Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Tag: gestão da inovação

  • Quais setores da economia brasileira precisam se mover mais rapidamente, para evitar possíveis impactos graves causados por inovações disruptivas?

    Quais setores da economia brasileira precisam se mover mais rapidamente, para evitar possíveis impactos graves causados por inovações disruptivas?

    Como vimos todos os setores estão ameaçados. Essa é a dinâmica do mercado. No caso brasileiro, vejo a maior ameaça é a substituição das matérias primas que exportamos por novos materiais. Atualmente, o equilíbrio da nossa balança comercial é conseguida pelas exportações de commodities, como o minério de ferro. Se alguém conseguir produzir um material sintético que elimine a necessidade do minério de ferro podemos ter dificuldades. Veja o caso do cobre e do alumínio. Atualmente, as linhas de transmissão de energia e telefonia utilizam o cobre e alumínio como condutor. Estima-se que em 2017 teremos mais de 1 bilhão usuários de telefonia móvel através de IP (VoIP) e cresce o número de empresas e residências (algumas através de cooperativas de moradores) utilizando microgeração de energia. Isso poderá reduzir a necessidade do cobre e alumínio, fazendo cair o seu preço no mercado internacional.

    Uma iniciativa disruptiva pode estar vinculada a um país. Veja o caso da China, o pais em si gerou uma disrupção através do custo baixo de sua mão de obra, controle cambial e flexibilização da legislação. A Índia aproveitou o estouro da bolha da Internet e a brutal redução dos custos de telecomunicações por fibra ótica para avançar no mercado de call centers e TI. Hoje existem sinais de aproximação entre a Coréia do Sul e Norte para uma, antes inimaginável, unificação. Imagine combinar a tecnologia da Coréia do Sul com o custo baixo da mão de obra e riquezas da Coréia do Norte. O Brasil tem que criar a sua própria iniciativa disruptiva: infraestrutura, educação, saúde, tributos e flexibilização das leis trabalhistas.

  • Como as empresas devem se posicionar em relação à busca estratégica pela inovação?

    Como as empresas devem se posicionar em relação à busca estratégica pela inovação?

    Primeiro devem criar uma cultura de inovação. Devem rever seu atual portfólio de produtos e avaliar quais que devem ter sua curva de valor (avaliação de atributos dos produtos) revista para atuar em outros mercados e novos consumidores. Desenvolver protótipos e testá-los no mercado. Devem criar novas métricas de desempenho para produtos disruptivos para dar chance de observação. Produtos disruptivos não geram receitas iguais aos produtos estrela das empresas. (no site www.efagundes.com tem um curso online gratuito que mostra o processo de identificação e desenvolvimento de produtos disruptivos).

    É previsto para 2020 que o Brasil terá o seu bônus demográfico, momento onde a maior parte da população será economicamente ativa. Isso trará um aumento de demanda bastante grande e precisaremos de produtos para esses novos consumidores (intrinsecamente conectados na Internet). Em 2030, a população brasileira se manterá estável. Atualmente, o nosso índice de natalidade é de 1,7 por família. O envelhecimento da população gerará a necessidade de novos produtos para essa parcela da população. Parando para pensar, faltam 7 anos para 2020 e 17 anos para 2030. Ou seja, as empresas já devem ter seus planos de negócios prontos para atender seus clientes nesse período.

  • Que mercados e segmentos da economia estão mais “ameaçados” pelas inovações disruptivas?

    Que mercados e segmentos da economia estão mais “ameaçados” pela potencial chegada de inovações disruptivas? Quais ramos de negócios devem ser mudados radicalmente nos próximos anos por conta dessas inovações?

    Todos mercados estão ameaçados. Estou avaliando um produto de uma startup americana que promete exames de sangue por US$1 através de um equipamento portátil conectado ao iPhone. Imagine o impacto nos laboratórios de análises clinicas. Outro produto que estamos envolvidos, também americano, promete produzir lâmpadas LED de alta intensidade por US$5 para iluminação residencial. Os cremes dentais com componentes para clareamento dos dentes, eliminando os tratamentos em consultórios dentários. O carro indiano de US$2.000. A massificação dos óculos da Google que encontrará milhares de aplicações que necessitam de transmissão ao vivo de imagem.

    Como o uso cada vez maior de smartphones vários serviços serão migrados para aplicações móveis. Um que deverá crescer é o uso do smartphone para pagamentos, substituindo os cartões de plástico.

    No setor de energia as mudanças serão grandes. Hoje na Califórnia (Estados Unidos) 10% das mansões não estão conectadas a rede pública de eletricidade, geram sua própria energia. No Brasil, existem 1 milhão de casas sem energia. A queda de preços de painéis fotovoltaicos e outras soluções de conservação e armazenamento de energia podem levar eletricidade para as populações carentes com custos reduzidos. Isso poderá evitar o investimento em linhas de transmissão de energia e a adoção de solução de geração de energia local. As concessionárias de energia estão implantando o “Smart Grid”, sistema de rede inteligentes, que permitirá a criação de pacotes de tarifas de consumo de energia como os da telefonia móvel.

    O preço de microprocessadores de baixo desempenho para sensores está por volta de US$3 no mercado internacional. Isso permitirá que os equipamentos domésticos e industriais possam interagir através da “Internet of Things” (IoT), Internet das Coisas. Novas aplicações serão desenvolvidas com essa tecnologia. Por exemplo, os equipamentos domésticos poderão ser programados para serem desligados, seletivamente, quando o consumo de energia ultrapassar o plano contratado.

    Cresce o número de americanos que estão cancelando as assinaturas de TV a cabo. Só no segundo trimestre de 2012 foram 400.000 cancelamentos. Essas pessoas estão migrando para serviços de vídeo mais baratos como o da Netflix, que tem 30% do tráfego de Internet nos Estados Unidos, Amazon.com, Google TV e o gratuito Youtube.

  • A economia brasileira é terreno fértil para esse tipo de inovação disruptiva?

    De maneira geral, como as empresas brasileiras estão lidando com a inovação disruptiva e seus conceitos relacionados? A economia brasileira é terreno fértil para esse tipo de inovação?

    O Brasil tem um enorme potencial para produtos e serviços disruptivos. Com o crescimento da renda da população, principalmente das classes menos favorecidas, cresce o desejo por produtos adotados pelas classes mais privilegiadas. Por exemplo, o sonho de consumo de muitos pessoas é ter um iPad ou um Galaxy. Com preços acima de R$1.000 é inviável para a maioria das pessoas das classes C, D e E. Entretanto, se o preço fosse significativamente menor muitas pessoas comprariam, mesmo com recursos mais limitados. A Índia está fabricando e vendendo tablets a partir de US$55 (imagine o tamanho do mercado só na Índia). Existem tablets no Brasil com preços que variam entre R$200 e R$300 nas lojas de importados populares. Os fabricantes nacionais (Positivo, Digibras e Philco, por exemplo) produzem tablets com preços similares aos de marcas de reputação internacional. Com isso, a competição fica muito difícil para os produtos nacionais. Acredito que estamos perdendo oportunidades nessa área e em outras por falta de iniciativas dos empresários de buscarem condições junto ao Governo e fornecedores para viabilizar produtos mais simples e baratos.

    Outra oportunidade que acabamos perdendo foi a de smartphones de mais de um chip. O mercado de celulares no Brasil se caracteriza pelo uso do serviço pré-pago. A competição entre as operadoras fez cair o preço das chamadas entre clientes da mesma operadora. Isso fez que as pessoas comprassem vários celulares (ou chips) para falar com suas comunidades de amigos. Outro dia vi um smartphone de 4 chips, wi-fi, acesso as redes sociais, Skype, câmera por R$299,00. Esse smartphone, através do Skype, permite ligações internacionais a custo extremamente baixo. Infelizmente, o produto não é nacional.

    Acredito que existam extraordinárias oportunidades para desenvolvermos produtos disruptivos para mais de 90% da população brasileira, precisamos identificar quais os produtos de desejo e desenvolvermos produtos similares com recursos essenciais para mercados de não-consumidores a preços baixo.