Em busca de inovação na pecuária brasileira

A polêmica criada pelo Greenpeace em junho de 2012 sobre as práticas da JBS na Amazônia traz uma reflexão sobre o paradoxo entre a responsabilidade socioambiental e a necessidade de aumento de alimento no mundo. A JBS é o maior processador de produtos de gado no mundo. O Greenpeace é uma organização global independente que age para mudar as atitudes e comportamentos das pessoas para proteger e conservar o meio ambiente e promover a paz. O Greenpeace denunciou que os produtos pecuários que a JBS vende globalmente ainda estão contaminados pela destruição da Amazônia, trabalho escravo e invasão de terras indígenas. A JBS reagiu afirmando que o Greenpeace está mentindo. A JBS conseguiu uma liminar da justiça no Brasil para suspender a publicação de novos relatórios do Greenpeace sobre o assunto.

Saindo da polêmica do trabalho escravo e invasão de terras indígenas, vem à questão da melhor utilização das áreas de pastagem para os rebanhos de gado liberando áreas da pecuária para a expansão do cultivo agrícola de grãos, fibras e sementes oleosas, evitando o desmatamento e terras protegidas.

Segundo Carlos Clemente Cerri, doutor pelo Instituto de Geociências da USP, a produção pecuária no Brasil é uma atividade extensiva, devido à disponibilidade de grandes áreas. Dados do IBGE (2006) mostram que a área de pastagens no Brasil é de cerca de 172 milhões de hectares, cobrindo quase 50% da área total.

Cerri argumenta que o baixo potencial de uso da terra das pastagens leva o produtor a abandonar terras e limpar outras áreas de floresta para novas pastagens, resultando no aumento do desmatamento. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, a área desmatada na região amazônica é estimada em mais de 551 mil km2. Da área total de terras desmatadas na Amazônia, 45% é coberta por pastagens, 28% por mata secundária originada em pastos abandonados após 1970 e 2% são pastagens degradadas (Fearnside, 1996).

Resultados preliminares divulgados pelo IBGE (2006) mostram que a área de pastagens na região Norte do Brasil aumentou de 24,3 Mha em 1995 para 32,6 Mha em 2006, o que representa um aumento de 33,8% das terras usadas na pecuária.  Na região Norte, o aumento das áreas de pastagem deve estar ligado ao aumento de quase 14 milhões de cabeças de gado, o que representa 80,7% do rebanho total (IBGE, 2008).

Segundo Cerri, as áreas sujeitas ao uso agrícola na região Amazônica vêm apresentando sérios problemas com relação à conservação de recursos naturais. Atualmente, cerca de 60% da área coberta por pastagens está em avançado processo de degradação. Pastos degradados se caracterizam pela falta de nutrientes no solo, baixa biomassa vegetal, poucas sementes da floresta primária, presença de grande quantidade de ervas daninhas, falta de sementes florestais nos bancos de sementes, baixa taxa de germinação e baixa drenagem e compactação do solo. A degradação de pastos se dá pelo manejo inadequado de rebanhos de gado e falta de fertilização corretiva e de manutenção da pastagem.

Em 2011, o Brasil exportou US$4.2 bilhões em carnes in natura e US$643 milhões em carnes processadas. A média de valor por tonelada da carne in natura é de US$5,083 e da carne processada é de US$6,167. Ou seja, o valor agregado da carne processada é de US$1,084 por tonelada. (ABIEC, Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes).

Segundo a ABIEC, o maior destino de carnes in natura é a Rússia com 228.772 toneladas e os Estados Unidos com 12.289 toneladas. As exportações em 2011 somaram 819.924 toneladas de carne in natura e 104.000 toneladas de carne processada.

O relatório do Greenpeace deve ser considerado como um sinal de alerta para a reputação do setor pecuário brasileiro. Em mercados altamente competitivos, um questionamento internacional sobre práticas de agressão ao meio ambiente e dos direitos humanos pode prejudicar os negócios do setor.

Acredito que possam ser exploradas práticas inovadoras para melhorar a produtividade dos pastos abrindo espaço para a agricultura e talvez criando um novo negócio sustentável para a JBS e acabando com a polêmica do Greenpeace.