A tecnologia e as finanças globais

Algumas previsões indicam que o papel moeda acabará nos próximos 10 anos, substituído por transações eletrônicas, embora hoje 85% das transações globais são realizadas em dinheiro (cash).

O que sabemos é que a economia global é lenta. Já se passaram sete anos do colapso do Lehman Brothers e o mundo ainda vive uma instabilidade econômica e os riscos crescem nos mercados emergentes, como o Brasil.

O Produto Interno Bruto (PIB) projetado para 2016 é decepcionante e desigual (veja o gráfico). Ao que parece as perspectivas não são nada animadoras. Convivemos com baixa produtividade, envelhecimento da população e o legado da crise econômica de 2008.

world-GDP-2016-forecast

Por outro lado, a concentração de renda avança. Hoje 62 pessoas concentram a riqueza de 3,5 bilhões de pobres no mundo. Obvio que alguma coisa está errada. A falta de regulação do mercado financeiro leva a essas distorções.

Acredita-se que o novo modelo de crescimento chinês, colocando mais atenção ao consumo interno, e a normalização da política monetária nos Estados Unidos poderão trazer mudanças benéficas para o mundo.

Existe mais um ator importante nesse cenário – a tecnologia. As mudanças tão rápidas estão provocando a quarta revolução industrial. Não as tecnologias em si, mas a velocidade que as mudanças na sociedade e nos negócios estão provocando.

As mudanças tecnológicas assumiram um papel tão ou mais importante que a regulação dos mercados. Veja o caso do Bitcoin, uma moeda virtual com controle descentralizado. O fato de permitir transações financeiras pessoa-a-pessoa sem o uso de instituição bancaria ajuda na redução dos custos de transação e permite maior facilidade no comércio internacional. Entretanto, pode também ser utilizado para encobrir transações criminosas e o terrorismo.

Não podemos esquecer que o sistema bancário é totalmente dependente da tecnologia, baseada em sistemas legados muito antigos, pelo menos aqui no Brasil. Sabemos que os principais bancos brasileiros têm enormes desafios para substituir os sistemas antigos, ainda escritos em COBOL, por arquiteturas e sistemas mais modernos.

A extinção do dinheiro por meios eletrônicos será um avanço e evitará muitas das transações ilícitas atuais. Com a expansão do uso dos smartphone será possível a rápida adoção de sistemas de pagamentos eletrônicos. Por outro lado (sempre tem um senão) aumentam os riscos de ataques cibernéticos e maiores cuidados dos usuários sobre segurança da informação. Por exemplo, um usuário do Bitcoin reformatou seu harddisk e perdeu a senha de autenticação e teve problemas para recuperar seus bitcoins.

A adoção plena da tecnologia só será possível com a confiança das pessoas nos novos modelos financeiros e nas garantias que seus dados (e dinheiro) não serão roubados por hackers.

Acredito que o grande desafio será buscar o equilíbrio entre a tecnologia e a regulamentação do mercado financeiro, trazendo confiança para as pessoas.