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Autor: Eduardo Fagundes

  • Os desafios da coleta de dados em dispositivos IoT para Big Data/Analytics

    Os desafios da coleta de dados em dispositivos IoT para Big Data/Analytics

    Quem trabalha com Big Data/Analytics sabe que um dos maiores desafios é a coleta de dados. Sabemos que os sistemas legados, desenvolvidos anos atrás, não contem todas os dados que necessitamos para as análises, seja porque o histórico de dados foi deletado por economia de custo de armazenamento ou porque os sistemas foram desenvolvidos para resolver apenas questões operacionais. Felizmente, os novos sistemas já abordam dados necessários para análises mais completas e dados para sistemas de aprendizado de máquina – Machine Learning. Para coleta de dados de sensores remotos em tempo real a Internet of Things (IoT) é a tecnologia que se apresenta mais viável atualmente. Entretanto, temos dois grandes desafios: a escolha da tecnologia de comunicação e os custos dos serviços, incluindo os impostos.

    A expectativa é que tenhamos 125 milhões de dispositivos conectados até 2030. Imagine receber dados deste universo de sensores remotos! A questão hoje é qual das tecnologias de comunicação disponíveis é mais eficiente e de baixo custo para capturar estes dados.

    Tecnologias

    Entre muitas tecnologias de comunicação disponíveis, temos quatro que se destacam, baseadas em LPWAN: LTE-M (LTE -MTC [Machine Type Communication]), NB-IoT (Narrowband IoT), LoRa e o Sigfox. Redes de baixa potência para grandes áreas (LPWAN – low-power wide-area network) é um tipo de comunicação sem fios rede de área ampla concebido para permitir a comunicação de longo alcance a uma baixa taxa de bits entre coisas (objetos conectados), como sensores usando IoT. A taxa de dados da LPWAN varia de 0,3 kbps a ​​50 kbps por canal.

    Os principais atributos da tecnologia LPWAN são:

    • Longo alcance: A faixa de operação da tecnologia LPWAN varia de alguns quilômetros em áreas urbanas a mais de 10 km em áreas rurais. Ele também pode permitir a comunicação efetiva de dados em locais internos e subterrâneos anteriormente inviáveis.
    • Baixa potência: Otimizado para consumo de energia, os transceptores LPWAN podem funcionar com baterias pequenas e baratas por até 20 anos
    • Baixo custo: os protocolos simplificados e leves da LPWAN reduzem a complexidade no projeto de hardware e reduzem os custos com dispositivos. Seu longo alcance, combinado com uma topologia em estrela, reduz os dispendiosos requisitos de infraestrutura, e o uso de bandas licenciadas ou não licenciadas reduz os custos de rede.

    As tecnologias LTE-M e NB-IoT foram desenvolvidas pela 3GPP (3rd Generation Partnership Project), uma organização de tecnológica na área de telecomunicações que visa padronizar a criação, envio e reprodução de arquivos multimídia (vídeos) em telefones celulares e outros aparelhos wireless.

    1.    LTE-M

    O LTE-M (LTE -MTC [Machine Type Communication]), que inclui o eMTC (Enhanced Machine Type Communication), permite conexão com uma ampla gama de dispositivos celulares. e serviços (especificamente, para aplicativos máquina-para-máquina e IoT), ainda leva vantagem sobre o NB-IoT de ter taxa de dados comparativamente mais alta, mobilidade e voz na rede, mas requer mais largura de banda.

    Caraterísticas do LTE-M:

    • Barato: os dispositivos podem se conectar a redes 4G com chips de menor custo, porque são half-duplex e têm uma largura de banda mais estreita;
    • Longa vida útil da bateria: os dispositivos podem entrar em um modo de “sono profundo” chamado Modo de Economia de Energia (PSM) ou acordar apenas periodicamente enquanto estiverem conectados. Esse modo é chamado de recepção descontínua estendida (eDRX);
    • Menor custo de serviços: como a taxa máxima de dados dos dispositivos LTE-M é de apenas 100 kbps, eles não cobram muito da rede 4G. As operadoras podem oferecer planos de serviços mais próximos do antigo preço 2G M2M do que os preços 4G.

    Aplicações do LTE-M

    • Sensores de baixa densidade: para empresas ou OEMs que usam sensores como parte de seus negócios (Cold Chain Monitoring), elimina problemas de conexão via Wi-Fi ou através de gateway. A ideia é instalar os dispositivos com baterias de longa duração e evitar manutenções periódicas;
    • Leitura automatizada do medidor: com chips mais baratos é possível mais medidores e ampliar a monitoração, controle e análises de dados;
    • Rastreamento de ativos: as soluções de rastreamento de ativos híbridos que usam conexão de curto alcance, como Bluetooth, usando um backhaul via LTE-M é uma ótima solução técnica e econômica.

    2.    NB-IoT

    Como um padrão celular, o objetivo do NB-IoT é padronizar os dispositivos de IoT para serem interoperáveis ​​e mais confiáveis.

    Como o NB-IoT é uma tecnologia sem fio de nível celular que usa modulação OFDM, os chips são mais complexos, mas o custo dos links é menor. Isso significa que os usuários obtêm um alto nível de desempenho associado às conexões de celular, mas ao custo de mais complexidade e maior consumo de energia.

    O NB-IoT deve ser usado para enviar e receber pequenas quantidades de dados – algumas dezenas ou centenas de bytes por dia gerados por dispositivos de IoT de baixa produção de dados. Ele é baseado em mensagens, semelhante ao Sigfox e ao LoRa, mas com uma taxa de modulação muito mais rápida que pode manipular muito mais dados do que essas tecnologias. O NB-IoT não é um protocolo de comunicação baseado em IP e não pode ser utilizado em aplicações como de um smartphone comum. Ele foi desenvolvido para aplicativos IoT simples com baixo consumo de energia.

    A especificação 3GPP para NB-IoT tem duas variantes concorrentes: Huawei/Vodafone versus Ericsson/Nokia/Intel. O NB-IoT deve operar dentro de um espectro de frequência licenciado.

    Vantagens do NB-IoT:

    • Boa cobertura. Os dispositivos NB-IoT dependem da cobertura 4G, para que funcionem bem em ambientes internos e em áreas urbanas densas;
    • Rápidos tempos de resposta: são mais rápidos do que o LoRa e pode garantir uma melhor qualidade de serviço.

    Desvantagens do NB-IoT

    • É difícil implementar transferências via firmware via over-the-air (FOTA) ou arquivos. Algumas das especificações de projeto para o NB-IoT fazem com que seja difícil enviar grandes quantidades de dados para um dispositivo;
    • Os handoffs de rede e torre pode ser um problema, sendo, portanto, mais adequado para ativos basicamente estáticos, como medidores e sensores em um local fixo, em vez de ativos de roaming.

    3.    LoRa

    LoRa ( Lo ng Ra nge) é protocolo de comunicação sem fio de longo alcance patenteada pela Cycleo de Grenoble, França, e adquirida pela Semtech em 2012. O LoRa usa bandas de radiofrequência sub giga-hertz não licenciando na Europa e Estados Unidos. O LoRa permite transmissões de longo alcance (mais de 10 km em áreas rurais) com baixo consumo de energia. A tecnologia é apresentada em duas partes: LoRa, a camada física e LoRaWAN (Long Range Wide Area Network), as camadas superiores.

    O LoRa é um sistema de modulação proprietário vendido pela empresa Semtech, única fabricante de chipset e titular de licença para LoRa.

    Vantagens do LoRa:

    • Adequado para aplicações de propósito específico;
    • Funcionalidades para configurar e gerenciar sua própria rede;
    • O LoRa é uma boa opção para aplicações de bidirecionais, por exemplo, funcionalidade de comando e controle, usando links simétricos;
    • Os dispositivos LoRa funcionam bem quando estão em movimento, o que os torna úteis para rastrear ativos em movimento, como remessas de encomendas;
    • Os dispositivos LoRa têm uma duração de bateria mais longa que os dispositivos NB-IoT.

    Desvantagens do LoRa:

    • Tem taxas de dados mais baixas do que o NB-IoT;
    • Tem um tempo de latência maior que o NB-IoT.

    4.    Sigfox

    A tecnologia proprietária da Sigfox emprega o chaveamento binário diferencial de fase (DBPSK) e o chaveamento gaussiano de frequência (GFSK) que permite a comunicação usando a banda de rádio Industrial, Científica e Médica ISM que usa 868MHz na Europa e 902MHz nos EUA. Ele utiliza um sinal de longo alcance que passa livremente através de objetos sólidos, chamado de ” Ultra Narrowband ” e requer pouca energia. O padrão existente para comunicações Sigfox suporta até 140 mensagens de ligação ascendente por dia, cada uma das quais pode transportar uma carga útil de 12 octetos a uma taxa de dados de até 100 bytes por segundo.

    A tecnologia é de propriedade da Sigfox, uma operadora de rede global francesa fundada em 2009 que constrói redes sem fio para conectar objetos de baixa potência, como medidores de eletricidade e smartwatches, que precisam estar continuamente ligados e emitindo pequenas quantidades de dados. A Sigfox tem parceria com várias empresas do setor de LPWAN, como Texas Instruments, Silicon Labs e ON Semiconductor.

    Vantagens do Sigfox:

    • Consome uma baixa quantidade de energia;
    • Funciona bem em dispositivos simples que transmitem com baixa frequência, porque envia quantidades muito pequenas de dados;
    • Suporta uma ampla área de cobertura nas áreas em que está localizada.

    Desvantagens do Sigfox:

    • A operadora Sigfox e seus parceiros, como a WND no Brasil, não estão presentes em muitas localidades;
    • Melhor comunicação do ponto final para a estação base. O Sigfox é bidirecional, entretanto, podem existir restrições de envio de dados para os dispositivos remotos;

    Implementações no Brasil

    Todas as tecnologias e fornecedores internacionais estão presentes ou representados no Brasil. A WND Brasil, operadora do Sigfox, afirma que já possui uma cobertura de serviço para 106 milhões de pessoas no início de 2019 e prevê uma cobertura para mais de 150 milhões de pessoas até no fina de 2019.

    Em março de 2019, o BNDES elegeu três municípios – Santa Rita do Sapucaí (MG), Caxambu (MG) e Piraí (RJ) – para serem testes de dispositivos de IoT para aplicações de cidades inteligentes. O BNDES habilitou a Inatel para a execução do projeto piloto que será conduzido em parceria com a Prefeitura Municipal de Santa Rita do Sapucaí (MG), com as empresas Ericsson e Tim, e com as startups Pixel, Das Coisas, Fractum e Laager Inovações.

    A rede 4G, ativada comercialmente pela TIM em Santa Rita do Sapucaí, desde o ano de 2019, é a primeira no Brasil habilitada com a funcionalidade NB-IoT.

    A Vivo Empresas, área do segmento B2B da Telefônica Brasil, anunciou em março de 2019 o lançamento das redes NB-IoT e LTE-M, oferecendo opções de conexões para os clientes.

    Com isto o padrão da variante do NB-IoT formado pela Ericsson/Nokia/Intel leva vantagem no Brasil e pode ser tornar um padrão de fato.

    A America Tower, uma empresa global, afirmou, em fevereiro de 2019, que o Brasil é peça-chave da estratégia da empresa para seus serviços, que inclui redes baseadas em LoRa.

    Custos dos serviços e impostos

    Além das discussões técnicas sobre as tecnologias disponíveis, uma componente importante é o custo dos serviços. Cada operadora de serviços estabelece seus preços, normalmente, baseados em tráfego de dados e unidades conectadas, valendo reduções nos preços para grandes volumes.

    A avaliação que se deve fazer é o valor do dado coletado do ponto de vista do negócio. Só faz sentindo o investimento e despesas com os serviços se o valor do serviço for muito menor que o valor do dado para o negócio.

    Aqui entra outra questão: qual é o valor do dado coletado? Cada empresa tem que estabelecer critérios para avaliar os resultados esperados pelo projeto.

    Outra questão está discussão é o pagamento de impostos dos serviços para a conexão de dispositivos remotos usando tecnologia IoT. A regra hoje é que além do ICMS deve também incidir o FISTEL, a taxa de fiscalização dos serviços de telecomunicações.

    Conclusão

    A boa notícia é que as principais tecnologias de comunicação de dados para dispositivos de IoT estão presentes no Brasil e competindo para oferecer melhores serviços para os clientes. Cada tecnologia tem suas vantagens e desvantagens técnicas que terão analisadas juntamente com os níveis de serviços e preços oferecidos pelos fornecedores.

    A coleta de dados dever ser ajustada as necessidades do negócio, considerando que os custos dos serviços de coleta devem compensar o investimento e despesas mensais das aplicações de negócios.

    Coletar todos os dados disponíveis pode ser uma solução viável para sistemas internos e fechados, porém, quando houver necessidade de coleta de dados de sistemas externos, a relação custo/benefício deve ser muito bem estudada.

    A melhor estratégia é buscar independência das operadoras de serviços de comunicações. Entretanto, no caso de IoT é necessário implementar a tecnologia selecionada nos dispositivos remotos deixando pouca flexibilidade para substituição de tecnologia, principalmente, depois de implantações de larga escala.

    A exemplo das tecnologias dos celulares que acabaram se consolidando, deve acontecer o mesmo no futuro com as tecnologias para IoT. Ainda está na memória a rivalidade entre o padrão adotado pela Vivo/Telefônica, o CDMA, e o padrão das outras operadoras, o GSM. A Vivo/Telefônica teve que fazer um enorme esforço para a conversão da rede para o padrão que se consolidou, o GSM.

    Apostar na melhor tecnologia não garante a continuidade dos serviços. A decisão deve ser baseada seguindo os grandes grupos econômicos internacionais.

    A chegada da tecnologia 5G deve impactar as tecnologias para IoT. Como tudo, devemos acompanhar as tendências das novas tecnologias e criar alternativas de migração, se necessário, e formar de aumentar o desempenho e reduzir custos.

  • A transformação da cultura empresarial antes da digital

    A transformação da cultura empresarial antes da digital

    A Agenda 2019 da Deloitte mostra a necessidade da transformação da cultura empresarial antes da digital no Brasil. A pesquisa, realizada em 2018, avalia as expectativas do empresariado para o país e os seus negócios. O perfil da amostra tem 826 empresas que somam em receitas R$2,8 trilhões, representando 43% do PIB nacional, números de 2017.

    A pesquisa avaliou cinco grandes áreas para o atual governo: Leis e regulamentações, gestão pública, atividade econômica, atividade empresarial e investimentos sociais. Segue as três prioridades apontas pelos respondentes em cada área:

    1. Leis e regulamentações:
      • Reforma tributária (93%)
      • Reforma previdenciária (90%)
      • Reforma política (80%)
    2. Gestão pública
      • Combate à corrupção (62%)
      • Ajuste fiscal das contas públicas (61%
      • Novas privatizações (33%)
    3. Atividade econômica
      • Estimula à geração de empregos (80%)
      • Manter a inflação abaixo dos 5% ao ano (58%)
      • Políticas para ampliar a participação do Brasil no comércio exterior (53%)
    4. Atividade empresarial
      • Melhorar e ampliar as Parcerias Público-Privadas (52%)
      • Ampliar a oferta de crédito às empresas (51%)
      • Mais incentivo para que as empresas se adaptem à Indústria 4.0 (48%)
    5. Investimentos sociais
      • Educação (84%)
      • Segurança pública (77%)
      • Saúde (65%)

    A pesquisa foi respondia por 66% de CXOs, ou seja, executivos com cargos diretivos (C-Level). A pesquisa respondida, voluntariamente, pela Internet tem 37% de empresas de bens de consumo (manufatura, comércio, agronegócio e outros), 28% de serviços (educação, saúde e outros), 14% de infraestrutura e construção, 12% de TI e telecomunicações e 9% de atividade financeiras.

    A pesquisa mostra que 97% das empresas irão investir em 2019, onde mais 60% afirmam que investirão em lançamentos de novos produtos e na adoção de novas tecnologias. Das respostas, 49% investirão em treinamento e 37% incrementar a frente de P&D de produtos e/ou serviços.

    A captação de investimentos será realizada por aporte dos proprietários ou acionistas (24%), empréstimos de bancos de fomento (24%) e empréstimos com bancos de varejo (24%). Apenas, 6% planejam fazer emissão de títulos de dívida e, somente 10 empresas das 826, planejam fazer abertura de capital (cerca de 1%).

    A pesquisa mostrou as boas expectativas de negócios para 2019, lembrando que a pesquisa foi realizada antes da posse no novo governo, onde 69% afirmaram que as vendas aumentarão e que irão aumentar em 53% os treinamentos em educação e qualificação dos funcionários. Os investimentos em P&D aumentarão em 49%.

    Para 65% dos executivos, o Estado deve ter maior participação na alavancagem de programas de P&D e 48% acreditam que o Estado deve apoiar a adaptação de suas empresas na Indústria 4.0 e na transformação digital, além de mais incentivos tributários para desenvolver programas de pesquisa e projetos de inovação.

    Eu espero que estas reivindicações seja parte da pressão natural dos empresários na busca de mais benefícios do Estado, coisa que acontece em todo o mundo.

    Se não, temos mais um desafio a vencer, já que existem vários programas de apoio a pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. Por exemplo, o PIPE (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas), criado em 1997, que aporta até R$200 mil para estudos de viabilidade de projetos à fundo perdido e mais R$1 milhão para a implantação comercial do produto, caso seja provado sua viabilidade econômica. Outro é o programa de P&D da Aneel, onde cada concessionária do setor de energia deve investir 1% da sua receita líquida operacional em pesquisa, a fundo perdido. Além dos benefícios da Lei do Bem (Lei nº 11.196 de 2005).

    Curioso a pesquisa mostrar que ainda 24% avaliam buscar investimento em bancos de varejo, que aplicam altas taxas de juros, e apenas 1% pensam em captar recursos com lançamento público de ações. Isto mostra a pouca cultura que temos no mercado de ações. Na B3 temos cerca de 130 empresas no Novo Mercado, nível máximo de classificação, onde existem apenas ações ordinárias com direito a voto.

    Pedir incentivos na adaptação à Indústria 4.0 é legitimo, vários governos de outros países estão apoiando a mudanças tecnológicas com requalificação da mão de obra e outros incentivos. Entretanto, este movimento em outros países acompanha contrapartidas dos empresários para garantir o emprego e a transição dos trabalhadores para outras atividades da economia, uma vez que, a automação industrial extrema da Indústria 4.0 exigirá poucos trabalhadores com alta qualificação técnica.

    O governo de São Paulo tem o Forma SP, um programa de formação e capacitação para a economia criativa, que pretende inserir os jovens no mercado de trabalho. Um estudo de uma grande consultoria prevê taxas anuais de crescimento superiores a 5% nos próximos quatro anos, em setores específicos como games e e-sports, taxa que pode ser até três vezes maior, quase 15% até 2022.

    Apesar de todos os desafios que o Brasil enfrenta, existem vários programas de incentivo e espaço para os empresários implementarem programas de inovação, pesquisa e desenvolvimento e transformação digital, sem precisar esperar pelo Estado.

    Felizmente, o país tem uma ótima safra de empreendedores que com suas startups estão transformando o mercado com novos produtos e serviços disruptivos. O Brasil tem cinco empresas classificadas como unicórnios, empresas que atingiram o valor de mercado de 1 bilhão de dólares: 99, PagSeguro, Nubank, Stone e iFood.

    As startups estão ocupando parcelas significativas de mercado, abocanhando mercados de empresas tradicionais que não conseguiram se transformar ao longo do tempo. Apesar de muitas empresas tradicionais tenham capital para provocar uma transformação radical nas suas organizações, algumas estão tendo dificuldades para implementar seus planos de modernização.

    Por isso, acredito que é necessário uma transformação da cultura empresarial antes da digital.

  • Transformação digital é tema superado, o desafio é enfrentar as empresas 996

    Transformação digital é tema superado, o desafio é enfrentar as empresas 996

    Empresas 996, onde os funcionários trabalham no mínimo 12 horas/6 dias por semana, dominarão os mercados globais em diversos setores. Quem trabalha mais evolui seu midset e consegue o sucesso. As empresas de tecnologia 996 chinesas já lideram o mercado de inteligência artificial, pelo menos em projetos de implementação. Quem dominar a tecnologia de inteligência artificial dominará os mercados. As novas leis de restrição a dados ainda são pouco efetivas frente aos sofisticados algoritmos de redes neurais que podem detectar perfis de comportamentos por diversos elementos indiretos. Trabalhar muito, diminui a curva de aprendizado, massifica processos e reduz custos. Transformação digital é uma fase que está superada, o desafio agora é enfrentar as empresas 996. A solução é se tornar uma 996.

    Deus ajuda quem cedo madruga, diz o velho ditado. Pesquisas mostram que executivos de sucesso acordam entre 5 e 6 horas da manhã. Hábitos saudáveis incluem disciplina na alimentação, sono, exercícios, meditação e acordar cedo. Boa alimentação logo cedo, exercício de pelo menos uma hora, meditação de 10 minutos e sono de qualidade, nos permite iniciar o trabalho às 9 horas da manhã. Trabalhar 12 horas por dia pode ser compensador se o objetivo for gratificante com indicadores de crescimento profissional em um ambiente agradável e motivador, apesar do esforço.

    As empresas de tecnologia chinesas adotaram o conceito de empresas 996, onde trabalham das 9 horas da manhã até as 9 horas da noite, de segunda a sábado. Pode parecer loucura, mas estas empresas estão transformando o mercado.

    O volume de trabalho reduz o tempo de implementação de projetos, maximizando os recursos humanos e tecnológicos, e antecipando os benefícios financeiros dos projetos. Ou seja, desenvolver projetos com empresas 996 é mais eficaz e rentável.

    Alguns podem dizer que isto vai contra ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 8 da ONU, que prevê o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos. Entretanto, só haverá emprego para todos e todas se houver empresas para contratá-los. Se as empresas não adotarem práticas e modelos de negócios globais perderão a competitividade e reduzirão, drasticamente, o número de empregados.

    Se parece ser inevitável competir no futuro com empresas 996, como se preparar para enfrenta-las?

    O desafio é grande. A começar pelo novo comportamento dos jovens que buscam o equilíbrio entre o trabalho e o lazer. Um outro desafio é legislação trabalhista, especialmente, no Brasil onde existe uma Justiça do Trabalho desde 1941, que ainda usa conceitos do seu criador, Getúlio Vargas (o pai dos pobres), que resiste em legislar com as novas regras trabalhistas aprovadas pelo Congresso e homologadas pelo Presidente da República. Compreensivelmente, frente a insegurança jurídica, os empresários adiam decisões que podem tornar suas empresas mais competitivas.

    Enquanto observamos o desenvolvimento das empresas 996 fora do país, podem adotar algumas práticas que não firam nossa atual legislação, como:

    1. Implementar ferramentas de produtividade;
    2. Montar pequenas equipes orientadas a serviços usando metodologias ágeis;
    3. Incentivar os empregados a estudarem no período noturno no desenvolvimento de projetos acadêmicos em áreas do conhecimento utilizadas pela empresa.

    Tais ações, reduzem a curva de aprendizado e aumentam a produtividade da empresa.

    Qualquer alternativa para operar empresas 996 no Brasil deve passar por revisões profundas na legislação pelo Congresso Nacional e que sejam cumpridas pelo Poder Judiciário, incluindo a revisão da pertinência da Justiça do Trabalho. A grande questão é a insegurança jurídica.

    Ainda nos resta avaliar a alternativa de aproveitar os atraentes benefícios fiscais das Zonas Francas do Uruguai e Colômbia ou dos baixos tributos do Paraguai. Países próximos com legislação mais flexível que a brasileira. No Brasil, a flexibilização das ZPEs (Zonas de Processamento de Exportação) para permitir serviços ao invés de apenas indústrias de transformação foi barrada no Congresso. Lembrando, que o sucesso chinês se deve às ZPEs, que empregam 30 milhões de trabalhadores do total global de 37 milhões trabalhadores em ZPEs.

  • Como Blockchain e IA podem proteger sua privacidade

    Como Blockchain e IA podem proteger sua privacidade

    A Internet e a nuvem mudaram para melhor a vida das pessoas, porém colocaram em risco a privacidade das pessoas. O Google rastreia todos os nossos movimentos através de seus softwares nos bilhões de celulares ao redor do mundo. Com a enorme variedade e volume de dados as empresas perderam o controle de seus dados. Mesmo gigantes da computação, como o Facebook, entregaram dados de usuários que adequadamente manipulados podem ter influenciado as eleições americanas. Além do roubo de informações, algoritmos de Machine Learning podem estabelecer relações entre dados e definir comportamentos de usuários, mesmo usando dados anonimizados. Com as novas legislações sobre privacidade de dados, implicando em severas penalidades, criou-se um enorme desafio para as empresas protegerem os dados de seus clientes. Por sorte, o uso combinado de Blockchain e a inteligência artificial podem, se não resolver por completo, minimizar o risco de vazamento de informações privadas.

    Pesquisadores de Berkeley desenvolveram uma ferramenta de código aberto que limita o quanto os funcionários podem aprender sobre os clientes individuais, analisando os dados dos usuários. Ele é baseado em uma técnica chamada privacidade diferencial, projetada para proteger a identidade dos indivíduos, mesmo quando os dados supostamente foram anonimizados.

    Esta técnica é usada pela Apple para coletar dados de iPhones sem arriscar a privacidade do cliente. No sistema do Uber, os funcionários podem consultar um banco de dados, por exemplo, para resumir os passeios recentes em uma área específica. Entretanto, algoritmos avaliam o risco de a solicitação vazar informações sobre os indivíduos e injetam ruído aleatório nos dados para neutralizar esse risco. Perguntas sobre passeios recentes em uma cidade grande, pouco ou nenhum ruído será necessário; perguntas sobre um local específico, que podem identificar um indivíduo, é inserido muito mais ruído. A decisão sobre o nível de ruído nos dados será definida por algoritmos de inteligência artificial.

    O software da Uber de privacidade diferencial não usa blockchain, utiliza um tipo de sistema de registros criptografados que limita o acesso dos funcionários. Entretanto, ninguém sabe como o sistema foi implantado e o quanto ele é eficiente. Temos que acreditar na Uber.

    Por outro lado, se as empresas usarem sistemas de privacidade e segurança conectados ao blockchain de uma empresa certificadora, esta poderá fornecer garantias criptográficas uns aos outros, ou a seus clientes, certificando que as regras são aplicadas corretamente. Este tipo de sistema tem aplicação em vários setores, como na saúde, finanças e comércio.

    Pesquisadores da Johns Hopkins e do MIT estão desenvolvendo o ZCash, uma criptografia criada para oferecer transações digitais totalmente anônimas. O JP Morgan é um dos parceiros deste projeto, afirmando que o anonimato pode ajudar as empresas a manter suas finanças mais privada.

    Os desafios são grandes e exigem uma maior participação dos talentos acadêmicos das Universidades e profissionais de diversas áreas de negócios colaborem para aperfeiçoar as técnicas de proteção da informação.