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Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • A transformação da cultura empresarial antes da digital

    A transformação da cultura empresarial antes da digital

    A Agenda 2019 da Deloitte mostra a necessidade da transformação da cultura empresarial antes da digital no Brasil. A pesquisa, realizada em 2018, avalia as expectativas do empresariado para o país e os seus negócios. O perfil da amostra tem 826 empresas que somam em receitas R$2,8 trilhões, representando 43% do PIB nacional, números de 2017.

    A pesquisa avaliou cinco grandes áreas para o atual governo: Leis e regulamentações, gestão pública, atividade econômica, atividade empresarial e investimentos sociais. Segue as três prioridades apontas pelos respondentes em cada área:

    1. Leis e regulamentações:
      • Reforma tributária (93%)
      • Reforma previdenciária (90%)
      • Reforma política (80%)
    2. Gestão pública
      • Combate à corrupção (62%)
      • Ajuste fiscal das contas públicas (61%
      • Novas privatizações (33%)
    3. Atividade econômica
      • Estimula à geração de empregos (80%)
      • Manter a inflação abaixo dos 5% ao ano (58%)
      • Políticas para ampliar a participação do Brasil no comércio exterior (53%)
    4. Atividade empresarial
      • Melhorar e ampliar as Parcerias Público-Privadas (52%)
      • Ampliar a oferta de crédito às empresas (51%)
      • Mais incentivo para que as empresas se adaptem à Indústria 4.0 (48%)
    5. Investimentos sociais
      • Educação (84%)
      • Segurança pública (77%)
      • Saúde (65%)

    A pesquisa foi respondia por 66% de CXOs, ou seja, executivos com cargos diretivos (C-Level). A pesquisa respondida, voluntariamente, pela Internet tem 37% de empresas de bens de consumo (manufatura, comércio, agronegócio e outros), 28% de serviços (educação, saúde e outros), 14% de infraestrutura e construção, 12% de TI e telecomunicações e 9% de atividade financeiras.

    A pesquisa mostra que 97% das empresas irão investir em 2019, onde mais 60% afirmam que investirão em lançamentos de novos produtos e na adoção de novas tecnologias. Das respostas, 49% investirão em treinamento e 37% incrementar a frente de P&D de produtos e/ou serviços.

    A captação de investimentos será realizada por aporte dos proprietários ou acionistas (24%), empréstimos de bancos de fomento (24%) e empréstimos com bancos de varejo (24%). Apenas, 6% planejam fazer emissão de títulos de dívida e, somente 10 empresas das 826, planejam fazer abertura de capital (cerca de 1%).

    A pesquisa mostrou as boas expectativas de negócios para 2019, lembrando que a pesquisa foi realizada antes da posse no novo governo, onde 69% afirmaram que as vendas aumentarão e que irão aumentar em 53% os treinamentos em educação e qualificação dos funcionários. Os investimentos em P&D aumentarão em 49%.

    Para 65% dos executivos, o Estado deve ter maior participação na alavancagem de programas de P&D e 48% acreditam que o Estado deve apoiar a adaptação de suas empresas na Indústria 4.0 e na transformação digital, além de mais incentivos tributários para desenvolver programas de pesquisa e projetos de inovação.

    Eu espero que estas reivindicações seja parte da pressão natural dos empresários na busca de mais benefícios do Estado, coisa que acontece em todo o mundo.

    Se não, temos mais um desafio a vencer, já que existem vários programas de apoio a pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. Por exemplo, o PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), criado em 1997, que aporta até R$200 mil para estudos de viabilidade de projetos à fundo perdido e mais R$1 milhão para a implantação comercial do produto, caso seja provado sua viabilidade econômica. Outro é o programa de P&D da Aneel, onde cada concessionária do setor de energia deve investir 1% da sua receita líquida operacional em pesquisa, a fundo perdido. Além dos benefícios da Lei do Bem (Lei nº 11.196 de 2005).

    Curioso a pesquisa mostrar que ainda 24% avaliam buscar investimento em bancos de varejo, que aplicam altas taxas de juros, e apenas 1% pensam em captar recursos com lançamento público de ações. Isto mostra a pouca cultura que temos no mercado de ações. Na B3 temos cerca de 130 empresas no Novo Mercado, nível máximo de classificação, onde existem apenas ações ordinárias com direito a voto.

    Pedir incentivos na adaptação à Indústria 4.0 é legitimo, vários governos de outros países estão apoiando a mudanças tecnológicas com requalificação da mão de obra e outros incentivos. Entretanto, este movimento em outros países acompanha contrapartidas dos empresários para garantir o emprego e a transição dos trabalhadores para outras atividades da economia, uma vez que, a automação industrial extrema da Indústria 4.0 exigirá poucos trabalhadores com alta qualificação técnica.

    O governo de São Paulo tem o Forma SP, um programa de formação e capacitação para a economia criativa, que pretende inserir os jovens no mercado de trabalho. Um estudo de uma grande consultoria prevê taxas anuais de crescimento superiores a 5% nos próximos quatro anos, em setores específicos como games e e-sports, taxa que pode ser até três vezes maior, quase 15% até 2022.

    Apesar de todos os desafios que o Brasil enfrenta, existem vários programas de incentivo e espaço para os empresários implementarem programas de inovação, pesquisa e desenvolvimento e transformação digital, sem precisar esperar pelo Estado.

    Felizmente, o país tem uma ótima safra de empreendedores que com suas startups estão transformando o mercado com novos produtos e serviços disruptivos. O Brasil tem cinco empresas classificadas como unicórnios, empresas que atingiram o valor de mercado de 1 bilhão de dólares: 99, PagSeguro, Nubank, Stone e iFood.

    As startups estão ocupando parcelas significativas de mercado, abocanhando mercados de empresas tradicionais que não conseguiram se transformar ao longo do tempo. Apesar de muitas empresas tradicionais tenham capital para provocar uma transformação radical nas suas organizações, algumas estão tendo dificuldades para implementar seus planos de modernização.

    Por isso, acredito que é necessário uma transformação da cultura empresarial antes da digital.

  • Transformação digital é tema superado, o desafio é enfrentar as empresas 996

    Transformação digital é tema superado, o desafio é enfrentar as empresas 996

    Empresas 996, onde os funcionários trabalham no mínimo 12 horas/6 dias por semana, dominarão os mercados globais em diversos setores. Quem trabalha mais evolui seu midset e consegue o sucesso. As empresas de tecnologia 996 chinesas já lideram o mercado de inteligência artificial, pelo menos em projetos de implementação. Quem dominar a tecnologia de inteligência artificial dominará os mercados. As novas leis de restrição a dados ainda são pouco efetivas frente aos sofisticados algoritmos de redes neurais que podem detectar perfis de comportamentos por diversos elementos indiretos. Trabalhar muito, diminui a curva de aprendizado, massifica processos e reduz custos. Transformação digital é uma fase que está superada, o desafio agora é enfrentar as empresas 996. A solução é se tornar uma 996.

    Deus ajuda quem cedo madruga, diz o velho ditado. Pesquisas mostram que executivos de sucesso acordam entre 5 e 6 horas da manhã. Hábitos saudáveis incluem disciplina na alimentação, sono, exercícios, meditação e acordar cedo. Boa alimentação logo cedo, exercício de pelo menos uma hora, meditação de 10 minutos e sono de qualidade, nos permite iniciar o trabalho às 9 horas da manhã. Trabalhar 12 horas por dia pode ser compensador se o objetivo for gratificante com indicadores de crescimento profissional em um ambiente agradável e motivador, apesar do esforço.

    As empresas de tecnologia chinesas adotaram o conceito de empresas 996, onde trabalham das 9 horas da manhã até as 9 horas da noite, de segunda a sábado. Pode parecer loucura, mas estas empresas estão transformando o mercado.

    O volume de trabalho reduz o tempo de implementação de projetos, maximizando os recursos humanos e tecnológicos, e antecipando os benefícios financeiros dos projetos. Ou seja, desenvolver projetos com empresas 996 é mais eficaz e rentável.

    Alguns podem dizer que isto vai contra ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 8 da ONU, que prevê o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos. Entretanto, só haverá emprego para todos e todas se houver empresas para contratá-los. Se as empresas não adotarem práticas e modelos de negócios globais perderão a competitividade e reduzirão, drasticamente, o número de empregados.

    Se parece ser inevitável competir no futuro com empresas 996, como se preparar para enfrenta-las?

    O desafio é grande. A começar pelo novo comportamento dos jovens que buscam o equilíbrio entre o trabalho e o lazer. Um outro desafio é legislação trabalhista, especialmente, no Brasil onde existe uma Justiça do Trabalho desde 1941, que ainda usa conceitos do seu criador, Getúlio Vargas (o pai dos pobres), que resiste em legislar com as novas regras trabalhistas aprovadas pelo Congresso e homologadas pelo Presidente da República. Compreensivelmente, frente a insegurança jurídica, os empresários adiam decisões que podem tornar suas empresas mais competitivas.

    Enquanto observamos o desenvolvimento das empresas 996 fora do país, podem adotar algumas práticas que não firam nossa atual legislação, como:

    1. Implementar ferramentas de produtividade;
    2. Montar pequenas equipes orientadas a serviços usando metodologias ágeis;
    3. Incentivar os empregados a estudarem no período noturno no desenvolvimento de projetos acadêmicos em áreas do conhecimento utilizadas pela empresa.

    Tais ações, reduzem a curva de aprendizado e aumentam a produtividade da empresa.

    Qualquer alternativa para operar empresas 996 no Brasil deve passar por revisões profundas na legislação pelo Congresso Nacional e que sejam cumpridas pelo Poder Judiciário, incluindo a revisão da pertinência da Justiça do Trabalho. A grande questão é a insegurança jurídica.

    Ainda nos resta avaliar a alternativa de aproveitar os atraentes benefícios fiscais das Zonas Francas do Uruguai e Colômbia ou dos baixos tributos do Paraguai. Países próximos com legislação mais flexível que a brasileira. No Brasil, a flexibilização das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação) para permitir serviços ao invés de apenas indústrias de transformação foi barrada no Congresso. Lembrando, que o sucesso chinês se deve às ZPEs, que empregam 30 milhões de trabalhadores do total global de 37 milhões trabalhadores em ZPEs.

  • Como Blockchain e IA podem proteger sua privacidade

    Como Blockchain e IA podem proteger sua privacidade

    A Internet e a nuvem mudaram para melhor a vida das pessoas, porém colocaram em risco a privacidade das pessoas. O Google rastreia todos os nossos movimentos através de seus softwares nos bilhões de celulares ao redor do mundo. Com a enorme variedade e volume de dados as empresas perderam o controle de seus dados. Mesmo gigantes da computação, como o Facebook, entregaram dados de usuários que adequadamente manipulados podem ter influenciado as eleições americanas. Além do roubo de informações, algoritmos de Machine Learning podem estabelecer relações entre dados e definir comportamentos de usuários, mesmo usando dados anonimizados. Com as novas legislações sobre privacidade de dados, implicando em severas penalidades, criou-se um enorme desafio para as empresas protegerem os dados de seus clientes. Por sorte, o uso combinado de Blockchain e a inteligência artificial podem, se não resolver por completo, minimizar o risco de vazamento de informações privadas.

    Pesquisadores de Berkeley desenvolveram uma ferramenta de código aberto que limita o quanto os funcionários podem aprender sobre os clientes individuais, analisando os dados dos usuários. Ele é baseado em uma técnica chamada privacidade diferencial, projetada para proteger a identidade dos indivíduos, mesmo quando os dados supostamente foram anonimizados.

    Esta técnica é usada pela Apple para coletar dados de iPhones sem arriscar a privacidade do cliente. No sistema do Uber, os funcionários podem consultar um banco de dados, por exemplo, para resumir os passeios recentes em uma área específica. Entretanto, algoritmos avaliam o risco de a solicitação vazar informações sobre os indivíduos e injetam ruído aleatório nos dados para neutralizar esse risco. Perguntas sobre passeios recentes em uma cidade grande, pouco ou nenhum ruído será necessário; perguntas sobre um local específico, que podem identificar um indivíduo, é inserido muito mais ruído. A decisão sobre o nível de ruído nos dados será definida por algoritmos de inteligência artificial.

    O software da Uber de privacidade diferencial não usa blockchain, utiliza um tipo de sistema de registros criptografados que limita o acesso dos funcionários. Entretanto, ninguém sabe como o sistema foi implantado e o quanto ele é eficiente. Temos que acreditar na Uber.

    Por outro lado, se as empresas usarem sistemas de privacidade e segurança conectados ao blockchain de uma empresa certificadora, esta poderá fornecer garantias criptográficas uns aos outros, ou a seus clientes, certificando que as regras são aplicadas corretamente. Este tipo de sistema tem aplicação em vários setores, como na saúde, finanças e comércio.

    Pesquisadores da Johns Hopkins e do MIT estão desenvolvendo o ZCash, uma criptografia criada para oferecer transações digitais totalmente anônimas. O JP Morgan é um dos parceiros deste projeto, afirmando que o anonimato pode ajudar as empresas a manter suas finanças mais privada.

    Os desafios são grandes e exigem uma maior participação dos talentos acadêmicos das Universidades e profissionais de diversas áreas de negócios colaborem para aperfeiçoar as técnicas de proteção da informação.

  • Onde fica a TI em organizações orientadas a serviços?

    Onde fica a TI em organizações orientadas a serviços?

    A transformação digital é um desafio para as empresas que exige uma nova estrutura organizacional, incluindo a transformação da TI. Ao longo dos anos se discute o papel estratégico da TI nas organizações. Em muitos casos este papel só foi alcançando em organizações onde a tecnologia é parte do core business do negócio. Por exemplo, no setor bancário a tecnologia é chave para o sucesso do negócio, papel ainda mais relevante nas Fintechs, onde a tecnologia é a essência do negócio. Em outras situações, talvez na maioria, o papel da TI ainda é de enabler, ou seja, de facilitadora de soluções de negócios. A questão é onde colocar a TI nas novas organizações orientadas a serviços?

    A resposta parece simples, dentro das equipes autônomas de serviços. As organizações ágeis são formadas por pequenas equipes que reúnem todos os recursos necessários para serem autônomas. Segundo Jeff Bezos, CEO da Amazon, o tamanho ideal de uma equipe é quando podemos alimenta-la com apenas duas pizzas.

    O problema com equipes grandes não é exatamente o tamanho em si, mas o elevado número de ligações entre as pessoas que dificulta tomadas de decisões rápidas. Segundo o psicólogo organizacional e especialista em dinâmica de equipe J. Richard Hackman, a fórmula para determinar o número de links entre membros em um grupo é n (n-1) / 2, onde n é número de pessoas. Quanto maior o número de pessoas na equipe maior o número de links, tornando mais complexa a comunicação.

    As metodologias ágeis propõem que as equipes sejam autônomas, com autoridade para tomadas de decisões, altamente colaborativas, com cultura de startup e com múltiplas habilidades com tamanho apropriado (digo, pequenas).

    Dentro deste conceito, os especialistas de TI estão inseridos dentro destas equipes sob a coordenação do líder do serviço, que na maioria dos casos é alguém da área de negócios.

    Uma organização como a Amazon.com de Jeff Bezos trabalha com o conceito de serviços, onde cada equipe é responsável por tudo, desenvolvimento e operação. Isto acaba com o empurra-empurra para a solução de problemas e longas discussões para as tomadas de decisão.

    Usa-se o conceito de “duas portas” ou “uma porta”. Quando executar uma ação tem uma porta de entrada e uma de saída (duas portas) a equipe tem autonomia para tomar a decisão de avançar. Se a ação tem um caminho sem volta (uma porta) a decisão deve ser compartilhada com as áreas envolvidas.

    Trabalhando com o conceito de serviços, dificilmente, uma empresa para totalmente. Usando microserviços, a maioria dos clientes nem percebem a existência de problemas. Dentro do conceito de “duas portas” o serviço é rapidamente reestabelecido.

    Cloud Computing facilita o funcionamento de organizações orientadas a serviços, podendo operar no conceito de multicloud. Cada equipe busca a melhor opção serviços dos provedores de Cloud Computing ou uso de recursos internos.

    O CTO (Chief Technology Officer) e sua pequena equipe tem o papel de certificar os serviços dentro das regras de conformidade – compliance – da organização e da infraestrutura para o funcionamento dos serviços, incluindo equipamentos e comunicação. Tecnologias como DevOps, containers, dockers e outras aumentam o grau de autonomia dos desenvolvedores.

    O papel do CIO (Chief Information Officer) e sua pequena equipe é de orquestração dos serviços, garantindo que todas as funcionalidades exigidas para o funcionamento da empresa sejam atendidas. Em algumas empresas, o CEO (Chief Executive Officer) pode acumular o papel de CIO, fato comum nas startups.

    Neste contexto, cada unidade de negócios teria uma área de planejamento e melhoria contínua de processos, onde estaria os especialistas de TI, e uma área de operações. A área de planejamento seria organizada por serviços de acordo com sua complexidade, apoiando as áreas de operações.

    Em resumo, temos que deixar de discutir a estrutura e papel da TI e focar na integração dos especialistas de TI nas equipes de negócios, disponibilizando ferramentas de produtividade e automação para suportar as equipes ágeis da organização.