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Autor: Eduardo Fagundes

  • Agentic AI e Transição Energética no Brasil

    Agentic AI e Transição Energética no Brasil

    Introdução

    A adoção de Agentic AI no setor energético marca um ponto de inflexão na transição energética em curso no Brasil e no mundo. O setor energético, historicamente caracterizado por infraestruturas pesadas, ativos de longa duração e forte regulação, encontra-se hoje em um ponto de inflexão: de um lado, a pressão por descarbonização e integração acelerada de renováveis; de outro, a necessidade de garantir segurança, confiabilidade e competitividade em ambientes cada vez mais complexos. Nesse contexto, a Inteligência Artificial Generativa representou um primeiro salto, trazendo ganhos em produtividade, personalização de serviços e eficiência operacional. Contudo, a fronteira seguinte começa a se desenhar com clareza: a ascensão da Agentic AI, agentes digitais autônomos capazes de orquestrar processos, tomar decisões em tempo real e interagir com sistemas críticos de forma distribuída. Essa lógica está alinhada ao conceito de ecossistemas de agentes interconectados já discutido pela literatura internacional (Olujimi et al., 2025).

    Fagundes (2025) evidencia que o Brasil já dispõe de uma matriz majoritariamente renovável, mas enfrenta gargalos importantes, como o curtailment em usinas eólicas e solares, a sobrecarga em linhas de transmissão e a falta de flexibilidade nos sistemas de armazenamento. São dilemas que não se resolvem apenas com novos ativos físicos, mas que exigem inteligência digital para integrar, em tempo real, múltiplas variáveis de operação. É exatamente nesse espaço que os agentes autônomos se destacam: ao permitir, por exemplo, que sistemas de baterias (BESS) decidam de forma independente quando armazenar ou liberar energia; que plantas de hidrogênio verde (H2V) coordenem de modo adaptativo seus processos de eletrólise, armazenamento e exportação; ou que microgrids comunitários operem em modo ilhado sem intervenção humana, ajustando geração e consumo de forma autônoma.

    As tendências globais captadas no KPMG Futures Report (2025) reforçam esse movimento. Empresas líderes já perceberam que o valor da IA não está mais apenas na experimentação individual, mas na capacidade de estruturar implantações corporativas, alinhadas à estratégia de negócio e suportadas por dados confiáveis. O passo seguinte, portanto, é preparar terreno para sistemas que vão além do suporte cognitivo e passam a assumir funções decisórias e operacionais. Estudos recentes também destacam que essa mudança exige novas práticas de governança, métricas de avaliação e salvaguardas éticas e regulatórias, sob pena de gerar riscos de confiança, accountability e integração organizacional (Taylor & Francis, 2025; ScienceDirect, 2025).

    No caso brasileiro, esse debate ganha contornos ainda mais relevantes. A agenda de inovação regulatória da ANEEL abre espaço para que o país se torne referência global em soluções de energia digitalizada. O potencial não está apenas na integração de renováveis em larga escala, mas também na eletrificação industrial, na expansão de smart grids e em programas de eficiência energética. Ao incorporar agentes digitais autônomos, esses programas podem alcançar novos patamares de resiliência, reduzindo vulnerabilidades diante de eventos climáticos extremos e ataques cibernéticos, ao mesmo tempo em que abrem caminho para modelos descentralizados de negociação de energia e carbono.

    Mais do que uma evolução tecnológica, a Agentic AI representa um divisor de águas estratégico. Ela cria oportunidades para empresas que desejam capturar valor da transição energética não apenas como fornecedoras de infraestrutura, mas como protagonistas de uma nova era em que dados, algoritmos e governança digital se tornam tão importantes quanto turbinas, linhas de transmissão ou eletrolisadores. Estudos de universidades europeias, como Aalto University (2025) e TU Wien (2025), destacam que se trata de uma mudança estrutural na relação entre humanos e sistemas digitais críticos, com implicações diretas em políticas públicas e estratégias empresariais. O desafio – e a oportunidade – para executivos e conselhos do setor energético é compreender essa mudança e estruturar desde já as competências, arquiteturas e regulações necessárias para uma adoção responsável e escalável.

    Tendências Globais e Insights para o Brasil

    O cenário internacional evidencia uma rápida evolução da inteligência artificial aplicada à energia, migrando de usos pontuais de IA generativa para arquiteturas baseadas em agentes autônomos. Estudos recentes destacam que esses sistemas trazem ganhos de produtividade pela execução paralela de tarefas, maior agilidade organizacional pela implantação flexível de agentes e mitigação de riscos por meio de responsabilidade distribuída (Olujimi et al., 2025; Aalto University, 2025). Ao mesmo tempo, reconhecem os desafios de integração com sistemas legados, sobrecarga de comunicação e implicações de segurança em ambientes críticos (TU Wien, 2025).

    Essa transformação não é apenas técnica, mas estrutural. A literatura sobre governança em ambientes agentic enfatiza a necessidade de regras claras de gestão, métricas de desempenho consistentes e salvaguardas éticas e regulatórias. Esses elementos são fundamentais para evitar vieses, dependência excessiva e decisões opacas, especialmente quando agentes digitais atuam em processos de negócio ou operações críticas (Taylor & Francis, 2025; ScienceDirect, 2025). Relatórios de tendências internacionais também apontam para a emergência de uma “economia agentic”, em que plataformas de agentes autônomos começam a interagir diretamente com mercados e cadeias de valor, dentro de um contexto marcado pelo aumento dos riscos climáticos e pela necessidade de resiliência sistêmica (KPMG, 2025).

    No Brasil, o ponto de partida é singular. O país conta com uma matriz elétrica majoritariamente renovável, mas enfrenta gargalos importantes: o curtailment crescente em parques solares e eólicos, a sobrecarga em linhas de transmissão e a ausência de flexibilidade sistêmica para integrar armazenamento em larga escala (Fagundes, 2025). A digitalização das distribuidoras, com a expansão da medição inteligente e a incorporação de soluções de edge computing, abre espaço para que agentes autônomos atuem em tempo real, otimizando fluxos de potência, reduzindo perdas técnicas e antecipando falhas operacionais.

    As oportunidades estratégicas para o Brasil convergem em quatro direções centrais:

    1. Ampliação da geração renovável (solar e eólica): com suporte de ferramentas digitais de alto valor agregado, capazes de transformar dados em análises operacionais e novos modelos de receita para distribuidoras e comercializadoras (Fagundes, 2025).
    2. Gestão de integração e curtailment: além da expansão física da rede, agentes autônomos em BESS e microgrids podem coordenar despacho ótimo, resposta dinâmica e arbitragem de energia, aumentando a flexibilidade e a confiabilidade do sistema (Olujimi et al., 2025).
    3. Regulação como indutor de inovação: no Brasil, mecanismos de incentivo regulatório — como programas de P&D e ambientes de experimentação — podem acelerar a adoção de agentes autônomos. A atuação de órgãos como ANEEL e ONS será decisiva para garantir interoperabilidade e previsibilidade (KPMG, 2025).
    4. Conexão entre metas nacionais e execução autônoma: a Agentic AI pode transformar compromissos regulatórios em rotinas operacionais auditáveis, encurtando o ciclo entre detecção, decisão e ação, seja em balanceamento de rede, gestão de baterias ou operação de microgrids (Aalto University, 2025; TU Wien, 2025).

    Em síntese, as tendências globais de IA generativa e agentes autônomos se alinham aos vetores estratégicos do setor energético brasileiro. O país reúne condições para capturar valor rapidamente ao combinar dados em tempo real, arquiteturas distribuídas e governança digital. Esse tripé pode encurtar o caminho entre diretrizes regulatórias, metas de política pública e resultados concretos em eficiência, confiabilidade e sustentabilidade (Fagundes, 2025).

    Aplicações da Agentic AI no Setor Energético

    Óleo e Gás

    O setor de óleo e gás, tradicionalmente marcado por operações intensivas em capital e pela exposição a riscos elevados, encontra na Agentic AI uma oportunidade singular de transformação estrutural. Diferentemente das soluções clássicas de automação, os agentes digitais autônomos possuem a capacidade de aprender continuamente, adaptar-se a contextos dinâmicos e tomar decisões em tempo real. Essa autonomia cria novas camadas de resiliência operacional, especialmente em um segmento onde eficiência de margens, segurança e sustentabilidade precisam avançar em paralelo (Olujimi et al., 2025; TU Wien, 2025).

    Um dos campos mais promissores é a otimização preditiva de refino e exploração. Com a crescente digitalização de plantas, agentes podem analisar séries temporais de produção, qualidade de insumos e padrões de demanda para ajustar parâmetros de refino de forma dinâmica, reduzindo desperdícios e maximizando rendimento. Em operações de exploração, agentes autônomos podem integrar dados sísmicos, geológicos e de sensores de perfuração para propor rotas mais seguras e economicamente viáveis. Essa capacidade de interpretar fluxos massivos de dados, aliada à autonomia decisória, encurta o ciclo de planejamento e resposta, ampliando a competitividade em mercados voláteis (KPMG, 2025).

    Outro vetor crítico é o monitoramento ambiental e a conformidade regulatória. À medida que pressões ESG se intensificam e regulações ambientais se tornam mais rigorosas, agentes autônomos podem atuar como “fiscais digitais” permanentes. Esses sistemas processam dados de sensores atmosféricos, marítimos e de efluentes para identificar desvios de conformidade em tempo real, acionando protocolos automáticos de correção ou alertando equipes de campo. Essa abordagem reduz riscos de multas e sanções, ao mesmo tempo em que fortalece a reputação corporativa em um setor constantemente pressionado por questões socioambientais (Fagundes, 2025).

    Por fim, a redução de riscos em operações offshore é talvez o campo mais emblemático. Plataformas marítimas concentram ativos de altíssimo valor, operando em ambientes hostis e com condições variáveis. Agentes digitais podem monitorar continuamente variáveis críticas — vibração, pressão, corrosão e integridade estrutural — para antecipar falhas, recomendar intervenções ou até mesmo acionar sistemas de desligamento preventivo. Além disso, ao operar em rede, múltiplos agentes podem coordenar atividades de manutenção, logística de suprimentos e resposta a emergências, reduzindo a exposição humana a cenários de alto risco (Aalto University, 2025; ScienceDirect, 2025).

    Esses três eixos — otimização preditiva, monitoramento ambiental e mitigação de riscos offshore — evidenciam como a Agentic AI deixa de ser apenas uma promessa tecnológica para se tornar um diferencial estratégico no setor de óleo e gás. Trata-se de criar operações mais seguras, eficientes e alinhadas às pressões regulatórias e ambientais, ao mesmo tempo em que se abrem oportunidades para ganhos financeiros e reputacionais sustentáveis.

    Smart Grids e Eletrificação Industrial

    A transformação das redes elétricas em smart grids constitui um dos pilares mais relevantes da transição energética contemporânea. A penetração crescente de fontes renováveis intermitentes, somada à descentralização da geração, impõe a necessidade de mecanismos sofisticados de balanceamento dinâmico da rede e de resposta ativa da demanda. Nesse cenário, os agentes digitais autônomos emergem como elementos centrais, atuando como controladores distribuídos capazes de processar dados locais, interagir com múltiplos nós da rede e coordenar ajustes quase em tempo real. Essa lógica de funcionamento, já apontada pela literatura recente sobre arquiteturas agentic, combina execução paralela, aprendizado contínuo e governança distribuída — atributos fundamentais para garantir eficiência e resiliência em sistemas complexos (Zhou et al., 2025; Aalto University, 2025).

    O uso de agentes em smart grids vai além do simples despacho. Esses sistemas podem, por exemplo, receber sinais de preço ou instruções de operadores, analisar fluxos locais de carga e geração e decidir instantaneamente se devem acionar cargas flexíveis, ativar baterias distribuídas ou ajustar tarifas dinâmicas para estimular resposta da demanda. Essa inteligência distribuída reduz a dependência de centros de controle centralizados, aumentando a robustez da rede contra falhas técnicas ou ataques cibernéticos. Estudos recentes reforçam que essa descentralização digitalizada é crucial para lidar com riscos climáticos e para ampliar a confiabilidade em sistemas com alta penetração de renováveis (Taylor & Francis, 2025; ScienceDirect, 2025).

    Já a eletrificação industrial representa um desafio distinto, mas complementar. Setores eletrointensivos — como siderurgia, mineração, papel e celulose ou química — passam por forte pressão para reduzir emissões e migrar para processos mais limpos. Nesses ambientes, agentes autônomos podem atuar no planejamento energético em tempo real, avaliando continuamente a demanda de processos, a disponibilidade de contratos de energia renovável (Power Purchase Agreements – PPAs) e o preço horário da eletricidade. Essa coordenação autônoma viabiliza a substituição gradual de combustíveis fósseis por eletrificação, sem comprometer competitividade ou segurança operacional (Fagundes, 2025; KPMG, 2025).

    Um recurso crítico nesse processo é o uso de digital twins industriais, que possibilitam a criação de ambientes de simulação para testar cenários de substituição de combustíveis fósseis por eletrificação. Nesses gêmeos digitais, agentes autônomos podem avaliar impactos sobre eficiência, custos e emissões antes da implementação em campo. Esse mecanismo reduz riscos, acelera a tomada de decisão e permite que empresas ajustem suas estratégias de eletrificação com maior agilidade. A literatura sobre governança em sistemas agentic ressalta, contudo, que tais aplicações só atingem seu pleno potencial quando acompanhadas de métricas de desempenho bem definidas e salvaguardas regulatórias capazes de auditar as decisões tomadas pelos agentes (Aalto University, 2025; Zhou et al., 2025).

    Assim, tanto nas smart grids quanto na eletrificação industrial, a Agentic AI deixa de ser apenas um facilitador tecnológico e assume o papel de orquestrador estratégico, capaz de alinhar operação, sustentabilidade e competitividade. No Brasil, onde a modernização das redes de distribuição e a expansão da eletrificação industrial estão diretamente ligadas às metas regulatórias, a adoção de agentes digitais autônomos pode acelerar o cumprimento de compromissos nacionais de descarbonização e consolidar novas oportunidades de negócio para os setores elétrico e industrial.

    Eficiência Energética e ESG

    A eficiência energética sempre se destacou como um dos caminhos mais imediatos e custo-efetivos para reduzir emissões e ampliar a competitividade industrial. Com a incorporação da Agentic AI, esse campo atinge uma nova dimensão: torna-se possível realizar diagnósticos contínuos em indústrias e edifícios, com agentes digitais autônomos monitorando o consumo em tempo real, identificando padrões anômalos e propondo ajustes automáticos. Diferentemente de auditorias energéticas pontuais, essa abordagem estabelece um processo dinâmico de eficiência, no qual algoritmos de aprendizado por reforço ajustam continuamente equipamentos e sistemas para otimizar o uso de energia (Zhou et al., 2025; Olujimi et al., 2025).

    Além do monitoramento em tempo real, a Agentic AI amplia a capacidade de acompanhamento de KPIs de carbono e energia. Agentes podem consolidar dados dispersos de medidores inteligentes, sensores industriais e sistemas de gestão para gerar relatórios contínuos de indicadores críticos — como intensidade de carbono por unidade de produção, consumo energético por linha de processo ou nível de perdas em sistemas prediais. Esse acompanhamento permanente confere maior robustez às práticas de gestão e permite correções rápidas diante de desvios, aumentando a confiabilidade dos dados reportados a investidores e reguladores (KPMG, 2025).

    Esse aspecto torna-se particularmente relevante no contexto das metas ESG e dos compromissos de descarbonização. Empresas, cada vez mais pressionadas por stakeholders e por marcos regulatórios, necessitam não apenas de objetivos declarados, mas de sistemas de governança digital que garantam rastreabilidade e transparência. Nesse papel, agentes autônomos podem atuar como verdadeiros “auditores digitais”, coletando, verificando e consolidando dados de forma contínua. Essa confiabilidade reduz o risco de greenwashing e fortalece a posição das organizações em mercados cada vez mais sensíveis a critérios ambientais, sociais e de governança (Aalto University, 2025; Fagundes, 2025).

    No caso brasileiro, a combinação de regulação indutora e alta participação de renováveis na matriz cria um cenário especialmente fértil para que a eficiência energética seja um vetor de inovação em ESG. Ao conectar metas regulatórias nacionais com rotinas operacionais automatizadas, a Agentic AI transforma compromissos de descarbonização em resultados tangíveis, oferecendo às empresas um diferencial competitivo frente a investidores globais e cadeias de valor que exigem transparência climática (TU Wien, 2025).

    Assim, a eficiência energética deixa de ser apenas um exercício de redução de custos para se tornar uma estratégia de sustentabilidade corporativa integrada, em que dados, algoritmos e compromissos ESG se unem para fortalecer tanto a performance operacional quanto a reputação empresarial.

    Cibersegurança e Governança

    A crescente digitalização do setor energético expande exponencialmente a superfície de ataque das infraestruturas críticas, tornando a cibersegurança um eixo estratégico tão relevante quanto a própria expansão da geração renovável. Nesse contexto, a Agentic AI pode atuar como camada adicional de defesa, com agentes digitais autônomos capazes de monitorar, detectar e responder a ameaças em tempo quase real. Diferentemente de sistemas tradicionais baseados em assinaturas, agentes treinados em aprendizado contínuo conseguem identificar padrões anômalos de tráfego, acessos suspeitos ou tentativas de intrusão em redes OT (Operational Technology), acionando protocolos de mitigação antes que incidentes se transformem em crises (Zhou et al., 2025).

    Uma das contribuições mais promissoras está na aplicação do conceito de Zero Trust para ambientes energéticos. Agentes autônomos podem executar verificações constantes de identidade, autenticação e autorização em cada interação entre ativos — desde sensores em campo até sistemas SCADA e plataformas de trading. Essa vigilância permanente reduz a probabilidade de ataques laterais e aumenta a resiliência das infraestruturas críticas, especialmente em operações distribuídas, como microgrids e plantas de hidrogênio verde (KPMG, 2025).

    Além da defesa ativa, a Agentic AI abre espaço para governança digital avançada. Ao integrar mecanismos de explainable AI (XAI), agentes podem justificar suas decisões em auditorias, criando um rastro verificável de ações, alertas e respostas. Esse ponto é vital em um setor onde regulação e conformidade são determinantes. Estudos recentes sobre governança em sistemas agentic destacam que auditoria contínua e métricas explícitas de desempenho são essenciais para mitigar riscos de vieses, decisões não transparentes ou falhas de coordenação entre múltiplos agentes (Aalto University, 2025; Olujimi et al., 2025).

    O caso brasileiro reforça essa urgência. A expansão de ativos digitais em distribuidoras e a crescente interconexão entre sistemas elétricos e plataformas de dados criam vulnerabilidades que não podem ser ignoradas. Ao mesmo tempo, a regulação nacional tem buscado induzir a adoção de boas práticas de segurança digital e interoperabilidade, criando uma janela para que agentes autônomos sejam incorporados como instrumentos de conformidade e proteção em ambientes críticos (Fagundes, 2025).

    Em síntese, a Agentic AI não deve ser vista apenas como tecnologia de eficiência operacional, mas também como infraestrutura de confiança, capaz de proteger dados, processos e ativos estratégicos. Ao combinar defesa ativa, zero trust e governança auditável, os agentes autônomos posicionam-se como aliados essenciais na proteção do setor energético contra ameaças cibernéticas e riscos regulatórios.

    AplicaçãoFunção do Agente AutônomoBenefício Estratégico
    Monitoramento de redes OTDetectar padrões anômalos em tráfego de dados e acessos suspeitos em tempo quase real; acionar protocolos automáticos de mitigaçãoRedução do tempo de resposta a incidentes; menor risco de interrupções críticas
    Zero Trust dinâmicoVerificar continuamente identidade, autenticação e autorização em interações entre ativos (sensores, SCADA, trading)Prevenção de ataques laterais; aumento da resiliência em operações distribuídas
    Defesa contra ataques cibernéticos avançadosAprender continuamente novos vetores de ataque e adaptar contramedidas sem necessidade de intervenção manualProteção contra ameaças emergentes; maior confiabilidade da infraestrutura
    Governança auditável com XAIJustificar decisões, registrar logs de ações e criar trilhas verificáveis para auditoria regulatóriaTransparência e rastreabilidade; conformidade com marcos regulatórios
    Supervisão em conformidade ESGConsolidar e validar dados de energia e carbono para auditorias de sustentabilidadeRedução de riscos de greenwashing; fortalecimento da reputação corporativa
    Tabela – Aplicações da Agentic AI no Setor Energético

    Desafios de Implementação no Brasil

    Apesar do enorme potencial da Agentic AI para transformar o setor energético, sua implementação no Brasil enfrenta barreiras estruturais, tecnológicas e regulatórias que precisam ser cuidadosamente endereçadas. Esses obstáculos não anulam a oportunidade, mas indicam que a adoção dependerá de planejamento detalhado, governança robusta e incentivos adequados.

    O primeiro desafio é a integração com sistemas legados, como SCADA, EMS e plataformas OT que sustentam a operação de distribuidoras, transmissoras e plantas industriais. Concebidos em arquiteturas centralizadas e pouco flexíveis, esses sistemas dificultam a conexão com agentes autônomos orientados a eventos e distribuídos. A literatura recente alerta que a sobrecarga de comunicação entre agentes e sistemas existentes pode gerar gargalos, sendo necessário o uso de camadas de middleware e APIs interoperáveis para viabilizar a adoção em larga escala (Olujimi et al., 2025).

    Outro ponto crítico são as lacunas regulatórias. O setor elétrico brasileiro ainda carece de frameworks específicos para agentes autônomos em ambientes críticos, como redes de distribuição, mercados de energia e plantas de hidrogênio verde. Embora haja avanços em frentes como P&D regulado e digitalização, a regulação atual permanece genérica quanto à governança de sistemas agentic. Essa ausência de clareza cria incertezas jurídicas e operacionais, reduzindo a disposição de investidores em financiar soluções digitais de maior complexidade (KPMG, 2025).

    A questão da governança e auditoria de decisões é igualmente central. Como agentes digitais assumem funções críticas, cada ação precisa ser explicável, rastreável e auditável. Sem mecanismos de explainable AI (XAI), há o risco de decisões opacas afetarem a segurança de abastecimento e a confiabilidade do sistema. Estudos destacam a necessidade de objetivos explícitos, métricas de desempenho claras e salvaguardas regulatórias desde o design das soluções para garantir accountability e confiança organizacional (Taylor & Francis, 2025).

    A cibersegurança em ambientes OT constitui outro vetor sensível. A introdução de agentes autônomos expande a superfície de ataque, exigindo novos modelos de defesa digital. Conceitos como Zero Trust, monitoramento contínuo e agentes defensivos especializados tornam-se indispensáveis. Sem essas camadas adicionais, a digitalização pode ampliar a vulnerabilidade das infraestruturas críticas a ataques avançados, um ponto crucial para a resiliência do setor energético brasileiro (ScienceDirect, 2025).

    Por fim, há a necessidade de modelos de incentivo e políticas públicas que viabilizem a adoção em escala. O histórico brasileiro mostra que programas de P&D regulado foram decisivos para a inovação em distribuidoras e geradoras. De forma semelhante, a criação de linhas de financiamento, sandboxes regulatórios e estímulos fiscais pode acelerar a adoção da Agentic AI, posicionando o Brasil como referência internacional em digitalização energética (Fagundes, 2025).

    Em síntese, os desafios de implementação no Brasil não se restringem à tecnologia. Eles envolvem interoperabilidade, regulação clara, governança robusta, segurança cibernética e incentivos adequados. Superá-los é condição necessária para que a Agentic AI se traduza em ganhos reais de eficiência, confiabilidade e sustentabilidade no setor energético.

    Métricas e Impacto Esperado

    A adoção de agentes digitais autônomos no setor energético não deve ser analisada apenas sob a ótica da inovação tecnológica, mas sobretudo pelos resultados concretos que esses sistemas são capazes de entregar. Para consolidar confiança, atrair investimentos e justificar políticas de incentivo, torna-se essencial estabelecer métricas claras e monitorar os impactos em quatro dimensões centrais: operacional, sustentabilidade, financeiro e resiliência.

    Operacional

    Do ponto de vista operacional, agentes autônomos promovem ganhos expressivos de eficiência ao reduzir tempos de resposta, otimizar processos e diminuir custos recorrentes de manutenção. Em distribuidoras e plantas industriais, agentes com aprendizado por reforço podem antecipar falhas em ativos, acionar protocolos preventivos e reduzir o OPEX associado a paradas não programadas. A literatura sobre sistemas multiagentes enfatiza exatamente essa capacidade de encurtar o ciclo detectar–decidir–agir, transformando a gestão reativa em gestão preditiva (Wooldridge, 2021; Rana et al., 2020).

    Sustentabilidade

    Na dimensão da sustentabilidade, os impactos são ainda mais evidentes. Ao coordenar em tempo real o despacho de BESS, plantas de hidrogênio verde (H2V) e microgrids, agentes autônomos viabilizam maior inserção de renováveis na matriz elétrica, reduzindo o curtailment e maximizando o aproveitamento de energia limpa. Isso se traduz diretamente em menores emissões de gases de efeito estufa e em avanços no cumprimento de compromissos de descarbonização. Relatórios recentes já destacam que a adoção de agentes em sistemas energéticos melhora tanto a estabilidade da rede quanto a previsibilidade da integração renovável (KPMG, 2025; Fagundes, 2025).

    Financeiro

    Sob a ótica financeira, a Agentic AI pode ampliar o retorno sobre investimentos (ROI) em contratos de energia renovável e em projetos de hidrogênio verde. Em PPAs, agentes digitais são capazes de avaliar continuamente condições de mercado, ajustando estratégias de arbitragem e reduzindo riscos de exposição. Já em projetos de H2V, os agentes otimizam a cadeia eletrólise–armazenamento–exportação, diminuindo perdas e elevando margens operacionais. Essa capacidade não apenas aumenta a atratividade de projetos em fase inicial, como também reduz barreiras de entrada para financiadores e investidores institucionais (Taylor & Francis, 2025; Fagundes, 2025).

    Resiliência

    Por fim, a resiliência ganha relevância em um cenário marcado por eventos climáticos extremos, oscilações de demanda e riscos cibernéticos. Agentes digitais, ao operarem em rede e de forma distribuída, oferecem robustez adicional contra choques externos, redistribuindo cargas, isolando falhas e reorganizando fluxos energéticos em tempo quase real. Esse atributo é particularmente estratégico no Brasil, onde gargalos de transmissão e vulnerabilidades climáticas exigem soluções digitais que complementem investimentos em infraestrutura física (Olujimi et al., 2025; Fagundes, 2025).

    Em conjunto, essas quatro dimensões — operacional, sustentabilidade, financeiro e resiliência — delineiam o verdadeiro valor da Agentic AI. Mais do que uma evolução tecnológica, trata-se de um novo paradigma de gestão energética, no qual eficiência, competitividade e sustentabilidade convergem, alinhando os interesses de empresas, reguladores e sociedade.

    DimensãoMétricas de AvaliaçãoImpacto Esperado
    OperacionalTempo médio de resposta; Taxa de falhas evitadas; Redução de OPEX em manutençãoGestão preditiva em vez de reativa; redução de paradas não programadas; maior eficiência de processos
    SustentabilidadeCurtailment evitado (%); Participação renovável (%); Redução de emissões (tCO₂eq)Maior inserção de renováveis; menor emissão de GEE; cumprimento de metas de descarbonização
    FinanceiroROI em PPAs (%); Margem operacional em H2V (%); Redução de riscos de exposiçãoOtimização da arbitragem; ganhos em projetos de H2V; maior atratividade para investidores
    ResiliênciaTempo de recuperação (MTTR); Eventos críticos mitigados; Índice de continuidade do fornecimentoRobustez contra choques climáticos e cibernéticos; redistribuição autônoma de cargas; confiabilidade ampliada
    Tabela – Métricas e Impacto Esperado da Agentic AI no Setor Energético

    Competências Híbridas para a Adoção da Agentic AI no Setor Energético

    A adoção da Agentic AI no setor energético exige competências híbridas, combinando profundidade técnica em inteligência artificial, engenharia de software e modelagem energética, com domínio de cibersegurança e governança. Esse perfil multidisciplinar deve ser capaz de transitar entre sistemas críticos, modelos matemáticos, ferramentas digitais e estruturas regulatórias, garantindo que a tecnologia seja aplicada de forma segura, escalável e orientada a resultados.

    Inteligência Artificial e Sistemas Multiagentes

    Profissionais precisam dominar técnicas de aprendizado por reforço, aplicadas ao balanceamento dinâmico da rede elétrica e ao controle de sistemas de armazenamento (BESS). Além disso, arquiteturas de sistemas multiagentes são fundamentais para a coordenação de recursos energéticos distribuídos (DERs) em microgrids. A integração com agentes cognitivos baseados em IA generativa representa um diferencial adicional, permitindo interpretar relatórios técnicos, alarmes e logs operacionais em tempo real (Olujimi et al., 2025; Wooldridge, 2021).

    Engenharia de Software e Arquiteturas Digitais

    É essencial compreender arquiteturas distribuídas e orientadas a eventos, capazes de operar em tempo real, bem como o uso de edge computing para reduzir latência em ativos de campo. A integração via APIs e middleware com sistemas SCADA, EMS e ERPs é um ponto crítico para viabilizar a adoção em larga escala, garantindo interoperabilidade e resiliência (KPMG, 2025).

    Modelagem Energética e Digital Twins

    O domínio de séries temporais é chave para prever demanda e geração renovável, enquanto o uso de digital twins de plantas e redes permite treinar agentes em ambientes simulados antes da aplicação em campo, reduzindo riscos. Além disso, ferramentas de otimização matemática — como programação linear, heurísticas e metaheurísticas — sustentam decisões de despacho ótimo, precificação e operação de contratos (Fagundes, 2025).

    Infraestrutura e DevOps de IA

    A maturidade em MLOps e AIOps torna-se necessária para automatizar o ciclo de vida dos modelos, garantindo atualização contínua em campo. Pipelines energéticos permitem ingestão e curadoria de dados massivos, enquanto o uso de containers e orquestração (Docker, Kubernetes) assegura escalabilidade e confiabilidade dos agentes em operações críticas (Taylor & Francis, 2025).

    Cibersegurança e Governança Digital

    A implementação segura requer adoção de princípios de Zero Trust, com autenticação contínua entre agentes e sistemas críticos, além da incorporação de mecanismos de IA explicável (XAI) para rastrear decisões autônomas. A aderência à conformidade regulatória é indispensável para mitigar riscos em ambientes altamente auditados como o setor elétrico, evitando vulnerabilidades que poderiam comprometer a resiliência nacional (KPMG, 2025).

    CompetênciaFerramentas / TécnicasAplicações no Setor Energético
    IA e MultiagentesAprendizado por reforço; arquiteturas multiagentes; agentes cognitivosBalanceamento de rede; coordenação de DERs; interpretação de relatórios e logs
    Engenharia de SoftwareEdge computing; APIs; middleware; arquiteturas orientadas a eventosIntegração SCADA–EMS–ERP; redução de latência em ativos de campo
    Modelagem EnergéticaSéries temporais; digital twins; programação linear; heurísticasPrevisão de demanda; simulação de eletrificação industrial; despacho ótimo
    Infraestrutura e DevOpsMLOps; AIOps; pipelines de dados; Docker; KubernetesAutomação do ciclo de modelos; escalabilidade de agentes; curadoria de dados massivos
    Cibersegurança e GovernançaZero Trust; XAI; compliance regulatórioProteção de redes OT; auditoria de decisões; conformidade com normas
    Quadro – Ferramentas e Aplicações Práticas

    Checklist de Competências para Adoção da Agentic AI no Setor Energético

    IA e Multiagentes

    ▢ Domínio de aprendizado por reforço para balanceamento de rede e BESS;

    ▢ Conhecimento em arquiteturas multiagentes para coordenação de DERs e microgrids;

    ▢ Integração de agentes cognitivos baseados em IA generativa.

    Engenharia de Software

    ▢ Experiência em arquiteturas distribuídas e orientadas a eventos;

    ▢ Aplicação de edge computing para reduzir latência em campo;

    ▢ Integração via APIs e middleware com SCADA, EMS e ERP.

    Modelagem Energética

    ▢ Capacidade de trabalhar com séries temporais para prever demanda e geração;

    ▢ Uso de digital twins para simulação antes da aplicação em campo;

    ▢ Aplicação de técnicas de otimização (programação linear, heurísticas).

    Infraestrutura e DevOps de IA

    ▢ Maturidade em MLOps e AIOps para atualização contínua de modelos;

    ▢ Construção de pipelines de dados massivos para ingestão e curadoria;

    ▢ Uso de containers e orquestração (Docker, Kubernetes) para escalabilidade.

    Cibersegurança e Governança

    ▢ Adoção de princípios de Zero Trust em ambientes críticos;

    ▢ Implementação de IA explicável (XAI) para auditoria de decisões;

    ▢ Aderência a requisitos regulatórios e de compliance.

    Conclusão

    A ascensão da Agentic AI marca um ponto de inflexão na digitalização do setor energético. Se a inteligência artificial generativa já havia demonstrado ganhos em produtividade e suporte cognitivo, os agentes autônomos vão além: transformam dados em decisões e decisões em ações, operando de forma distribuída, adaptativa e auditável. Para o Brasil, esse avanço não é opcional, mas uma ferramenta crítica para a transição energética, especialmente diante dos desafios de integração de renováveis, curtailment e vulnerabilidades crescentes da rede elétrica (Fagundes, 2025; KPMG, 2025).

    A vantagem competitiva será conquistada por empresas que souberem antecipar a adoção desses sistemas, indo além de pilotos experimentais e investindo na formação de competências internas multidisciplinares. O domínio de aprendizado por reforço, arquiteturas distribuídas, digital twins, MLOps e segurança cibernética tende a ser tão determinante para a operação quanto turbinas, transformadores ou linhas de transmissão (Olujimi et al., 2025; ScienceDirect, 2025).

    Nesse cenário, o Brasil reúne condições únicas para se tornar um laboratório global de inovação em energia digitalizada. A matriz elétrica predominantemente limpa, a experiência regulatória com programas de P&D e a urgência de soluções para transmissão, armazenamento e eficiência energética criam um terreno fértil para a adoção de agentes autônomos. Mais do que acompanhar tendências internacionais, o país pode assumir protagonismo ao demonstrar como inteligência artificial distribuída pode ser integrada a infraestruturas críticas com segurança, eficiência e sustentabilidade (Aalto University, 2025; TU Wien, 2025).

    Em síntese, a Agentic AI não deve ser vista apenas como promessa tecnológica, mas como um divisor de águas estratégico: alinha transição energética, inovação digital e compromissos de descarbonização em uma mesma trajetória. O desafio imediato é transformar essa visão em política pública, estratégia empresarial e competência organizacional — porque, na nova economia da energia, serão os agentes digitais autônomos que orquestrarão a próxima fase da transformação.


    Como podemos ajudar

    Apoiamos empresas de energia, indústrias eletrointensivas, reguladores e investidores a transformar Agentic AI em resultado concreto, em quatro frentes integradas:

    1. Estratégia Agentic AI e portfólio de casos de uso

    • Definição da tese de valor para Agentic AI no seu contexto (distribuição, geração, óleo e gás, H2V, eficiência energética).
    • Priorização de casos de uso com melhor relação impacto x complexidade (smart grids, BESS, resposta da demanda, monitoramento ESG).
    • Roadmap de implantação 18–36 meses, alinhado à transição energética e à agenda regulatória.

    2. Arquitetura de referência e pilotos em ambientes críticos

    • Desenho de arquitetura agentic para integração com SCADA, EMS e sistemas OT/IT (Operational Technology / Information Technology) existentes.
    • Estruturação de pilotos em smart grids, BESS (Battery Energy Storage System), plantas de hidrogênio verde (H2V) e operações industriais.
    • Definição de requisitos de dados, telemetria, latência e observabilidade para operação em tempo quase real.

    3. Governança, risco, métricas e compliance

    • Modelagem de governança digital para agentes autônomos, incluindo papéis, responsabilidades e fóruns de decisão.
    • Definição de métricas operacionais, financeiras, de sustentabilidade e resiliência para acompanhar o impacto dos agentes.
    • Diretrizes de segurança cibernética, Zero Trust e XAI (Explainable AI) para atender requisitos regulatórios e de auditoria.

    4. Capacitação, mentoria executiva e formação de times híbridos

    • Programas de capacitação para engenheiros, equipes de dados, TI/OT e times de operação em Agentic AI aplicada à energia.
    • Mentoria para C-level e conselhos em decisões de investimento, priorização de pilotos e leitura de riscos.
    • Apoio à formação de equipes híbridas (IA, engenharia de software, energia, cibersegurança) capazes de sustentar a jornada de digitalização em larga escala.

    Referências

    AALTO UNIVERSITY. Autonomous Agents for Energy Systems: Policy and Governance Perspectives. Aalto, 2025.

    FAGUNDES, Eduardo M. CITEENEL 2025: Transição Energética no Brasil e Oportunidades Estratégicas. São Paulo: efagundes.com, 2025. Disponível em: https://efagundes.com/blog/citeenel-2025-transicao-energetica-no-brasil-e-oportunidades-estrategicas/. Acesso em: 25 set. 2025.

    KPMG. Futures Report 2025: Digital Transformation and Energy Systems. Londres: KPMG International, 2025.

    OLUJIMI, Adeola et al. Multi-Agent Systems for Energy Management: From Theory to Practice. IEEE Transactions on Smart Grid, v. 16, n. 3, p. 1123-1135, 2025.

    RANA, O.; PERERA, S.; CHEN, L. Trust and Accountability in Multi-Agent Energy Systems. Journal of Autonomous Agents and Multi-Agent Systems, v. 34, p. 450-468, 2020.

    SCIENCEDIRECT. Special Issue: Governance and Ethics in Agentic AI for Energy. Elsevier, 2025.

    TAYLOR & FRANCIS. Agentic AI in Critical Infrastructures: Risks and Opportunities. Energy Policy Review, v. 52, p. 88-104, 2025.

    TU WIEN. Digital Resilience and Agentic AI for Energy Systems. Vienna: Technical University of Vienna, 2025.

    WOOLDRIDGE, Michael. Multi-Agent Systems. 2. ed. Oxford: Oxford University Press, 2021.

    ZHOU, Yan; LI, Ming; WANG, H. Digital Twins and Agentic AI for Industrial Electrification. Energy Reports, v. 11, n. 2, p. 214-230, 2025.

  • CITEENEL 2025 Transição Energética Brasil: Briefing Executivo

    CITEENEL 2025 Transição Energética Brasil: Briefing Executivo

    Visão Geral do Evento

    Entre os dias 17 e 19 de setembro de 2025, Manaus foi palco do CITEENEL 2025, um dos maiores encontros sobre inovação tecnológica e eficiência energética do setor elétrico brasileiro. Organizado pela ANEEL em parceria com empresas líderes do setor, o evento reuniu reguladores, utilities, startups, universidades, investidores e representantes do governo para debater o futuro da energia.

    Este briefing executivo tem como objetivo traduzir as discussões técnicas e regulatórias em percepções estratégicas, oferecendo uma leitura clara e prática para conselhos de administração e executivos de alto nível. O foco está em identificar tendências globais, riscos regulatórios, oportunidades emergentes e caminhos de inovação, sempre com impacto direto no Brasil.


    O Cenário Global: Acelerando a Transição Energética

    CITEENEL 2025 reforçou que o setor elétrico brasileiro está em um ponto de inflexão. Se, por um lado, o país já conta com uma matriz 88% renovável (ANEEL, 2025), por outro, enfrenta desafios crescentes de modernização regulatória, integração de tecnologias emergentes e atração de capital privado.

    cone de futuros apresentado na palestra de encerramento destacou três megatendências que devem guiar o setor até 2045:

    1. Inteligência Artificial e IoT (2025–2032): aplicadas em eficiência energética, automação de redes e previsão de consumo.
    2. Armazenamento de Energia (2030–2040): essencial para estabilizar o sistema e integrar fontes renováveis intermitentes.
    3. Hidrogênio Verde (2035 em diante): com potencial de transformar o Brasil em exportador global de energia limpa.

    Esses vetores colocam o país diante de uma escolha: liderar a transição energética ou perder espaço competitivo para outras economias.


    Riscos e Incertezas Regulatórias

    Nenhuma inovação prospera sem segurança jurídica. O evento destacou que a revisão regulatória do Programa de Eficiência Energética (PEE) e dos fundos obrigatórios de P&D (Lei 9.991/2000) pode redefinir prioridades.

    Entre os riscos mais citados:

    • Incerteza regulatória: mudanças na metodologia podem inviabilizar projetos já planejados.
    • Dispersão de recursos: sem critérios claros, há risco de financiar iniciativas com baixo impacto energético ou climático.
    • Baixa maturidade de startups: 75% ainda estão em fase de MVP, dificultando escala.

    A recomendação é acompanhar de perto a regulação e preparar portfólios flexíveis, que combinem inovação com foco em resultados comprováveis.


    Oportunidades para o Brasil

    Apesar dos riscos, o CITEENEL 2025 deixou evidente que o Brasil está diante de oportunidades únicas. A seguir, os principais destaques para diferentes atores:

    1. Geração

    • AIoT aplicado a plantas renováveis para otimização de desempenho.
    • Hidrogênio Verde como diversificação e exportação.
    • Captura de carbono como diferencial em projetos de gás natural.

    2. Transmissão

    • Baterias de grande porte (BESS) para amortecer picos de carga.
    • Smart grids para integração de renováveis intermitentes.
    • Digital twins para aumentar confiabilidade e reduzir custos de manutenção.

    3. Distribuição

    • Smart metering com IA para combater perdas não técnicas.
    • Soluções de eficiência energética com IoT em clientes corporativos.
    • Novos modelos de negócio como BaaS (Battery as a Service).

    4. Startups e Inovadores

    • Climate techs com soluções de armazenamento, mobilidade elétrica e automação.
    • Programas de aceleração conectados a utilities.
    • Venture building em parceria com fundos corporativos.

    5. Academia

    • Parcerias para transformar TRL baixo (1–3) em aplicações comerciais.
    • Cooperação internacional em hidrogênio, captura de carbono e armazenamento térmico.

    6. Investidores

    • Expansão do Corporate Venture Capital (CVC) em energia.
    • Estruturação de fundos híbridos (capital privado + crédito verde).
    • Investimentos em early stage de deep techs voltadas ao setor energético.

    7. Comunidades

    • Inclusão social por meio de projetos comunitários de geração distribuída.
    • Justiça energética como diferencial competitivo e reputacional.
    • Licença social para operar como pré-requisito em regiões sensíveis como a Amazônia.

    O Papel dos Conselhos de Administração

    Um dos focos centrais do briefing é traduzir os debates em ações concretas para conselhos de administração e alta gestão. Sete movimentos estratégicos se destacaram:

    1. Antecipar mudanças regulatórias, criando comitês de monitoramento e interação constante com a ANEEL.
    2. Adotar portfólios de inovação integrados, equilibrando risco, retorno e impacto socioambiental.
    3. Explorar novos modelos de negócio, como serviços baseados em assinatura e plataformas P2P de energia.
    4. Investir em tecnologias de transição, especialmente IA, IoT e armazenamento.
    5. Apoiar startups e deep techs, reduzindo o “vale da morte” com capital paciente e parcerias.
    6. Fortalecer a governança ESG, incorporando métricas de equidade e justiça energética.
    7. Ampliar a internacionalização, conectando o Brasil a hubs globais de inovação energética.

    Conclusão

    CITEENEL 2025 mostrou que o Brasil não pode se dar ao luxo de esperar. A transição energética está em curso, e as decisões tomadas hoje determinarão se o país será protagonista ou coadjuvante no cenário global.

    Para os conselhos de administração e executivos seniores, a mensagem é inequívoca: é hora de sair da postura reativa e assumir protagonismo, investindo em inovação, governança e engajamento estratégico com todos os stakeholders.


    Tabela Resumo – Riscos, Oportunidades e Recomendações

    TemaRiscosOportunidadesRecomendações para Conselhos
    RegulaçãoIncerteza regulatória; dispersão de recursosNova revisão do PEE e fundos de P&DMonitorar regulações e dialogar com ANEEL
    InovaçãoBaixa maturidade de startupsVenture building e aceleraçãoCriar portfólio flexível com CVC e PoCs
    GeraçãoCompetitividade global em renováveisHidrogênio, AIoT, captura de carbonoDiversificar fontes e internacionalizar projetos
    TransmissãoGargalos de integraçãoBESS e digital twinsInvestir em inovação para confiabilidade
    DistribuiçãoPerdas não técnicas; baixa digitalizaçãoSmart metering, BaaSPriorizar digitalização e novos modelos de negócio
    SociedadeResistência social e ambientalJustiça energética e inclusãoFortalecer ESG e licença social
    CapitalVolatilidade de investimentosCrédito verde, fundos híbridosEstruturar financiamentos sustentáveis

    Veja o relatório técnico completo

  • CITEENEL 2025: Transição Energética no Brasil e Oportunidades Estratégicas

    CITEENEL 2025: Transição Energética no Brasil e Oportunidades Estratégicas

    Sumário Executivo

    O CITEENEL 2025, realizado em Manaus entre os dias 17 e 19 de setembro, consolidou-se como um dos fóruns mais relevantes sobre inovação, regulação e futuro da energia no Brasil. Reunindo reguladores, executivos, investidores, acadêmicos e representantes da sociedade civil, o evento foi marcado pela pluralidade de visões e pela clareza de que a transição energética deixou de ser uma tendência para se tornar uma agenda imediata.

    Os debates mostraram que o setor elétrico brasileiro não pode mais se restringir ao papel tradicional de fornecimento de energia. O desafio, agora, é transformar inovação em competitividade, integrando inteligência artificial, digitalização, armazenamento, hidrogênio verde, eletrificação industrial e justiça energética em um mesmo movimento.

    A ANEEL reforçou sua posição como centro de gravidade regulatório, enquanto empresas de geração, transmissão e distribuição mostraram disposição em se reinventar como plataformas de inovação. Investidores e startups se apresentaram como aceleradores de mudança, e as universidades reafirmaram seu papel de ponte entre ciência e mercado. As comunidades locais, em especial na Amazônia, foram lembradas como atores indispensáveis para a construção de legitimidade e justiça social.

    Do ponto de vista estratégico, o evento deixou três mensagens principais para conselhos e alta gestão:

    1. A transição energética precisa ser tratada como prioridade de negócio, não apenas como exigência regulatória.
    2. O sucesso dependerá da capacidade de integração entre stakeholders, combinando capital, ciência e governança.
    3. O Brasil tem condições singulares para se tornar líder global em energia sustentável — mas a janela de oportunidade não permanecerá aberta por muito tempo.

    Ao final, o CITEENEL 2025 se posiciona não apenas como um espaço de debate, mas como um chamado à ação. O futuro da energia será moldado por aqueles que souberem agir agora, transformando risco em oportunidade e inovação em valor tangível para empresas, investidores e sociedade.

    Tabela-Resumo de Prioridade

    Tema EstratégicoMensagem CentralRecomendação Executiva
    Inteligência Artificial & DadosQualidade dos dados é fator crítico para decisões corretas.Exigir governança de dados e vincular IA a ganhos de eficiência.
    Armazenamento (BESS)Elemento-chave para confiabilidade e arbitragem de energia.Investir em pilotos modulares e PPAs estruturados.
    Eletrificação IndustrialOportunidade de competitividade, mas com alto CAPEX.Priorizar processos maduros, contratos renováveis e pilotos.
    Hidrogênio VerdeNichos já viáveis na substituição do hidrogênio cinza.Apoiar clusters industriais e reduzir custos logísticos.
    Eficiência Energética (PEE)Revisão regulatória em curso amplia escopo e métricas.Alinhar projetos a critérios socioambientais e de inovação.
    P&D / PDIExcesso de relatórios sem saída de mercado.Adotar gestão de portfólio e métricas de risco-retorno.
    Justiça EnergéticaInclusão social como fator de legitimidade.Integrar métricas de impacto social e engajamento comunitário.

    Introdução

    Participei do Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica — CITEENEL 2025, realizado em Manaus entre os dias 17 e 19 de setembro, que reuniu representantes do governo, reguladores, utilities, startups, investidores, universidades e organizações da sociedade civil para discutir o futuro da energia no Brasil. O evento, organizado pela ANEEL em parceria com instituições públicas e privadas, consolidou-se como o principal fórum nacional sobre Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I) e Eficiência Energética no setor elétrico.

    A escolha da Amazônia como palco não foi casual: reforça a centralidade da região na agenda energética, destacando seus desafios logísticos e sociais, mas também seu enorme potencial como laboratório vivo para soluções de transição energética, eletrificação descentralizada e projetos de impacto socioambiental. A dinâmica do encontro combinou sessões de alto nível no Palco Principal, painéis temáticos de inovação na Arena Plug and Play e visitas técnicas às instalações locais, permitindo tanto reflexões estratégicas quanto contato direto com experiências de campo.

    O presente relatório é direcionado a conselheiros, executivos C-level e lideranças estratégicas do setor elétrico e correlatos. A proposta é compartilhar minha percepção crítica sobre os debates realizados, conectando os conteúdos do evento com as tendências globais e nacionais em energia, inovação e sustentabilidade. Mais do que relatar a agenda, busco extrair implicações práticas, riscos e oportunidades que podem orientar decisões de investimento, governança e posicionamento competitivo das organizações.

    Objetivo do Documento

    Este relatório tem como objetivo compartilhar insights e percepções estratégicas a partir da minha participação no CITEENEL 2025, realizado em Manaus entre 17 e 19 de setembro. O documento não pretende ser um registro exaustivo da programação, mas sim uma análise curada dos principais tópicos abordados no evento, com ênfase em como eles podem influenciar decisões de conselhos de administração e da alta gestão no setor elétrico e em áreas correlatas.

    Assim, a proposta é:

    • Traduzir os debates técnicos e regulatórios em linguagem executiva.
    • Destacar os temas emergentes e tendências globais com impacto direto no Brasil.
    • Identificar oportunidades e riscos estratégicos discutidos nos painéis, na Arena Plug and Play e nas visitas técnicas.
    • Oferecer uma visão integrada que permita aos conselheiros e executivos antecipar movimentos do setor e posicionar suas organizações de forma competitiva e responsável.

    Estrutura do Relatório

    Para cumprir esse objetivo, o relatório está organizado da seguinte forma:

    1. Introdução — contextualização do evento, sua importância e público-alvo.
    2. Objetivo do Documento — explicação da finalidade e do escopo desta análise
    3. Visão Geral do Evento – apresenta os conceitos dos eixos temáticos do evento.
    4. Temas Estratégicos — síntese dos tópicos centrais tratados no evento, estruturados em blocos.
    5. Mapa de Stakeholders — identificação dos atores-chave (reguladores, utilities, startups, investidores, academia, comunidades) e relevância estratégica.
    6. Oportunidades — consolidação dos principais vetores identificados durante o evento.

    Este relatório não é técnico-operacional, mas sim um documento de insights estratégicos, pensado para apoiar conselhos e alta gestão na leitura crítica das tendências energéticas e de inovação destacadas no CITEENEL 2025.

    Visão Geral do Evento

    O CITEENEL 2025, realizado em Manaus entre 17 e 19 de setembro, reafirmou seu papel como o fórum mais relevante do setor elétrico brasileiro para debater inovação, eficiência energética e transição justa. Organizado pela ANEEL, o evento reuniu atores-chave de todo o ecossistema: reguladores, empresas de geração, transmissão e distribuição, startups, investidores, universidades, representantes governamentais e organizações sociais.

    A escolha da Amazônia como sede deu um tom simbólico ao encontro. Ali se encontram os maiores desafios estruturais do setor — perdas elevadas, dificuldade logística, baixa inclusão energética —, mas também o maior potencial de transformação. A região funciona como “campo de prova” para soluções que, se bem-sucedidas ali, podem ser escaladas para o resto do país.

    O formato combinou três dimensões complementares:

    • Palco Principal, com debates institucionais de alto nível e trocas internacionais de experiências.
    • Arena Plug and Play, espaço para inovação aberta, startups e modelos de negócio disruptivos.
    • Visitas Técnicas, que proporcionaram contato direto com a realidade da operação local, trazendo o olhar prático para dentro do debate estratégico.

    Esse mosaico de discussões se organizou em eixos temáticos que refletem, de forma direta, os pontos de inflexão do setor elétrico. Cada eixo representa um conceito fundamental, possui uma importância atual que já impacta decisões corporativas, e traz uma relevância estratégica que precisa estar na pauta de conselhos e alta gestão.

    Conceitos dos Eixos Temáticos

    Para facilitar a compreensão, abaixo seguem explicações resumidas de cada eixo que estruturou o evento:

    Eixo TemáticoConceito e Importância Atual
    Transição Energética e DescarbonizaçãoProcesso de substituir combustíveis fósseis por fontes renováveis e tecnologias limpas, reduzindo emissões de gases de efeito estufa. É central para a competitividade internacional e acesso a financiamentos verdes.
    Eficiência Energética e PEEConjunto de ações para consumir menos energia mantendo o mesmo resultado produtivo. O PEE (Programa de Eficiência Energética da ANEEL) exige que distribuidoras invistam em projetos que reduzam desperdícios e custos.
    P&D e Inovação (PDI Mercado)Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento regulados pela ANEEL. O desafio atual é transformar pesquisas em produtos, serviços e negócios reais, evitando que fiquem restritos a relatórios acadêmicos.
    Justiça Energética e EquidadeIdeia de que a transição energética só será legítima se garantir acesso universal, preços justos e benefícios também para comunidades vulneráveis, reduzindo desigualdades regionais.
    Digitalização e Smart GridsUso de tecnologias digitais e redes inteligentes para medir, controlar e automatizar o sistema elétrico. Permite reduzir perdas, melhorar confiabilidade e integrar energia solar e eólica.
    Armazenamento de Energia (BESS)Uso de baterias e outras tecnologias para guardar energia e utilizá-la quando necessário. É fundamental para equilibrar oferta e demanda em sistemas com alta presença de renováveis.
    Hidrogênio Verde (HV)Hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis, sem emissão de carbono. Considerado vetor de descarbonização para indústrias pesadas e possível produto de exportação para o Brasil.
    Eletrificação IndustrialSubstituição de combustíveis fósseis por eletricidade em processos produtivos (como fornos, caldeiras e transporte interno). Gera ganhos de eficiência e redução de emissões.
    Venture Capital e Novos Modelos de NegócioInvestimentos de risco em startups e empresas inovadoras que desenvolvem soluções para energia limpa, digitalização e eficiência. É o motor que acelera a transição e pressiona o setor a inovar.

    Eixos Temáticos do CITEENEL 2025

    Eixo TemáticoRelevância Estratégica
    Transição Energética e DescarbonizaçãoReduzir emissões, alinhar-se a compromissos climáticos e manter competitividade internacional.
    Eficiência Energética e PEECumprimento regulatório, redução de custos e inovação em edificações e processos industriais.
    P&D e Inovação (PDI Mercado)Pressão crescente para transformar projetos regulados em produtos comercializáveis e escaláveis.
    Justiça Energética e EquidadeInclusão social como parte indissociável da transição energética, com impactos reputacionais e regulatórios.
    Digitalização e Smart GridsRedes inteligentes e automação como pilares da redução de perdas e aumento da confiabilidade.
    Armazenamento de Energia (BESS)Solução crítica para flexibilidade, arbitragem energética e integração de renováveis.
    Hidrogênio VerdeAplicações industriais emergentes e potencial de exportação, exigindo decisões rápidas sobre investimentos.
    Eletrificação IndustrialSubstituição de combustíveis fósseis em processos produtivos, com impacto direto em competitividade.
    Venture Capital e Novos Modelos de NegócioCapital privado como catalisador de inovação, estimulando startups e novas parcerias.

    A importância dos eixos temáticos

    Cada eixo temático abordado no evento reflete um ponto de inflexão atual do setor elétrico brasileiro, com impacto direto sobre conselhos de administração e C-levels. Não se trata de uma agenda futura: são temas que já influenciam a governança corporativa, os investimentos e a reputação das empresas.

    • Transição Energética e Descarbonização deixaram de ser um debate climático abstrato para se tornarem drivers de mercado, influenciando acesso a capital, licenciamento de projetos e competitividade global.
    • Eficiência Energética e o PEE da ANEEL evoluíram de obrigação regulatória para oportunidade estratégica, especialmente em edificações e processos industriais intensivos em energia.
    • P&D e Inovação passam por um divisor de águas: o foco agora é sair da esfera acadêmica ou experimental e alcançar o mercado, reduzindo o chamado “vale da morte” da inovação.
    • Justiça Energética e Equidade ganham relevância diante da necessidade de ampliar o acesso, especialmente em regiões isoladas, tornando-se pilar de reputação e de licença social para operar.
    • Digitalização e Smart Grids são essenciais para enfrentar perdas não técnicas, aumentar confiabilidade e integrar fontes renováveis variáveis.
    • Armazenamento de Energia (BESS) surge como a tecnologia-chave para flexibilizar o sistema, viabilizar arbitragem e garantir estabilidade em cenários de alta penetração renovável.
    • Hidrogênio Verde avança como vetor de descarbonização industrial e de exportação energética, exigindo decisões de alocação de capital e definição de modelos de negócio.
    • Eletrificação Industrial representa uma mudança estrutural, ao substituir combustíveis fósseis em setores intensivos, reduzindo emissões e aumentando eficiência.
    • Venture Capital e novos modelos de negócio se afirmam como catalisadores da inovação, financiando soluções escaláveis e pressionando empresas estabelecidas a inovar em maior velocidade.

    Eixos Temáticos Consolidados

    Eixo TemáticoConceitoImportância AtualRelevância Estratégica
    Transição Energética e DescarbonizaçãoProcesso de substituir combustíveis fósseis por renováveis e tecnologias limpas.Resposta a compromissos climáticos e condição de acesso a capital internacional.Define competitividade global das empresas e países nos próximos 10 anos.
    Eficiência Energética e PEEReduzir consumo sem perda de desempenho, regulado pela ANEEL.De obrigação legal passou a vetor de inovação em indústria e edificações.Impacta margens operacionais e é instrumento de compliance regulatório.
    P&D e Inovação (PDI Mercado)Projetos regulados de pesquisa que devem gerar produtos reais.Pressão crescente para superar o “vale da morte” da inovação.Relevância crítica para diversificação de receitas e retorno de investimentos.
    Justiça Energética e EquidadeGarantir acesso universal, preços justos e benefícios sociais.Ganha força diante da desigualdade regional e da vulnerabilidade amazônica.Central para reputação, ESG e licença social para operar.
    Digitalização e Smart GridsRedes elétricas inteligentes e automatizadas com medição digital.Resposta urgente às perdas elevadas e integração de renováveis.Reduz custos sistêmicos, melhora confiabilidade e atrai investidores.
    Armazenamento de Energia (BESS)Uso de baterias e sistemas para guardar energia.Já presente em pilotos e projetos comerciais, viabiliza arbitragem.Pilar da flexibilidade sistêmica e da expansão renovável.
    Hidrogênio Verde (HV)Hidrogênio produzido a partir de fontes renováveis.Ganha espaço como insumo industrial e oportunidade de exportação.Vetor estratégico de posicionamento do Brasil no mercado global de energia limpa.
    Eletrificação IndustrialTroca de combustíveis fósseis por eletricidade nos processos produtivos.Aumenta eficiência e reduz emissões em setores intensivos em energia.Diferencial competitivo e resposta a pressões regulatórias internacionais.
    Venture Capital e Novos Modelos de NegócioInvestimento de risco em startups e tecnologias emergentes.Catalisa inovação e acelera soluções de transição energética.Pressiona utilities e indústrias a inovar mais rápido e formar parcerias.

    O CITEENEL 2025 mostrou que os eixos temáticos não são apenas tendências futuras, mas questões já presentes no dia a dia das empresas e reguladores. Cada um deles demanda posicionamento estratégico imediato, tanto para mitigar riscos quanto para aproveitar oportunidades de liderança no setor energético brasileiro.

    Temas Estratégicos

    Inteligência Artificial (IA) no Setor Elétrico

    O painel dedicado à IA mostrou que essa tecnologia já está saindo da fase conceitual e ganhando aplicações concretas.  O presidente do Lactec, Maximiliano Orfali, destacou que a integração entre inteligência artificial e internet das coisas (IoT) está gerando soluções inovadoras que aumentam a eficiência, a segurança e a sustentabilidade dos sistemas energéticos.  Ele citou o robô Lacbot, desenvolvido dentro do programa de P&D da ANEEL, que utiliza IA para transformar a operação e manutenção de subestações de alta tensão .  Outro ponto enfatizado foi que IA, aliada a sensores e digitalização, permite monitorar recursos naturais, automatizar operações e melhorar a previsibilidade da geração centralizada e descentralizada .  As discussões também abordaram aplicações como prevenção de falhas (monitoramento em tempo real e manutenção preditiva), melhora do atendimento ao cliente com chatbots 24/7, previsão de demanda e otimização de serviços, aceleração de P&D via análise avançada de dados e automação de processos (simulação de cenários e modelagem de sistemas).  O professor Walmir Freitas (Unicamp) sugeriu substituir o termo “inteligência artificial” por ciência de dados, argumentando que isso amplia a visão de uso de dados e reforça que não basta ter algoritmos sofisticados: “é melhor não ter dados do que dados ruins”, pois dados de má qualidade levam a decisões erradas.  Segundo ele, o Brasil tem competências que o colocam em igualdade com países avançados, mas ainda está atrasado em algumas áreas.

    Implicações estratégicas 

    Para os conselhos de administração, a principal mensagem é que IA e ciência de dados deixarão de ser diferenciais e se tornarão requisitos operacionais.  A digitalização dos ativos e a implantação de sistemas de gestão avançada (ADMS, que substituem os antigos SCADA) exigem investimento em sensores, automação de subestações e infraestrutura de comunicação robusta.  A visão de Walmir Freitas reforça que governança de dados é tão importante quanto a própria tecnologia: sem qualidade na coleta e curadoria, algoritmos sofisticados podem gerar decisões equivocadas.  Do ponto de vista competitivo, as empresas brasileiras estão no mesmo patamar tecnológico de players internacionais em algumas aplicações, mas precisam acelerar a adoção de soluções de IA para não ficarem atrás em áreas como otimização de portfólio, gestão de demanda e integração de renováveis.  A integração IA + IoT demonstrada pelo Lacbot mostra que o valor está na combinação de hardware, sensores e software, sugerindo oportunidades para parcerias com startups e institutos de pesquisa.  Além disso, a discussão deixou claro que dados e algoritmos passarão a ser ativos estratégicos: empresas que dominarem ciência de dados conseguirão reduzir custos, melhorar a confiabilidade e oferecer novos serviços aos clientes.

    Riscos & mitigação 

    Os riscos foram destacados de forma explícita:

    • Qualidade dos dados – como alertou Walmir Freitas, dados imprecisos ou incompletos levam a decisões erradas.  Mitigação: adotar programas de qualidade e governança de dados desde a coleta, com processos de validação e auditoria contínua.
    • Segurança cibernética – a digitalização amplia a superfície de ataque.  Mitigação: investir em cibersegurança, segmentação de redes e protocolos de segurança específicos para OT (Operational Technology).
    • Dependência de fornecedores externos – depender de soluções proprietárias de IA pode gerar lock‑in tecnológico.  Mitigação: desenvolver competências internas de ciência de dados e adotar plataformas abertas quando possível.
    • Regulação e ética – algoritmos podem violar privacidade ou discriminar usuários.  Mitigação: seguir normas de proteção de dados e elaborar códigos de ética para IA, garantindo transparência e responsabilidade.

    Decisões recomendadas

    Conselhos e alta gestão devem:

    • Investir em governança e qualidade de dados, estabelecendo políticas claras de coleta, armazenamento, limpeza e uso.
    • Adotar uma estratégia de ciência de dados, criando equipes multidisciplinares que integrem engenheiros elétricos, cientistas de dados e especialistas em TI.
    • Modernizar sistemas de controle, migrando de plataformas SCADA para ADMS e incorporando sensores IoT, preparando-se para automação avançada.
    • Buscar parcerias com universidades e startups, como o exemplo do Lacbot, para acelerar a experimentação e reduzir custos de desenvolvimento.
    • Capacitar lideranças e equipes em conceitos de IA, ciência de dados e riscos associados, garantindo que as decisões estratégicas sejam baseadas em conhecimento sólido.
    • Acompanhar a evolução regulatória, incluindo os requisitos de P&D da ANEEL e as normas de proteção de dados, para assegurar conformidade e aproveitar incentivos disponíveis.

    Armazenamento de Energia (BESS)

    O painel sobre BESS mostrou que baterias são tão software quanto hardware.  O caso mais emblemático citado foi o projeto de 10 MWh da Vale no Terminal Ilha Guaíba (TIG), no Rio de Janeiro, onde um sistema de lítio aliado a software de controle reduz a demanda de energia em até 40 % e poderia abastecer 45 000 residências por uma hora.  A iniciativa foi apresentada como o primeiro projeto comercial de grande porte no país e exemplifica que baterias deixam de ser apenas backup para se tornarem ativos multifuncionais, fornecendo serviços ancilares, redução de custos e integração de renováveis.  Outro ponto discutido foi a rápida queda de preços: estudos preveem que o custo de armazenamento no Brasil caia cerca de 28 % até 2034, o que abre espaço para novas aplicações.  Os palestrantes enfatizaram que a “chave” do valor está no desenvolvimento de software: algoritmos e plataformas capazes de operar virtualmente redes de baterias – como VPPs (Virtual Power Plants) ou “Virtual Battery Systems” – serão determinantes para rentabilizar o BESS.  Mencionou‑se ainda que a indústria global de baterias é concentrada em poucos países (China, Coreia do Sul e Japão) e que, por razões de soberania e segurança, o Brasil deveria buscar desenvolver fábricas locais.  A cultura empresarial brasileira de entrar apenas quando uma tecnologia já é madura (“second mover”) foi criticada; o setor precisa experimentar desde já projetos pilotos e digital twins para não perder a curva de aprendizado.

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos, a mensagem central é que armazenamento deixa de ser tendência e passa a ser pilar da transição energética.  À medida que os preços caem e a regulação se ajusta, baterias proporcionam flexibilidade sistêmica, viabilizam a arbitragem entre horários de tarifa, melhoram a qualidade de serviço e possibilitam receitas com serviços ancilares.  A experiência da Vale demonstra que grandes consumidores podem se tornar promotores de soluções BESS e que existe espaço para projetos tanto “front‑of‑the‑meter” quanto “behind‑the‑meter”.  Contudo, o valor está no software: sem plataformas digitais capazes de otimizar a operação de portfólios de baterias e integrar‑se a mercados de energia, o potencial de receitas fica limitado.  Além disso, a concentração da cadeia produtiva e a dependência de baterias importadas exigem estratégia de longo prazo para desenvolver manufatura local, seja por incentivos industriais ou parcerias internacionais.

    Riscos & mitigação 

    Os principais riscos identificados são:

    • Dependência de fornecedores externos – a concentração da produção de células na Ásia cria vulnerabilidade geopolítica.  Mitigação: estimular fábricas locais e desenvolver parcerias com fabricantes globais.
    • Obsolescência tecnológica – a rápida evolução da tecnologia pode tornar ativos atuais desatualizados.  Mitigação: adotar projetos modulares e escaláveis, com atualização de software ao longo da vida útil.
    • Regulação incipiente – a ausência de regras claras para serviços ancilares e armazenamento pode limitar monetização.  Mitigação: engajar‑se com a ANEEL e acompanhar os sandboxes tarifários para modelar casos de negócio.
    • Cibersegurança e confiabilidade dos dados – sistemas de gestão de baterias altamente digitalizados são alvos potenciais.  Mitigação: implementar governança de dados e práticas de segurança semelhantes às recomendadas para IA.

    Decisões recomendadas 

    Conselhos e alta gestão devem:

    • Acompanhar de perto projetos de BESS em andamento, como o da Vale e iniciativas de P&D de usinas virtuais, para avaliar modelos replicáveis.
    • Investir em competências de software e digitalização, buscando parcerias com fornecedores de plataformas de VPP e desenvolvendo digital twins para monitorar e otimizar a vida útil das baterias.
    • Participar de fóruns regulatórios para influenciar o desenho dos sandboxes tarifários e defender a remuneração de serviços ancilares.
    • Analisar a viabilidade de manufatura local ou joint ventures, considerando que soberania energética e exigências de setores estratégicos (como segurança e defesa) podem impulsionar a criação de fábricas de células no Brasil.
    • Planejar BESS como parte do portfólio de investimentos, avaliando aplicações em redução de demanda, arbitragem, integração de renováveis e suporte a microgrids, e definindo critérios de retorno e risco adequados.

    Eletrificação Industrial

    Na prática, “eletrificação industrial” significa trocar combustíveis fósseis (óleo, carvão, gás) por eletricidade em calor de processo, força motriz e, em alguns casos, na rota química (ex.: aço). O estado da arte aponta três frentes com tração: (i) calor de processo via eletrocaldeiras e bombas de calor industriais, que já cobrem faixas relevantes de temperatura; (ii) fornos/arcos elétricos em setores como metalurgia; e (iii) integração com hidrogênio verde quando a eletricidade sozinha não resolve (ex.: DRI + EAF na siderurgia). Europa e EUA vêm mapeando grande potencial técnico para eletrificar calor e vapor industriais, com barreiras mais econômicas e de integração do que tecnológicas; diretrizes recentes sugerem que a demanda elétrica para calor de processo pode multiplicar no Net Zero, exigindo planejamento de rede e suprimento renovável dedicados. Ao mesmo tempo, projetos-âncora como o H2 Green Steel na Suécia (rota DRI com ~700 MW de eletrólise e fornos elétricos) mostram a convergência “eletricidade + H₂V” para descarbonização pesada. No Brasil, a vantagem comparativa é clara: a matriz elétrica atingiu 88,2% renováveis em 2024, o que permite “importar” emissões de escopos térmicos para um insumo elétrico majoritariamente limpo. Do lado da demanda, a pressão regulatória e comercial sobe: o CBAM da União Europeia entra em regime definitivo a partir de 2026 (com fase transitória 2023–2025), criando um preço de carbono implícito nas fronteiras para aço, cimento, alumínio e afins — quem eletrificar processos e/ou usar insumos de baixo carbono reduz exposição a essa “tarifa de carbono” na exportação.  

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos, eletrificar é decisão de competitividade, não apenas de ESG. A combinação de matriz elétrica limpa + PPAs renováveis de longo prazo permite hedgear carbono e custo frente ao gás/óleo. A rota de calor de processo (até faixas médias de temperatura) é considerada uma “low-hanging fruit” — expressão usada em gestão para designar as oportunidades mais acessíveis e de rápida implementação, com menor risco e maior retorno imediato. No caso industrial, isso significa priorizar a substituição de usos de vapor, aquecimento de água e processos de secagem, onde a eletrificação já é tecnicamente madura e economicamente viável. Setores de alta temperatura migrarão por fases, combinando eletrificação parcial, eficiência e, quando fizer sentido, hidrogênio verde. No front comercial, a conformidade com CBAM e cadeias globais descarbonizadas vira requisito de acesso a mercado. No front operacional, a eletrificação puxa reforço de rede, flexibilidade e BESS para suavizar picos e dar confiabilidade, além de novas rotinas de O&M e medição e verificação (M&V) específicas de calor elétrico. Em governança, eletrificação pede integração TI/TA e ciência de dados para otimização contínua, além de procurement elétrico profissionalizado (PPAs estruturados, certificados de origem, atributos ambientais).  

    Riscos & mitigação

    • CAPEX inicial e custo de energia. Mitigação: PPAs renováveis bem estruturados, cláusulas de indexação, gestão ativa de carga e curva de demanda.
    • Infraestrutura elétrica insuficiente (alimentadores, subestações internas). Mitigação: engenharia de rede no front-end (estudos de curto-circuito/qualidade), cronograma de reforços e BESS para peak shaving e load shifting.
    • Volatilidade tecnológica (eletrocaldeiras, bombas de calor HT, H₂). Mitigação: desenho modular e escalável, contratos com opções tecnológicas, padronização de interfaces e roadmaps de atualização.
    • Integração operacional (segurança, qualidade de energia, harmônicos). Mitigação: estudos de qualidade de energia, filtros/harmonic mitigation, comissionamento por etapas e planos robustos de O&M.
    • Risco de mercado e regulatório (CBAM, rastreabilidade, certificações). Mitigação: monitoramento regulatório contínuo, certificação de origem/atributos ambientais e governança de dados de processo.

    Decisões recomendadas

    1. Mapear calor de processo por faixas de temperatura e priorizar substituições elétricas maduras (vapor/água quente, secagem, aquecimento indireto).
    2. Contratar PPAs renováveis alinhados ao perfil de carga e considerar armazenamento (BESS) para flexibilidade e arbitragem.
    3. Rodar pilotos em linhas representativas (eletrocaldeira, bomba de calor, forno elétrico/EAF) com metas de energia específica (kWh/unidade) e custo total de propriedade.
    4. Planejar sinergias com H₂V quando a eletrificação direta não fecha sozinha (ex.: DRI na siderurgia), iniciando por blends e viabilidade local.
    5. Preparar conformidade CBAM (escopo, mensuração, verificação, dados de processo) e comunicar a clientes o roadmap de descarbonização.
    6. Capacitar times (processo, energia, TI/TA) e integrar ciência de dados para otimização de curva de carga, eficiência e M&V contínua.

    Hidrogênio Verde (H₂V)

    O painel sobre hidrogênio verde reuniu representantes de Eneva, Hytron e CPFL Energia para discutir o estado atual e as perspectivas desse combustível no Brasil. Destacou‑se que, embora a maior parte das iniciativas no país ainda esteja no âmbito de projetos de P&D, há avanços concretos: a Hytron (empresa do grupo Neuman & Esser) inaugurou a primeira fábrica de eletrolisadores no Brasil, instalada em São Paulo, com capacidade de produzir sistemas modulares de hidrogênio para pequenas e médias aplicações. Essa infraestrutura industrial é vista como estratégica para reduzir a dependência de importações e acelerar a nacionalização da cadeia. Os palestrantes enfatizaram que o hidrogênio verde deve ser encarado como insumo industrial e não apenas como vetor energético: a substituição do hidrogênio cinza por H₂V em nichos específicos pode ser economicamente viável quando elimina custos logísticos relevantes, como transporte e armazenamento de cilindros. Um exemplo citado foi o caso de um processo industrial que consumia hidrogênio cinza trazido por caminhões; a instalação de um eletrolisador on‑site, alimentado por energia renovável, reduziu custos e emissões. A representante da Eneva mencionou que a empresa avalia projetos piloto em unidades de geração térmica e parques eólicos para produzir hidrogênio renovável, incluindo sinergias com amônia e metanol verde. O porta‑voz da Hytron reforçou que, no curto prazo, o foco deve ser substituir hidrogênio cinza existente por verde nas indústrias de refino, química e vidro, aproveitando incentivos fiscais e regulatórios em discussão. Giulianno Archilli, da CPFL, acrescentou que a distribuição pode se beneficiar de blends de hidrogênio em redes de gás e que o maior desafio é alinhar a curva de aprendizagem do hidrogênio aos investimentos em renováveis.

    Implicações estratégicas 

     Para conselhos de administração, o hidrogênio verde emerge como oportunidade de médio prazo mais do que de curto prazo, mas com nichos já visíveis. Em setores que utilizam hidrogênio como matéria‑prima ou agente redutor (refino de petróleo, siderurgia, fertilizantes, vidros, alimentos), a produção descentralizada de H₂V no próprio site pode reduzir custos logísticos e emissões, além de garantir segurança de suprimento. A existência de uma fábrica de eletrolisadores no país sinaliza que a indústria local está se estruturando, o que diminui riscos cambiais e barreiras de importação, mas ainda exige escala e políticas industriais. Para empresas de energia como Eneva, integrar projetos de H₂V a ativos de geração térmica e renovável abre caminho para novos modelos de negócio – produção de e-fuels, exportação de amônia verde, prestação de serviços para indústrias locais – mas requer avaliar custos, offtakers e regulação de infraestrutura. Uma mensagem forte foi a necessidade de analisar onde o hidrogênio entra na cadeia de valor de cada empresa para identificar oportunidades realistas; projetos greenfield (por exemplo, exportação em larga escala) são muito intensivos em capital e dependem de subsídios, enquanto retrofits com substituição de H₂ cinza podem ter retorno mais rápido.

    Riscos & mitigação 

    Os principais riscos identificados incluem:

    • Risco econômico: o custo nivelado do hidrogênio verde ainda é alto; mitiga‑se através de integração com energia renovável de baixo custo, contratos de fornecimento de longo prazo (PPAs) e aproveitamento de créditos de carbono e incentivos fiscais.
    • Risco tecnológico: maturidade de eletrolisadores, armazenamento e distribuição ainda evolui; mitiga‑se firmando parcerias com fabricantes (como a Hytron) e participando de projetos piloto para adquirir know‑how.
    • Risco de infraestrutura: produção on‑site exige disponibilidade de água e rede elétrica robusta; mitiga‑se com estudos técnicos de viabilidade e sinergia com usinas existentes.
    • Risco regulatório: falta clareza sobre marcos legais, certificação de origem e incentivos; mitiga‑se com participação ativa em consultas públicas e fóruns (ANEEL, MME) e aderência a padrões internacionais de certificação.
    • Risco de mercado: demanda por H₂V ainda incipiente; mitiga‑se firmando contratos com offtakers específicos (refinarias, indústrias químicas) e alinhando projetos a metas corporativas de descarbonização.

    Decisões recomendadas 

    Conselhos deveriam:

    1. Mapear processos internos e clientes que já utilizam hidrogênio cinza, avaliando economicamente a substituição por verde via produção on‑site;
    2. Acompanhar a evolução da fábrica de eletrolisadores da Hytron e outras iniciativas nacionais para potencial parceria ou co‑desenvolvimento;
    3. Inserir o tema no planejamento estratégico de inovação, com P&D focado em casos nichados (substituição de H₂ cinza) antes de aventurar‑se em exportação ou grandes plantas;
    4. Engajar‑se na agenda regulatória de hidrogênio verde para assegurar incentivos (como redução de tributos, enquadramento no PEE/Aliança 2.0) e definição de certificações;
    5. Buscar sinergias com projetos renováveis existentes (parques eólicos, solares ou térmicos) para garantir energia competitiva;
    6. Monitorar oportunidades de financiamento verde (BNDES, BID, PEE/Aliança 2.0) e de parcerias com indústrias que já demandam hidrogênio.

    Smart Grids & Digitalização

    O debate sobre smart grids e digitalização evidenciou que o tema, antes visto como futurista, agora é pauta central das concessionárias. Executivos como Bruno Monte (CPFL Energia) e representantes da Taesa explicaram que a introdução de drones, sensores, edge computing e medidores inteligentes está transformando a operação. Hoje, empresas de distribuição vislumbram o smart metering não apenas como obrigação regulatória, mas como serviço a ser vendido: dados em tempo real, gestão de demanda e produtos de eficiência se tornam novas fontes de receita. No segmento de transmissão, a Taesa utiliza tecnologias digitais para otimizar o fluxo de potência e evitar curtailment de geração; o grupo agro da CPFL, por sua vez, já opera com telemedição há mais de uma década, e há um movimento para migrar consumidores para medidores eletrônicos, cujo custo unitário já ficou abaixo de R$ 500. Os palestrantes também discutiram a integração com micro-redes virtuais, uso de baterias e outras formas de armazenamento, e a possibilidade de que projetos behind‑the‑meter forneçam dispositivos homologados às concessionárias.

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos, a digitalização da rede elétrica sinaliza uma mudança de paradigma: as utilities passam de supply side centrado em fios e kWh para orquestradores de dados e serviços. Investir em smart grids permite reduzir perdas, integrar renováveis de forma mais eficiente e criar produtos de valor agregado (monitoramento, manutenção preditiva, resposta à demanda). O advento de medidores inteligentes baratos e edge computing viabiliza a coleta massiva de dados na ponta; esses dados, quando processados com analytics e IA, abrem espaço para eficiência operacional e experiências personalizadas ao consumidor. A interligação com sistemas de armazenamento (BESS) e micro-redes autônomas torna‑se estratégica para garantir flexibilidade e confiabilidade. Ao mesmo tempo, a digitalização amplia a necessidade de convergência entre TI e automação (OT) e de cybersegurança robusta. Reguladores tendem a exigir padrões de interoperabilidade e proteção de dados, enquanto abrem espaço para modelos de tarifação mais granulares e serviços ancilares.

    Riscos & mitigação

    • Elevado CAPEX e complexidade de implantação: as redes de comunicação, plataformas de dados e medidores inteligentes exigem investimento significativo; mitiga‑se com implementação faseada, busca de incentivos regulatórios e parcerias tecnológicas.
    • Cibersegurança e privacidade: a ampliação da superfície digital aumenta o risco de ataques e vazamento de dados; mitigação com arquitetura de segurança em camadas, criptografia, governança de dados e certificações.
    • Obsolescência tecnológica: a rápida evolução pode tornar equipamentos e softwares defasados; mitiga‑se com adoção de padrões abertos, contratos flexíveis e gestão de ativos baseada em ciclo de vida.
    • Regulação e aceitação social: falta de normas claras para tarifação dinâmica, tratamento de dados e remuneração de serviços pode atrasar projetos; mitigação por meio de advocacy regulatório, participação em sandboxes e comunicação transparente com consumidores e órgãos de defesa.
    • Capacitação da força de trabalho: equipes precisam de novas competências (análise de dados, cibersegurança, automação avançada); mitigação com treinamento, recrutamento especializado e requalificação.

    Decisões recomendadas 

    1. Elaborar um roadmap de digitalização: definir prioridades, metas e cronograma para adoção de smart grids, segmentando por regiões ou grupos de consumidores (agronegócio, urbano).
    2. Investir em medidores inteligentes e infraestrutura de comunicação: iniciar com pilotos em áreas críticas e expandir em função de resultados e retorno.
    3. Desenvolver competências de edge computing e analytics: montar equipes internas ou parcerias com empresas de tecnologia para transformar dados em valor de negócio.
    4. Participar de debates regulatórios: atuar junto à ANEEL e MME para garantir que a regulação de smart metering, interoperabilidade e proteção de dados seja favorável e alinhada aos interesses da empresa e do consumidor.
    5. Explorar novos modelos de negócio: avaliar ofertas de serviços de gestão de energia behind‑the‑meter, integração de baterias e micro-redes, e venda de dados agregados sob conformidade regulatória.
    6. Garantir cibersegurança: implementar padrões de segurança desde a concepção (security by design), realizar auditorias frequentes e investir em conscientização dos colaboradores.

    Eficiência Energética (PEE/ANEEL)

    O painel sobre eficiência energética centrou-se no papel do Programa de Eficiência Energética (PEE) como ferramenta de política pública e instrumento de inovação.  Previsto pela Lei 9 991/2000, o PEE exige que as distribuidoras destinem parte da sua receita operacional líquida a projetos que reduzam o consumo de energia.  Anualmente, esses recursos financiam iniciativas para melhorar a eficiência em hospitais, escolas, prefeituras, comércios e residências .  Os debatedores ressaltaram que o foco tradicional em economias de kWh é cada vez mais insuficiente.  Diante da crise hídrica, da transição energética e da pressão por descarbonização, defendem que o PEE precisa valorizar benefícios sistêmicos mais amplos: segurança do sistema, modicidade tarifária, redução de emissões e inclusão social.  O processo de revisão regulatória iniciado em 2025 foi descrito como oportunidade de repensar objetivos e metodologias do programa.  Houve consenso sobre manter a eficiência energética como núcleo, mas integrando‐a a outras políticas de energia e clima, promovendo educação e inovação e incorporando critérios ESG.  Ao mesmo tempo, surgiram divergências sobre a amplitude do escopo – se deve continuar centrado em economias energéticas ou se pode abraçar projetos de inovação e inclusão social com menor retorno energético imediato.  Houve críticas à metodologia de custo‑benefício (RCB): ela não captura externalidades positivas e não valoriza redução de emissões, produtividade ou impactos sociais.  Também se discutiu a necessidade de mais autonomia e transparência na gestão do PEE para garantir que recursos sejam aplicados com efetividade.

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos e alta gestão, o debate sinaliza que a eficiência energética é tanto obrigação quanto oportunidade competitiva.  A reforma proposta tende a ampliar o escopo do PEE, permitindo que projetos de eletrificação industrial, digitalização e redução de emissões possam ser enquadrados como eficiência, desde que tragam impacto mensurável.  Empresas que anteciparem essa transformação – integrando métricas socioambientais, inovação e ciência de dados aos seus projetos – terão vantagem na disputa por recursos e poderão alinhar eficiência energética a estratégias de descarbonização.  A participação ativa na discussão regulatória é essencial para moldar os novos objetivos do programa e garantir que ele apoie investimentos estratégicos.

    Riscos & mitigação 

    • Incerteza regulatória – Mudanças metodológicas e de prioridade podem inviabilizar projetos planejados sob regras antigas. Mitigação: acompanhar de perto a revisão do PEE, ajustar projetos em função dos novos critérios e manter portfólios flexíveis.
    • Falta de competências para medir externalidades – A inclusão de benefícios socioambientais exige habilidades que muitas empresas não dominam, como mensuração de emissões evitadas ou inclusão social. Mitigação: estabelecer parcerias com universidades e consultorias, capacitar equipes em análise de impacto e integrar práticas de ESG.
    • Dispersão de recursos – Há risco de financiar projetos com pouco impacto energético ou climático, desviando o PEE de sua finalidade. Mitigação: adotar critérios internos claros de priorização, focando em projetos com alto potencial de eficiência e benefícios sistêmicos, e utilizar ferramentas robustas de medição e verificação.
    • Transparência limitada – Falta de autonomia e transparência na gestão do PEE pode gerar ineficiências e desconfiança de stakeholders. Mitigação: engajar‑se com ANEEL e conselhos de consumidores, defender governança mais aberta e divulgar resultados de forma transparente.

    Decisões recomendadas 

    1. Engajar-se ativamente na revisão regulatória do PEE, participando de consultas públicas para influenciar os novos objetivos, critérios e metodologias.
    2. Revisar e priorizar projetos de eficiência à luz das mudanças propostas, incorporando indicadores de redução de CO₂, inclusão social e inovação tecnológica.
    3. Fortalecer capacidades de medição e verificação e ciência de dados para quantificar benefícios além do kWh economizado, sustentando a competitividade das propostas.
    4. Buscar sinergias com programas e incentivos complementares, como o Programa Aliança 2.0, projetos de P&D e linhas de crédito verde, para cofinanciar iniciativas de maior escala.
    5. Promover transparência e governança interna e externa, garantindo que a seleção e execução de projetos do PEE sigam critérios claros, auditáveis e alinhados às expectativas de reguladores, consumidores e investidores.

    Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D/PDI)

    O painel “Do Laboratório ao Mercado – Caminhos lucrativos para produtos de PDI”, moderado pelo diretor da ANEEL, Fernando Mosna, contou com executivos da Plug and Play Brasil, WEG, Eletrobras e ANP e reafirmou um diagnóstico comum: o atual modelo de pesquisa e desenvolvimento precisa evoluir para gerar valor econômico e sustentável.  Pela Lei 9.991/2000, as distribuidoras e concessionárias de energia são obrigadas a investir pelo menos 0,5 % da receita operacional líquida em P&D, mas a prática mostrou que muitos projetos viram relatórios sem desdobramentos comerciais.  A discussão salientou que é preciso sair desse “vale da morte” com governança mais ágil, portfólios disciplinados e inovação aberta, usando modelos de maturidade tecnológica (TRL 1 a 9) e “portas” de decisão (H1–H3) para pivotar ou encerrar projetos no momento certo.

    Em termos concretos, as empresas presentes ilustram diferentes caminhos para fazer a transição do laboratório ao mercado.  A CTG Brasil reporta investimentos de cerca de R$ 18 milhões no programa PDI da ANEEL e mantém 18 projetos ativos voltados à otimização de geração eólica e solar, armazenamento de energia com baterias e produção de hidrogênio verde, isso mostra uma carteira equilibrada entre tecnologias maduras e apostas disruptivas.  A CPFL Energia, por sua vez, desenvolve um programa de inovação aberta (CPFL Inova) que seleciona startups em áreas como eficiência energética, geração distribuída, armazenamento, internet das coisas, big data, redes inteligentes e economia de baixo carbono, reforçando a importância de parcerias para acelerar o ciclo de P&D.  Já a Neoenergia estrutura sua estratégia de inovação em cinco eixos: adoção de tecnologias disruptivas (hidrogênio verde, mobilidade elétrica, smart grids e armazenamento), criação de novos produtos e serviços, digitalização e automação (IoT, big data, IA), inovação aberta com startups e fornecedores, e desenvolvimento de cultura e talentos.  Essas iniciativas evidenciam que levar projetos de P&D ao mercado não depende apenas de gate reviews, mas de gestão de portfólio estratégica, alinhada à transição energética, à digitalização e à diversificação de receitas.

    As discussões, portanto, convergiram para a necessidade de uma governança de inovação orientada a resultados, com critérios claros de continuidade e desinvestimento, integração com programas de eficiência energética e P&D, e busca constante de sinergias com startups e universidades.  A mensagem final foi que o sucesso do PDI dependerá de disciplinar o funil de projetos, avaliar maturidade tecnológica com rigor e conectar-se a ecossistemas de inovação, abandonando a lógica de “cumprir requisito regulatório” em favor de gerar vantagem competitiva e sustentabilidade de longo prazo.

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos, a lição é que P&D não pode ser tratado apenas como obrigação de compliance. É necessário administrar o portfólio como um funil de inovação, em que cada fase (TR) tem objetivos e critérios de saída claros. Projetos devem ser priorizados pela aderência à estratégia corporativa (descarbonização, digitalização, diversificação de receitas) e pelo potencial de retorno. O uso de métodos de gestão como stage‑gates (H1, H2, H3) ajuda a canalizar recursos para iniciativas com maior probabilidade de chegar ao mercado. Além disso, a modernização do manual do PDI, em revisão pela ANEEL, abre oportunidades para reduzir burocracia, flexibilizar a prestação de contas e estimular parcerias com startups e institutos de pesquisa.

    Riscos & mitigação 

    • Persistência de projetos sem viabilidade comercial – ainda há tendência de prolongar projetos de pesquisa que não têm rota clara para o mercado. Mitigação: aplicar critérios de maturidade (TR) com revisões periódicas, encerrando ou redirecionando iniciativas que não avancem.
    • Desalinhamento com a estratégia da empresa – portfólios dispersos podem consumir recursos sem contribuir para objetivos como descarbonização. Mitigação: alinhar cada projeto a metas corporativas e integrar o P&D ao plano estratégico.
    • Burocracia e falta de agilidade – processos complexos de prestação de contas e aprovação podem atrasar o desenvolvimento. Mitigação: apoiar a revisão do manual do PDI, digitalizar a gestão (sistemas WebP&D) e simplificar rotinas internas.
    • Defasagem de competências – a gestão de portfólio de inovação exige habilidades novas (avaliação de maturidade tecnológica, inovação aberta, transferência de tecnologia). Mitigação: treinar equipes, formar núcleos de inovação e estabelecer convênios com universidades e hubs de startups.

    Decisões recomendadas 

    1. Mapear e classificar o portfólio de P&D por níveis de maturidade (TR1 a TR9) e criar “portas” de decisão (H1 a H3) para avançar apenas projetos com potencial concreto.
    2. Estabelecer governança de inovação com critérios de continuidade, indicadores de resultado (ROI, time‑to‑market, emissões evitadas) e sistemas digitais para acompanhamento e prestação de contas.
    3. Priorizar projetos alinhados ao core business e à transição energética, desinvestindo em iniciativas periféricas ou sem conexão estratégica.
    4. Buscar parcerias estratégicas com startups, universidades e institutos de pesquisa para acelerar etapas de desenvolvimento e compartilhar riscos tecnológicos.
    5. Acompanhar a revisão do manual do PDI, participando de consultas públicas e propondo ajustes que tragam flexibilidade e foco em resultados.
    6. Integração com outros programas (PEE, Aliança 2.0, financiamentos verdes) para complementar recursos e escalar projetos de maior porte.

    Gestão de Portfólio de Inovação

    O debate sobre gestão de portfólio de inovação destacou a necessidade de administrar, de forma coordenada, a multiplicidade de projetos de P&D que emergem das obrigações legais e das ambições estratégicas das empresas. O Manual de PDI da ANEEL reforça essa visão ao introduzir o modelo E3P (Estratégia–Portfólio–Programa–Projetos): a gestão de inovação deve começar na estratégia, traduzir-se em portfólios coerentes com os objetivos corporativos e, só depois, desdobrar-se em programas e projetos . Para monitorar a evolução das iniciativas, o manual recomenda o uso de Níveis de Maturidade Tecnológica (TRLs) — uma escala de nove níveis amplamente adotada em P&D que fornece uma linguagem comum para classificar o estágio de cada tecnologia.

    As boas práticas convergem em alguns pontos: modelos lineares como o Stage‑Gate, por si só, são insuficientes porque analisam projetos individualmente e não evitam gargalos quando vários avançam simultaneamente. Empresas líderes combinam mecanismos de “portas” (gates) com gestão estratégica de portfólio. Essa abordagem avalia o conjunto de iniciativas, considera o risco e o retorno de cada uma e busca a combinação ótima de projetos que maximizem valor e minimizem sobrecarga. Pesquisas mostram que organizações com práticas robustas de portfólio alcançam até 40 % mais sucesso em lançamentos e 30 % maior retorno sobre investimentos em inovação. Para decidir onde investir, utilizam‑se critérios como alinhamento estratégico, valor financeiro, impacto no cliente, grau de inovação e risco. O equilíbrio entre melhorias incrementais, extensões de mercado e inovações disruptivas (ex.: matriz 70‑20‑10) ajuda a garantir continuidade e competitividade. Ao classificar projetos pela escala TRL e mapear as transições entre níveis, as empresas passam a estimar probabilidades de sucesso de forma mais objetiva, reduzindo a dependência de palpites.

    Implicações estratégicas 

    Para conselhos de administração, a gestão de portfólio de inovação deve ser encarada como ferramenta de alinhamento estratégico.  Em vez de olhar cada projeto isoladamente, é essencial balancear a carteira de iniciativas, combinando inovações incrementais (de retorno mais rápido) com projetos adjacentes e disruptivos.  Um método comum é a regra 70‑20‑10: cerca de 70 % dos recursos em melhorias contínuas, 20 % em extensões para novos mercados e 10 % em apostas transformadoras.  Esse equilíbrio reduz a dependência de um único projeto e mantém opções de crescimento para o futuro.  A maturidade tecnológica (TRL) ajuda a calibrar expectativas e a definir “gates” nos quais projetos podem avançar ou ser reavaliados.  Além disso, ferramentas analíticas e visuais, como gráficos de risco versus retorno e matrizes de priorização, auxiliam na tomada de decisões.  O uso de dados e inteligência artificial é uma tendência: a Gartner prevê que mais de 50 % das decisões de portfólio serão assistidas por IA até 2026.

    Riscos & mitigação 

    • Sobrecarga e gargalos – concentrar muitos projetos em estágios semelhantes pode saturar recursos e atrasar entregas. Mitigação: distribuir iniciativas entre diferentes fases (TRLs) e revisar periodicamente a alocação de recursos .
    • Falta de alinhamento estratégico – projetos desconectados da estratégia corporativa consomem recursos sem gerar valor. Mitigação: priorizar iniciativas que contribuam para metas de descarbonização, digitalização e competitividade, usando critérios de seleção claros .
    • Estimativas imprecisas de sucesso – a probabilidade de êxito técnico pode ser baseada em palpites. Mitigação: usar a escala TRL e mapear transições entre níveis para obter dados históricos e estimativas mais realistas .
    • Excesso de foco em melhorias incrementais – pode estagnar a inovação e deixar a empresa vulnerável a disrupções. Mitigação: adotar balanceamento 70‑20‑10 e reservar orçamento para experimentos de alto risco .
    • Falta de transparência e visibilidade – sem ferramentas visuais, gestores perdem a visão geral do portfólio. Mitigação: implementar dashboards e gráficos de risco versus retorno para apoiar decisões e comunicação .

    Decisões recomendadas 

    1. Instituir um processo formal de gestão de portfólio, com revisões periódicas e critérios de seleção baseados em alinhamento estratégico, valor de negócio e risco .
    2. Classificar cada projeto segundo o TRL e estabelecer “gates” de decisão, utilizando dados históricos para estimar a probabilidade de transição entre níveis  .
    3. Balancear o portfólio com a matriz 70‑20‑10, garantindo recursos para melhorias contínuas, adjacências e inovações disruptivas .
    4. Adotar ferramentas analíticas e IA para apoiar a priorização, utilizando gráficos de risco e retorno e algoritmos de recomendação  .
    5. Treinar equipes e fortalecer governança em gestão de portfólio, ciência de dados e transferência tecnológica para que as decisões sejam baseadas em evidências e alinhadas à estratégia corporativa.

    Justiça e Equidade Energética

    O painel “Novas Abordagens para uma Transição Energética Justa”, moderado por Marcela Lachowski (Plug and Play), reuniu representantes de diferentes esferas: Shalanda Baker, referência internacional ao fundar o Escritório de Justiça e Equidade Energética no Departamento de Energia dos EUA; Andrea Monte, da Eneva, trazendo a visão empresarial de grandes projetos de geração; Valcléia dos Santos Lima, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), com sua experiência em comunidades amazônicas; e Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica, articulando a perspectiva setorial. O debate destacou que a transição energética não pode ser avaliada apenas pelo prisma tecnológico e econômico: é também um processo social, que precisa endereçar inclusão, redistribuição de benefícios e mitigação de desigualdades regionais.

    Implicações estratégicas

    Para conselhos e alta gestão, a mensagem central é que equidade não é apenas uma questão de reputação, mas um vetor de viabilidade de longo prazo. Grandes projetos em energia, sobretudo em regiões sensíveis como a Amazônia, enfrentam riscos reputacionais, regulatórios e de licenciamento se não incluírem mecanismos de benefício local, participação comunitária e compartilhamento de valor. Além disso, investidores institucionais e financiadores internacionais estão cada vez mais exigentes quanto a critérios de justiça social, governança e impactos ambientais, colocando esse tema no centro da estratégia corporativa.

    Riscos & mitigação

    • Exclusão de comunidades locais — projetos que não engajam stakeholders desde a concepção podem enfrentar judicialização, atrasos e perda de legitimidade. Mitigação: adotar consultas comunitárias estruturadas, com protocolos de consentimento livre, prévio e informado.
    • Greenwashing social — iniciativas pontuais de responsabilidade social, desconectadas da estratégia do projeto, podem ser vistas como superficiais. Mitigação: integrar ações de inclusão e desenvolvimento socioeconômico ao plano de negócios.
    • Pressão regulatória e internacional — a falta de atenção à equidade pode restringir acesso a financiamentos climáticos e linhas verdes. Mitigação: alinhar-se a frameworks reconhecidos (ESG, Just Transition Principles) e reportar de forma transparente.

    Decisões recomendadas

    1. Mapear riscos sociais de todos os projetos de energia, identificando comunidades impactadas e propondo planos de inclusão desde a fase de licenciamento.
    2. Adotar métricas de justiça energética que considerem não apenas o acesso à energia, mas também custo relativo, confiabilidade e qualidade do serviço em regiões vulneráveis.
    3. Estabelecer parcerias com organizações locais, como fundações ou universidades regionais, para gerar confiança e capilaridade nas ações sociais.
    4. Integrar o tema ao portfólio ESG: conselhos devem incluir justiça energética como parte dos relatórios e planos de sustentabilidade, não como um anexo.
    5. Aproveitar oportunidades de financiamento climático, que já privilegiam projetos com impacto social positivo, como linhas do BNDES, BID e fundos internacionais.

    Sandboxes Tarifários no Brasil

    A apresentação da ABRADEE, trouxe um panorama sobre o estágio atual dos Sandboxes Tarifários no Brasil. Um sandbox tarifário é um ambiente regulatório controlado que permite testar modelos inovadores de tarifação e serviços de energia em escala limitada, com regras temporariamente flexibilizadas, antes de sua adoção plena no mercado. Embora ainda em fase inicial, o instrumento já demonstrou potencial para aproximar a regulação das inovações tecnológicas, permitindo que distribuidoras e agentes do setor testem modelos tarifários alternativos em ambientes controlados. Os casos apresentados apontam avanços em temas como tarifação horária, integração de geração distribuída e projetos de resposta da demanda, mas também destacam a necessidade de mais projetos com diversidade geográfica e tecnológica para capturar a realidade do setor elétrico brasileiro.

    Implicações estratégicas 

    A discussão reforçou que os sandboxes são uma oportunidade única para as empresas experimentarem novas soluções sem os riscos regulatórios tradicionais. Para conselhos e alta gestão, isso significa ter a chance de influenciar a regulação a partir da prática, em vez de apenas reagir a mudanças já implementadas. Além disso, a ABRADEE sinalizou que a participação ativa das distribuidoras nesses programas pode acelerar a modernização tarifária e melhorar a aceitação de novos modelos junto aos consumidores, fortalecendo a relação de confiança.

    Riscos & mitigação

    • Baixa adesão dos agentes — se poucas distribuidoras se engajarem, os aprendizados ficam restritos. Mitigação: estímulos internos e compartilhamento de resultados no setor.
    • Dificuldade de replicabilidade — pilotos podem funcionar em um contexto específico, mas falhar em outros. Mitigação: seleção de projetos representativos e avaliação de escalabilidade.
    • Falta de métricas robustas — sem indicadores claros, os resultados perdem relevância regulatória. Mitigação: adotar metodologias de medição e verificação reconhecidas.
    • Expectativas desalinhadas — consumidores podem esperar redução imediata de tarifas. Mitigação: comunicação clara sobre o caráter experimental dos projetos.

    Decisões recomendadas

    1. Engajar-se em programas de sandbox desde a fase de desenho, para moldar os critérios e garantir alinhamento estratégico.
    2. Selecionar casos de uso aderentes ao perfil da empresa, como tarifação dinâmica, mobilidade elétrica ou integração de baterias em redes isoladas.
    3. Criar mecanismos de aprendizado organizacional, transformando os resultados dos pilotos em insumos para planejamento estratégico e regulatório.
    4. Estabelecer parcerias com associações setoriais e academia, para validar metodologias e aumentar a legitimidade dos resultados.
    5. Monitorar impactos sociais e ambientais, conectando os sandboxes às agendas de ESG e de transição justa.

    A conclusão é que os sandboxes tarifários no Brasil estão ganhando tração, mas ainda carecem de escala e diversidade. Para empresas que desejam liderar o futuro do setor, participar desses ambientes de teste é tanto uma oportunidade competitiva quanto uma forma de exercer influência regulatória.

    Palestra de Encerramento – O Futuro da Energia

    A palestra de encerramento do CITEENEL, apresentada por Luiz Mandarino, Diretor de Empreendedorismo e Startups do Energy Summit Global, trouxe uma visão abrangente sobre os caminhos da transição energética e os desafios de inovação que moldarão o setor nas próximas décadas.

    Mandarino iniciou destacando que o futuro da energia depende da interação entre cinco atores-chave: governo, universidades, empreendedores, capital de risco e corporações. Embora cada um fale “linguagens completamente diferentes”, a coordenação desse ecossistema é essencial para que ideias científicas se convertam em soluções escaláveis e de impacto.

    A análise foi sustentada pela metodologia do “Cone de Futuros”, que projeta cenários prováveis, preferíveis e alternativos em horizontes de curto, médio, longo e longuíssimo prazo. Nesse exercício, diversas megatendências globais foram evidenciadas:

    • Energia solar distribuída: novos modelos de negócio baseados em assinatura, comunidades solares, P2P e integração com armazenamento. Consolidação prevista entre 2025 e 2032, com maturidade plena em 2028.
    • Eficiência energética com IA e IoT: sensores inteligentes, automação industrial e cidades inteligentes devem ganhar escala até 2028, promovendo reduções significativas no consumo e na emissão de CO₂.
    • Armazenamento de energia: tecnologias além do lítio, soluções residenciais e comerciais, baterias de fluxo e modelos como Battery as a Service devem se consolidar entre 2030 e 2040, com maturidade em 2035.
    • Hidrogênio verde: previsto como um dos pilares da transição, com aplicações em transporte, indústria e geração elétrica. A maturidade deve ocorrer em 2035, embora os primeiros hubs já estejam em implantação globalmente.
    • Outras tendências: captura de carbono, pequenos reatores modulares (SMRs), materiais avançados, combustíveis sustentáveis de aviação (SAF), computação quântica e, no horizonte mais distante, a fusão nuclear.

    Mandarino também destacou os desafios do ecossistema brasileiro. De um lado, o país possui uma matriz elétrica já 88% renovável e um mercado consumidor expressivo. De outro, enfrenta gaps estruturais de inovação:

    • Maturidade das startups: 75% ainda estão em fase de validação ou MVP, sem tração consistente.
    • Baixa densidade: apenas 1% a 2% das startups brasileiras atuam diretamente no setor de energia.

    Além disso, o investimento em P&D permanece modesto: o Brasil aplica cerca de 1,2% do PIB (USD 100 per capita), contra 3,4% do PIB nos EUA (USD 2.500 per capita).

    Diante desse cenário, foram apontadas oportunidades de alavancagem:

    • Estimular o surgimento de infraestruturas privadas para deep techs.
    • Criar programas estruturantes de venture building, acelerando a maturidade de soluções de P&D hoje “paradas na prateleira”.
    • Apoiar startups early stage e seed, com foco em soft e deep tech aplicados ao setor energético.
    • Promover maior aproximação entre corporações, academia e startups, evitando a fragmentação de esforços.
    • Estruturar fundos de CVC early stage (TRL 4 a 6) com verbas obrigatórias de ANEEL e ANP.

    Recomendações para Conselheiros

    Para os conselhos de administração e alta gestão, a palestra trouxe ações práticas:

    1. Adotar visão de longo prazo: mapear megatendências e posicionar a empresa nos futuros preferíveis, alinhando investimentos com inovação disruptiva.
    2. Reforçar a governança de inovação: criar critérios claros para selecionar projetos de P&D e PDI, integrando métricas de maturidade (TRLs) com retorno potencial.
    3. Incentivar parcerias estratégicas: apoiar a aproximação entre startups, universidades e corporações, de modo a acelerar a validação e reduzir riscos.
    4. Explorar novos modelos de negócio: acompanhar de perto o avanço de modelos como Battery as a Service, P2P de energia e hidrogênio para transporte, identificando oportunidades de entrada.
    5. Monitorar gaps estruturais: atuar junto a governos e associações para reduzir a defasagem do Brasil em P&D, defendendo políticas públicas que combinem subsídios, capital de risco e regulação favorável.

    Visita Técnica – Amazonas Energia

    No terceiro dia do evento, foi realizada uma visita técnica ao Centro de Operações da Distribuição (COD) da Amazonas Energia, em Manaus. A empresa, recém-privatizada e com foco exclusivo na distribuição de energia, apresentou os desafios logísticos e operacionais de atender a todo o Estado do Amazonas.

    A concessionária mostrou a complexidade de gerir dezenas de sistemas isolados, muitos localizados em regiões de difícil acesso, que só podem ser alcançadas de barco. Essa realidade exige soluções diferenciadas para garantir a continuidade do fornecimento, em um território marcado por longas distâncias e infraestrutura limitada.

    Outro ponto destacado foi o desafio para a expansão da rede devido à existência de extensas áreas protegidas (unidades de conservação e zonas de amortecimento), que impõem restrições tanto ambientais quanto de propriedade da terra.

    No centro de operações, chamou a atenção o uso do sistema SAGE (Sistema de Automação da Geração e Distribuição de Energia), que permite o monitoramento em tempo real e a coordenação das operações da rede, consolidando informações estratégicas para a tomada de decisão.

    Registramos nosso agradecimento à equipe da Amazonas Energia pela hospitalidade e pela abertura em compartilhar os desafios e soluções do setor de distribuição no Amazonas.

    Mapa de Stakeholders — Análise Executiva

    O CITEENEL 2025 deixou claro que a transição energética, a inovação regulatória e a agenda de eficiência só se materializam quando existe coordenação entre múltiplos atores. O setor elétrico brasileiro é, por natureza, sistêmico: nenhuma decisão se sustenta isoladamente, pois cada inovação impacta simultaneamente regulação, operação, tecnologia, financiamento e aceitação social.

    O Mapa de Stakeholders abaixo sintetiza os principais atores envolvidos e suas dinâmicas de poder, interesse e influência. Ele é, na prática, um guia de leitura estratégica para conselheiros e alta gestão, permitindo entender quem precisa estar à mesa em cada decisão e qual deve ser a abordagem de engajamento.

    Categorias e Papel Estratégico

    StakeholderDescrição Estratégica
    1. Regulação (ANEEL)A ANEEL é o centro de gravidade do ecossistema. Seu papel como regulador de P&D, PEE e inovação é decisivo para viabilizar projetos e orientar fluxos de capital. O interesse e a influência são ambos altos: sem regulação clara e estável, não há escala nem segurança jurídica. A estratégia recomendada é manter uma agenda proativa de diálogo e antecipação regulatória, evitando surpresas que possam inviabilizar investimentos.
    2. Governo (MME / Governo do Amazonas)O governo federal (via MME) formula políticas setoriais, enquanto governos estaduais — como o do Amazonas, anfitrião do evento — articulam políticas locais, incentivos fiscais e a mediação de impactos regionais. Ambos têm interesse e influência elevados. O alinhamento político-estratégico é fundamental, principalmente em projetos de transição energética com forte componente territorial.
    3. Operadores (ONS)O Operador Nacional do Sistema é o ator-chave da coordenação técnica e digital da rede elétrica. Sua influência é elevada porque define limites operacionais e requisitos para integração de novas fontes, armazenamento e eletrificação. A melhor estratégia é estabelecer parcerias técnicas e investir em integração digital (digital twins, previsibilidade de carga, IA).
    4. Utilities (Geração, Transmissão e Distribuição)São responsáveis pela execução e implantação prática dos projetos. Representam o elo direto com os consumidores e carregam a responsabilidade pela confiabilidade do sistema. Seu interesse e influência são altos, mas dependem da capacidade de cooperação interinstitucional. Conselheiros devem priorizar alianças estratégicas e modelos de cooperação setorial, evitando a fragmentação de esforços.
    5. Academia (UFAM, UEA, Unicamp, entre outras)A academia atua como fonte de conhecimento científico, laboratórios de teste e formação de capital humano. Tem interesse médio, mas pode ganhar influência conforme políticas públicas e editais de P&D se orientam para inovação aplicada. A estratégia passa por parcerias de P&D colaborativos que transformem pesquisa em aplicação prática.
    6. Startups e Inovadores (climate techs, energia, digital)Representam o vetor de soluções emergentes — de IA aplicada a energia a novas rotas de hidrogênio verde. Seu interesse é médio, mas podem alavancar grande valor ao se conectarem com utilities e investidores. O caminho de engajamento é apoiar provas de conceito (PoCs) e programas de aceleração que transformem experimentos em escala.
    7. Investidores (VC, CVC, Bancos)O capital de risco e os fundos corporativos têm papel essencial em transformar inovação em negócio. Seu interesse é alto, mas a influência depende de um ambiente regulatório e de governança estável. A estratégia recomendada é a estruturação financeira híbrida, combinando capital privado com linhas de crédito verde e incentivos públicos.
    8. Comunidades (FAS e populações locais)Nenhum projeto se sustenta sem licença social. No caso da Amazônia, a aceitação das comunidades locais e a gestão dos impactos socioambientais são determinantes. O interesse é alto, mas a influência se expressa de forma indireta: por meio de pressões políticas, sociais e ambientais. A recomendação é investir em modelos de engajamento inclusivos, como projetos comunitários, mecanismos de compensação e métricas de justiça energética.

    Síntese Executiva

    O mapa evidencia que a governança da transição energética é multilateral. Para os conselhos de administração, a principal mensagem é que decisões de investimento, inovação e posicionamento estratégico não podem ser tomadas apenas sob a ótica financeira ou tecnológica. É necessário mapear continuamente os stakeholders críticos, ajustar estratégias de engajamento e antecipar pontos de conflito.

    Em termos práticos:

    • ANEEL e MME devem ser tratados como parceiros de agenda, não apenas reguladores.

    • ONS e utilities precisam ser integrados em projetos desde a concepção, para evitar barreiras técnicas.

    • Startups e academia são fontes de diferenciação competitiva.

    • Investidores só entram de forma robusta com estabilidade regulatória.

    • Comunidades locais definem a legitimidade de longo prazo.

    Quadro Consolidado de Riscos & Recomendações

    Tema EstratégicoPrincipais RiscosMitigaçõesRecomendações ao Conselho
    Inteligência Artificial & DadosDados incompletos ou ruins levam a decisões equivocadas; dependência excessiva de terceiros.Governança de dados; equipes internas multidisciplinares.Exigir políticas de qualidade de dados e vincular IA a ganhos de eficiência e confiabilidade.
    Armazenamento de Energia (BESS)CAPEX elevado; incertezas regulatórias; risco de obsolescência.Projetos modulares; PPAs estruturados; integração híbrida.Avaliar pilotos em arbitragem e segurança energética.
    Eletrificação IndustrialCAPEX alto; gargalos de rede; exigências regulatórias externas (CBAM).Engenharia de rede; PPAs renováveis; integração com H₂.Mapear processos viáveis, iniciar pilotos e preparar compliance de carbono.
    Hidrogênio Verde (HV)Custos altos; falta de demanda firme; gargalos logísticos.Foco em nichos substitutivos (cinza → verde); parcerias locais.Apoiar clusters industriais e monitorar projetos economicamente viáveis.
    Eficiência Energética (PEE/ANEEL)Incerteza regulatória; dispersão de recursos; baixa transparência.Portfólios flexíveis; parcerias ESG; engajamento com ANEEL.Alinhar projetos a métricas socioambientais e de energia, reforçando governança.
    P&D / PDI & PortfólioProjetos sem saída de mercado; excesso de relatórios.Uso de TRLs; gestão de portfólio; inovação aberta.Exigir métricas de risco-retorno e foco em impacto de mercado.
    Justiça Energética & EquidadeExclusão social; resistência comunitária; falta de financiamento inclusivo.Projetos comunitários; métricas de justiça energética.Incluir critérios de inclusão e impacto social em decisões de investimento.

    Oportunidades

    A transição energética que se desenha no Brasil não é apenas um desafio técnico ou regulatório — ela é uma plataforma de oportunidades que atravessa toda a cadeia de valor e mobiliza diferentes atores. O CITEENEL 2025 reforçou que nenhum setor isolado conseguirá capturar sozinho esse potencial. O caminho é de cooperação estratégica, em que cada stakeholder exerce um papel complementar.

    Para a regulação (ANEEL), o momento é de criar condições para que inovação e segurança jurídica caminhem juntas. A oportunidade está em estruturar marcos regulatórios flexíveis — como os sandboxes tarifários — que permitam testar novos modelos sem comprometer a estabilidade do setor.

    Para o governo (MME e governos estaduais), a transição energética é vetor de desenvolvimento regional e competitividade internacional. Investimentos em infraestrutura, incentivos fiscais e políticas industriais podem transformar o Brasil em hub global de energia limpa e tecnologia aplicada.

    Para os operadores (ONS), o avanço da digitalização, do armazenamento e da integração renovável exige uma nova geração de ferramentas de previsão, coordenação e inteligência sistêmica. Oportunidade única para modernizar a operação do sistema elétrico com IA, digital twins e gestão em tempo real.

    Para as utilities (geração, transmissão e distribuição), abre-se a chance de reposicionar seu papel. Geradoras podem adotar AIoT para maximizar eficiência; transmissoras podem explorar BESS em subestações e redes inteligentes; distribuidoras podem liderar a expansão do smart metering e se transformar em plataformas de inovação aberta.

    Para a academia (UFAM, UEA, Unicamp e demais universidades), a oportunidade é de assumir protagonismo global em pesquisa aplicada em hidrogênio verde, baterias e smart grids, além de formar profissionais que combinem ciência de dados e engenharia energética.

    Para as startups e inovadores, a transição abre espaço para soluções ágeis em eficiência, digitalização, eletrificação e H₂V. Oportunidade de escalar negócios através de provas de conceito (PoCs) em parceria com utilities e grandes indústrias.

    Para os investidores (VC, CVC, bancos), o desafio é converter inovação em retorno financeiro com impacto socioambiental. A oportunidade está na estruturação de veículos híbridos de capital, combinando investimento privado com linhas verdes públicas e internacionais.

    E, por fim, para as comunidades (como a FAS e populações locais), a transição energética traz a possibilidade de gerar renda, inclusão social e acesso a energia limpa. A oportunidade é ser reconhecida não como obstáculo, mas como parceira legítima na implantação de projetos sustentáveis.

    O Brasil, com sua matriz renovável única, biodiversidade e capacidade instalada em engenharia e ciência, tem condições de liderar a próxima onda global da energia sustentável. A questão que se coloca aos conselhos, executivos, investidores, reguladores, acadêmicos e comunidades é: vamos participar como protagonistas ou como seguidores?

    StakeholderOportunidades Estratégicas
    Regulação (ANEEL)Expandir sandboxes regulatórios para novos modelos de negócio. Modernizar o PEE incorporando métricas socioambientais. Estimular transição do P&D para PDI com foco em mercado. Criar incentivos para BESS, hidrogênio verde e smart grids.
    Governo (MME / Gov. Amazonas)Estruturar políticas de eletrificação industrial e clusters de H₂V. Oferecer incentivos fiscais e programas de financiamento verde. Alavancar a Amazônia como laboratório de inovação energética.  Integrar a agenda energética à diplomacia climática (COP30, CBAM).
    Operadores (ONS)Implantar digital twins e IA para previsão de carga e confiabilidade. Integrar BESS e fontes renováveis na operação do sistema. Desenvolver protocolos de coordenação para eletrificação em larga escala.  Estimular uso de ciência de dados e segurança cibernética.
    Utilities – GeraçãoUsar AIoT para otimizar usinas renováveis. Desenvolver projetos híbridos (solar + eólica + BESS).- Lançar modelos de energia como serviço para consumidores intensivos. Inovar em contratos de PPAs verdes de longo prazo.
    Utilities – TransmissãoImplantar BESS em subestações para estabilidade de rede. Digitalizar linhas de transmissão com sensoriamento remoto. Aplicar manutenção preditiva em larga escala.  Integrar redes inteligentes e apoiar novos modelos tarifários.
    Utilities – DistribuiçãoExpandir smart metering em escala nacional. Usar automação e IA para redes “self-healing”. Criar programas de flexibilidade de demanda e resposta ativa. Atuar como plataforma de integração de startups em sandboxes.
    Academia (UFAM, UEA, Unicamp, etc.)Consolidar centros de excelência em H₂V, BESS e redes inteligentes. Ampliar parcerias universidade-empresa para PDI. Formar engenheiros com foco em energia + ciência de dados. Atrair fundos internacionais para pesquisa aplicada.
    Startups e InovadoresDesenvolver soluções ágeis em IA, climate tech e eletrificação. Escalar PoCs com utilities e indústrias pesadas. Inovar em modelos de negócio digitais (energia como serviço, marketplaces). Acessar capital de risco e programas de aceleração global.
    Investidores (VC, CVC, Bancos)Estruturar fundos híbridos (privado + verde). Financiar projetos em hidrogênio, BESS e eletrificação industrial. Apoiar startups em transição de TRLs intermediários. Posicionar capital brasileiro no mercado global de créditos de carbono.
    Comunidades (FAS e locais)Participar de projetos de energia comunitária descentralizada. Captar benefícios de programas de eficiência e inclusão social. Integrar iniciativas de justiça energética e compensação ambiental. Tornar-se parceiras legítimas na implantação de infraestrutura.

    Conclusão

    O CITEENEL 2025 mostrou que a transição energética no Brasil já não é uma possibilidade distante, mas uma realidade em construção — com impactos diretos sobre regulação, tecnologia, investimento e legitimidade social. O evento evidenciou que, para além de relatórios e painéis, o país está diante de uma escolha estratégica: atuar como protagonista global da energia sustentável ou como seguidor em um mercado cada vez mais competitivo.

    Os debates reforçaram que a integração entre stakeholders é a condição necessária para o avanço. Reguladores precisam criar um ambiente flexível e estável; governos devem alinhar políticas industriais e regionais; operadores têm que investir em digitalização e confiabilidade; utilities precisam se reinventar como plataformas de inovação; academia e startups devem acelerar a ponte entre ciência e mercado; investidores têm a chance de financiar novos modelos de negócio com impacto socioambiental; e comunidades locais devem ser vistas não como barreiras, mas como parceiras legítimas da transição justa.

    As oportunidades são amplas: desde o uso de inteligência artificial e ciência de dados até a expansão de BESS, a eletrificação industrial, o hidrogênio verde e a reinvenção dos programas de eficiência energética. O Brasil reúne condições singulares — matriz renovável robusta, biodiversidade, capital humano e mercado consumidor — para se tornar referência internacional. Mas essa janela não permanecerá aberta indefinidamente.

    Para conselheiros e alta gestão, a mensagem central é clara: a transição energética deve ser tratada como prioridade estratégica, não apenas como obrigação regulatória ou reputacional. É hora de mapear riscos, definir portfólios, engajar stakeholders e transformar inovação em competitividade real.

    O CITEENEL 2025 deixou como legado não apenas a agenda discutida em Manaus, mas um chamado à ação. O futuro da energia brasileira será construído por aqueles que tiverem coragem de investir, colaborar e liderar — agora.

    Autor do relatório: Eduardo Mayer Fagundes (eduardo.mayer@nMentors.com.br)
  • Diversificação eólica no Brasil: implicações estratégicas para o setor elétrico e datacenters

    Diversificação eólica no Brasil: implicações estratégicas para o setor elétrico e datacenters

    O Brasil vive um momento marcante na transição energética. A instalação do AGW172/7.X, desenvolvido pela WEG em parceria com a Petrobras e adquirido pela Statkraft, representa não apenas um salto tecnológico, mas também uma oportunidade para repensar a diversificação geográfica da energia eólica. Este artigo apresenta uma análise comparativa entre o desempenho da turbina no Nordeste e cenários hipotéticos no Rio Grande do Sul, além de discutir como essa tecnologia pode atender ao crescimento acelerado dos datacenters no país.


    O que representa o AGW172/7.X para o Brasil

    O AGW172/7.X é um marco para a indústria nacional. Com 7 MW de potência nominal, altura de 220 metros e rotor de 172 metros de diâmetro, é hoje o maior aerogerador onshore das Américas. Sua instalação no complexo eólico de Seabra, na Bahia, simboliza a capacidade do Brasil de desenvolver tecnologia de ponta com forte participação da cadeia de suprimentos local.

    Esse avanço posiciona o país em sintonia com mercados internacionais onde turbinas de 6 a 8 MW já são realidade. Além disso, abre caminho para a entrada do Brasil na energia eólica offshore, segmento em que turbinas chegam a 10–15 MW, com fatores de capacidade superiores a 60%.


    Nordeste: produtividade máxima, mas com curtailment elevado

    O Nordeste concentra mais de 80% da capacidade eólica do Brasil e oferece fatores de capacidade superiores a 50%. Para o AGW172/7.X, os cálculos apontam uma geração líquida anual entre 24,2 e 28,8 GWh, mesmo considerando perdas e curtailment.

    Esse desempenho reforça a competitividade da região, mas expõe um desafio estrutural: a saturação da rede de transmissão. O excesso de energia já provoca cortes significativos (curtailment), que reduzem a receita dos projetos e comprometem a previsibilidade dos contratos. Esse cenário sinaliza a necessidade de diversificação regional para aliviar gargalos.


    Rio Grande do Sul: alternativa estratégica para diversificação

    O Rio Grande do Sul surge como alternativa complementar ao Nordeste. Com ventos consistentes e proximidade dos centros de consumo do Sul e Sudeste, o estado apresenta condições competitivas para turbinas de grande porte, com a vantagem de menor risco de curtailment e maior estabilidade da rede.

    Litoral Norte

    A região do Litoral Norte combina ventos marítimos fortes com infraestrutura consolidada. A geração líquida estimada do AGW172/7.X fica entre 20,5 e 27,7 GWh/ano, valores próximos aos da Bahia. O diferencial está na confiabilidade, já que a rede elétrica local apresenta menor risco de saturação. Isso torna a região especialmente atrativa para contratos de longo prazo, como os PPAs voltados a datacenters.

    Campanha Gaúcha

    Na Campanha, os ventos são menos intensos, mas ainda competitivos. As estimativas variam entre 18,4 e 24,9 GWh/ano, com a vantagem de baixa densidade de projetos e possibilidade de expansão. Além disso, há complementaridade sazonal com o Nordeste, oferecendo maior resiliência ao sistema como um todo.


    Datacenters e a nova demanda por energia limpa

    O crescimento dos datacenters no Brasil é um vetor estratégico para o setor elétrico. Estima-se que até 2030 o país concentrará mais de 50% da capacidade instalada da América Latina. Essas estruturas exigem energia limpa, redundante e altamente previsível, com contratos de nível de serviço (SLA) superiores a 99,99%.

    Nesse contexto, o Rio Grande do Sul se apresenta como um hub digital sustentável. Além da proximidade de grandes centros urbanos, o estado combina estabilidade de rede e menor exposição ao curtailment. A integração com sistemas de armazenamento em baterias (BESS) e projetos de hidrogênio verde amplia ainda mais a atratividade, garantindo redundância e flexibilidade de fornecimento.


    Benchmark internacional: o que aprender com China, EUA e Europa

    Os principais mercados globais oferecem lições relevantes para o Brasil.

    • China: turbinas onshore de 6–8 MW já em operação, muitas vezes integradas a sistemas híbridos com solar e baterias.
    • EUA: turbinas acima de 6 MW concentradas em estados como Texas e Oklahoma, apoiadas por longas linhas de transmissão e contratos corporativos de energia.
    • Europa: programas de repotenciação substituem turbinas de 2–3 MW por modelos acima de 6 MW em áreas já licenciadas.
    • Offshore: turbinas de 10–15 MW no Mar do Norte e na Ásia, com fatores de capacidade de até 65%, abastecendo diretamente indústrias eletrointensivas e datacenters.

    Essas experiências mostram que a integração de turbinas de grande porte com consumidores intensivos em energia é tendência global. O Brasil pode adaptar esse modelo, aproveitando o RS como polo de geração confiável e próximo da carga.


    Conclusões e recomendações

    O AGW172/7.X confirma a capacidade tecnológica do Brasil em produzir turbinas de classe mundial. A Bahia seguirá como referência em produtividade, mas o Rio Grande do Sul desponta como alternativa estratégica pela confiabilidade de rede e proximidade dos centros de consumo.

    Para o setor elétrico, a recomendação é clara: diversificar a geografia da geração e acelerar investimentos em transmissão. Para os datacenters, é essencial priorizar PPAs verdes de longo prazo no RS, aproveitando condições mais estáveis. E para os reguladores, urge avançar em políticas que viabilizem a integração com BESS e hidrogênio verde, assegurando competitividade internacional.

    No médio prazo, o Brasil deve consolidar hubs regionais robustos no Nordeste e no Sul. No longo prazo, tem potencial para se tornar líder latino-americano em energia renovável integrada à infraestrutura digital, transformando sua vantagem natural em diferencial estratégico global.

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