A transformação da cultura empresarial antes da digital

A Agenda 2019 da Deloitte mostra a necessidade da transformação da cultura empresarial antes da digital no Brasil. A pesquisa, realizada em 2018, avalia as expectativas do empresariado para o país e os seus negócios. O perfil da amostra tem 826 empresas que somam em receitas R$2,8 trilhões, representando 43% do PIB nacional, números de 2017.

A pesquisa avaliou cinco grandes áreas para o atual governo: Leis e regulamentações, gestão pública, atividade econômica, atividade empresarial e investimentos sociais. Segue as três prioridades apontas pelos respondentes em cada área:

  1. Leis e regulamentações:
    • Reforma tributária (93%)
    • Reforma previdenciária (90%)
    • Reforma política (80%)
  2. Gestão pública
    • Combate à corrupção (62%)
    • Ajuste fiscal das contas públicas (61%
    • Novas privatizações (33%)
  3. Atividade econômica
    • Estimula à geração de empregos (80%)
    • Manter a inflação abaixo dos 5% ao ano (58%)
    • Políticas para ampliar a participação do Brasil no comércio exterior (53%)
  4. Atividade empresarial
    • Melhorar e ampliar as Parcerias Público-Privadas (52%)
    • Ampliar a oferta de crédito às empresas (51%)
    • Mais incentivo para que as empresas se adaptem à Indústria 4.0 (48%)
  5. Investimentos sociais
    • Educação (84%)
    • Segurança pública (77%)
    • Saúde (65%)

A pesquisa foi respondia por 66% de CXOs, ou seja, executivos com cargos diretivos (C-Level). A pesquisa respondida, voluntariamente, pela Internet tem 37% de empresas de bens de consumo (manufatura, comércio, agronegócio e outros), 28% de serviços (educação, saúde e outros), 14% de infraestrutura e construção, 12% de TI e telecomunicações e 9% de atividade financeiras.

A pesquisa mostra que 97% das empresas irão investir em 2019, onde mais 60% afirmam que investirão em lançamentos de novos produtos e na adoção de novas tecnologias. Das respostas, 49% investirão em treinamento e 37% incrementar a frente de P&D de produtos e/ou serviços.

A captação de investimentos será realizada por aporte dos proprietários ou acionistas (24%), empréstimos de bancos de fomento (24%) e empréstimos com bancos de varejo (24%). Apenas, 6% planejam fazer emissão de títulos de dívida e, somente 10 empresas das 826, planejam fazer abertura de capital (cerca de 1%).

A pesquisa mostrou as boas expectativas de negócios para 2019, lembrando que a pesquisa foi realizada antes da posse no novo governo, onde 69% afirmaram que as vendas aumentarão e que irão aumentar em 53% os treinamentos em educação e qualificação dos funcionários. Os investimentos em P&D aumentarão em 49%.

Para 65% dos executivos, o Estado deve ter maior participação na alavancagem de programas de P&D e 48% acreditam que o Estado deve apoiar a adaptação de suas empresas na Indústria 4.0 e na transformação digital, além de mais incentivos tributários para desenvolver programas de pesquisa e projetos de inovação.

Eu espero que estas reivindicações seja parte da pressão natural dos empresários na busca de mais benefícios do Estado, coisa que acontece em todo o mundo.

Se não, temos mais um desafio a vencer, já que existem vários programas de apoio a pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. Por exemplo, o PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), criado em 1997, que aporta até R$200 mil para estudos de viabilidade de projetos à fundo perdido e mais R$1 milhão para a implantação comercial do produto, caso seja provado sua viabilidade econômica. Outro é o programa de P&D da Aneel, onde cada concessionária do setor de energia deve investir 1% da sua receita líquida operacional em pesquisa, a fundo perdido. Além dos benefícios da Lei do Bem (Lei nº 11.196 de 2005).

Curioso a pesquisa mostrar que ainda 24% avaliam buscar investimento em bancos de varejo, que aplicam altas taxas de juros, e apenas 1% pensam em captar recursos com lançamento público de ações. Isto mostra a pouca cultura que temos no mercado de ações. Na B3 temos cerca de 130 empresas no Novo Mercado, nível máximo de classificação, onde existem apenas ações ordinárias com direito a voto.

Pedir incentivos na adaptação à Indústria 4.0 é legitimo, vários governos de outros países estão apoiando a mudanças tecnológicas com requalificação da mão de obra e outros incentivos. Entretanto, este movimento em outros países acompanha contrapartidas dos empresários para garantir o emprego e a transição dos trabalhadores para outras atividades da economia, uma vez que, a automação industrial extrema da Indústria 4.0 exigirá poucos trabalhadores com alta qualificação técnica.

O governo de São Paulo tem o Forma SP, um programa de formação e capacitação para a economia criativa, que pretende inserir os jovens no mercado de trabalho. Um estudo de uma grande consultoria prevê taxas anuais de crescimento superiores a 5% nos próximos quatro anos, em setores específicos como games e e-sports, taxa que pode ser até três vezes maior, quase 15% até 2022.

Apesar de todos os desafios que o Brasil enfrenta, existem vários programas de incentivo e espaço para os empresários implementarem programas de inovação, pesquisa e desenvolvimento e transformação digital, sem precisar esperar pelo Estado.

Felizmente, o país tem uma ótima safra de empreendedores que com suas startups estão transformando o mercado com novos produtos e serviços disruptivos. O Brasil tem cinco empresas classificadas como unicórnios, empresas que atingiram o valor de mercado de 1 bilhão de dólares: 99, PagSeguro, Nubank, Stone e iFood.

As startups estão ocupando parcelas significativas de mercado, abocanhando mercados de empresas tradicionais que não conseguiram se transformar ao longo do tempo. Apesar de muitas empresas tradicionais tenham capital para provocar uma transformação radical nas suas organizações, algumas estão tendo dificuldades para implementar seus planos de modernização.

Por isso, acredito que é necessário uma transformação da cultura empresarial antes da digital.