integrados. Neles aparecem metas de emissões, indicadores de intensidade energética, compromissos com renováveis, investimentos socioambientais e narrativas de transformação.
Esses documentos, porém, muitas vezes não são usados como deveriam. Depois de publicados, seguem para o site institucional, para apresentações a investidores e para a gaveta. Enquanto isso, decisões de CAPEX, OPEX e priorização de projetos seguem outro fluxo, pouco conectado ao que foi prometido ao mercado.
Uma mudança de chave importante consiste em tratar o relatório de ESG como documento de requisitos de energia. Metas deixam de ser apenas declarações e passam a orientar a identificação de processos, sistemas e ativos com maior impacto em consumo e emissões. A partir dessa leitura, é possível construir um pipeline estruturado de projetos de eficiência, separar o que tem perfil para PEE e desenhar uma trilha de iniciativas que, simultaneamente, reduzem custo, entregam resultados ambientais e reforçam a credibilidade da governança junto a stakeholders.
Do projeto isolado ao Programa Corporativo de Eficiência Energética
Quase toda empresa tem um histórico de iniciativas pontuais de eficiência: retrofit de iluminação, ajustes em sistemas de ar comprimido, modernização de algum equipamento crítico. Em geral, os resultados aparecem num primeiro momento – e depois se diluem. A curva de consumo volta a subir, o conhecimento se perde com mudanças de pessoas e o tema retorna à condição de pauta secundária.
O ponto estrutural não está na tecnologia, mas na ausência de programa. Sem um Programa Corporativo de Eficiência Energética, com objetivos claros, governança definida, papéis, processos, indicadores e ciclo anual de decisões, tudo depende de campeões internos e de ciclos de entusiasmo.
Um programa bem desenhado integra operações, engenharia, manutenção, finanças, ESG, compras e TI/TO em um fluxo organizado: da identificação de oportunidades à priorização, aprovação, execução e medição. O PEE entra nesse desenho como um dos canais de funding, planejado e alinhado ao portfólio corporativo de investimentos, e não como oportunidade eventual ou “agradável de ter”.
Padrões de oportunidades na indústria
Quando se observa diferentes setores pela lente da energia, surgem padrões recorrentes. Em bebidas, petroquímica, papel e celulose, siderurgia ou bens de capital elétricos, é comum encontrar grandes blocos de consumo concentrados em motores, compressores, sistemas de refrigeração, utilidades térmicas e redes internas de distribuição.
Mapear esses blocos e entender suas características técnicas é o primeiro passo para identificar oportunidades com potencial de PEE: substituição ou controle avançado de motores, otimização de sistemas de ar comprimido e bombeamento, upgrades em refrigeração e ventilação, modernização de utilidades e implantação de supervisão energética com automação e analytics.
O objetivo não é copiar “cases” de outras empresas, mas reconhecer lógicas que podem ser adaptadas à realidade de cada planta. Essa leitura setorial ajuda a sair da abstração e construir um portfólio de projetos alinhado ao perfil de consumo real e às metas de ESG de cada organização.
Cadeia de valor, clientes âncora e Escopo 3
A pressão por emissões já não se limita à fronteira da fábrica. Grandes compradores passaram a incluir, em processos de seleção e avaliação de fornecedores, questões ligadas a energia, emissões e planos de descarbonização. Escopo 3 começa a aparecer em RFPs, cláusulas contratuais, reuniões estratégicas e indicadores de desempenho.
Nesse ambiente, eficiência energética deixa de ser apenas tema interno e passa a influenciar a permanência em determinadas cadeias de valor. Um fornecedor que comprova, com dados, que reduz consumo específico, diminui emissões associadas e tem um programa estruturado de eficiência apoiado por PEE ganha argumento competitivo importante.
Projetos bem desenhados, alinhados a PEE, podem gerar ganhos ao longo de toda a cadeia, reforçar relações com clientes âncora e sustentar narrativas B2B robustas. O que está em jogo é a capacidade de demonstrar, com consistência, como o desempenho energético da empresa contribui para as metas de ESG do próprio cliente.
O que é possível fazer em 12 meses
Entre diagnósticos intermináveis e planos de transformação tão ambiciosos que nunca saem do papel, muitas empresas acabam paralisadas. Conselhos e investidores, no entanto, começam a cobrar sinais concretos de mudança no consumo, nas emissões e na governança de energia em prazos razoáveis.
Um horizonte de 12 meses é um caminho realista para sair da inércia e iniciar um ciclo virtuoso. Em linhas gerais, esse percurso pode ser organizado em quatro blocos trimestrais:
- construir a fotografia de consumo, consolidar metas e estabelecer um primeiro diálogo estruturado com a distribuidora
- realizar diagnósticos direcionados em plantas ou processos selecionados e montar uma lista de oportunidades com pré-viabilidade
- organizar um pipeline em ondas, escolher projetos piloto com perfil para PEE e estruturar a documentação técnica
- iniciar a implantação, executar a medição e verificação e consolidar aprendizado em forma de programa
Ao final de um ano, não se espera que toda a jornada esteja concluída. Mas é possível, sim, ter projetos em implantação, indicadores em evolução, governança minimamente consolidada e uma agenda reconhecida internamente como alavanca de competitividade e de ESG.
Uma agenda de ação por stakeholder
Energia, PEE e ESG não avançam quando são temas “de alguém” que não está na sala onde as decisões são tomadas. A experiência mostra que a agenda só ganha tração quando responsabilidades são distribuídas de forma clara.
Conselhos de administração precisam incluir energia e PEE na pauta recorrente, definir diretrizes e acompanhar indicadores. Diretoria executiva deve assumir patrocínio, integrar a agenda ao planejamento estratégico e tratar eficiência como parte do portfólio de investimentos. Áreas técnicas, financeiras e de ESG devem trabalhar com a mesma base de dados, com critérios de priorização acordados e visão comum de risco.
Do lado das distribuidoras, transparência sobre planejamento de PEE, critérios de seleção e prioridades setoriais é fundamental para que a indústria se organize de forma proativa. Entidades setoriais e think tanks podem atuar como ponte, produzindo conhecimento aplicável, organizando programas coletivos e conectando boas práticas a oportunidades concretas de projeto.
Do acrônimo ao quilowatt-hora economizado
No fim, a questão não é se a indústria vai lidar com PEE, eficiência energética e ESG – mas como e em que ritmo. As regras já existem, os recursos já são obrigatórios, as metas já foram comunicadas ao mercado. O que varia é a capacidade de cada empresa de conectar esses elementos em um desenho coerente de estratégia, investimentos e execução.
Usar o PEE de forma inteligente significa transformar um instrumento regulatório em parte da solução para três problemas críticos: custo de energia, exposição a riscos e credibilidade da agenda de ESG. Trata-se de converter siglas em quilowatt-hora economizado, tonelada de CO₂ evitada e competitividade sustentável no longo prazo.
O e-book “Programa de Eficiência Energética e ESG na Indústria: Como usar o PEE na indústria como alavanca para metas ESG” aprofunda cada um desses pontos, apresenta exemplos práticos, um roteiro de 12 meses e uma agenda de ação por stakeholder. Para acessar o conteúdo completo, fazer o download gratuito e utilizar como referência em discussões internas, basta clicar no link abaixo:

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