A qual grupo de negócios você pertence?

O mundo é plano, mas os negócios reais são locais. A globalização impulsionada pela Internet permite que pessoas e empresas façam negócios em qualquer lugar do mundo com facilidade. A simples ideia do contêiner no transporte marítimo reduziu os custos e facilitou a movimentação de cargas. Entretanto, poucas pessoas e empresas têm capacidade de fazer negócios globais, reduzindo o potencial da globalização para pequenas e médias empresas (PME). Como as PMEs que empregam uma significativa parcela dos trabalhadores, os negócios são, efetivamente, locais. No Brasil, existem 6,4 milhões de PMEs e microempreendedores, respondendo por 52% dos empregos com carteira assinada no setor privado, cerca de 16,1 milhões, segundo o SEBRAE. Nesse ambiente, trabalhar isolado, fora de um grupo de negócios, é suicídio. Isso vale não apenas para empresas, mas para os trabalhadores. Historicamente, nações e grupos econômicos só prosperam quando se agruparam em organizações formais ou informais. Neste contexto, a qual grupo de negócios você pertence?

Formar comunidades é fundamental para a sobrevivência, sem isso não haveria evolução das espécies no planeta. Ao longo da história foram criadas várias comunidades com diferentes finalidades que se tornam tão fortes que existem ainda hoje, como a Igreja Católica, Maçonaria, a sul-coreana Chaebol, as japonesas Keiretsu e Zaibatsu e, infelizmente, organizações de crime organizado como máfia e os carteis de drogas e armas.

As grandes organizações se transformam com o tempo para se adaptar as mudanças do cenário econômico e aos novos comportamentos das gerações com os avanços da tecnologia e novas descobertas científicas e históricas.

Sob a liderança do Papa Francisco, a Igreja Católica está mudando alguns dogmas e posturas com relação à sociedade, como adotar uma nova postura com os homossexuais e pessoas divorciadas, além de discutir mais abertamente a evolução científica.

Interessante observar o percentual de 58% de maçons (cerca de 2,3 milhões) nos Estados Unidos e 22% (cerca de 1,2 milhões) no Reino Unido e o grau de desenvolvimento desses países, contra 2,7% no Brasil com 150 mil membros.

Conhecida por sua capacidade colaboração, a comunidade de judeus nos Estados Unidos tem mais de 6 milhões de pessoas, representando cerca de 2% da população do país. Em 2007, dos 100 membros do Congresso americano, 13 eram judeus.

O forte desenvolvimento econômico da Coreia do Sul, a partir da década de 60, foi impulsionado pela promoção de grandes empresas, no programa econômico chamado de First Five Year, onde o governo definiu a direção de novos investimentos com volumosos empréstimos do setor bancário. Esse grupo de empresas privilegiadas ficou conhecido como Chaebol e teve um papel importante no desenvolvimento de novas indústrias, mercados e produtos de exportação, ajudando a Coreia do Sul a ser um dos quatro tigres asiáticos. Com a crise financeira asiática em 1997, das 30 maiores Chaebol, 11 tiveram problemas financeiros. A crise foi causada pela queda acentuada no valor da moeda, preocupações com o fluxo de caixa para pagamentos de dívidas externas e declínio das exportações para o sudeste da Ásia. Entretanto, as maiores Chaebol se especializaram e expandiram suas marcas para mercados ocidentais. Por outro lado, esse modelo apresenta muito pontos negativos, tais como: forte influência dos presidentes das Chaebol nas tomadas de decisão sobre outras empresas que possuem participação acionária, chamado de cross-holding; falta de controles para avaliar se os incentivos oferecidos pelo governo estavam sendo utilizados de forma eficaz, abrindo brechas para a falta de transparência e corrupção; e, criaram-se empresas “too big to fail”, ou seja, empresas tão grandes que se quebrassem gerariam um forte impacto negativo para a economia e para os níveis de emprego. O governo sul-coreano está realizando esforços para reformar a economia.

O Japão antes da Segunda Guerra Mundial era dominado por quatro grandes Zaibatsu (Mitsubishi, Sumitomo, Yasuda Mitsui) que concentravam os mercados de aço, bancos, comércio internacional e vários outros setores chaves da economia. Após a derrota do Japão, houve uma tentativa de dissolução do Zaibatsu, porém sem um completo sucesso.

O modelo japonês Keiretsu, é definido como um conjunto de empresas com inter-relacionamento de negócios e participações. Esses grupos empresariais informais dominaram a economia japonesa na segunda metade do século XX. As empresas associadas são apoiadas por um banco central que evita flutuações do mercado e fornecem financiamento para vários projetos, auxiliando as empresas com uma gama de serviços financeiros. Também, cria redes para conectar fornecedores, fabricantes e distribuidores de uma ou mais indústrias.

Expandindo a visão, os BRICS, grupo de países emergentes formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, estão firmando acordos de cooperação tecnológica e econômico para incentivar o crescimento e criaram um banco para financiar os projetos do grupo.

Interessante observar que algumas empresas no Brasil possuem bancos próprios para auxiliar sua rede de fornecedores estratégicos, distribuidores e clientes. Um exemplo é o do Grupo Martins de Uberlândia, Minas Gerais, que reúne mais de 260 mil clientes no SIM (Sistema Integrado Martins) com a proposta de auxiliar no desenvolvimento de sua cadeia de consumo, onde o Tribanco é o braço financeiro do grupo para o financiamento dos projetos.

Embora os exemplos apresentados sejam de grandes corporações, podemos aplica-los para pequenos grupos. As Nações Unidas, através do seu programa de desenvolvimento de empreendedores EMPRETEC tem incentivado o comércio entre os participantes locais do programa. Quanto mais negócios forem gerados no grupo mais forte ele fica, atraindo mais participantes. O programa EMPRETEC é aplicado no Brasil pelo SEBRAE. Fiz o EMPRETEC em 1996 e posso atestar que é um excelente programa de desenvolvimento pessoal e de empreendedorismo.

O que quis mostra até aqui é que pertencer a um grupo é fundamental e cria oportunidades de novos negócios, a partir dos exemplos apresentados.

Agora gostaria de apresentar minha visão de como poderíamos aplicar esses conceitos no dia a dia das pessoas e empresas, baseado na minha experiência no ANFAVEA, ABRADIF e SUCESU-SP.

Obvio que existem interesses pessoais ou empresariais para participar de um grupo de negócios. O desafio é motivar as empresas e as pessoas a contribuir de forma proativa com o grupo, procurando fazer negócios entre seus membros. Antes de fechar um novo negócio com um fornecedor fora grupo, avalie quais seriam os benefícios se esse negócio fosse fechado com alguém do grupo.

O grupo deve garantir a disponibilidade e desenvolvimento da mão de obra especializada. Em períodos de recessão econômica geral ou setorial, onde as empresas do grupo tenham que fazer demissões para garantir sua continuidade, deve ser criado programas para oferecer trabalho temporário para os trabalhadores demitidos. Isso garante o contínuo desenvolvimento profissional, mantém a dignidade e autoestima das pessoas e facilita a retomada do crescimento mais rapidamente. Além de evitar o colapso econômico da comunidade local.

Os profissionais devem manter uma postura proativa com as comunidades que participa. Devem propor ações para melhorar o setor, independente se isso trará resultados de curto prazo para ele, e ajudar outros membros da comunidade em suas atuais atividades e ajudando na recolocação dos desempregados. O que percebo é que alguém passa a ser mais ativo em um grupo quando está em um processo de transição profissional e depois de realocado deixa o grupo.

No momento que escrevo este artigo, estou organizando um fórum para discussão de projetos para cidades inteligentes para apoiar a implantação da ZPE Paulista (Zona de Processamento de Exportação) na cidade de Fernandópolis. O fórum tem o objetivo de reunir empresas para contribuir com a cidade para auxiliar no planejamento de soluções para criar uma plataforma de negócios na cidade para competir no mercado global. A expectativa é a formar um grupo para alavancar novos negócios para as empresas e para a comunidade local.

Outro projeto que estou envolvido é na aplicação de workshops sobre tecnologia e gestão de Data Centers para melhorar a eficiência organizacional, discutir novas tecnologias e reduzir os custos operacionais. Estamos formando uma comunidade de especialistas em Data Center para colaborar na melhoria contínua de processos e inovação, além de facilitar a realocação de profissionais.

E você, a qual grupo de negócios pertence?