Eduardo M Fagundes

Artigos

Coletânea de artigos técnicos e reflexões de Eduardo M. Fagundes publicados entre 2011 e 2017

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Autor: Eduardo Fagundes

  • IoT, Big Data e Agricultura de Precisão

    A forte estiagem que atinge as regiões Sudeste e Centro-Sul era prevista para daqui a 15 ou 20 anos. Com a aceleração do desmatamento da Amazônia, a falta de umidade e a fumaça das queimadas impede a formação de nuvens e chuvas nessas regiões. A Amazônia e a Mata Atlântica são responsáveis por manter a região Sudeste com clima temperado e chuvas regulares, uma vez que essa região está na faixa dos desertos existentes no hemisfério sul (desertos australianos, africanos e do Atacama). Investigações geomorfológicas indicam que entre os anos 1.000 e 1.300 houveram secas generalizadas e várias populações desapareceram nas Américas.

    As mudanças climáticas extremas irão afetar diretamente a produção de alimentos no mundo. Estima-se que cerca de 70% da água doce do mundo é utilizada para a agricultura. O aumento da população mundial, estimada em mais de 9 bilhões de habitantes para 2050, exige a produção cada vez maior de alimentos. O Brasil, que detém a maior área cultivável do mundo e continuará sendo um dos maiores produtores mundiais de alimento.

    Infelizmente, a expansão da produção de alimentos e pecuária leva ao desmatamento de vastas áreas, que por sua vez aumenta o risco de escassez de água e desertificação da região Sudeste.

    As mudanças climáticas estão desafiando as previsões dos agricultores tradicionais, aqueles que sentindo o vento, a umidade, as movimentações dos pássaros sabiam que estava na hora de plantar ou colher.

    A solução para reduzir os riscos ambientais e da economia do país é a tecnologia, o que chamamos de agricultura de precisão. Com informações de sensores instalados no campo para medir a temperatura, umidade do solo e do ar circulante é possível fazer análises em tempo real para planejar, dinamicamente, o plantio e a colheita.

    Através de fotos de satélites ou drones robóticos é possível determinar a maturidade da cultura. Associando esses dados com a disponibilidade de equipamentos e mão de obra através de análise preditiva é possível tomar decisões mais acertadas sobre o plantio e colheita. Por exemplo, essas informações podem adiar a adubação de uma plantação antes de uma forte chuva para evitar o desperdício do adubo que seria levado pelas águas.

    Com a agricultura de precisão é possível aumentar, consideravelmente, a produtividade da agricultura e pecuária, reduzindo o desmatamento e seus efeitos desastrosos para o meio ambiente, para as populações e para a economia. O uso da agricultura de precisão deve ser uma regra e não uma exceção nos países produtores de alimentos.

    A agricultura de precisão gera empregos de qualidade no campo e novos negócios para fornecedores de equipamentos e produtos para o campo. Por exemplo, as plantadeiras e semeadeiras conectadas via Internet aos bancos de dados com informações precisas sobre a qualidade do solo, podem liberar a quantidade e o tipo de adubo para cada metro quadrado de solo, reduzindo o desperdício e aumentando a produtividade do solo.

    Tecnologias como Internet of Things, Big Data, Analytics e Cloud Computing devem ser comuns ao agricultor e pecuarista moderno. O governo deve fomentar a pesquisa, formação de especialistas e utilização da agricultura de precisão.

    Obviamente, os compradores de commodities e analistas de mercado estão atentos ao uso destas tecnologias pelos agricultores em todo o mundo através de imagens de altíssima definição dos satélites. Essas imagens são analisadas por sofisticados softwares que conseguem determinar a qualidade e volume da safra, informações que serão utilizadas para investimentos e negociação do preço das commodities, incluindo o mercado futuro.

  • A Digitalização da Operação

    A introdução das tecnologias na indústria é feita em ondas. A Internet tem gerado várias ondas, começou com B2C (Business-to-Consumer), B2B (Business-to-Bussiness) e eGov (Governo Eletrônico). Avançou para dispositivos móveis (smartphones, tablets, console de games), ou seja, a Internet está em todos os lugares – Internet Everywhere. Agora chegou a vez da automação da operação através de dispositivos que trocam dados entre si e geram montanhas de dados. O avanço da automação irá reduzir ainda mais os custos de produção e, principalmente, a análise avançada de dados fará previsões mais precisas para evitar falhas e do comportamento dos consumidores. Tais previsões, permitirão que as empresas se reinventem constantemente, criando produtos e modelos de negócios disruptivos. Acredito que não há dúvidas que só sobreviverão as empresas que tiverem a habilidade de adotar e manipular de forma eficiente as novas tecnologias.

    As tecnologias estão cada vez mais acessíveis e baratas. O modelo de computação em nuvem usando a Internet (Cloud Computing), permite ajustar a infraestrutura e custos dinamicamente. Isso cria a oportunidade para pequenas empresas adotarem novas tecnologias e ter vantagem competitiva no mercado onde atua.

    Tecnologias como Internet of Things (IoT), Big Data, Analytics estão saindo dos laboratórios das empresas de software e hardware e indo para o mercado de consumo. Os paradigmas de segurança do ambiente de Cloud Computing foram superados, não restando dúvidas que o ambiente é mais seguro que os ambientes locais. Gigantes da indústria de software já estão oferendo seus produtos na modalidade SaaS (Software as a Services), como SAP, Microsoft, Google (iniciou nessa modalidade), IBM, Oracle e muitas outras. Para as empresas de software, Cloud Computing é uma questão de sobrevivência.

    A indústria de equipamentos de hardware está passando por uma forte transformação. O novo data center do Facebook inaugurou um novo padrão de equipamento, definido por ela, compartilhado com o mercado através da comunidade OCP (Open Compute Project) e fabricado por fornecedores asiáticos de baixo custo. Grandes data centers, como Amazon e Google, já produzem seus próprios equipamentos.

    Com a redução de custos dos sensores remotos, é possível distribuí-los por toda a linha de produção para coletar dados e analisa-los em tempo real. Detectada uma anomalia em algum parâmetro dispara um alarme para investigação, evitando a paralização da produção.

    Na área da logística, é possível acompanhar a distribuição dos produtos em tempo real, monitorando localização, temperatura, pressão, vibração, entre outros itens críticos para assegurar a qualidade dos produtos até a entrega.

    No setor elétrico, cada dispositivo de geração, transmissão, proteção e medição podem ser monitorados em tempo real. Com tecnologias para Big Data e Analytics, falhas podem ser detectadas com antecedência e ações de contorno acionadas para evitar a interrupção do fornecimento, além de evitar perdas técnicas e comerciais (os gatos).

    Na gestão de cidades as aplicações são enormes, incluindo o controle mais eficiente do trânsito, melhor gestão da iluminação pública, aumento da segurança pública, melhoria na qualidade de informações para o cidadão, entre outras.

    Onde está o maior desafio? Na educação. Existe um consenso na comunidade empresarial global que não existe qualificação profissional suficiente para trabalhar nessas novas tecnologias. Existe uma escassez de Cientistas de Dados, profissionais com capacidade analítica, associativa, capazes de construir algoritmos de pesquisa complexos e interpretar seus resultados. A capacidade de análise e execução de ações não se delega, ela é parte do core business das organizações.

    Atualmente, uma das alternativas é as empresas formarem seus próprios Cientistas de Dados. As Universidades devem contribuir com cursos de formação nessas novas tecnologias com sofisticadas ferramentas de análise de dados.

    O governo deve apoiar essas iniciativas com linhas especiais de pesquisa e incentivos fiscais para as empresas que adotarem essas soluções. Afinal, se as empresas não se modernizam perdem a competitividade e mercado, gerando desemprego e menos impostos.

    Resumindo, para manter a competitividade e aumentar a produtividade é importante desenvolver uma estratégia digital disruptiva baseada nas novas tecnologias e investir na formação de pessoal qualificado.

  • Apagão elétrico e Planos de Continuidade de Negócios

    O apagão controlado de energia do dia 19 de janeiro de 2015 emitiu um sinal de alerta sobre a ameaça crescente de racionamento de água e energia. Apesar das informações desencontradas entre o Ministro das Minas e Energia, Eduardo Braga, e do Diretor Geral do ONS, Hermes Chipp, sobre as causas da interrupção de energia em 10 Estados e Distrito Federal, sabe-se que foi uma restrição de fornecimento de energia na interligação Norte e Sul. Em outras palavras, a energia de sobra no Norte e Nordeste não teve como ser transmitida para a região Sul.

    O potencial de novas ocorrências é grande, ainda mais que 59% das obras dos 388 projetos de linhas de transmissão de energia estão atrasados. Atualmente, temos 107 mil quilômetros de linhas de transmissão de alta tensão, que devem ser constantemente inspecionadas para evitar falhas, sem dúvida, um grande desafio.

    A queda de uma torre de transmissão ou uma falha grave em um grande transformador de energia em uma subestação pode restringir, consideravelmente, o fornecimento de energia. A situação é tão crítica e sem saída para os humanos, que a única opção é rezar para São Pedro mandar chover e apostar na sorte para não ocorrer novas falhas no sistema.

    Infelizmente, os impactos são desastrosos para as empresas. As ações das empresas do setor elétrico tiveram forte queda na Bovespa no dia apagão: CPFL ON (-7,30%), Light ON (-6,58%), Cemig PN (-6,37%), Tractebel ON (-6,31%) e Copel PNB (-5,99%).

    Quem trabalha no mundo corporativo sabe que para todo risco deve existir uma ação de contingencia. Imagine um executivo relatando para seus superiores no exterior a crise de energia no país e o potencial risco de paralisação das operações e apresentar como plano de ação uma oração para São Pedro todos os dias no início do trabalho.

    Para muitas empresas, o plano de contingência é a instalação de geradores de energia a diesel, incluindo os data centers. Imagine uma falha grave no sistema elétrico por mais de 72 horas. Os tanques de combustível deverão ser reabastecidos. Sem energia, teremos um caos no trânsito, longos congestionamentos e difícil acesso dos caminhões de abastecimento, se é que existirão caminhões disponíveis para atender a todas as empresas. A consequência é que sua empresa ficará sem energia.

    Seguindo o mesmo raciocínio, se os reservatórios de água atingirem níveis insustentáveis haverá racionamento de água. Os restaurantes industriais ou dos arredores terão dificuldade em fornecer refeições. A higiene dos banheiros ficará comprometida. E o desastre total, não teremos cafezinho.

    As empresas que já adotam o trabalho remoto como prática e possuem uma infraestrutura de colaboração virtual terão menos impacto com uma falta prolongada de energia. Os funcionários poderão ser deslocados para regiões com energia para operar a empresa. Para acontecer isso, o data center deve estar ativo e os dados disponíveis via Internet. Nesses casos, empresas que adotam computação em nuvem (Cloud Computing) e virtualização de desktop ganham em flexibilidade e mobilidade.

    Apesar da TI viabilizar os planos de continuidade de negócio, o plano não é responsabilidade dela. A TI deve se concentrar em seu Plano de Recuperação de Desastre que já é, suficientemente, complexo para garantir a disponibilidade e segurança das informações.

    As empresas devem montar uma equipe multifuncional para elaborar e, principalmente, manter e atualizar os planos de continuidade de negócios, uma vez que mudanças são constantes nas empresas.

    Comece com um workshop para levantar os processos que devem ter prioridade. Identifique quais os potenciais riscos da falta de energia e outros que podem afetar o processo. Use o método FMEA (Failure Modes and Effects Analysis) para identificar ações de contorno e prioridades, baseado na probabilidade de ocorrência e impacto no negócio. Depois de definidas as ações e suas prioridades parta para a implementação e testes periódicos para avaliar sua eficiência.

     

  • Adote uma usina de energia renovável

    O apagão forçado coordenado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) em 19 de janeiro de 2015, provou que o sistema elétrico brasileiro opera no limite e qualquer elevação de demanda se torna instável. A restrição de oferta atingiu as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, ou seja, as regiões de maior concentração das atividades econômicas do país. O episódio mostrou nossa forte dependência das hidrelétricas, que tiveram sua capacidade de geração reduzida devido a longa estiagem que reduziu os níveis dos lagos de reserva. Infelizmente, episódios como este podem ocorrer com mais frequência. Embora, algumas empresas tenham geradores a diesel esses não são suficientes para atender toda a demanda ou, se atendem, por períodos pequenos, como é o caso dos data centers. Sistemas elétricos integrados, como o brasileiro, são eficientes se bem dimensionados e modernos (alto grau de automação), caso contrário, uma falha gera um efeito domino. Minha sugestão é que grandes consumidores de energia adotem uma usina de energia renovável e se instalem próximo a ela.

    Acredito que o futuro será da geração distribuída, onde empresas e pessoas gerarão sua própria energia para consumo. Hoje com um investimento de cerca de R$17.000 é possível instalar um sistema de microgeração de energia fotovoltaico para atender uma residência com quatro pessoas, com a possibilidade de repassar para a concessionária de distribuição local o excedente produzido durante o dia, compensando o consumo noturno. A Honda investiu R$100 milhões em um parque eólico de 27MW em Xangri-lá (RS) para atender a demanda da sua fábrica em Sumaré (SP) com uma redução entre 40-45% do custo em energia. Infelizmente, a Honda compartilha o mesmo sistema elétrico integrado para o transporte da energia que em caso de colapso do sistema ela será afetada.

    O Ministério das Comunicações e a Itaipu Multinacional assinaram um acordo de colaboração para a criação de um condomínio de data centers no parque tecnológico dentro da usina. Isso, a princípio, garantirá energia continua e barata (se aprovado algumas isenções fiscais) para os data centers. Nessa situação, mesmo com um colapso do sistema elétrico integrado, os data centers continuariam operando com a energia de Itaipu.

    Uma opção é que os governos (federal, estadual e municipal) criassem condições regulatórias e fiscais para as indústrias, incluindo a de serviços (Call Centers, Data Centers e outras) se instalassem próximas as usinas de geração, principalmente as de fontes renováveis como biomassa, eólica e fotovoltaica.

    Além de garantir maior confiabilidade de fornecimento de energia, desenvolveria as regiões próximas as fontes geradoras, que normalmente estão afastadas dos grandes centros metropolitanos, e estariam em conformidade com a política de redução de emissão de gases do efeito estufa.

    Isso vale também para um movimento que estou apoiando para criar Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) para a indústria de software.

     

  • Indústria de software é a chave para aumentar as exportações e produtividade interna

    Nas intensas discussões sobre saídas para a economia brasileira crescer existe o consenso em pelo menos duas: precisamos aumentar nossas exportações e melhorar, significativamente, nossa produtividade interna. Dois desafios que estão fortemente associados. Para aumentar as exportações nossa indústria precisa ser competitiva, globalmente. Esse desafio é maior para a indústria de bens de consumo, dominada pelos produtos chineses nos últimos 20 anos. Com uma política cambial desfavorável tornou-se melhor ser distribuidor do que fabricante e trabalhar com mão de obra pouca qualificada. Agora com a forte crise econômica interna temos que reverter esse cenário. Uma das poucas indústrias que consegue ter uma reação rápida é a indústria de software com o benefício de ajudar nas exportações e melhorar a produtividade de todas as indústrias e serviços.

    Confesso que é triste ver facas Tramontina “Made in China”, outrora, orgulho da indústria gaúcha de facas e canivetes. Curioso ver as lojas da Nespresso lotadas comercializando capsulas de café, enquanto o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café e com uma participação insignificante na exportação de café industrializado. Desapontado em ver os motoristas abastecerem carros com motores híbridos com gasolina, enquanto a indústria de etanol definha e importamos gasolina.

    Revitalizar a indústria de consumo e de base no Brasil é um desafio colossal. Não é possível alterar a política cambial de um dia para o outro. Ao longo dos últimos anos a indústria se adaptou ao câmbio e desenvolveu uma nova cadeia de fornecedores e substituição de produtos. Alterar o câmbio de forma brusca geraria uma quebradeira geral e a escassez de produtos no Brasil, além de afetar nossas exportações de commodities.

    Obviamente, precisamos de um plano de médio e longo prazo para reverter a situação e avançarmos no crescimento econômico e social, com maiores salários pela qualificação dos empregados, incluindo a absorção pelo mercado de alunos do PRONATEC e do ensino superior.

    Esse plano tem que ser transparente e de fácil entendimento pela população em geral. Desta forma, quando o motorista estiver pagando um pouco mais pelo etanol ele saberá que é para desenvolver indústria sucroalcooleira. Quando o consumidor estiver pagamento um pouco mais por um conjunto de facas ele saberá que está dando emprego para brasileiros e desenvolvendo a indústria nacional. Quando em casa ou na cafeteria ele estiver consumindo café filtrado ou expresso comum ele saberá que está economizando divisas do país.

    Isso não significa nos fecharmos para o mundo. O Brasil tem que continuar a importar muito, porém substituindo os produtos de consumo por tecnologia e equipamentos de base. É melhor pagar royalties por tecnologia chinesa de sustentabilidade ambiental do que por facas e canivetes. É melhor importar tecnologia e equipamentos de industrialização de café do que capsulas de Nespresso.

    A modernização da indústria e do agronegócio exige softwares especialistas e de gestão. As maiores empresas de software do mundo estão no Brasil e, muitas delas, com laboratórios de pesquisa locais. Um programa amplo de revitalização da indústria nacional exigirá profissionais qualificados e incentivos para o setor de educação, incluindo cursos de engenharia de software e programação no PRONATEC.

    Por outro lado, acredito que uma boa parte da mão de obra qualificada de software está sendo mal aproveitada, desenvolvendo e mantendo softwares legados. Como parte da modernização da indústria de consumo e de serviços, incluindo os serviços bancários, é a adoção de softwares modernos que já contemplam as melhores práticas de gestão e controle mundiais e requerem baixa manutenção. Essa mão de obra qualificada poderia ser melhor aproveitada para desenvolver softwares para exportação e prestar serviço de manutenção e testes de software para o mercado internacional.

    A economia dos nossos vizinhos na América do Sul está crescendo e criando oportunidades na indústria de software que, certamente, podemos atender. Para isso, é fundamental aprovar uma nova legislação para exportar software através das Zonas de Processamento de Exportação (ZPE). As ZPE são zonas de livre comércio internacional com benefícios fiscais que impulsionam as exportações de bens e serviços no mundo inteiro. Infelizmente, no Brasil nossas 24 ZPE são limitadas para a indústria de transformação e não contemplam serviços de qualquer natureza.

    O esforço para aumentar as exportações e revitalizar a indústria nacional deve ser um esforço conjunto entre a sociedade e o governo. Os partidos da base do governo e da oposição devem se unir para aprovar, rapidamente, novas leis que flexibilizem os negócios no Brasil e nos tire da incomoda penúltima posição em competitividade da pesquisa do CNI com outros 14 países (Argentina, Colômbia, México, Polônia, Turquia, Índia, Rússia, África do Sul, Chile, China, Espanha, Austrália, Coreia do Sul e Canadá).

  • ZPE uma solução para exportação de software no Brasil

    Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) são áreas de livre comércio voltadas para a produção de bens e serviços a serem comercializadas para o exterior com um regime diferenciado de tributos. Atribui-se as ZPE o significativo aumento das exportações da China, onde em 1980 exportava US$18 bilhões saltando para US$1.578 bilhões em 2010, enquanto no mesmo período o Brasil passou de US$20 bilhões para US$210 bilhões em exportações. A atual legislação brasileira para ZPE é muito restritiva e contempla apenas a indústria. Um Projeto de Lei está tramitando no Congresso desde 2013 para ampliar e modernizar a legislação para as ZPE, incluindo os setores de serviços, particularmente, os serviços de TI.

    Em 2013, as receitas de software e hardware geram US$61,6 bilhões no mercado doméstico e apenas US$1,2 bilhões em exportações, segundo a ABES – Associação Brasileira de Software. Essa receita coloca o Brasil na 8ª posição mundial do setor. Os números mostram que o mercado interno absorve quase a totalidade dos recursos do setor. Como existe falta de pessoal qualificado no país no setor, podemos inferir há existência de um potencial de crescimento interno, mesmo com baixo crescimento econômico, e excepcionais oportunidades para exportação.

    A região Sudeste concentra 63,91% do mercado nacional, seguido pela região Centro-Oeste com 13,21, pela região Sul com 12,31% e Nordeste com 8,41%. Considerando apenas desenvolvimento e produção de software de 2.708 empresas, 43,9% são microempresa, 49,6% pequenas empresas, 5,2% médias empresas e 1,3% grandes empresas. Essa distribuição mostra o desafio do setor para aumentar a exportação de software, onde as micro e pequenas empresas enfrentam barreiras para comercializar seus produtos no exterior (língua, cultura, canais e investimentos). A Lei do Bem, oferece incentivos fiscais para a exportação e inovação.

    A qualificação do pessoal é chave para o desenvolvimento de software de qualidade com baixo custo, possibilitando o uso de metodologias de engenharia de software e ferramentas de produtividade. É fato que a procura dos jovens por cursos de TI tem reduzido nos últimos anos, reforçando a necessidade de aumentar, consideravelmente, a produtividade do setor. O aumento da eficiência no desenvolvimento deve contribuir para o aumento de salários do setor, sem impactar na lucratividade das empresas.

    A ZPE é uma excelente opção para exportar software com a possibilidade de oferecer parte dos produtos no mercado interno. O Chile, Colômbia e Uruguai já implantaram suas ZPE para serviços de TI e obtiveram adesão de empresas nacionais e internacionais. No Brasil, estamos na dependência da aprovação do Projeto de Lei nº 5.957/2013 que tramita no Congresso.

    As infraestruturas de telecomunicações e energia são importantes para uma ZPE. Devem ser redundantes e operadas por distintas operadoras de telecomunicações e de energia. No caso brasileiro, como a regulamentação do setor elétrico autoriza apenas uma concessionária de distribuição a operar na área, a alternativa para a redundância é a autoprodução de energia na ZPE.

    O grande atrativo das ZPEs é a isenção de impostos, como: imposto de importação, IPI, PIS/PASEP, COFINS e Adicional de frete para renovação da marinha mercante (AFRMM). Outro atrativo é manutenção das receitas de exportação no exterior, entre outras.

    Reunindo várias empresas de software especialistas em uma ZPE é possível compartilhar a divulgação e participação em feiras internacionais, facilitando a penetração em outros mercados.

    As vantagens das ZPEs são evidentes e as experiências em outros países mostraram que são alavancadoras do crescimento econômico. Agora, temos que aguardar a aprovação do Projeto de Lei para intensificarmos as exportações de software.

  • Controle da demanda de energia é uma questão de sobrevivência empresarial

    Segundo a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), o aumento da energia resultará um custo estrutural de R$401,30 por MWh até o final de 2015 para a indústria. Em 2013, o custo médio da indústria era de R$263,00 por MWh. A introdução das bandeiras tarifárias em 2015 representará um custo adicional de R$18,90 nos custos da indústria, elevando o custo da energia para R$420,20 por MWh. Isso associado ao baixo crescimento previsto da economia brasileira, exigirá ações drásticas de redução de custos nas empresas. A velha expressão “pense fora da caixa” deverá passar do discurso para a prática. Algumas ações deverão ser articuladas por sindicatos patronais e associações de empresas e sociedade em geral.

    Vamos começar com uma breve revisão do modelo do setor elétrico no Brasil. Nosso modelo, como em vários países, é regulado pelo governo para garantir a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia necessária para garantir a demanda em todas as regiões do país. O modelo inclui a concessão para empresas privadas explorarem mercados cativos de consumidores em regiões definidas pelo governo e distribuídas através de leilões públicos. A compra de energia pelas concessionárias de distribuição é feita através de leilão de energia já disponível das usinas geradoras, chamados leilões A1, e através de compromissos de compra de energia de usinas planejadas ou em construção com previsão de entrada em operação em 3 e 5 anos, chamados leilões A3 e A5, respectivamente. A construção e manutenção das linhas de transmissão de alta tensão também são concessões e obtidas através de leilão.

    A composição da matriz energética é planejada para ser diversificada, incluindo hidrelétricas, termelétricas, eólicas, biomassa e fotovoltaicas. Para incentivar a diversificação da matriz e evitar disparidade de preços devido as diferentes tecnologias são realizados leilões específicos para novas tecnologias, como eólica e fotovoltaica. Também, existem leilões específicos para PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas).

    Existem duas formas de comercialização de energia: por quantidade e por disponibilidade. Por quantidade, é a compra de montantes de energia nos leilões por um preço fixo, normalmente, aplicáveis para hidrelétrica em leilões A1. Nesta modalidade, os geradores estão sujeitos a riscos de sobras ou déficits de energia que devem ser liquidados no mercado spot (PLD – Preço de Liquidação da Diferenças). Esses riscos são minimizados pelo chamado Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) entre as usinas participantes do sistema integrado nacional (SIN). Por disponibilidade, é quando uma usina geradora é remunerada para manter uma determinada capacidade de energia de reserva para ser acionada (despachada) quando necessário. Quando acionada, os custos operacionais são cobrados adicionalmente, como por exemplo o combustível utilizado na geração de energia.

    Devido à crise hídrica que assola a região sudeste houve uma redução de geração de energia pelas hidrelétricas compensada pela geração das termelétricas, acionando os contratos por disponibilidade, aumentando os custos de geração de energia. Esse custo adicional é pago pelos consumidores em suas contas de energia através das bandeiras tarifárias. A Aneel determina no final de cada mês qual será a bandeira (verde, amarela ou vermelha) do próximo mês. A bandeira vermelha significa um custo adicional de R$3,00 para cada 100 kW consumido. A bandeira amarela, um custo adicional de R$1,50 para 100 kW consumidos e a bandeira verde sem custo adicional. As bandeiras tarifárias são definidas por região (Sul, Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e Norte) com exceção dos Estados que não estão no sistema integrado.

    Com as intensas ondas de calor existe um aumento da demanda de energia com o uso de equipamentos de ar condicionado, ventiladores e aumento do número de banhos com chuveiros elétricos. Praticamente, o sistema elétrico está operando a plena carga todo o dia. Começa pela manhã com o acionamento do ar condicionado nos escritórios se prolongando a noite nas residências, incluindo os banhos usando chuveiros elétricos a partir das 18 horas até as 21 horas (cerca de 111 milhões nesse período). Isso faz com que o ONS, Operador Nacional do Sistema, ordene o despacho de energia das termelétricas do início do dia até a noite. Esse fato é o que determina a bandeira tarifária vermelha.

    Note que temos uma redução significativa de demanda entre 22h00 e 7h00, ou seja, na madrugada. Em tese, o valor definido para cada bandeira tarifária já leva em consideração esse fato.

    Para reduzir as despesas operacionais das empresas deve-se reduzir a demanda e o consumo de energia para compensar a alta do preço da energia. Para consumidores industriais e comerciais com demandas acima de 500 kW é possível negociar a compra de energia através do mercado livre. Para consumidores cativos, comerciais e residenciais, que pagam as tarifas definidas pela Aneel, têm como única alternativa a redução da demanda (kW) e o consumo de energia (kWh).

    Explicando, demanda é a quantidade de energia necessária para fazer funcionar todos os equipamentos elétricos ligados em um determinado momento. Consumo é o tempo que utilizamos a energia ao longo de um período. As instalações industriais e comerciais pagam uma taxa fixa para que a concessionária garanta uma determinada demanda. Se a demanda utilizada for maior que a contratada é cobrado um valor adicional e o consumidor deve contratar uma demanda maior se isso ocorrer com frequência.

    As concessionárias de distribuição contratam montantes de energia nos leilões baseadas nas estimativas de demanda do seu mercado cativo. Caso necessite demandas adicionais, devem comprar energia no mercado spot, com preços significativamente maiores, sem poder transferir para as contas dos consumidores, exceção daqueles que contrataram demandas menores. Isso faz com que as concessionárias de distribuição se preocupem e incentivem o controle da demanda de seus usuários cativos. A Aneel, obriga as distribuidoras a investirem 0,25% da sua receita líquida em projetos de redução da demanda na sua área de concessão. Projetos comuns são a troca de geladeiras antigas por novas e substituição de lâmpadas antigas por mais eficientes para comunidades de baixa renda, gratuitamente. Existem projetos de troca de sistemas de ar condicionado antigos por novos em órgãos públicos e hospitais. Essa verba pode ser utilizada a fundo perdido ou para financiar projetos em empresas privadas com taxas muito atrativas.

    Os workshops e projetos que realizo sobre eficiência energética tem estimulado a criatividade de técnicos e executivos. Por exemplo, repensar o processo de produção para acionar máquinas em diferentes horários para reduzir a demanda de energia ou transferir a produção para o período noturno para reduzir o uso de ar condicionado, negociando melhores tarifas com a distribuidora. Mesmo com o pagamento de adicional noturno para os funcionários, alguns projetos são atraentes.

    Existem muitas alternativas para a redução de demanda e consumo de energia. O importante é a empresa considerar esse assunto estratégico e envolver todos os funcionários na identificação de oportunidades. Uma forma de estruturar essa iniciativa é adotar uma metodologia aderente a ISO 50.001 para avaliar e implantar as melhores ideias. Isso não é uma atividade “nice to have”, hoje é uma questão de sobrevivência das empresas.

     

  • Processo de definição de métricas para Cloud Computing

    Os serviços de Cloud Computing estão crescendo no mercado e atraindo cada vez mais clientes. As empresas estão substituindo seus data centers físicos por serviços virtuais. Com o aumento de fornecedores no mercado e o número de opções de contratação é necessário definir um conjunto de métricas para medir e avaliar o desempenho do serviço – SLA, Service Level Agreement. A seleção e contratação de um serviço de Cloud Computing deve ter critérios claros e mensuráveis para apoiar o processo de tomada decisão. O cliente deve ter a capacidade de obter dados para medir, por exemplo, a qualidade do serviço, a disponibilidade e a confiabilidade do serviço. Chamamos isso de “Serviço de Medição” e está incluindo dentro das cinco características essenciais de Cloud Computing: (1) Serviço self-service por demanda; (2) acesso a rede de comunicação; (3) compartilhamento de recursos; (4) capacidade de expansão (escalabilidade); e, (5) os serviços de medição. Esse artigo descreve o processo para definição das métricas, não as métricas em si.

    Uma métrica fornece informações sobre as características de uma propriedade do serviço de Cloud Computing e o resultado dos valores observados. Por exemplo, a métrica “tempo de resposta do usuário” é usada para estimar uma específica propriedade de um serviço de e-mail no Cloud Computing (por exemplo, tempo de entrega de um e-mail de um usuário para outro). As observações devem fornecer informações suficientes para reproduzir e verificar os resultados das medições.

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    As métricas têm um papel importante na tomada de decisão para a seleção de serviços de Cloud Computing, na definição e aplicação dos acordos de serviços, na monitoração, na contabilização e auditoria.

    O modelo para definição das métricas representa as informações necessárias para compreender os objetivos de uma propriedade e as restrições que deverão ser aplicadas durante as observações. O modelo de Serviços de Métricas de Cloud Computing (CSM – Cloud Services Metric) descreve os conceitos abstratos para uma específica propriedade do Cloud Computing, por exemplo disponibilidade do serviço.

    As definições de métricas devem conter parâmetros e regras para expressar de forma formal as características de uma propriedade. O modelo deve ter definições concretas com base nas definições abstratas das métricas para um determinado cenário. Um cenário representa um caso de uso particular em que as métricas desempenham seu papel. Os stakeholders precisam compreender, avaliar, comparar e tomar decisões sobre um serviço de Cloud Computing. Isso significa que para um determinado cenário, os stakeholders devem ser capazes de obter informações sobre as propriedades do serviço, que quando medido orientará as tomadas de decisão. O cenário e as propriedades determinarão as métricas que serão utilizadas.

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    O modelo CSM pode ser descrito em diagrama de classe UML. A proposta de um CSM é capturar as informações necessárias para descrever e entender uma métrica. A métrica é usada para ganhar conhecimento sobre as propriedades e medições do serviço de Cloud Computing.

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    O modelo pode ser logicamente dividido em duas partes. A primeira parte aborda a definição de métricas abstratas. Especifica o que é a métrica abstrata, se ela é composta de métricas abstratas subjacentes, se é expressa com parâmetros adicionais e se existem regras de restrição. A segunda parte aborda a definição de métricas de concretas. Ela especifica qual a principal métrica abstrata que se baseia, quais os valores para os parâmetros e quais regras devem ser aplicadas para a definição de parâmetros e regras.

    figura-modelo-csm-v71

    Com essas informações é possível comparar os serviços de diferentes fornecedores e tomar a decisão de escolha.

    O modelo do CSM pode ser estendido e integrado em outros modelos que endereçam outros aspectos do ecossistema métrico como o contexto de uma métrica, a observação e a medição de resultados com base em uma métrica ou cenários que usam de métricas.