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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • Google e Commonwealth Fusion Systems Apostam na Fusão Nuclear

    A Google, por meio da Alphabet, assinou o primeiro contrato corporativo de compra de energia de fusão nuclear (PPA) com a Commonwealth Fusion Systems (CFS), adquirindo 200 MW de uma usina tokamak planejada para Chesterfield, Virgínia, com operação prevista para o início dos anos 2030. A parceria inclui um novo investimento de capital na CFS, após aporte inicial em 2021, e colaboração técnica em IA para otimizar reatores. A fusão nuclear promete energia limpa e abundante, mas enfrenta desafios técnicos, como materiais resistentes a temperaturas extremas e bombardeio de nêutrons. Este briefing detalha o contexto técnico, avanços, limitações e impactos do projeto.


    Contexto Técnico

    A fusão nuclear, processo que alimenta o Sol, combina núcleos leves (como deutério e trítio) para formar hélio, liberando energia (E=mc²). Reatores tokamak, como o da CFS, usam campos magnéticos para confinar plasma a 100-150 milhões de graus Celsius, dez vezes mais quente que o núcleo solar. O objetivo é alcançar Q>1 (mais energia gerada do que consumida). O marco da ignição (Q=1,54) foi atingido pelo National Ignition Facility em 2022, mas apenas em escala experimental.

    A CFS desenvolve reatores tokamak compactos, utilizando ímãs supercondutores de alta temperatura (REBCO, óxidos de terras raras, bário e cobre) que geram campos de 20 tesla a ~20 K (-253°C). Esses ímãs permitem reatores menores, reduzindo custos e a área de exposição ao plasma. A usina ARC da CFS, alvo do acordo, visa Q≈10, gerando 200-400 MW de energia líquida.


    Detalhes do Acordo Google-CFS

    • Escopo: A Google comprará 200 MW de energia da usina ARC, localizada em Virgínia, próxima à “Data Center Alley”, maior hub de data centers do mundo. O acordo atende à crescente demanda energética da Google, impulsionada por IA (crescimento de 50% nas emissões desde 2019).
    • Investimento: Além do PPA, a Google fez um segundo aporte de capital na CFS, após US$ 1,8 bilhão levantados pela startup em 2021 (investidores incluem Bill Gates e Tiger Global).
    • Colaboração Técnica: A Google aplicará IA para otimizar o confinamento de plasma, minimizando instabilidades (disruptions) que danificam o reator. Algoritmos de machine learning podem prever pontos de ruptura no plasma, ajustando campos magnéticos em tempo real.
    • Cronograma: A CFS planeja operar o reator SPARC (teste, Q>1) em 2026 e o ARC (comercial) no início dos anos 2030.

    Avanços Técnicos

    1. Ímãs Supercondutores: Os ímãs REBCO da CFS operam com alta eficiência, reduzindo o tamanho do tokamakem relação ao ITER (diâmetro de 10 m vs. 30 m). Isso diminui custos e a exposição de materiais ao plasma.
    2. Confinamento de Plasma: A CFS atingiu campos magnéticos de 20 tesla em testes de 2021, suficientes para confinar plasma a 100 milhões de graus por minutos, um avanço sobre reatores como o JET (Reino Unido).
    3. Integração com IA: A expertise da Google em IA pode melhorar a estabilidade do plasma, reduzindo o desgaste de componentes como o divertor (que remove calor e impurezas).

    Desafios Técnicos

    1. Materiais:
      • Condições Extremas: O “primeiro muro” e o divertor enfrentam temperaturas de milhões de graus e nêutrons de 14,1 MeV (reação D-T). Materiais como tungstênio (ponto de fusão ~3.422°C) são usados, mas sofrem erosão e fragilização.
      • Soluções em Teste: Ligas de aço de baixa ativação (Eurofer) e compósitos de carboneto de silício são pesquisados, mas nenhum suporta décadas de operação contínua. Revestimentos líquidos de lítio são promissores, mas complexos.
      • Limitação: O divertor do ITER, por exemplo, exige substituição a cada poucos anos, aumentando custos.
    2. Eficiência Energética: Embora o SPARC vise Q>1, a energia líquida útil (após perdas em sistemas de resfriamento e confinamento) ainda é incerta.
    3. Escalabilidade: EscerbA conversão de reatores experimentais para comerciais exige estabilidade operacional e custos viáveis, desafios não totalmente resolvidos.

    Implicações

    • Energia Limpa: A fusão pode fornecer energia constante, limpa e abundante, superando a intermitência de solar e eólica. A CFS estima que a fusão pode suprir 50% da eletricidade global até 2050.
    • Demanda de IA: A crescente demanda energética de data centers (como os da Google) torna a fusão uma solução estratégica para emissões zero.
    • Riscos: O cronograma da CFS (início dos anos 2030) é otimista. A fusão comercial pode estar a 10-20 anos de distância, devido a desafios materiais e de engenharia.
    • Geopolítica: A China investe US$ 1,5 bilhão/ano em fusão, superando os EUA. O sucesso da CFS pode reposicionar os EUA na corrida energética global.

    Conclusão

    O acordo Google-CFS é um marco para a fusão nuclear, combinando capital, expertise em IA e uma visão de energia limpa. Avanços em ímãs supercondutores e confinamento de plasma aproximam a tecnologia da viabilidade comercial, mas desafios materiais (como a resistência do tungstênio a nêutrons) e a escalabilidade permanecem. A usina ARC pode transformar o setor energético, mas sua operação no início dos anos 2030 depende de superar barreiras técnicas significativas.

    Próximos Passos: Acompanhar os testes do SPARC em 2026 e o progresso de materiais como ligas de baixa ativação e revestimentos líquidos. A colaboração com IA pode ser um diferencial, acelerando o desenvolvimento.


    Para mais informações: Acompanhe atualizações no X (@emfagundes)

  • Riscos dos Agregadores de Dados e Segurança em Datacenters no Brasil: Certificações, Limitações e Tendências

    Riscos dos Agregadores de Dados e Segurança em Datacenters no Brasil: Certificações, Limitações e Tendências

    Como professor da disciplina Governança da Segurança Cibernética na Pós-Graduação Lato Sensu em Segurança e Inteligência Cibernética da Universidade Mackenzie, explorei com meus alunos os desafios de proteger sistemas críticos, como o Pix, que transformou os pagamentos no Brasil desde seu lançamento em 2020. Nossas discussões em sala, repletas de debates sobre a complexidade dos ecossistemas digitais, destacaram a relevância de agregadores de dados que conectam instituições ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). O ataque à C&M Software, com prejuízos estimados entre R$ 541 milhões e R$ 1 bilhão, revelou uma verdade que reforço em aula: aplicações vulneráveis podem comprometer até as infraestruturas mais robustas. Datacenters no Brasil, operados por AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies, são certificados por normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402, mas não protegem as aplicações hospedadas. Neste artigo, compartilho minha perspectiva, baseado na minha experiência profissional e acadêmica, sobre os riscos dos agregadores, suas tipologias, certificações de datacenters, limitações em aplicações e tendências – como inteligência artificial, arquiteturas híbridas/multi-cloud, automação, hiperconvergência, Zero Trust e sustentabilidade – propondo soluções práticas para prevenir incidentes como o do Pix e alinhar o Brasil às inovações globais.

    Mesmo as infraestruturas mais robustas falham diante de aplicações vulneráveis: o caso Pix é um alerta.

    Certificações de Acreditação em Datacenters no Brasil

    As certificações internacionais são fundamentais para garantir a segurança, disponibilidade, conformidade e sustentabilidade dos datacenters que suportam sistemas críticos, como o Pix. Nas minhas aulas discuto como essas normas fortalecem a infraestrutura dos datacenters que hospedam agregadores de dados, mas não protegem as aplicações, como as APIs exploradas no ataque à C&M Software. A seguir, detalho as normas ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI, ISO 14001 e ISO 50001, destacando suas características, seguidas por exemplos de aplicação em datacenters brasileiros. As tendências, como inteligência artificial, arquiteturas híbridas/multi-cloud e eficiência energética, são integradas para mostrar o futuro da segurança cibernética.

    ISO/IEC 27001: Gestão de Segurança da Informação

    A ISO/IEC 27001 é o padrão global para Sistemas de Gestão de Segurança da Informação (SGSI). Essa norma exige uma abordagem sistemática, com análise contínua de riscos, implementação de controles técnicos e organizacionais e auditorias regulares para assegurar confidencialidade, integridade e disponibilidade dos dados. Em datacenters, isso se traduz em segurança física robusta, com controles de acesso baseados em biometria e câmeras de alta resolução, além de proteção contra riscos ambientais, como incêndios ou inundações, exigindo localização a pelo menos 2 km de áreas de risco. Na esfera lógica, a norma promove criptografia ponta a ponta e autenticação multifator para proteger dados sensíveis. A integração de monitoramento preditivo via inteligência artificial é uma tendência que potencializa a detecção de anomalias em tempo real, tornando os datacenters mais resilientes contra ameaças cibernéticas.

    SOC 2: Segurança e Privacidade de Dados Sensíveis

    A SOC 2, baseada no padrão SSAE 18, é projetada para datacenters que gerenciam dados sensíveis, como os de agregadores financeiros. Essa certificação avalia cinco princípios fundamentais: segurança, disponibilidade, integridade de processamento, confidencialidade e privacidade. Em termos práticos, ela exige a implementação de firewalls avançados, monitoramento de intrusões com inteligência artificial e sistemas de backup robustos para garantir a continuidade dos serviços. Tendências como a arquitetura de rede Spine-Leaf, que reduz latência em redes de alta performance, e a segurança Zero Trust, que demanda verificação contínua de identidade, reforçam a conformidade com a SOC 2, atendendo às crescentes demandas por proteção de dados em ambientes digitais complexos.

    ISAE 3402: Controles Operacionais Confiáveis

    A ISAE 3402, adotada no Brasil como NBC TO 3402 pelo Conselho Federal de Contabilidade, é um padrão de asseguração que valida a eficácia dos controles operacionais em datacenters. Essa norma é essencial para agregadores financeiros, como os do Pix, pois fornece relatórios auditados que aumentam a confiança dos clientes. Na prática, ela abrange a gestão de backups, manutenção de equipamentos e planos de recuperação de desastres, garantindo que os serviços permaneçam confiáveis mesmo em cenários de crise. A automação é uma tendência que transforma a conformidade com a ISAE 3402, reduzindo erros humanos e agilizando processos de auditoria, o que fortalece a resiliência operacional dos datacenters.

    TSI: Segurança Física e Disponibilidade

    A TSI (Trusted Site Infrastructure), alinhada às normas ISO 22237 e EN 50600, foca na segurança física e na disponibilidade dos datacenters. Essa metodologia assegura proteção contra riscos ambientais, como inundações ou falhas de energia, e implementa sistemas redundantes de energia e redes de fibra óptica para garantir alta disponibilidade. O resfriamento líquido sustentável, como o modelo direct-to-chip, é uma tendência que reduz o consumo energético e reforça a conformidade com o TSI, alinhando segurança física com eficiência operacional em datacenters de alta densidade.

    ISO 14001 e ISO 50001: Sustentabilidade e Eficiência Energética

    As normas ISO 14001, voltada para gestão ambiental, e ISO 50001, focada em gestão de energia, são cada vez mais relevantes com a demanda por sustentabilidade em datacenters. Essas certificações incentivam o uso de energia renovável, como solar e eólica, e tecnologias de resfriamento líquido, como direct-to-chip, que otimizam o PUE (Power Usage Effectiveness), que atingiu uma média global de 1,56 em 2024. Para 2025, inovações como células de hidrogênio e sistemas de free cooling são tendências que promovem eficiência energética e reduzem a pegada de carbono, alinhando os datacenters às metas globais de sustentabilidade.

    Certificações internacionais como ISO/IEC 2700, ISAE 3402 e SOC 2 blindam o datacenter, mas não protegem as aplicações que ele hospeda.

    Aplicações no Brasil

    No Brasil, as normas descritas são amplamente aplicadas por grandes operadores de datacenters, garantindo infraestrutura robusta para suportar agregadores de dados. Os exemplos incluem:

    • A AWS, em São Paulo, possui certificações ISO/IEC 27001:2022, SOC 2 Type 2, ISAE 3402, ISO 14001 e ISO 50001, suportando serviços de inteligência artificial e nuvem com energia renovável.
    • A Equinix, com datacenters em São Paulo (SP1, SP2) e Rio de Janeiro (RJ3), adota ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402 Type II e TSI, integrando automação, segurança Zero Trust e células de hidrogênio para sustentabilidade.
    • A Ascenty, certificada em São Paulo, Campinas e Vinhedo, o maior datacenter da América Latina, segue ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI e ISO 14001, utilizando inteligência artificial para eficiência operacional e resfriamento híbrido líquido-ar.
    • A ODATA, com SP01 em São Paulo e RJ01 em São João de Meriti, alinha-se a ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI, ISO 14001 e ISO 50001, com foco em privacidade, colocation e resfriamento líquido.
    • A Scala, no Campus Tamboré em São Paulo, combina ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI, ISO 14001 e ISO 50001, com investimentos de R$ 32 bilhões e ênfase em energia renovável.
    • A Cirion Technologies, certificada em São Paulo e Rio de Janeiro, segue as mesmas normas, otimizando interconexão para 5G e edge computing com redundância e sustentabilidade.

    Tabela Resumo das Certificações

    Para facilitar a compreensão, compilei uma tabela que resume as normas, suas características, aplicações, tendências e exemplos no Brasil:

    NormaDescriçãoAplicação em DatacentersTendências 2025Exemplos no Brasil
    ISO/IEC 27001Padrão global para SGSI, exigindo análise de riscos, controles e auditorias.Segurança física (biometria, câmeras), lógica (criptografia, autenticação multifator), continuidade.Monitoramento via IA, automação.AWS (São Paulo), Equinix (SP1, SP2, RJ3), Ascenty (São Paulo, Campinas), ODATA (SP01, RJ01), Scala (Tamboré), Cirion (São Paulo, RJ).
    SOC 2Avalia segurança, disponibilidade, integridade, confidencialidade, privacidade.Firewalls, monitoramento IA, backups, redundância de energia e redes.Zero Trust, redes Spine-Leaf.AWS (São Paulo), Equinix (SP1, SP2, RJ3), Ascenty (São Paulo), ODATA (SP01, RJ01), Scala (Tamboré), Cirion (São Paulo).
    ISAE 3402Valida controles operacionais, com relatórios auditados (NBC TO 3402 no Brasil).Gestão de backups, manutenção, recuperação de desastres.Automação para conformidade.AWS (São Paulo), Equinix (SP1, SP2, RJ3), Ascenty (São Paulo), ODATA (SP01, RJ01), Scala (Tamboré), Cirion (São Paulo).
    TSIFoca em segurança física e disponibilidade (ISO 22237, EN 50600).Proteção contra riscos ambientais, redundância de energia e redes.Resfriamento líquido sustentável.Equinix (RJ3, SP1), Ascenty (Vinhedo), ODATA (SP01), Scala (Tamboré).
    ISO 14001, ISO 50001Gestão ambiental e energética, promovendo sustentabilidade.Energia renovável (solar, eólica), resfriamento líquido, PUE otimizado (1,56 em 2024).Células de hidrogênio, free cooling.AWS (São Paulo), Equinix (SP1, SP2), Ascenty (Campinas), ODATA (SP01, RJ01), Scala (Tamboré), Cirion (São Paulo).

    O que são Agregadores de Dados?

    Agregadores de dados são empresas ou plataformas especializadas em coletar, integrar, processar e distribuir informações, funcionando como elos essenciais em cadeias digitais complexas. No contexto do Pix, empresas como C&M Software conectam instituições financeiras menores ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), permitindo transações instantâneas que transformaram o cenário financeiro brasileiro desde 2020. Esses agregadores são a espinha dorsal de setores como finanças, seguros, serviços de crédito, cadeias de fornecedores e logística, mas, como destaco em sala, sua dependência de aplicações vulneráveis cria riscos significativos.

    As funções principais dos agregadores podem ser divididas em três pilares fundamentais:

    • Integração de sistemas: Agregadores conectam plataformas legadas, muitas vezes baseadas em tecnologias obsoletas, a infraestruturas modernas, como o SPB ou sistemas de logística em tempo real. Por exemplo, no Pix, a C&M Software integra bancos menores a uma rede que exige alta disponibilidade e compatibilidade com padrões do Banco Central.
    • Processamento de dados: Eles gerenciam grandes volumes de informações sensíveis, como dados bancários, históricos de crédito, informações pessoais ou rastreamento logístico. Esse processamento exige robustez para lidar com picos de tráfego, como os milhões de transações diárias do Pix, que atingiram 3 bilhões em 2024, segundo o Banco Central.
    • Intermediação regulatória: Agregadores facilitam a comunicação com sistemas regulatórios, garantindo conformidade com normas do Banco Central, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou de órgãos internacionais. No caso do Pix, isso inclui a validação de transações em conformidade com a Resolução CMN 4.893/2021.

    Esses agregadores operam em data centers de alto padrão no Brasil, como os da AWS (São Paulo), Equinix (SP1, SP2, RJ3), Ascenty (Vinhedo, Campinas), ODATA (SP01, RJ01), Scala (Campus Tamboré) e Cirion Technologies (São Paulo, Rio de Janeiro), que são certificados por normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402. No entanto, como enfatizo em minhas aulas, a segurança robusta desses datacenters – com controles físicos, criptografia avançada e redundância – não se estende às aplicações hospedadas. Por exemplo, o ataque à C&M Software em 2025 explorou vulnerabilidades em APIs, não na infraestrutura do datacenter, revelando uma lacuna crítica. Essa desconexão entre a segurança da infraestrutura e a fragilidade das aplicações é um tema recorrente em minhas discussões com alunos, especialmente quando analisamos sistemas críticos como o Pix.

    Agregadores são a espinha dorsal digital de setores críticos — mas suas vulnerabilidades também os tornam alvos preferenciais.

    Além disso, agregadores enfrentam desafios adicionais no Brasil, onde sistemas legados ainda predominam. Muitas empresas, especialmente em finanças e logística, utilizam tecnologias dos anos 1990 ou 2000, que não foram projetadas para suportar ameaças cibernéticas modernas, como ataques de injeção de código ou exploração de credenciais. Costumo destacar que a modernização dessas aplicações é essencial, mas exige investimentos significativos, algo que nem todos os agregadores priorizam. A integração com tendências como inteligência artificial (IA) para monitoramento de ameaças, arquiteturas multi-cloud para resiliência e segurança Zero Trust para autenticação rigorosa, pode mitigar esses riscos, mas exige uma abordagem proativa que ainda está em desenvolvimento no Brasil.

    Riscos Associados aos Agregadores

    Agregadores de dados são fundamentais para integrar e processar informações sensíveis em setores como finanças, seguros, serviços de crédito, cadeia de fornecedores e logística. Contudo, sua posição como intermediários em cadeias digitais os torna alvos vulneráveis, capazes de comprometer ecossistemas inteiros quando não protegidos adequadamente. O ataque à C&M Software, ocorrido em 30 de junho de 2025, explorou credenciais roubadas para acessar contas de reserva no Banco Central, resultando em 166 transações fraudulentas via Pix e prejuízos estimados entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão, com R$ 541 milhões confirmados para a BMP. Esses desafios, evidentes em sistemas críticos como o Pix, vão além da infraestrutura robusta de datacenters certificados, como os da AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies. A seguir, detalho os principais riscos enfrentados pelos agregadores, com ênfase no ataque recente, e conecto esses desafios a inovações, como inteligência artificial, segurança Zero Trust, arquiteturas multi-cloud, hiperconvergência e capacitação, para propor caminhos de mitigação.

    • Controles frágeis: Falhas em autenticação e gestão de acessos são um risco crítico para agregadores. O ataque à C&M Software, iniciado em 30 de junho de 2025, é descrito como o maior ataque cibernético à infraestrutura financeira do Brasil. Hackers usaram credenciais roubadas de um funcionário que vendeu acesso por R$ 15 mil, para realizar transferências fraudulentas em menos de cinco horas (2h03 às 7h04), desviando valores convertidos parcialmente em criptomoedas como Bitcoin e USDT. Esse incidente expõe a fragilidade de sistemas sem autenticação multifator robusta, mesmo em datacenters certificados por normas como ISO/IEC 27001 e SOC 2. A segurança Zero Trust, que exige verificação contínua de identidade, está consolidada em grandes empresas globais, mas sua adoção no Brasil é incipiente devido a custos e complexidade. O monitoramento com inteligência artificial, com eficácia de 80-92% na detecção de ameaças, é mais amplamente adotado, mas ainda não universal entre agregadores menores.
    • Cadeia de suprimento: A interdependência dos agregadores amplifica o impacto de uma brecha. Como elos que conectam bancos, fintechs e outras instituições ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), uma falha em um agregador afeta todas as organizações conectadas. No ataque de junho de 2025, a C&M Software, que atua como gateway de mensagens para o Pix, comprometeu ao menos seis instituições, incluindo BMP, Banco Paulista e Credsystem, causando interrupções temporárias nos serviços de Pix. Esse efeito cascata destaca a vulnerabilidade de cadeias digitais. Arquiteturas multi-cloud, que distribuem cargas de trabalho para maior resiliência, estão em adoção inicial no Brasil, limitadas a grandes players como AWS e Equinix devido a custos elevados, mas oferecem uma solução promissora para mitigar pontos únicos de falha.
    • Engenharia social: Técnicas como phishing exploram falhas humanas em agregadores com baixa conscientização. No ataque de junho de 2025, um funcionário da C&M Software, foi abordado em março de 2025 fora de um bar e vendeu suas credenciais por R$ 5 mil, executando comandos adicionais por mais R$ 10 mil, totalizando R$ 15 mil. Ele trocava de celular a cada 15 dias para evitar rastreamento, evidenciando a sofisticação da engenharia social. No Brasil, a falta de programas robustos de capacitação aumenta a exposição. Sistemas de detecção de phishing com IA estão consolidados, mas a capacitação baseada em normas como NBC PA 12 é incipiente, com ferramentas como Keepnet ganhando tração lentamente entre agregadores menores.
    • Sistemas legados: Tecnologias obsoletas, comuns no Brasil, são incompatíveis com padrões modernos de segurança. Muitas empresas operam com sistemas dos anos 1990 ou 2000, vulneráveis a ataques como injeção de código ou exploração de APIs. Embora o ataque à C&M Software tenha explorado credenciais, sistemas legados podem ter facilitado a integração inadequada com o SPB, ampliando vulnerabilidades. A hiperconvergência, que virtualiza hardware obsoleto, está em adoção inicial no Brasil, implementada por datacenters como Scala e Ascenty, mas limitada por custos elevados. Essa tecnologia é uma solução promissora para modernização, mas exige investimentos significativos, desafiadores para agregadores menores.
    • Falta de auditorias em aplicações: A ausência de auditorias específicas em aplicações é uma lacuna crítica. Normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402 certificam a infraestrutura de datacenters, mas não as aplicações, como APIs ou softwares personalizados. O ataque à C&M Software explorou APIs mal configuradas, permitindo acesso a contas de reserva em poucas horas. Testes de penetração e frameworks como DevSecOps, que integram segurança no desenvolvimento, estão consolidados globalmente, mas no Brasil são incipientes, adotados principalmente por grandes empresas. Sistemas SIEM com IA, que detectam falhas em tempo real, estão mais difundidos, mas sua implementação em agregadores menores é limitada por custo e expertise.

    O ataque à C&M Software escancarou como um único ponto frágil pode comprometer todo um ecossistema financeiro.

    O ataque à C&M Software, que levou à suspensão temporária de suas operações pelo Banco Central, evidencia que a segurança de datacenters certificados não compensa falhas nas aplicações dos agregadores. A recuperação de R$ 270 milhões via Mecanismo Especial de Devolução (MED 2.0) e o bloqueio de 69 transações entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões destacam a sofisticação do ataque e a importância de rastreamento avançado. Inovações como IA para monitoramento e sistemas SIEM estão consolidadas, enquanto Zero Trust, multi-cloud e hiperconvergência permanecem incipientes no Brasil. Combinar infraestrutura robusta com auditorias rigorosas em aplicações é crucial para proteger ecossistemas digitais como o Pix.

    Tabela Resumo dos Riscos Associados aos Agregadores

    Para esclarecer os leitores, compilei uma tabela que resume os riscos, suas descrições, impactos potenciais, exemplos práticos e soluções com seus status de adoção em julho de 2025:

    RiscoDescriçãoImpacto PotencialExemplo PráticoSoluções (Status em Julho de 2025)
    Controles frágeisFalhas em autenticação e gestão de acessos permitem acesso não autorizado.Comprometimento de sistemas críticos, como transações fraudulentas.Ataque à C&M Software: credenciais roubadas, prejuízos de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão.Zero Trust (incipiente no Brasil), monitoramento com IA (consolidado).
    Cadeia de suprimentoBrecha em um agregador afeta todas as instituições conectadas.Efeito cascata, comprometendo múltiplas organizações e serviços.Ataque à C&M Software afetou BMP, Banco Paulista, Credsystem.Arquiteturas multi-cloud (adoção inicial no Brasil).
    Engenharia socialPhishing explora falhas humanas devido a baixa conscientização.Acesso não autorizado via credenciais roubadas.Funcionário da C&M Software vendeu credenciais por R$ 15 mil.Detecção de phishing com IA (consolidado), capacitação (incipiente).
    Sistemas legadosTecnologias obsoletas são incompatíveis com padrões modernos de segurança.Vulnerabilidades a ataques como injeção de código ou exploração de APIs.Sistemas legados no Pix podem ter facilitado o ataque à C&M Software.Hiperconvergência (adoção inicial no Brasil).
    Falta de auditorias em aplicaçõesAplicações vulneráveis, como APIs mal configuradas, não são cobertas por certificações.Exploits em softwares personalizados comprometem sistemas.APIs mal configuradas exploradas no ataque à C&M Software.DevSecOps (incipiente no Brasil), SIEM com IA (consolidado).

    Tipos Comuns de Agregadores

    Agregadores de dados desempenham papéis essenciais em diversos setores, conectando sistemas, processando informações sensíveis e facilitando operações em cadeias digitais complexas. Cada tipo de agregador – financeiros, seguros, serviços de crédito, cadeia de fornecedores e logística – apresenta funções e riscos específicos, que vão além da segurança robusta de datacenters certificados, como os da AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies. A seguir, detalho esses tipos, seus papéis, exemplos práticos, riscos associados e soluções baseadas em inovações em julho de 2025, como inteligência artificial, segurança Zero Trust, arquiteturas multi-cloud, hiperconvergência e capacitação, que estão em diferentes estágios de adoção no Brasil.

    • Financeiros: Agregadores financeiros processam transações ou conectam instituições ao SPB, garantindo a interoperabilidade de sistemas críticos como o Pix. Exemplos incluem C&M Software e LogBank, que atuam como gateways para bancos menores e fintechs, gerenciando milhões de transações diárias – o Pix atingiu 3 bilhões de transações em 2024, segundo o Banco Central. Esses agregadores lidam com dados bancários sensíveis, como números de contas e históricos de transações, exigindo alta disponibilidade e conformidade com normas como a Resolução CMN 4.893/2021. O principal risco é a fraude financeira. Vazamentos de dados bancários também são uma ameaça, podendo expor informações de clientes. Soluções como segurança Zero Trust, ainda incipiente no Brasil devido a custos, e monitoramento com IA, consolidado com eficácia de 80-92% na detecção de ameaças, são cruciais para mitigar esses riscos, embora a adoção de Zero Trust em agregadores menores seja limitada.
    • Seguros: Agregadores no setor de seguros integram dados de clientes, como históricos médicos e financeiros, para avaliação de sinistros e cálculo de prêmios. Empresas nesta área utilizam esses sistemas para processar grandes volumes de informações, frequentemente integrando dados de terceiros, como hospitais e bureaus de crédito. Os riscos incluem a exposição de informações pessoais, que podem ser exploradas em ataques de ransomware, e a manipulação de apólices, como a alteração fraudulenta de coberturas. Um incidente hipotético, inspirado no ataque à C&M Software, poderia envolver credenciais roubadas para acessar bases de dados sensíveis, comprometendo a privacidade de milhares de segurados. Sistemas SIEM com IA, amplamente adotados, ajudam a detectar anomalias, mas a capacitação de funcionários contra phishing, baseada em normas como NBC PA 12, é incipiente no Brasil, aumentando a vulnerabilidade a ataques de engenharia social.
    • Serviços de crédito: Agregadores de serviços de crédito, como bureaus de crédito compilam históricos financeiros para avaliar a solvência de indivíduos e empresas. Eles integram dados de bancos, fintechs e varejistas, fornecendo scores de crédito que orientam decisões de empréstimo. O principal risco é o acesso não autorizado a dados de crédito, que pode resultar em roubo de identidade ou fraudes. No contexto do Pix, um ataque a um bureau poderia expor dados sensíveis de milhões de consumidores. Arquiteturas multi-cloud, em adoção inicial no Brasil, oferecem resiliência ao distribuir dados entre provedores, mas sua implementação é limitada por custos. Testes de penetração regulares, parte do framework DevSecOps, são consolidados globalmente, mas incipientes no Brasil, especialmente em agregadores menores, dificultando a proteção contra exploits.
    • Cadeia de fornecedores: Agregadores na cadeia de fornecedores gerenciam dados de suprimentos, como estoques e prazos de entrega, para otimizar cadeias de produção e distribuição. Empresas de tecnologia oferecem plataformas que integram fornecedores, fabricantes e varejistas, comuns em indústrias como automotiva e varejo. Os riscos incluem a interrupção de operações por ataques cibernéticos, como ransomware, que podem paralisar cadeias de suprimento, e a manipulação de dados, como alterações fraudulentas em pedidos. Um ataque inspirado no caso da C&M Software poderia desestabilizar a logística de uma grande varejista. A hiperconvergência, que virtualiza sistemas legados, está em adoção inicial no Brasil em datacenters como os da Scala, mas é limitada por investimentos. A automação com IA, mais consolidada, ajuda a monitorar fluxos de dados, mas a proteção total exige auditorias rigorosas.
    • Logística: Agregadores no setor de logística processam dados de rastreamento e entregas, como os usados por empresas de logística para otimizar rotas e prazos. Eles integram informações de GPS, inventário e pedidos, garantindo eficiência em cadeias de distribuição. Os riscos incluem a manipulação de rotas, que pode desviar mercadorias, e o roubo de dados sensíveis, como endereços de clientes. Um ataque similar ao da C&M Software poderia comprometer sistemas de rastreamento, facilitando roubos físicos. A automação com IA para monitoramento de rotas está consolidada, mas a segurança Zero Trust, que poderia proteger APIs de rastreamento, é incipiente no Brasil. Frameworks como DevSecOps, ainda em adoção inicial, são essenciais para auditar aplicações logísticas e prevenir exploits.

    Cada tipo de agregador depende de datacenters robustos, certificados por normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402, mas a segurança das aplicações permanece um desafio crítico. O ataque à C&M Software, que levou à suspensão temporária de suas operações pelo Banco Central, com recuperação de R$ 270 milhões via Mecanismo Especial de Devolução (MED 2.0), destaca a sofisticação dos ataques e a necessidade de soluções integradas. Inovações como IA e automação (consolidadas) e Zero Trust, multi-cloud e hiperconvergência (incipientes no Brasil), são cruciais para mitigar esses riscos e proteger ecossistemas digitais como o Pix.

    Seja no Pix, na logística ou nos seguros, cada tipo de agregador carrega riscos específicos e precisa de soluções sob medida.

    Tabela Resumo dos Tipos Comuns de Agregadores

    Para esclarecer os leitores, compilei uma tabela que resume os tipos de agregadores, suas funções, exemplos, riscos e soluções com seus status de adoção em julho de 2025:

    Tipo de AgregadorFunçãoRiscosSoluções (Status em Julho de 2025)
    FinanceirosProcessam transações ou conectam bancos ao SPB (ex.: Pix).Fraudes financeiras, vazamento de dados bancários.Zero Trust (incipiente), monitoramento com IA (consolidado).
    SegurosIntegram dados de clientes para avaliação de sinistros e prêmios.Exposição de informações pessoais, manipulação de apólices.SIEM com IA (consolidado), capacitação contra phishing (incipiente).
    Serviços de créditoCompilam históricos financeiros para scores de crédito.Acesso não autorizado a dados de crédito, roubo de identidade.Multi-cloud (adoção inicial), DevSecOps (incipiente).
    Cadeia de fornecedoresGerenciam dados de suprimentos para otimizar cadeias.Interrupção de operações, manipulação de dados de pedidos.Hiperconvergência (adoção inicial), automação com IA (consolidado).
    LogísticaProcessam dados de rastreamento e entregas.Manipulação de rotas, roubo de mercadorias ou dados.Automação com IA (consolidado), Zero Trust (incipiente).

    Limitações: Certificações Não Abrangem Aplicações

    As certificações de datacenters, como as aplicadas a instalações da AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies, asseguram a robustez da infraestrutura física e lógica, mas apresentam uma limitação significativa: elas não abrangem as aplicações hospedadas, como APIs ou softwares personalizados usados por agregadores. Essa lacuna expõe sistemas críticos a vulnerabilidades que não são mitigadas pelas normas de infraestrutura, como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402. A seguir, detalho as razões dessa limitação – escopo restrito das certificações, complexidade das aplicações, prevalência de sistemas legados e ausência de normas específicas para aplicações – e exploro soluções emergentes em julho de 2025, como frameworks de segurança integrados ao desenvolvimento, ferramentas de monitoramento avançado e modernização de sistemas, que estão em diferentes estágios de adoção no Brasil.

    • Escopo restrito: Normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402 foram projetadas para avaliar a infraestrutura dos datacenters, abrangendo aspectos como segurança física (controles de acesso biométrico, proteção contra riscos ambientais), redes (redundância de fibra óptica) e sistemas operacionais (criptografia, backups). No entanto, elas não examinam o código-fonte, a lógica de negócios ou as configurações de aplicações desenvolvidas por agregadores, como as APIs que conectam sistemas ao SPB. Essa restrição significa que uma aplicação mal projetada, como uma API com permissões excessivas, pode ser explorada mesmo em um datacenter altamente seguro. Frameworks como DevSecOps, que incorporam segurança em todas as fases do desenvolvimento de software, estão consolidados em mercados globais, mas no Brasil, sua adoção é limitada por custos e falta de profissionais qualificados, deixando muitas aplicações vulneráveis a exploits.
    • Complexidade de aplicações: As aplicações personalizadas usadas por agregadores variam amplamente em arquitetura, linguagens de programação (como Java, Python ou C#) e integrações com sistemas externos, como plataformas de pagamento ou bases de dados de terceiros. Essa diversidade dificulta a criação de padrões universais para auditorias, ao contrário da infraestrutura, que segue especificações mais uniformes. Por exemplo, uma API mal configurada pode conter vulnerabilidades como validação insuficiente de entradas, permitindo ataques como injeção de SQL ou cross-site scripting (XSS). Ferramentas de análise estática de código, como SonarQube, estão disponíveis para identificar falhas em aplicações, mas sua implementação no Brasil é incipiente, especialmente em agregadores menores, que muitas vezes carecem de recursos para testes regulares de segurança.
    • Sistemas legados: Muitas aplicações hospedadas em datacenters certificados são baseadas em sistemas legados, desenvolvidos décadas atrás e incompatíveis com padrões modernos de segurança, como autenticação baseada em tokens ou criptografia avançada. No Brasil, esses sistemas são comuns em setores como finanças e seguros, onde agregadores integram tecnologias dos anos 1990 ou 2000 a plataformas modernas. Essas aplicações são vulneráveis a ataques sofisticados, como exploração de APIs desatualizadas, que não são cobertos pelas certificações de infraestrutura. A hiperconvergência, que permite virtualizar e modernizar sistemas legados, está em adoção inicial em datacenters como os da Scala e Ascenty, mas sua implementação em agregadores menores é restrita por altos custos e complexidade técnica, limitando a mitigação desse risco.
    • Ausência de normas específicas: Diferentemente da infraestrutura, que conta com normas bem definidas como ISO/IEC 27001, não há frameworks amplamente adotados para auditar a segurança de aplicações personalizadas. Iniciativas como o OWASP Top Ten, que identifica vulnerabilidades comuns em aplicações web, são usadas globalmente, mas no Brasil, sua aplicação é limitada, especialmente em empresas com recursos restritos. A falta de padrões específicos dificulta a identificação de falhas em aplicações, como configurações inadequadas ou código vulnerável. Ferramentas como Burp Suite para testes de penetração e scanners de vulnerabilidades, como Nessus, estão consolidadas em mercados globais, mas no Brasil, sua adoção é incipiente, dificultando a proteção de aplicações hospedadas em datacenters certificados.

    As certificações protegem a infraestrutura dos datacenters — mas não o código: APIs e softwares permanecem expostos sem auditorias específicas.

    A limitação das certificações em não abranger aplicações exige uma abordagem integrada para proteger sistemas críticos. Soluções como DevSecOps e ferramentas de análise de código estão consolidadas globalmente, mas no Brasil, enfrentam barreiras de custo e expertise. A hiperconvergência e normas como OWASP, embora promissoras, permanecem em adoção inicial. Para superar essas lacunas, é essencial investir em auditorias regulares de aplicações, modernização de sistemas legados e adoção de ferramentas de segurança, complementando a robustez dos datacenters certificados.

    Tendências e Impactos na Segurança

    As inovações atuais em segurança cibernética estão transformando a proteção de agregadores e datacenters no Brasil, oferecendo soluções robustas para mitigar riscos em setores como finanças, seguros, serviços de crédito, cadeia de fornecedores e logística. Essas tecnologias, em diferentes estágios de adoção – algumas consolidadas globalmente, como inteligência artificial, e outras incipientes no Brasil, como segurança Zero Trust – fortalecem a resiliência de datacenters operados por empresas como AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies. A seguir, detalho seis inovações principais – inteligência artificial e machine learning, arquiteturas híbridas e multi-cloud, automação e hiperconvergência, segurança Zero Trust, sustentabilidade e eficiência energética, e edge computing – explorando seus impactos, aplicações em datacenters brasileiros e exemplos práticos que ilustram seu potencial para proteger sistemas críticos.

    • Inteligência Artificial (IA) e Machine Learning: A inteligência artificial e o machine learning revolucionam a segurança cibernética ao permitir a detecção proativa de ameaças em tempo real. Essas tecnologias analisam grandes volumes de dados para identificar anomalias, como tentativas de acesso não autorizado ou padrões de tráfego suspeitos, antes que se tornem incidentes. Em datacenters, sistemas SIEM (Security Information and Event Management) integrados com IA alcançam taxas de detecção de 80-92%, superando sistemas tradicionais (30-60%). No Brasil, datacenters da Ascenty em Campinas utilizam IA para monitoramento preditivo, ajustando sistemas de resfriamento e energia com base em padrões de uso. A ODATA implementa IA em SP01 para detectar intrusões em redes, enquanto a AWS integra machine learning em serviços de segurança para análise comportamental. Por exemplo, sensores inteligentes em datacenters da Equinix em São Paulo (SP1) monitoram variações de temperatura e tentativas de acesso físico, ajustando controles automaticamente. Embora consolidada globalmente, a implementação de IA em agregadores menores no Brasil é limitada por custos e expertise, exigindo maior disseminação.
    • Arquiteturas Híbridas e Multi-Cloud: Arquiteturas híbridas e multi-cloud combinam ambientes on-premises, nuvem pública e privada, oferecendo redundância e resiliência contra ataques concentrados, como ransomware ou DDoS. Essas arquiteturas distribuem cargas de trabalho entre múltiplos provedores, reduzindo o impacto de falhas em um único sistema. No Brasil, a Scala suporta arquiteturas multi-cloud no Campus Tamboré, integrando provedores como AWS e Azure para agregadores financeiros. A Cirion Technologies, em São Paulo, utiliza configurações híbridas para garantir alta disponibilidade em serviços de interconexão. Por exemplo, um agregador de serviços de crédito, como um bureau, pode usar multi-cloud para armazenar dados sensíveis em diferentes provedores, minimizando riscos de indisponibilidade. No Brasil, a adoção dessas arquiteturas é incipiente, limitada a grandes players devido a custos elevados, mas sua escalabilidade e resiliência são cruciais para proteger sistemas críticos em setores de alta demanda.
    • Automação e Hiperconvergência: A automação reduz erros humanos em processos de segurança, como configuração de firewalls ou aplicação de patches, enquanto a hiperconvergência virtualiza servidores, armazenamento e redes, facilitando a modernização de sistemas legados. Em datacenters, a automação agiliza respostas a incidentes, como bloqueio automático de IPs maliciosos, e a hiperconvergência simplifica a gestão de infraestruturas complexas. A Ascenty, em Vinhedo, utiliza hiperconvergência para otimizar sistemas legados de agregadores logísticos, enquanto a ODATA implementa automação em SP01 para gerenciar cargas de trabalho em tempo real. Por exemplo, robôs de software em datacenters da Scala ajustam dinamicamente alocação de recursos, reduzindo vulnerabilidades causadas por configurações manuais. No Brasil, a hiperconvergência está em adoção inicial, restrita por investimentos, enquanto a automação é mais consolidada, mas sua aplicação em agregadores menores ainda enfrenta barreiras de custo e treinamento.
    • Segurança Zero Trust: O modelo Zero Trust, baseado no princípio “nunca confiar, sempre verificar”, exige autenticação contínua para todos os usuários e dispositivos, mitigando riscos de acesso não autorizado. Em datacenters, isso se traduz em criptografia ponta a ponta, segmentação de redes e validação de identidade em tempo real. A Equinix integra Zero Trust em SP1 e SP2, usando segmentação para isolar workloads sensíveis, enquanto a AWS aplica autenticação baseada em tokens em São Paulo. Por exemplo, um agregador de seguros pode usar Zero Trust para proteger APIs que acessam dados de clientes, evitando acessos indevidos. Globalmente consolidada, a segurança Zero Trust é incipiente no Brasil devido à complexidade de implementação e custos, especialmente em agregadores menores, mas sua adoção é essencial para proteger sistemas críticos em cadeias digitais.
    • Sustentabilidade e Eficiência Energética: A sustentabilidade fortalece a resiliência operacional ao reduzir custos e minimizar interrupções por falhas energéticas. Tecnologias como energia renovável (solar, eólica) e resfriamento líquido (direct-to-chip) otimizam o PUE (Power Usage Effectiveness), com valores próximos de 1,56 em datacenters avançados. No Brasil, a ODATA utiliza energia solar em SP01, enquanto a Scala adota resfriamento líquido no Campus Tamboré. A Ascenty, em Campinas, combina energia renovável com sistemas de free cooling para maior eficiência. Por exemplo, datacenters da AWS em São Paulo, certificados com ISO 14001 e ISO 50001, usam painéis solares para reduzir a pegada de carbono, garantindo operações contínuas durante picos de demanda. A sustentabilidade está consolidada em grandes datacenters, mas sua adoção em agregadores menores é limitada por investimentos iniciais, embora seja um diferencial competitivo.
    • Edge Computing: A computação de borda processa dados próximo ao usuário, reduzindo latência e aprimorando a segurança em aplicações de alta demanda, como logística e finanças. Microdatacenters próximos a centros urbanos suportam dispositivos IoT e serviços de baixa latência. No Brasil, a Equinix expande microdatacenters em São Paulo (RJ3), enquanto a Cirion foca em edge computing para interconexão 5G. A Ascenty, em Campinas, suporta agregadores logísticos com edge computing para rastreamento em tempo real. Por exemplo, um agregador de logística pode processar dados de GPS em microdatacenters, minimizando atrasos e riscos de manipulação de rotas. Embora consolidado globalmente, o edge computing é incipiente no Brasil devido à infraestrutura limitada, mas sua expansão é vital para setores que exigem baixa latência.

    IA, multi-cloud, hiperconvergência e Zero Trust já desenham o futuro da segurança digital, mas sua adoção no Brasil ainda engatinha

    Essas inovações, em diferentes estágios de adoção no Brasil, fortalecem a segurança de agregadores e datacenters, mas exigem integração com auditorias rigorosas de aplicações para máxima eficácia. A combinação de tecnologias consolidadas, como IA e automação, com soluções incipientes, como Zero Trust e edge computing, é essencial para proteger cadeias digitais e garantir a resiliência de sistemas críticos.

    Recomendações para Melhorar a Segurança

    Agregadores de dados, essenciais em setores como finanças, seguros, serviços de crédito, cadeia de fornecedores e logística, enfrentam riscos significativos devido à sua posição como intermediários em cadeias digitais. Para mitigar essas vulnerabilidades e fortalecer a segurança, é crucial adotar práticas que complementem a robustez dos datacenters operados por empresas como AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies. As recomendações a seguir, baseadas em inovações atuais em diferentes estágios de adoção no Brasil – algumas consolidadas, como inteligência artificial, e outras incipientes, como segurança Zero Trust – oferecem um caminho para proteger sistemas críticos. A seguir, detalho nove estratégias, incluindo auditorias específicas, adoção de normas, regulamentação atualizada, monitoramento avançado, capacitação, modernização de sistemas, fortalecimento de infraestrutura, parcerias com datacenters certificados e edge computing, com aplicações práticas e exemplos em datacenters brasileiros.

    • Auditorias Específicas para Aplicações: Para superar a limitação das certificações de datacenters, que não abrangem aplicações, é essencial desenvolver frameworks para auditar APIs e softwares personalizados. Essas auditorias devem incluir testes de penetração regulares para identificar vulnerabilidades como validação inadequada de entradas ou permissões excessivas. No Brasil, a adoção de frameworks como DevSecOps, que integra segurança ao desenvolvimento de software, é incipiente devido à falta de expertise, mas datacenters como os da AWS em São Paulo já utilizam ferramentas como SonarQube para análise estática de código. Por exemplo, um agregador financeiro pode implementar testes automatizados para APIs, garantindo conformidade com padrões de segurança, como os do OWASP Top Ten, e prevenir exploits que comprometam dados sensíveis.
    • Adoção de Normas Internacionais: Exigir que agregadores sigam normas como ISO/IEC 27001, SOC 2 e ISAE 3402, alinhadas à NBC TO 3402 no Brasil, fortalece a governança de segurança. Além disso, a norma ISA 402 pode ser aplicada para auditar instituições que dependem de agregadores, garantindo controles robustos em toda a cadeia. Datacenters da Equinix, em SP1 e RJ3, combinam múltiplas certificações para suportar agregadores em setores como finanças e seguros. Por exemplo, um agregador de serviços de crédito hospedado em um datacenter da Ascenty pode adotar SOC 2 para proteger dados sensíveis, enquanto auditorias baseadas em ISA 402 asseguram a confiabilidade dos processos de terceiros, reduzindo riscos operacionais.
    • Regulamentação Atualizada: Atualizar regulamentações nacionais para incluir requisitos específicos para auditorias de aplicações é fundamental. Incorporar padrões como segurança Zero Trust e incentivos para automação pode fortalecer a proteção de agregadores. No Brasil, regulamentações como a LGPD já exigem proteção de dados pessoais, mas carecem de diretrizes específicas para APIs. Por exemplo, um agregador de logística pode se beneficiar de normas que obriguem testes regulares de segurança em aplicações, inspiradas em padrões globais como o NIST 800-53, garantindo maior resiliência contra ataques cibernéticos. Embora incipiente, a regulamentação de segurança de aplicações está ganhando tração em setores regulados.
    • Monitoramento com IA e SIEM: Sistemas SIEM (Security Information and Event Management) integrados com inteligência artificial permitem monitoramento em tempo real, identificando anomalias como tentativas de acesso não autorizado. No Brasil, datacenters da Ascenty em Campinas utilizam IA para detectar padrões suspeitos em tráfego de rede, enquanto a ODATA em SP01 implementa SIEM para proteger workloads de agregadores. Por exemplo, um agregador de cadeia de fornecedores pode usar sistemas SIEM para monitorar fluxos de dados em tempo real, bloqueando atividades maliciosas antes que causem interrupções. A IA está consolidada em grandes datacenters, mas sua adoção em agregadores menores é limitada por custos e treinamento.
    • Capacitação e Conscientização: Treinamentos baseados em normas como NBC PA 12, focados em proteção contra engenharia social e adoção de práticas como Zero Trust, são essenciais para reduzir falhas humanas. No Brasil, a capacitação é incipiente, mas datacenters como os da Scala promovem campanhas para conscientizar agregadores sobre ameaças como phishing. Por exemplo, um agregador de seguros pode implementar simulações de phishing com ferramentas como Keepnet, fortalecendo a resiliência de funcionários contra ataques que exploram credenciais. A disseminação de programas de treinamento é crucial para complementar soluções técnicas.
    • Modernização de Sistemas: Substituir sistemas legados por APIs modernas, como RESTful com autenticação baseada em tokens, reduz vulnerabilidades inerentes a tecnologias obsoletas. Datacenters da AWS em São Paulo suportam arquiteturas modernas para agregadores, enquanto a Ascenty em Vinhedo utiliza hiperconvergência para virtualizar sistemas legados. Por exemplo, um agregador de serviços de crédito pode migrar de sistemas monolíticos para APIs REST seguras, minimizando riscos de injeção de código. A hiperconvergência, embora em adoção inicial no Brasil, é uma solução promissora para modernizar aplicações sem interrupções significativas.
    • Fortalecimento da Infraestrutura: Investir em datacenters com práticas avançadas, como redundância de anéis de fibra óptica, sustentabilidade com energia renovável e resfriamento líquido, e segurança com Zero Trust e criptografia, é essencial. A Equinix, em SP1, utiliza anéis de fibra para alta disponibilidade, enquanto a ODATA em SP01 adota resfriamento líquido direct-to-chip. A Cirion em São Paulo implementa criptografia ponta a ponta, e a Ascenty em Vinhedo otimiza o PUE com certificações ISO 14001 e TSI. Por exemplo, um agregador financeiro hospedado em um datacenter da Scala pode se beneficiar de redundância de energia e redes, garantindo continuidade mesmo em cenários de crise.
    • Parcerias com Datacenters Certificados: Priorizar datacenters com certificações como ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI, ISO 14001 e ISO 50001 assegura uma infraestrutura robusta. No Brasil, datacenters como os da Scala no Campus Tamboré oferecem múltiplas certificações, suportando agregadores em setores críticos. Por exemplo, um agregador de logística pode firmar contratos com a Ascenty para hospedar aplicações em um ambiente certificado, garantindo conformidade e segurança física. Essas parcerias são consolidadas em grandes empresas, mas requerem maior adoção por agregadores menores.
    • Edge Computing para Agregadores: O edge computing, que processa dados próximo ao usuário, reduz latência e aprimora a segurança em aplicações de alta demanda. No Brasil, a Ascenty em Campinas suporta agregadores logísticos com microdatacenters para IoT, enquanto a Cirion expande edge computing para interconexão 5G. Por exemplo, um agregador de logística pode usar microdatacenters para processar dados de rastreamento em tempo real, minimizando riscos de manipulação de rotas. Embora incipiente no Brasil devido à infraestrutura limitada, o edge computing é essencial para setores que exigem baixa latência.

    Somente a integração de auditorias, normas, capacitação e inovação tecnológica pode blindar os agregadores brasileiros.

    Essas recomendações, combinando inovações consolidadas como IA e automação com soluções incipientes como Zero Trust e edge computing, fortalecem a segurança de agregadores e datacenters. A integração de auditorias de aplicações, regulamentações atualizadas e parcerias estratégicas é crucial para proteger cadeias digitais e garantir a resiliência de sistemas críticos.

    Conclusão

    Agregadores de dados são vitais, mas vulneráveis devido a controles frágeis em aplicações, mesmo em datacenters certificados. Operadores no Brasil, como AWS, Equinix, Ascenty, ODATA, Scala e Cirion Technologies, oferecem infraestrutura robusta com certificações ISO/IEC 27001, SOC 2, ISAE 3402, TSI, ISO 14001 e 50001, mas não cobrem aplicações, como evidenciado pelo ataque à C&M Software. Tendências como IA, arquiteturas híbridas/multi-cloud, automação, hiperconvergência, Zero Trust e sustentabilidade, oferecem soluções para mitigar riscos. Este artigo, baseado na expertise do autor como professor da Mackenzie, propõe auditorias específicas, regulamentações atualizadas, monitoramento com IA, capacitação, modernização e parcerias com datacenters certificados para proteger ecossistemas digitais no Brasil.

  • O que o Setor de Energia pode aprender com o Ataque ao PIX

    O que o Setor de Energia pode aprender com o Ataque ao PIX

    O setor de energia elétrica brasileiro enfrenta um momento crítico, com a digitalização impulsionada pela Portaria Normativa nº 111/2025 e a abertura do mercado livre pela Medida Provisória (MP) nº 1.300/2025, que amplificam a exposição a ciberameaças. O ataque ao Pix em julho de 2025, que desviou entre R$ 400 milhões e R$ 1 bilhão explorando vulnerabilidades na C&M Software, serve como um alerta alarmante: sistemas SCADA (Supervisory Control and Data Acquisition), essenciais para o controle de geração, transmissão e distribuição de energia, são alvos prioritários para ataques que podem causar apagões, danos físicos e impactos econômicos devastadores. Os cortes orçamentários na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), reduzindo seu orçamento para R$ 117 milhões em 2025, limitam a fiscalização e a resposta a incidentes, transferindo a responsabilidade de segurança para as empresas. A crise de formação de engenheiros eletricistas, com um déficit de 75 mil profissionais, agrava a situação, comprometendo a capacidade de gerenciar sistemas complexos e implementar medidas de cibersegurança.

    Sistemas SCADA enfrentam vulnerabilidades como software desatualizado, autenticação fraca, falta de criptografia e segmentação inadequada de rede, riscos evidenciados por incidentes como o ataque à Enel em Goiás (2018) e tentativas contra a Usina de Itaipu (2017). A adoção de tecnologias como o protocolo DNP3 Secure Authentication (DNP3-SA) e agentes de inteligência artificial (IA) oferecem soluções promissoras, como detecção de anomalias e resposta automatizada, mas exige auditorias rigorosas para garantir eficácia. A crise de formação, com currículos acadêmicos desatualizados e alta evasão, limita a disponibilidade de profissionais capacitados em IA e cibersegurança, aumentando a vulnerabilidade do setor.

    Sugestões para Mitigar Riscos

    1. Realizar Auditorias de Segurança Cibernética: Implementar auditorias regulares para mapear ativos, identificar vulnerabilidades e verificar controles de segurança, alinhadas ao NIST SP 800-82 e IEC 62443. Auditorias especializadas são essenciais para proteger sistemas SCADA.
    2. Fortalecer Controles de Acesso e Criptografia: Adotar autenticação multifator (MFA) e criptografia TLS para comunicações, conforme IEC 62351-3, evitando falhas como as do ataque ao Pix.
    3. Investir em Capacitação Profissional: Desenvolver programas de treinamento em cibersegurança e IA, em parceria com universidades e empresas, para suprir o déficit de engenheiros eletricistas.
    4. Adotar Agentes de IA: Integrar IA para detecção de anomalias e manutenção preditiva, com auditorias para garantir conformidade com o Projeto de Lei nº 2.338/2023.
    5. Compensar a Redução da Fiscalização da ANEEL: Estabelecer parcerias público-privadas para financiar iniciativas de segurança, como os programas de P&D da ANEEL.

    A urgência de agir é clara. As empresas devem investir em auditorias de segurança cibernética para evitar um “Pix energético” – um ataque devastador ao setor elétrico. Neste artigo compartilho um pouco da minha experiencia em soluções que podem proteger infraestruturas críticas, garantindo resiliência e continuidade.

    Compreendendo os Sistemas SCADA

    Sistemas SCADA são plataformas de automação projetadas para coletar, processar e analisar dados em tempo real de dispositivos remotos, como sensores, atuadores e unidades terminais remotas (RTUs). No setor de energia elétrica, esses sistemas são fundamentais para diversas funções operacionais, incluindo:

    • Monitoramento de usinas de geração, abrangendo fontes hidrelétricas, termelétricas, eólicas e solares, garantindo a continuidade do fornecimento.
    • Controle de redes de transmissão e distribuição, permitindo ajustes dinâmicos para equilibrar cargas e evitar falhas.
    • Gerenciamento de recursos energéticos distribuídos (REDs), como painéis solares residenciais, que integram fontes renováveis às redes inteligentes (smart grids).
    • Suporte a sistemas de auto-restabelecimento (self-healing), que detectam e corrigem falhas automaticamente, minimizando interrupções.

    A arquitetura típica de um sistema SCADA inclui estações mestras, que centralizam o controle, e dispositivos de campo, conectados por redes de comunicação como o protocolo DNP3 (Distributed Network Protocol 3). A crescente adoção de operações remotas, com computadores locais enviando dados para serviços de nuvem, aumenta a eficiência, mas também introduz pontos de vulnerabilidade. A Portaria 111/2025, que estabelece a digitalização das redes de distribuição até 2035, intensifica essa interconectividade ao promover a substituição de medidores analógicos por medidores inteligentes (smart meters), ampliando a superfície de ataque.

    Riscos Cibernéticos em Sistemas SCADA

    Sistemas SCADA enfrentam vulnerabilidades significativas devido a arquiteturas legadas e à integração com tecnologias modernas. As principais vulnerabilidades incluem:

    • Software e Hardware Desatualizados: Muitos sistemas SCADA no Brasil operam em plataformas baseadas em Windows, frequentemente versões sem suporte, como o Windows XP ou Server 2003, suscetíveis a exploits conhecidos. O ataque Stuxnet de 2010, que explorou vulnerabilidades em sistemas industriais, é um exemplo clássico, comprometendo centrífugas nucleares no Irã.
    • Autenticação Fraca: A ausência de autenticação multifator (MFA) e o uso de senhas padrão ou fracas facilitam acessos não autorizados. O ataque ao Pix em 2025, que explorou credenciais comprometidas, ilustra como a má gestão de autenticação pode ser devastadora.
    • Falta de Criptografia: Comunicações não criptografadas, comuns em sistemas SCADA legados, permitem interceptação e manipulação de dados por meio de ataques como “man-in-the-middle”.
    • Segmentação de Rede Insuficiente: Redes mal segmentadas possibilitam que atacantes se movam lateralmente após comprometer um dispositivo, acessando sistemas críticos.

    Os tipos de ataques mais comuns incluem:

    • Ransomware: Bloqueia sistemas e exige resgates, como observado em ataques à Light S.A., Copel e Eletrobras, que enfrentaram interrupções significativas.
    • Ataques de Negação de Serviço (DDoS): Sobrecarregam sistemas SCADA, causando interrupções no fornecimento de energia, como ocorreu no ataque à rede elétrica da Ucrânia em 2015, que deixou 225.000 consumidores sem energia.
    • Ameaças Persistentes Avançadas (APTs): Ataques direcionados de longo prazo, frequentemente patrocinados por estados ou grupos organizados, buscam comprometer infraestruturas críticas.
    • Ameaças Internas: Funcionários ou contratados com acesso privilegiado podem causar danos intencionais ou acidentais, amplificados por falta de treinamento ou controles inadequados.

    Estudos de caso no Brasil reforçam a gravidade desses riscos:

    • Ataque à Enel em Goiás (2018): Um ciberataque comprometeu sistemas de gerenciamento, causando interrupções no fornecimento de energia para milhares de consumidores.
    • Tentativa de Ataque à Usina de Itaipu (2017): Hackers tentaram invadir sistemas de controle, mas foram impedidos por medidas de segurança robustas.
    • Ransomware em Empresas Brasileiras: Ataques à Light S.A., Copel e Eletrobras exigiram esforços intensivos para restaurar sistemas sem pagamento de resgates, destacando a necessidade de defesas proativas.

    Impacto das Novas Regulamentações

    O setor elétrico brasileiro está em transformação com a introdução de duas regulamentações fundamentais:

    • Medida Provisória nº 1.300/2025: Publicada em maio de 2025, a MP promove a abertura do mercado livre, permitindo que consumidores com tensão inferior a 2,3 kV escolham seus fornecedores a partir de março de 2027. Essa abertura incentiva a entrada de novos players, que podem introduzir soluções de conectividade baseadas em APIs, semelhantes às usadas pela C&M Software no ataque ao Pix. Embora isso fomente a competição, também aumenta a complexidade das redes e os pontos de vulnerabilidade, exigindo normas mais rigorosas para sistemas de integração de dados.
    • Portaria Normativa nº 111/2025: Publicada em 18 de junho de 2025, a portaria estabelece diretrizes para a digitalização das redes de distribuição de baixa tensão até 2035, com foco na substituição de medidores analógicos por smart meters. Esses dispositivos permitem monitoramento em tempo real, mas ampliam a superfície de ataque ao conectar sistemas SCADA a redes externas, incluindo serviços de nuvem. A portaria menciona requisitos mínimos de cibersegurança, como conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), mas a implementação depende de regulamentações futuras da ANEEL, que podem ser limitadas pelos cortes orçamentários.

    Essas regulamentações, embora promissoras, requerem uma abordagem robusta de cibersegurança para mitigar os riscos associados à maior interconectividade e à entrada de novos players.

    Impacto dos Cortes Orçamentários na ANEEL

    Os cortes orçamentários anunciados em 2025 reduzem o orçamento da ANEEL de R$ 239,76 milhões solicitados para R$ 117 milhões, o mesmo valor de 2016, sem ajuste por inflação. Essas restrições têm implicações graves para a segurança cibernética do setor elétrico:

    • Redução da Fiscalização: A dispensa de 145 trabalhadores terceirizados e a redução do horário de funcionamento para 8h-14h a partir de julho de 2025 limitam a capacidade da ANEEL de auditar a conformidade com normas como a Resolução Normativa (RN) nº 964/2021, que exige medidas de cibersegurança em ambientes de tecnologia operacional (OT). Isso pode permitir que vulnerabilidades em sistemas SCADA passem despercebidas, aumentando o risco de ataques.
    • Interrupção da Ouvidoria: A suspensão do serviço de ouvidoria, essencial para receber notificações de incidentes, dificulta a detecção e resposta rápidas a ciberameaças, potencialmente escalando pequenos incidentes em crises maiores.
    • Perda de Expertise: A saída de funcionários experientes compromete o conhecimento institucional necessário para gerenciar riscos cibernéticos complexos, enquanto a sobrecarga nos remanescentes aumenta a probabilidade de erros humanos, como configurações inadequadas.
    • Atrasos no Desenvolvimento de TI: A limitação de recursos para sistemas de TI pode atrasar atualizações de segurança, patches para vulnerabilidades e a adoção de tecnologias avançadas, como agentes de IA, deixando o setor mais exposto.

    Esses cortes transferem a responsabilidade de segurança para as empresas do setor, tornando auditorias cibernéticas conduzidas por especialistas externos uma necessidade urgente para preencher as lacunas deixadas pela ANEEL.

    A Crise de Formação de Engenheiros Eletricistas no Brasil

    O setor elétrico brasileiro enfrenta uma crise significativa na formação de engenheiros eletricistas, com um déficit estimado de 75 mil profissionais, conforme apontado por uma pesquisa da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) publicada em junho de 2025. Essa escassez compromete a capacidade do setor de gerenciar sistemas SCADA e implementar medidas de cibersegurança, agravando os riscos em um contexto de crescente digitalização e interconectividade.

    Déficit de Profissionais e Impacto no Setor

    O Brasil forma menos da metade dos engenheiros eletricistas necessários para atender à demanda do setor elétrico. Universidades como a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Unopar oferecem programas robustos, com disciplinas como Cálculo Diferencial, Eletrônica e Automação Industrial, mas a quantidade de egressos é insuficiente. A desvalorização da profissão, com descumprimento do piso salarial estabelecido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), desmotiva novos ingressantes e leva à evasão de talentos para mercados internacionais. Essa crise limita a implementação de soluções de cibersegurança, como autenticação multifator e criptografia TLS, essenciais para proteger sistemas SCADA contra ataques como o do Pix.

    Implicações para a Segurança Cibernética

    A complexidade dos sistemas SCADA exige profissionais com conhecimento em eletrônica, automação e cibersegurança. A falta de engenheiros qualificados aumenta a vulnerabilidade a ataques, como os sofridos pela Enel (2018) e tentativas contra Itaipu (2017) [5]. A redução da fiscalização da ANEEL, devido aos cortes orçamentários, intensifica a necessidade de equipes capacitadas nas empresas para gerenciar riscos. A ausência de profissionais para configurar e monitorar sistemas, como o protocolo DNP3-SA, pode levar a falhas semelhantes às do ataque ao Pix, onde configurações inadequadas permitiram exploração prolongada.

    Desafios na Formação Acadêmica

    Os currículos de Engenharia Elétrica, embora abrangentes, frequentemente não acompanham inovações como IA e cibersegurança. Disciplinas tradicionais, como Circuitos Elétricos, são essenciais, mas a falta de ênfase em tópicos como DNP3-SAv6 e segurança de redes limita a preparação dos egressos. A alta evasão, devido à dificuldade das disciplinas e à percepção de baixo retorno financeiro, agrava o déficit. Modalidades EAD aumentam o acesso, mas podem comprometer a formação prática necessária para sistemas SCADA.

    O Papel da IA e a Necessidade de Especialização

    Projetos de P&D que participei, como o da Usina Henry Borden, financiado pela ANEEL, demonstram o potencial da IA para análise preditiva em sistemas SCADA. No entanto, a implementação de agentes de IA exige profissionais capacitados em aprendizado de máquina e cibersegurança, competências raras devido à crise de formação. Insights da DISTRIBUTECH 2025 destacam que IA pode reduzir perdas técnicas em até 15%, mas sua adoção depende de auditorias para garantir conformidade com o Projeto de Lei nº 2.338/2023.

    Soluções para Mitigar a Crise

    • Reforma Curricular: Incluir disciplinas de cibersegurança e IA nos cursos de Engenharia Elétrica, alinhadas à IEC 62443.
    • Incentivos Profissionais: Garantir o piso salarial do CREA e oferecer bolsas para reter talentos.
    • Capacitação Contínua: Desenvolver treinamentos em DNP3-SA e resposta a incidentes, com base no NIST SP 800-82.
    • Parcerias Público-Privadas: Expandir programas de capacitação de profissionais, como o CPFL nas Universidade, que capacita estudantes dos últimos semestres em eficiência energética.

    O Papel dos Agentes de IA na Segurança Cibernética

    A digitalização do setor de energia, conforme proposta pela Portaria 111/2025, coincide com avanços em inteligência artificial (IA), que oferecem soluções promissoras para mitigar riscos cibernéticos. Durante a DISTRIBUTECH 2025, realizada em Dallas de 24 a 27 de março de 2025, foram discutidas aplicações de agentes de IA que transformam a segurança no setor elétrico. Esses sistemas inteligentes, baseados em aprendizado de máquina, proporcionam as seguintes funcionalidades:

    • Detecção de Anomalias: Algoritmos de IA analisam padrões de tráfego de rede e comportamento de dispositivos em tempo real, identificando anomalias que indicam ameaças como malware, ransomware ou acessos não autorizados. Por exemplo, a Cyber Energia, lançada em 2024, utiliza IA para monitorar infraestruturas de energia renovável, oferecendo visualização em tempo real de ataques.
    • Manutenção Preditiva: Agentes de IA preveem falhas em equipamentos, reduzindo perdas técnicas em até 15%, conforme destacado em um artigo da Xenonstack de março de 2025. Isso é particularmente relevante para sistemas SCADA, onde falhas podem ser exploradas por atacantes.
    • Resposta Automatizada: IA pode isolar sistemas comprometidos, bloquear tráfego malicioso ou executar respostas predefinidas, minimizando danos em milissegundos, como discutido em um artigo da Venturus de 2025.
    • Otimização de Redes: Agentes de IA ajustam dinamicamente a geração de energia renovável, estabilizando redes com intermitência, o que é essencial para a integração de fontes eólicas e solares prevista na Portaria 111/2025.

    Apesar de suas vantagens, a implementação de agentes de IA exige auditorias rigorosas para garantir conformidade com normas emergentes, como o Projeto de Lei nº 2.338/2023, que regula o uso de IA no Brasil. Por experiência, reforço minha sugestão por auditorias de segurança, assegurando que sejam implementadas de forma segura e eficaz.

    Melhoria da Segurança do Protocolo DNP3

    O protocolo DNP3, amplamente utilizado em sistemas SCADA no setor elétrico, tem recebido melhorias significativas de segurança para enfrentar os desafios da digitalização. As principais avanços incluem:

    • DNP3 Secure Authentication (DNP3-SA): Introduzido na versão 2.00, o DNP3-SA utiliza chaves criptográficas simétricas para autenticação mútua entre estações mestras e dispositivos de campo, prevenindo ataques como impersonação e reinjeção de tráfego. A versão DNP3-SAv6 oferece autenticação de ponta a ponta, alinhada a padrões criptográficos internacionais.
    • Criptografia com TLS: Conforme a norma IEC 62351-3, o uso de Transport Layer Security (TLS) protege comunicações DNP3 contra interceptação, garantindo confidencialidade e integridade.
    • Monitoramento de Portas Críticas: Recomenda-se monitorar a porta TCP/UDP 20000 para detectar atividades suspeitas, especialmente em funções críticas como write, operate e cold_restart, que podem causar disrupturas se comprometidas.
    • Conformidade com Normas Internacionais: O DNP3 é compatível com a norma IEC 62351-5, que define requisitos de segurança para sistemas de energia, incluindo autenticação e criptografia.

    Embora essas melhorias fortaleçam o DNP3, sua implementação completa depende de auditorias para verificar configurações adequadas e conformidade, especialmente em sistemas legados.

    Melhores Práticas para Proteger Sistemas SCADA

    Para mitigar os riscos cibernéticos, as empresas devem adotar práticas alinhadas com padrões globais, como o NIST Cybersecurity Framework e a norma IEC 62443. As recomendações incluem:

    • Avaliações de Risco Regulares: Realizar análises periódicas para identificar vulnerabilidades em hardware, software e redes, utilizando ferramentas como varreduras de vulnerabilidades e testes de penetração.
    • Controles de Acesso Fortes: Implementar autenticação multifator (MFA) e o princípio do menor privilégio, garantindo que apenas usuários autorizados acessem sistemas críticos.
    • Segmentação de Rede: Isolar sistemas SCADA com firewalls e redes virtuais privadas (VPNs), limitando a propagação de ataques, como recomendado pela norma IEC 62443-3-3.
    • Criptografia de Comunicações: Proteger dados em trânsito com TLS, conforme a norma IEC 62351-3, e em repouso com algoritmos como AES-256.
    • Gerenciamento de Patches: Atualizar software e firmware regularmente para corrigir vulnerabilidades conhecidas, priorizando sistemas críticos.
    • Planos de Resposta a Incidentes: Desenvolver e testar planos de contenção e recuperação, incluindo backups regulares e simulações de ataques, conforme orientado pelo NIST SP 800-82.
    • Treinamento de Funcionários: Conscientizar equipes sobre riscos cibernéticos, como phishing e engenharia social, reduzindo erros humanos, uma das principais causas de incidentes.
    • Participação em Programas de Inteligência: Integrar programas como o Cybersecurity and Infrastructure Security Agency’s CRISP para compartilhar informações sobre ameaças, melhorando a detecção proativa.

    A tabela abaixo resume essas práticas:

    PráticaDescriçãoBenefício
    Avaliação de RiscoIdentificar vulnerabilidades em sistemas SCADAPrevine ataques proativamente
    Controles de AcessoAutenticação multifator e princípio do menor privilégioReduz acessos não autorizados
    Segmentação de RedeIsolar sistemas críticos com firewallsLimita propagação de ataques
    CriptografiaProteger comunicações com TLSGarante confidencialidade dos dados
    Gerenciamento de PatchesAtualizar software e firmware regularmenteCorrige vulnerabilidades conhecidas
    Resposta a IncidentesPlanos para conter e mitigar ataquesMinimiza danos de incidentes
    TreinamentoConscientizar sobre riscos cibernéticosReduz erros humanos
    Inteligência CompartilhadaParticipar de programas como CRISPMelhora detecção de ameaças

    Mapa de Auditoria de Segurança para Sistemas SCADA

    Um mapa de auditoria de segurança é essencial para proteger sistemas SCADA e de auto-cura. Baseado nas recomendações do NIST e nas melhores práticas do setor, o seguinte processo estruturado é proposto:

    1. Inventário de Ativos: Mapear todos os componentes do sistema SCADA, incluindo hardware (RTUs, IEDs), software (sistemas operacionais, aplicativos) e redes de comunicação (DNP3, Modbus). Isso garante uma visão completa dos pontos de vulnerabilidade.
    2. Avaliação de Vulnerabilidades: Realizar testes de penetração e varreduras de vulnerabilidades para identificar falhas, como software desatualizado ou portas abertas, usando ferramentas especializadas.
    3. Mapeamento de Rede: Documentar a arquitetura de rede para identificar pontos de entrada, como conexões externas ou dispositivos não supervisionados, e implementar segmentação para isolar sistemas críticos.
    4. Verificação de Controles de Segurança: Avaliar a implementação de autenticação multifator, criptografia e controles de acesso, garantindo conformidade com normas como IEC 62351 e LGPD.
    5. Monitoramento Contínuo: Configurar sistemas de detecção de intrusões (IDS) e análise comportamental para identificar atividades suspeitas em tempo real, integrando agentes de IA para maior precisão.
    6. Plano de Resposta a Incidentes: Desenvolver procedimentos para isolar sistemas comprometidos, restaurar operações e notificar autoridades, alinhados com o NIST SP 800-82.
    7. Plano de Recuperação: Estabelecer backups regulares e testes de restauração, especialmente para sistemas de auto-cura, garantindo que mecanismos de recuperação não sejam manipulados por atacantes.

    Esse mapa de auditoria, quando conduzido por especialistas com conhecimento em SCADA e IA, assegura a proteção contra ameaças emergentes e a conformidade com regulamentações.

    Conclusão

    O setor de energia elétrica brasileiro enfrenta um momento crítico, com a digitalização proposta pela Portaria 111/2025 e a abertura do mercado livre pela MP 1.300/2025 ampliando os riscos cibernéticos. O ataque ao Pix em julho de 2025, que explorou vulnerabilidades em sistemas terceirizados, é um alerta claro: sistemas SCADA são alvos prioritários para ciberataques que podem causar apagões, danos físicos e perdas econômicas. Os cortes orçamentários na ANEEL, reduzindo sua capacidade de fiscalização e resposta, transferem a responsabilidade de segurança para as empresas do setor, tornando auditorias cibernéticas uma necessidade urgente.

    Agentes de IA oferecem soluções promissoras, como detecção de anomalias e resposta automatizada, mas sua implementação exige auditorias rigorosas para garantir eficácia e conformidade. Minha experiência em SCADA, IA e AIoT em projetos de infraestruturas críticas, reforça minha recomendação por auditorias especializadas que mapeiam vulnerabilidades e a implementação de práticas robustas de segurança para garantir a proteção de sistemas contra ameaças cibernéticas avançadas. As empresas devem agir agora para evitar incidentes devastadores. Auditorias de segurança cibernética não são apenas uma precaução, mas uma estratégia essencial para garantir a resiliência e a continuidade do setor elétrico.

  • Mitigando o Curtailment Energético: Oportunidades e Desafios para Investir em Renováveis e Soluções de Armazenamento no Brasil

    Mitigando o Curtailment Energético: Oportunidades e Desafios para Investir em Renováveis e Soluções de Armazenamento no Brasil

    O setor elétrico brasileiro vive uma transformação histórica, impulsionado por uma matriz energética que, em 2025, alcança 89% de fontes renováveis, com 55 GW de energia solar e 23 GW de eólica instalados, segundo a ABSOLAR e o ONS. O mercado livre de energia, responsável por 92% da expansão da geração centralizada até 2029 (Abraceel), reflete um crescimento robusto, enquanto a geração distribuída (GD) atinge 37,4 GW, representando 22,2% da matriz. Contudo, essa expansão enfrenta um desafio crítico: o curtailment energético, ou cortes forçados na produção renovável devido à incapacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) de absorver excedentes. Este artigo, motivado pelo alerta contundente de Sumara Ticom, assessora do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), feito durante o Greener Summit 2025, explora as implicações para executivos e investidores. Ticom destacou que, sem ações coordenadas, até a geração centralizada pode falhar em evitar blackouts. O texto analisa oportunidades em renováveis intermitentes e tecnologias como BESS e hidrogênio verde (H2V), diante de barreiras regulatórias e infraestruturais.

    O Desafio do Curtailment

    O curtailment energético emergiu como um dos maiores obstáculos à expansão sustentável do setor elétrico brasileiro, especialmente à medida que fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, ganham protagonismo. Em 2025, o Brasil conta com 55 GW de capacidade instalada em energia solar, dos quais 37,4 GW são provenientes de geração distribuída, e 23 GW em eólica, segundo dados da ABSOLAR e do ONS. Esses números posicionam o país como um líder global na transição energética, com uma matriz que alcança 89% de fontes renováveis. No entanto, a intermitência dessas fontes — que dependem de condições climáticas como sol e vento — cria desafios operacionais que o Sistema Interligado Nacional (SIN) ainda não está plenamente equipado para gerenciar.

    O curtailment ocorre quando o excesso de geração renovável não pode ser absorvido pela rede devido a limitações de transmissão, demanda insuficiente ou restrições operacionais para manter a frequência do sistema em 60 Hz. Projeções do ONS, baseadas em relatórios recentes, indicam que esse fenômeno deve crescer até 2029, com cortes energéticos superando os motivados por confiabilidade (limitações de infraestrutura). Esse aumento reflete a rápida expansão das renováveis, que, embora benéfica para a sustentabilidade, pressiona um sistema projetado historicamente para fontes hidrelétricas controláveis, que representam 60% da matriz em 2025.

    Origens e Impactos do Curtailment

    A raiz do problema está na desconexão entre a geração e a capacidade de transmissão. Após o apagão de agosto de 2023, que deixou mais de um terço dos brasileiros sem energia devido a falhas na infraestrutura, o ONS priorizou obras de expansão no SIN. Essas melhorias mitigaram parcialmente os gargalos de transmissão, mas o curtailment energético persiste como um desafio mais amplo. Sumara Ticom, durante o Greener Summit 2025, enfatizou que “mesmo que a transmissão fosse infinita, o curtailment energético aconteceria”, destacando a necessidade de abordar a dinâmica de oferta e demanda em um sistema interligado.

    Os impactos são significativos. Em 2024, estimativas preliminares do ONS indicam que cerca de 3% da energia eólica e solar foi cortada, totalizando aproximadamente 2 TWh perdidos anualmente. Esse desperdício representa perdas financeiras para geradores e um risco operacional para a estabilidade do SIN. Além disso, o fenômeno da “energia lunar” — energia solar excedente injetada na rede à noite em algumas regiões, como Minas Gerais e Rio Grande do Sul — exemplifica como a falta de armazenamento ou gestão adequada agrava o problema. Sem intervenções, Ticom alerta que o país pode precisar cortar toda a geração centralizada para evitar desequilíbrios de frequência, aumentando a probabilidade de blackouts.

    Fatores Regionais e Operacionais

    A distribuição geográfica das renováveis amplifica o desafio. Regiões como o Nordeste, com 60% da capacidade eólica (14 GW), e o Sudeste, com 40% da solar (22 GW), concentram a geração, mas a transmissão para centros de consumo, como São Paulo e Rio de Janeiro, enfrenta limitações. Dados do ONS mostram que, em dias de alta irradiação ou ventos fortes, a taxa de curtailment pode atingir 10% localmente, especialmente em linhas saturadas. A intermitência também cria picos de produção que coincidem com baixa demanda, como ao meio-dia em feriados, quando a rede não consegue absorver a energia gerada.

    Operacionalmente, o SIN depende de um equilíbrio delicado entre geração e carga. A introdução de fontes renováveis descentralizadas, como a GD (37,4 GW), adiciona complexidade. Embora a GD reduza a pressão sobre a transmissão, sua integração descoordenada pode sobrecarregar a rede local, contribuindo para o curtailment. O ONS tem trabalhado em modelos preditivos e clusterização de geradores para distribuir os cortes, mas a escala do problema exige soluções mais robustas.

    Projeções e Riscos Futuros

    As projeções do ONS, divulgadas em seu último relatório até junho de 2025, indicam que o curtailment energético pode dobrar até 2029, alcançando 6 TWh anuais, caso não haja intervenções significativas. Esse cenário é agravado pelo crescimento previsto da demanda, que deve subir 4% ao ano até 2030, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), devido à industrialização e à eletrificação dos transportes. Sem capacidade de armazenamento ou expansão da rede, o risco de blackouts aumenta, especialmente em períodos secos que reduzem a geração hidrelétrica — ainda o principal regulador do SIN.

    O alerta de Sumara Ticom reforça a urgência. Ela destacou que a geração distribuída, embora parte do sistema, precisa entender os fenômenos elétricos para contribuir eficazmente. A falta de alinhamento entre os agentes — geradores, transmissores, distribuidores e reguladores — pode transformar o curtailment em um gargalo estrutural, comprometendo os benefícios da transição renovável e a confiabilidade do suprimento.

    Comparação Internacional

    Experiências globais oferecem lições. Na Alemanha, líder em renováveis com 55% de sua eletricidade de fontes limpas em 2023 (IEA), o curtailment atingiu 6 TWh em 2019 devido a limitações de transmissão entre o norte (eólico) e o sul (consumo). A resposta incluiu investimentos em baterias (1,4 GW) e usinas reversíveis (9 GW), além de interconexões com países vizinhos. No Brasil, o desafio é semelhante, mas a escala da matriz hidrelétrica e a dependência de um único sistema interligado amplificam a complexidade. A Alemanha levou uma década para ajustar sua infraestrutura; o Brasil, com um crescimento renovável mais acelerado, precisa agir mais rápido.

    Implicações para o Setor

    Para os investidores, o curtailment representa um risco financeiro, com perdas estimadas em R$ 1 bilhão por ano em 2024, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Projetos de grande escala, como os 17,6 GW de solar centralizada, podem enfrentar cortes frequentes, reduzindo a atratividade sem garantias regulatórias. Por outro lado, a crise cria uma demanda por inovação, abrindo espaço para tecnologias de armazenamento e modelos de negócios baseados em autoconsumo.

    Em suma, o curtailment é um reflexo do sucesso da transição renovável, mas também um teste à capacidade do Brasil de modernizar seu sistema elétrico. Com planejamento estratégico, dados operacionais e colaboração setorial, é possível transformar esse desafio em uma oportunidade de liderança global. A próxima seção explorará como soluções como BESS e H2V, aliadas a incentivos regulatórios, podem pavimentar esse caminho.

    Oportunidades de Investimento

    O curtailment energético, embora um obstáculo, abre um leque de oportunidades para investidores dispostos a inovar e adaptar-se às dinâmicas do setor elétrico brasileiro. Com 55 GW de solar e 23 GW de eólica instalados em 2025, segundo a ABSOLAR e o ONS, e uma matriz que atinge 89% de renováveis, o Brasil posiciona-se como um mercado atraente para capitais internacionais e nacionais. A projeção da Abraceel de que o mercado livre de energia responderá por 92% da expansão da geração centralizada até 2029 reforça esse potencial. A seguir, exploram-se as principais avenidas de investimento, incluindo renováveis com armazenamento, o mercado livre, autoconsumo e o uso estratégico do open data do ONS, considerando as recentes mudanças regulatórias trazidas pela Medida Provisória (MP) 1.300/2025, publicada em maio de 2025 e em tramitação no Congresso até 3 de julho de 2025.

    Renováveis com Armazenamento

    A integração de soluções de armazenamento, como os Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias (BESS) e o hidrogênio verde (H2V), é uma das mais promissoras oportunidades para mitigar o curtailment. Na Alemanha, referência global, o BESS alcançou 1,4 GW de capacidade em 2020, ajudando a absorver os 6 TWh de energia eólica e solar cortados em 2019, segundo o Bundesnetzagentur. No Brasil, o mercado de baterias ainda está em fase inicial, com estimativas da ABSOLAR apontando para 0,5 GW instalados até 2025, mas o potencial é significativo. O Leilão de Reserva de Capacidade, mencionado por Sumara Ticom no Greener Summit 2025, é um passo crucial para destravar investimentos, oferecendo contratos de longo prazo que garantem retorno aos investidores.

    O H2V, produzido por eletrólise usando energia renovável excedente, também ganha tração. Projetos-piloto, como o da White Martins em Juiz de Fora (MG), com capacidade de 10 MW anunciada em 2024, demonstram viabilidade para indústrias energointensivas, como siderurgia e química. Esses sistemas não apenas reduzem o curtailment, mas criam novos mercados, com a demanda global por hidrogênio verde projetada a crescer 20% ao ano até 2030, segundo a IEA. Investidores podem alavancar incentivos fiscais e parcerias com o BNDES, que destinou R$ 2 bilhões para projetos de H2V em 2025, para escalar essas iniciativas.

    Mercado Livre

    O mercado livre de energia consolida-se como o motor da expansão renovável no Brasil, respondendo por 92% do crescimento da geração centralizada até 2029, conforme a Abraceel. Em 2024, o mercado atingiu 40% da carga nacional, com 130 TWh comercializados, e a tendência é de aumento, especialmente com a adesão de grandes consumidores, como a Gerdau e a Ambev. Esse modelo oferece contratos bilaterais de até 15 anos, permitindo que investidores mitiguem os riscos do curtailment ao combinar renováveis com BESS ou H2V, assegurando fornecimento estável.

    A atratividade é reforçada por taxas de retorno competitivas, com projetos eólicos e solares no Nordeste oferecendo IRR (Taxa Interna de Retorno) média de 8-10% ao ano, segundo a BloombergNEF. Além disso, o mercado livre atrai fundos internacionais, como o BlackRock, que investiu US$ 500 milhões em renováveis brasileiras em 2024. A MP 1.300/2025, em análise no Congresso, propõe abrir o mercado livre para consumidores de baixa tensão a partir de agosto de 2026 (industriais e comerciais) e dezembro de 2027 (residenciais), o que pode ampliar as oportunidades, embora exija adaptação às novas regras de registro de contratos na CCEE até 31 de dezembro de 2025 para manter descontos na TUSD/TUST.

    Autoconsumo

    O autoconsumo emerge como uma solução resiliente ao curtailment, especialmente para indústrias e comunidades isoladas. Em 2025, a GD representa 37,4 GW, com destaque para sistemas fotovoltaicos em telhados de fábricas e shoppings, que evitam a injeção de excedentes na rede. Exemplos incluem a Coca-Cola FEMSA, que instalou 12 MW em suas unidades no interior de São Paulo, reduzindo custos em 15% e eliminando dependência do SIN em horários de pico.

    Regiões remotas, como o Amazonas, também beneficiam-se, com projetos como o da Eletronorte, que instalou 5 MW de solar com BESS em comunidades ribeirinhas em 2024. Esses sistemas diminuem perdas de transmissão (15% no Brasil, segundo o ONS) e atraem investidores por sua previsibilidade financeira. O marco legal da GD (Lei 14.300/2022) oferecia isenção de encargos por até 23 anos (até 2045) para projetos com direito adquirido até julho de 2023. No entanto, a MP 1.300/2025, em tramitação, propõe ajustes, limitando os descontos na TUSD/TUST a contratos registrados na CCEE até 31 de dezembro de 2025, o que pode impactar a atratividade de novos projetos de autoconsumo após essa data, exigindo reavaliação dos planos de investimento.

    Open Data do ONS

    Desde agosto de 2021, o Portal de Dados Abertos do ONS disponibiliza informações detalhadas sobre geração, carga, transmissão e hidrologia, abrangendo dados históricos e consolidados. Em 2024, o portal registrou 1,2 milhão de acessos, refletindo o interesse de empresas e pesquisadores. Esses dados permitem simulações de curtailment, como as realizadas pela AES Brasil, que otimizou a operação de 1 GW eólico no Rio Grande do Sul, reduzindo cortes em 8%.

    O uso estratégico pode identificar regiões com menor saturação renovável, como o Centro-Oeste, onde apenas 10% da capacidade solar está instalada. Empresas como a nMentors Engenharia que desenvolvem análises preditiva com base em dados, podem antecipar tendências e alinhar projetos à dinâmica do SIN, maximizando eficiência e retorno, independentemente das mudanças regulatórias em curso.

    Perspectivas de Retorno

    Os retornos variam por segmento. Projetos de BESS oferecem TIR de 12-15% com contratos de reserva de capacidade, enquanto H2V pode alcançar 18% em mercados exportadores, como a Europa, segundo a FIRJAN. O autoconsumo garante economia imediata de 10-20% nas contas industriais, e o mercado livre proporciona hedge contra volatilidade, com contratos indexados ao IPCA. Esses indicadores, aliados ao crescimento da demanda (4% ao ano até 2030, EPE), posicionam o Brasil como um hub de investimentos verdes, apesar das incertezas trazidas pela MP 1.300/2025, que exige agilidade na estruturação de projetos até o final de 2025 para preservar benefícios existentes.

    Desafios e Barreiras

    Embora o setor elétrico brasileiro ofereça oportunidades significativas, os desafios e barreiras associados ao curtailment energético e à expansão renovável exigem atenção estratégica de executivos e investidores. Com 55 GW de solar e 23 GW de eólica instalados em 2025, segundo a ABSOLAR e o ONS, e uma matriz que atinge 89% de renováveis, o Brasil enfrenta obstáculos regulatórios, infraestruturais e políticos que podem comprometer o ritmo de crescimento. Esses desafios, agravados pelas recentes mudanças propostas na Medida Provisória (MP) 1.300/2025, em tramitação no Congresso, são cruciais para a tomada de decisão no setor. A seguir, exploram-se as principais barreiras e seus impactos.

    Regulação

    A regulação é um dos maiores entraves à mitigação do curtailment e ao avanço de tecnologias como os Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias (BESS) e o hidrogênio verde (H2V). A definição de requisitos técnicos para a integração de BESS ao SIN, mencionada por Sumara Ticom no Greener Summit 2025, ainda está em andamento, com o ONS e a ANEEL trabalhando em normas que devem ser concluídas até o final de 2025. Esse atraso reflete a complexidade de alinhar interesses de geradores, distribuidores e consumidores em um sistema interligado.

    Além disso, a alta carga tributária no setor elétrico representa um desafio significativo. No Rio de Janeiro, por exemplo, a fatura de energia inclui 24% de ICMS, além de PIS/COFINS e taxas como SISOL, somando-se a perdas por furtos (“gatos”) e ineficiências na transmissão e distribuição, estimadas em 15% pelo ONS. A MP 1.300/2025, publicada em maio de 2025, propõe ajustar os subsídios à geração distribuída (GD), limitando descontos na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) e Transmissão (TUST) a contratos registrados na CCEE até 31 de dezembro de 2025. Essa mudança pode aumentar os custos de novos projetos de GD e armazenamento, exigindo que investidores planejem com antecedência para aproveitar os incentivos atuais.

    Infraestrutura

    A expansão da infraestrutura de transmissão é outro gargalo crítico. Após o apagão de agosto de 2023, que expôs fragilidades no SIN, o ONS priorizou obras como a Linha de Transmissão Xingu-Estreito (2.500 MW), concluída em 2024, e a ampliação da rede no Nordeste. No entanto, a capacidade total de transmissão ainda não acompanha o crescimento das renováveis, especialmente em regiões como o Nordeste (60% da eólica) e o Sudeste (40% da solar). Dados do ONS indicam que, em 2024, apenas 70% das linhas planejadas até 2026 foram iniciadas, devido a entraves ambientais e licenciamento, que podem levar até cinco anos por projeto.

    A comparação com a Alemanha é instrutiva. Lá, a expansão de linhas de alta tensão entre o norte (rico em eólica) e o sul (centros de consumo) levou uma década, com investimentos de € 20 bilhões entre 2010 e 2020, segundo a IEA. No Brasil, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031 (PDE 2031), da EPE, estima R$ 50 bilhões para modernizar a rede até 2030, mas a execução depende de financiamento e coordenação entre estados. Atrasos na infraestrutura amplificam o curtailment, com taxas locais atingindo 10% em dias de pico, segundo o ONS.

    Incerteza Política

    A incerteza política e a coordenação setorial são barreiras adicionais. A MP 1.300/2025, com 598 emendas apresentadas até maio de 2025, reflete divergências no Congresso. Propostas variam desde a proibição de encargos por cortes (emenda de Lafayette de Andrada) até a permissão de curtailment na GD (sugerida por Laércio Oliveira), criando um ambiente imprevisível. A falta de consenso pode atrasar a aprovação final, esperada para o segundo semestre de 2025, segundo o MME.

    A dependência de um diálogo contínuo entre ONS, ANEEL e agentes do setor, como destacado por Sumara Ticom, é essencial, mas a velocidade desse processo é limitada por prioridades divergentes. A experiência da Califórnia (2000-2001), onde manipulação de mercado e falhas regulatórias levaram a blackouts, serve de alerta. No Brasil, a coordenação eficaz pode evitar cenários similares, mas exige paciência e investimentos em advocacy por parte dos investidores.

    Impactos Econômicos e Sociais

    Os desafios regulatórios e infraestruturais têm impactos diretos. A ABSOLAR estima que o curtailment causou perdas de R$ 1 bilhão em 2024, afetando a competitividade de geradores. Para os consumidores, a alta carga tributária e as perdas de transmissão elevam as tarifas, com o custo médio residencial atingindo R$ 0,90/kWh em 2025, segundo a ANEEL. Atrasos na expansão da rede também afetam comunidades remotas, como no Amazonas, onde 20% da população ainda depende de diesel, segundo a Eletronorte.

    Perspectiva de Superação

    Apesar dos entraves, o setor está em movimento. A ANEEL trabalha em consultas públicas para os requisitos de BESS, com prazo até setembro de 2025, e o BNDES liberou R$ 5 bilhões em linhas de crédito para infraestrutura em 2025. Esses passos indicam um caminho para superar as barreiras, mas a velocidade de implementação será decisiva para mitigar o curtailment e sustentar o crescimento renovável.

    Estratégias para Executivos

    Para navegar pelos desafios do curtailment energético e capitalizar as oportunidades no setor elétrico brasileiro, executivos e investidores precisam adotar estratégias proativas e alinhadas às dinâmicas do Sistema Interligado Nacional (SIN). Com 55 GW de solar e 23 GW de eólica instalados em 2025, segundo a ABSOLAR e o ONS, e uma matriz que atinge 89% de renováveis, o Brasil oferece um mercado em transformação, mas marcado por incertezas regulatórias e infraestruturais, especialmente com a Medida Provisória (MP) 1.300/2025 em tramitação no Congresso. A seguir, exploram-se estratégias práticas para maximizar retornos e mitigar riscos, baseadas em dados reais e insights operacionais.

    Parcerias com ONS e ANEEL

    Estabelecer colaborações estratégicas com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) é essencial para antecipar regulações e influenciar decisões. Sumara Ticom destacou no Greener Summit 2025 a importância do diálogo com os agentes do setor para integrar soluções como BESS e hidrogênio verde (H2V). Executivos podem participar de consultas públicas, como a da ANEEL para requisitos de BESS, com prazo até setembro de 2025, ou oferecer insumos técnicos ao ONS, que já utiliza dados abertos para otimizar o SIN.

    Investimento em Pilotos de BESS e H2V

    Investir em projetos-piloto de BESS e H2V permite testar soluções de armazenamento em escala controlada, aproveitando incentivos emergentes. O BNDES liberou R$ 5 bilhões em linhas de crédito para infraestrutura em 2025, incluindo armazenamento, enquanto o Leilão de Reserva de Capacidade, citado por Ticom, oferece contratos de longo prazo. Exemplos como o BESS de 5 MW da Eletronorte no Amazonas (2024) e o projeto de H2V de 10 MW da White Martins em Juiz de Fora (MG) demonstram viabilidade, com reduções de custo estimadas em 15-20% ao escalonar para 50 MW até 2027, segundo a FIRJAN. Esses pilotos atraem investidores internacionais, como o BlackRock, que alocou US$ 500 milhões em renováveis em 2024.

    Avaliação de Riscos Regionais

    A análise de riscos regionais é crucial para otimizar investimentos. Regiões como o Nordeste, com 60% da capacidade eólica (14 GW), e o Sudeste, com 40% da solar (22 GW), concentram geração, mas enfrentam taxas de curtailment de até 10% em dias de pico, segundo o ONS. Áreas com alta demanda e baixa saturação, como o Centro-Oeste (10% da solar), oferecem oportunidades, com irradiação média de 5,5 kWh/m²/dia, conforme a EPE. Executivos devem mapear linhas de transmissão saturadas e priorizar projetos com BESS local, reduzindo dependência do SIN e assegurando TIR de 12-15%, segundo a BloombergNEF.

    Utilização do Open Data do ONS

    O Portal de Dados Abertos do ONS, lançado em agosto de 2021 e com 1,2 milhão de acessos em 2024, é uma ferramenta poderosa para decisões informadas. Esses dados, que incluem geração, carga e hidrologia, permitem simulações de curtailment, como as que a nMentors Engenharia pode realizar. Investidores podem identificar padrões, como picos de excedente no Nordeste, e alinhar projetos à dinâmica do SIN, maximizando eficiência independentemente das mudanças regulatórias da MP 1.300/2025, que exige registros na CCEE até 31 de dezembro de 2025.

    Gestão de Riscos Regulatórios

    A MP 1.300/2025, com 598 emendas em análise até maio de 2025, introduz incertezas, como a limitação de descontos na TUSD/TUST para contratos até dezembro de 2025. Executivos devem acelerar a estruturação de projetos, garantindo registro na CCEE antes do prazo, e diversificar portfólios entre GD, mercado livre e exportação de H2V. Parcerias com consultorias, como a PwC, que estima R$ 2 bilhões em custos adicionais por atraso regulatório, ajudam a mitigar impactos.

    Monitoramento de Tendências Globais

    Acompanhar tendências globais, como os € 20 bilhões investidos pela Alemanha em transmissão entre 2010 e 2020 (IEA), orienta estratégias. No Brasil, o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031 (PDE 2031) projeta R$ 50 bilhões até 2030, e executivos podem alocar 10-15% dos budgets para advocacy e inovação.

    Desenvolvimento de Talentos

    Investir em capacitação é estratégico, especialmente por meio do projeto “CPFL nas Universidades”, desenvolvido pela nMentors Engenharia para a CPFL Piratininga em parceria com o Programa de Eficiência Energética (PEE) da ANEEL. Lançado em 2025 e financiado com recursos do PEE, o programa capacita estudantes de engenharia de instituições de ensino superior, conectando teoria e prática por meio de atividades pedagógicas interativas e estudos de viabilidade técnica e econômica. O programa visa formar profissionais aptos a enfrentar desafios energéticos, com foco em eficiência e regulatórios.

    Resultados Esperados

    Essas estratégias podem elevar a TIR média para 10-18%, dependendo do segmento (BESS, H2V, GD), e reduzir riscos de curtailment em 15-20%, conforme simulações da EPE. A agilidade na execução, até o final de 2025, é chave para aproveitar os incentivos antes das mudanças da MP 1.300/2025.

    Conclusão

    O curtailment energético representa um ponto de inflexão para o setor elétrico brasileiro, um desafio nascido do sucesso da transição renovável, mas que, se não enfrentado com visão estratégica, pode comprometer a confiabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) e os ambiciosos planos de crescimento até 2029. Com 55 GW de solar e 23 GW de eólica instalados em 2025, segundo a ABSOLAR e o ONS, e uma matriz que atinge 89% de renováveis, o Brasil está na vanguarda global da sustentabilidade energética. No entanto, o alerta de Sumara Ticom, feito no Greener Summit 2025, sublinha a urgência de ações coordenadas para evitar que o curtailment evolua de um fenômeno operacional para uma crise sistêmica, com riscos de blackouts e perdas estimadas em R$ 1 bilhão anuais, conforme a ABSOLAR.

    Esta análise revelou que o curtailment não é um obstáculo intransponível, mas uma oportunidade para inovação e liderança. Soluções como os Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias (BESS) e o hidrogênio verde (H2V) demonstram viabilidade, com exemplos como o BESS de 5 MW da Eletronorte no Amazonas (2024) e o projeto de H2V de 10 MW da White Martins em Juiz de Fora (MG) pavimentando o caminho. O mercado livre, responsável por 92% da expansão da geração centralizada até 2029 (Abraceel), e o autoconsumo, com 37,4 GW de GD, oferecem plataformas robustas para investimentos, enquanto o open data do ONS, com 1,2 milhão de acessos em 2024, fornece os dados necessários para decisões informadas, como as utilizadas pela nMentors Engenharia, para estudos preditivos.

    Os desafios regulatórios, como os atrasos na definição de requisitos para BESS e os ajustes propostos na Medida Provisória (MP) 1.300/2025, que limita descontos na TUSD/TUST a contratos registrados até 31 de dezembro de 2025, e infraestruturais, com apenas 70% das linhas de transmissão planejadas até 2026 iniciadas (ONS), exigem agilidade. A incerteza política, refletida nas 598 emendas à MP em análise no Congresso, adiciona complexidade, mas o diálogo contínuo entre ONS, ANEEL e o setor, como destacado por Ticom, oferece uma base para superação. Investimentos como os R$ 5 bilhões do BNDES para infraestrutura em 2025 e os R$ 50 bilhões projetados no PDE 2031 (EPE) sinalizam um compromisso com a modernização.

    As estratégias propostas — parcerias com reguladores, pilotos de tecnologias, avaliação regional, uso de dados abertos, gestão de riscos e capacitação — posicionam executivos e investidores para liderar essa transformação. Com TIRs variando de 10-18% (FIRJAN, BloombergNEF) e uma demanda crescente de 4% ao ano até 2030 (EPE), o Brasil pode converter o curtailment em um catalisador de inovação, atraindo capitais como os US$ 500 milhões do BlackRock em 2024. A janela de oportunidade é agora, especialmente antes do fim de 2025, quando as mudanças regulatórias podem redefinir o cenário.

    Em última análise, o sucesso dependerá de uma visão integrada, combinando tecnologia, regulação e colaboração. O Brasil tem os recursos — sol, vento e dados — e o potencial para se tornar um modelo global de energia renovável sustentável. A resposta ao alerta de Ticom não é apenas evitar blackouts, mas construir um futuro energético resiliente, competitivo e inclusivo, onde o curtailment seja uma memória superada por meio de inovação e estratégia. Executivos que agirem com visão de longo prazo colherão os frutos de uma transição bem-sucedida, liderando a próxima onda de crescimento no setor elétrico brasileiro.