efagundes.com

Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

Assine a Newsletter no Linkedin

Autor: Eduardo Fagundes

  • O mundo precisa de líderes disruptivos

    O verdadeiro líder disruptivo é aquele que torna seu propósito uma religião, transcendo sua visão além dos empregados, fornecedores e clientes. O propósito de Elon Musk de salvar a humanidade transcende as empresas Tesla, Solarcity, SpaceX e Neuralink. O propósito de Steve Jobs de mudar o mundo transcendeu a Apple, Next, Pixar e Disney. Os líderes disruptivos hoje têm propósitos voltados para a sustentabilidade do planeta e questões socioambientais que venham a melhorar a vida das pessoas, buscando tornar a humanidade melhor (ou salvá-la colonizando outros planetas, como deseja Elon Musk). Empresas que buscam apenas o lucro estão em desuso, o importante é ser protagonista no movimento global em prol da humanidade.

    Elon Musk

    (mais…)

  • Cloud Computing deve ser classificado como infraestrutura crítica

    Infraestrutura crítica é definida como instalações, serviços, bens e sistemas que, se forem interrompidos ou destruídos, provocarão sério impacto social, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade. Com o crescimento da adoção de serviços de Cloud Computing pelas empresas, inclusive governos e empresas de serviços públicos, é necessário elevar a classificação de serviços de computação em nuvem para “infraestrutura crítica” e adotar critérios comuns e auditáveis para avaliar a confiabilidade, disponibilidade e impacto de falha dos serviços.

    Cloud Computing

    Um exemplo é o caso do ONS (Operador Nacional do Sistema), órgão criado pelo decreto Lei nº 9.648 em agosto de 1998, com o objetivo de planejar e coordenar a operação das instalações de geração e transmissão no Sistema Interligado Nacional (SIN). A atividade de planejamento requer o uso de algoritmos complexos para simular a operação ótima da rede, com o despacho de energia das geradoras de forma que o custo médio seja o menor possível, considerando um enorme número de variáveis, entre as quais manter os níveis dos reservatórios de água das hidrelétricas como reserva de geração e consumo humano. Para este tipo de atividade, que exige alta capacidade de processamento por tempo limitado, a solução de alocação dinâmica de recursos computacionais é a melhor solução. Entretanto, se não houver um plano de contingência eficiente em caso de falha, teremos um impacto significativo no planejamento do setor elétrico brasileiro.

    As Fintechs, empresas financeiras apoiadas por tecnologia, usam largamente serviços de computação em nuvem, a exemplos de outras jovens empresas. Atualmente, vários serviços B2B (Business-to-Business) e B2C (Business-to-Consumers) estão apoiados por infraestruturas de Cloud Computing de diferentes provedores. Uma falha em um provedor que concentra várias empresas pode gerar um caos nos serviços.

    Entendo que muitas pessoas são contra regulamentações, alegando que tira o poder da livre iniciativa, impõem burocracia e custos adicionais. Em tese, os clientes deveriam avaliar, cuidadosamente, as condições de operação dos provedores de Cloud Computing, fazendo auditorias periódicas nos provedores. Acredito que a maioria das grandes empresas fazem auditorias independentes para verificar a qualidade do serviços e exercícios de avaliação de risco através de frameworks como o Cobit. Entretanto, estas análises avaliam o impacto individual da empresa, e não o impacto no mercado como um todo.

    Obviamente, nenhuma empresa gostaria de expor suas vulnerabilidades para os concorrentes e ao mercado, por questões de competitividade. Entretanto, a falta de transparência das vulnerabilidades pode levar a um caos no mercado.

    Por esta razão, acredito que entidades representativas de empresas que operam serviços com infraestrutura crítica deveriam realizar auditorias conjuntas para avaliar a qualidade dos serviços dos provedores de Cloud Computing e, talvez, recomendar a criação oficial de regulamentação de segurança para os provedores de computação em nuvem.

  • A ingenuidade das pessoas com as redes sociais

    O Facebook está sendo acusado de permitir o acesso a dados de 50 milhões de usuários pela consultoria Cambridge Analytica, através do pesquisador Aleksandr Kogan do departamento de psicologia da Universidade de Cambridge, e que estas informações teriam influenciado a campanha presidencial que elegeu Donald Trump. Este é o negócio do Facebook e de outras redes sociais, fornecer dados a empresas para testar e treinar seus algoritmos de inteligência artificial para entender e influenciar os consumidores. Este fato tornou-se polêmico porque evidenciou que se bem usados (para o bem ou para o mau) os softwares de inteligência artificial podem até eleger presidentes. É muita ingenuidade das pessoas acreditar que podem usar as redes sociais de graça, armazenando e trocando dados e fotos, sem terem que oferecer uma contrapartida para a empresa. O fato é que quando nos tornamos usuários de uma rede social aceitamos, contratualmente, seus termos de uso dos dados. Com as recentes tecnologias de Big Data, IoT e Inteligência Artificial (Machine Learning e Deep Learning) é possível entender a lógica dos algoritmos orgânicos das pessoas e gerar dados de entrada que as levem a tomar decisões controladas.

    Redes Sociais

    Vivemos em um mundo onde as pessoas têm necessidade de compartilhar suas informações pessoais, need to share, por várias razões: aumentar sua popularidade, expansão da sua rede de contatos (para fins pessoais ou profissionais), gabar-se do seu estilo de vida, fazer bullying, criticar a sociedade, evangelizar suas crenças, entre outras. Imagine fazer tudo isto de graça. Obviamente, não existe “almoço grátis”, as redes sociais coletam informações de todos os movimentos de seus usuários. Por exemplo, a Google conhece suas preferências pessoais. O Waze conhece os seus destinos. O Facebook conhece seus amigos melhor que você. A Netflix conhece suas preferências de filmes. O Spotify conhece seus gostos musicais.

    As operadoras de cartão de crédito já faziam isto antes da popularização das redes sociais. A cada compra que um usuário faz alimenta um banco de dados com o perfil de compras, incluindo lojas e valores. Os bancos conhecem mais da nossa financeira do que nós mesmos. As empresas de análise de crédito conseguem estabelecer o risco de crédito para cada um de nós quando solicitamos um financiamento. As farmácias para te dar um desconto nos medicamentos pedem o seu número de CPF e associam todas as suas compras, conhecendo suas doenças e conseguindo até prever que tipo de doença você terá no futuro. Os supermercados com seus programas de fidelidade e descontos para clientes conhecem seu perfil de compras e das comunidades que atendem, podem fazer compras e distribuição de produtos com mais eficiência. Os assinantes de jornais digitais oferecem informações das noticias que mais os atraem, com possibilidade de os jornais direcionarem reportagens que mais lhe agrade para manter sua fidelidade. Os partidos políticos podem usar informações de várias fontes de dados para conhecer os eleitores do cargo que concorrem para ajustar o seu discurso e vencer as eleições.

    Nossa privacidade já foi para o espaço (virtual) a muito tempo. Querer recupera-la agora é quase impossível. Você teria que deletar todas as suas contas nas redes sociais, usar só dinheiro em espécie, pagar mais caro nas farmácias e supermercados, usar telefone público, abrir mão de sua aposentaria pública, ganhar salário mínimo para não declarar imposto de rede, fazer picos para ganhar “por fora”, não usar o Uber, não se hospedar através do AirBnB, não viajar de avião ou de ônibus. Ou seja, você tem que se tornar um ermitão sem nenhum patrimônio.

    Acredito que a solução para viver melhor nesta sociedade vigiada e aberta, sem privacidade, é necessário que as pessoas tomem consciência que existem ataques para manipula-las e que devem forçar novas formas de pensamentos, questionando tudo que leem, veem e ouvem. Deixarem o alinhamento automático com as ideias e crenças da maioria. Leiam livros de diferentes assuntos e correntes sociais e políticas. Tenham em mente que tudo que você pensa e faz está sendo vigiado por alguém e que o “livre arbítrio” deve ser questionado.

    Por outro lado, os avanços tecnológicos e o poder de análise de dados usando inteligência artificial devem ser explorados para melhorar a qualidade de vida das pessoas, mitigar nossos desafios com as mudanças climáticas, criar novos hábitos de consumo consciente, participar mais ativamente da vida política, acabar com a corrupção, entre outros benefícios.

    Vivemos em uma nova realidade econômica, ambiental e social. Temos que compreender e agir de forma racional para a evolução saudável da sociedade e preservação da vida.

  • Em inovação estamos na quarta divisão

    No Oiweek Open Innovation (março, 2018), evento que reuniu 100 startups para apresentar seus projetos para grandes empresas, um dos organizadores afirmou que o Brasil está na quarta divisão da inovação no cenário global, fazendo uma analogia com o futebol.

    Participei de um encontro de acadêmicos no evento, onde discutimos oportunidades da academia participar mais de projetos de inovação aberta. Entre encontro participaram pesquisadores, empreendedores e representantes de grandes empresas de várias áreas de interesse, mostrando a pluralidade dos projetos de inovação. Um dos comentários é existem várias iniciativas governamentais e fundos de incentivos, porém dispersos. Uma das sugestões foi criar um mecanismo para orquestrar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D).

    Open Innovation Week

    Realmente, existem várias iniciativas para o desenvolvimento de P&D no Brasil e fundos incentivados que podem tirar do papel projetos inovadores, desde que bem elaborados e relevantes para o mercado. Estes fundos não apenas incentivam projetos acadêmicos, mas projetos da iniciativa privada, como o PIPE da FAPESP.

    Em 2017, o Brasil ficou na 69ª posição no Índice Nacional de Inovação, elaborado pela Universidade de Cornell, pela escola de negócios Insead e pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) entre as 130 economias pesquisadas.

    Se existe dinheiro, mesmo em tempos de crise, para incentivar a inovação, porque estamos na quarta divisão?

    A primeira explicação é que a grande maioria dos empreendedores no Brasil não desenvolve tecnologia e processos inovadores, apenas as aplicam em seus negócios. Isto não cria um oceano azul de negócios (baixa concorrência e lucros atraentes) e a competição no mercado fica no preço (oceano vermelho). Neste cenário, os empreendedores lutam para sobreviver e não têm tempo para projetos de inovação.

    A segunda explicação é a dificuldade de as pesquisas realizadas nas Universidades chegarem ao mercado consumidores. Algumas vezes, as barreiras são criadas pelos próprios pesquisadores, que priorizam papers acadêmicos e participação em congressos científicos ao invés de focar na aplicabilidade de suas pesquisas.

    Outra explicação é baixa qualidade dos projetos que não conseguem se qualificar para obter os fundos incentivados.

    Coloco neste contexto o baixo desempenho dos alunos no Brasil, evidenciado pelas últimas provas de avaliação mundial entre alunos de até 15 anos. O Brasil continua nas últimas posições no ranking de educação, infelizmente.

    Isto reduz o número de pesquisadores e empreendedores que se qualificam a criar projetos realmente inovadores.

    Isto cria um gigantesco desafio para garantir uma renda mínima para os trabalhadores que perderão seus empregos pela inovação tecnológica crescente, ampliando a desigualdade social e potenciando nossas atuais fraquezas, como a violência urbana.

    Acredito que temos condições de reagir e levar nosso time para a primeira divisão da inovação, basta focarmos nisto e deixar as distrações de lado. Iniciativas como a 100 Open Startups ajudam a virar o jogo.