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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • A Virada do Jogo do Brasil

    O Instituto McKinsey publicou em julho de 2013 o relatório Game changers: five opportunities for US growth and renewal apontando cinco iniciativas para acelerar o crescimento econômico dos Estados Unidos: (1) produção de energia barata usando gás de xisto; (2) maior competitividade na indústria com conhecimento intensivo; (3) maior produtividade usando Big Data; (4) investimentos em infraestrutura; e, (5) investimento em capital humano.

    Substituindo o primeiro item por geração de energia barata renovável os outros itens se aplicam inteiramente no Brasil.

    Energia renovável e barata

    A Aneel criou condições regulatórias que permite uma gama de opções para a geração de energia renovável com subsídios fiscais. A resolução normativa nº 482 permite a produção independente de energia renovável até 1MWp com acoplamento à rede pública de distribuição para exportar o excedente produzido. A resolução normativa nº 556 permite o uso das verbas contratuais de eficiência energética das concessionárias de energia de forma mais eficaz. O mercado livre de energia para empresas com consumo superior a 500kW é uma oportunidade para energia mais barata e opção viável para empresas comprometidas com a sustentabilidade ambiental.

    As empresas com operação no Brasil devem agir rápido na adoção de uma solução mais barata de consumo de energia, pois nossos vizinhos, Argentina e Paraguai, estão prontos para oferecer energia mais barata. A Argentina está pronta para produzir gás de xisto e possui a terceira maior reserva de xisto betuminoso do mundo. O Paraguai está atraindo investimentos depois que reduziu o custo da energia em até 63% do custo no Brasil.

    Manufaturados com inteligência intensiva

    Nos últimos anos a exportação de manufaturados brasileiros está caindo e as commodities crescendo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e apresentados no gráfico abaixo. Isso demonstra que os produtos brasileiros não agregam inteligência e, consequentemente, tem seu preço controlado pelo mercado internacional e sensível a variações de clima e vulneráveis a substituição por outros materiais. Várias simulações de mudanças climáticas indicam variações significativas do clima em 2025 e os estudos do grafeno indicam a substituição de vários materiais derivados do ferro e outros minérios.

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    Precisamos, urgentemente, investir na indústria de transformação das commodities e intensificar as pesquisas no grafeno e outros materiais. A boa noticia é que a Universidade Presbiteriana Mackenzie inaugura em março de 2014 o Centro de Pesquisas Avançadas em Grafeno e Nanomateriais, o MackGraf.

    Nossa indústria de tecnologia de informação é bem desenvolvida com destaque no setor de automação bancário. Também, estamos nos destacando na indústria de games e várias empresas internacionais estão investindo em centros de desenvolvimento de software no Brasil. Um exemplo é a empresa alemã SAP que montou um centro de excelência na UNISINOS em São Leopoldo no Rio Grande do Sul.

    Big Data

    A tecnologia Big Data permite analisar grande volume de dados, voláteis ou não, com maior velocidade para auxiliar nas decisões de negócios. A análise de grandes volumes de dados, gerados principalmente pelas redes sociais, permite a identificação de tendências comportamentais dos consumidores e outros padrões antes impossíveis devido a restrições tecnológicas.

    Essa tecnologia já está disponível e pronta para uso. O Brasil possui uma significativa parcela de consumidores utilizando redes sociais, o que abre uma enorme oportunidade para criar novos produtos e abrir novos mercados.

    Considerando que os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) possuem alguns mercados de nicho similares ao nosso, temos uma excelente oportunidade para aumentar nossas exportações de manufaturados com inteligência, gerando maior valor agregado.

    Investimento em infraestrutura

    A falta de infraestrutura no Brasil limita nosso crescimento econômico. Precisamos melhorar a produtividade dos investimentos em infraestrutura para facilitar o comércio interno e externo, reduzindo custos e desperdícios.

    Investimentos em infraestrutura criam novos empregos e forçam a qualificação da mão de obra, permitindo maior renda dos trabalhadores e, consequentemente, maior consumo interno.

    O desafio da infraestrutura no Brasil não é apenas de investimentos e obras eficazes, mas da nossa capacidade de execução dos projetos e a operação dos serviços após a conclusão das obras. É necessário um choque de gestão, tanto no setor público como privado.

    Investimento em capital humano

    Todos os itens discutidos acima só se viabilizarão se tivermos mão de obra capacitada e com capacidade de execução.  Nesse item o Brasil tem que evoluir muito. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) que avalia a capacidade dos alunos em leitura, matemática e ciência, o Brasil figura nas últimas posições entre os países avaliados.

    Nosso desafio começa no ensino fundamental e médio que prepara mal os alunos. As deficiências são sentidas nos cursos de graduação que reduzem os níveis de exigência para evitar reprovações em massa. As Universidades estaduais e federais adotam um polêmico sistema de cotas raciais e para alunos egressos de escolas públicas. Medidas eficazes de inclusão social, porém de resultado incerto como fator de crescimento econômico e social no longo prazo.

    Cabe aqui a participação da iniciativa privada e de organizações não governamentais (ONG) para auxiliar no desenvolvimento de crianças e jovens. Um exemplo importante é a Fundação Bradesco que vem há anos se dedicando na formação de crianças, jovens e adultos.

    Algumas faculdades brasileiras participam do programa Open Courseware do MIT (Massachusetts Institute of Technology) liberando cursos online gratuitos via Internet. O portal Efagundes.com faz sua contribuição com cursos gratuitos sobre inovação, tecnologia e gestão.

    O desafio é de todos nós

    A execução dessas iniciativas é de responsabilidade de todos. Esperar que o governo tome a iniciativa é um equivoco. Resultados práticos das manifestações populares em julho de 2013 mostraram a capacidade de transformação e pressão da sociedade. A vontade popular associada com a de empresários e acadêmicos auxiliarão o legislativo e executivo a criar leis e projetos para virarmos o jogo no Brasil.

  • Vandalismo e Continuidade de Negócios

    As manifestações públicas em várias cidades brasileiras apontam para um descontentamento das pessoas sobre a forma de governo e suas ações. A maioria dos manifestantes desejam passeatas pacificas e condenam atos de vandalismo. Mesmo pacificas, as manifestações interrompem o trânsito das principais avenidas das cidades trazendo um forte transtorno para outras pessoas e comércio. Infelizmente, manifestantes extremados depredam o patrimônio público e privado, configurando claramente atos de vandalismo. Normalmente, os alvos são ônibus, vitrines de lojas e agências bancárias. Dentro deste contexto, as empresas devem rever seus planos de continuidade de negócios.

    As empresas devem se perguntar como operar se houver uma manifestação popular, mesmo que pacifica, bloqueie a chegada de seus funcionários ou a logística de atendimento aos clientes. Outro ponto importante é como operar se o fornecimento de energia e telecomunicações for interrompido.

    Faça um teste. Vá até a calçada do seu escritório e observe os postes da sua concessionária de distribuição de energia (use o Google Maps e o Street View para as suas filiais) e imagine o que aconteceria se os fios e equipamentos instalados no poste fossem destruídos. Você pode argumentar que em poucas horas o serviço será recuperado pelas empresas de serviços. Mas imagine se a ação for coordenada por manifestantes extremados que destruam vários pontos críticos da sua região. O tempo de recuperação será longo e sua empresa ficará inoperante. O uso da Internet do seu celular tem duração limitada, pois você não terá energia para recarregar a bateria. Os no-breaks de seu data center se esgotam em poucos minutos. Talvez, o gerador do seu prédio não tenha sido projetado para atender a toda demanda de energia para o funcionamento de suas operações.

    Rua Verbo Divino

    Foto do Google Street View: Rua Verbo Divino, São Paulo

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    Fotos do Google Street View: Av. Araguaia, Alphaville-Barueri

    Agora calcule o prejuízo da sua empresa se essa situação perdurar por vários dias. Inclua no calculo as horas paradas dos funcionários, as vendas perdidas e não recuperadas, os impactos da não entrega de propostas comerciais e respostas a licitações públicas. Além disso, a falha na comunicação com bancos para pagamento de fornecedores e impostos e aplicações nas bolsa de valores e outros investimentos de curto prazo.

    Certamente você verificará que o prejuízo é maior que investimentos em um plano de continuidade de negócios.

    Esse é um bom momento para pensar e rever os planos de continuidade de negócios e aproveitar a situação para conseguir investimentos para os projetos.

  • Quando sua fábrica mudará para o Paraguai?

    Mantendo as condições atuais do custo de energia, qualificação profissional e estrutura de impostos, a que pergunta é quando sua empresa mudará para o Paraguai? O Paraguai é o país de maior crescimento econômico da América Latina nos últimos 40 anos, com média de 7,2% anual entre 1972-2011. Tem a menor carga tributaria das Américas desde 1970 (8% do PIB) legislação trabalhista favorável e flexível, onde 70% da população têm menos de 35 anos de idade. A moeda mais estável do continente, o Guarani, tem 70 anos de existência. Sem hiperinflação, com mercado totalmente aberto, cambio livre desde 1989, baixa divida externa (8% do PIB) e baixo endividamento público (6% do PIB) e com reservas internacionais suficientes para cobrirem 105% da divida externa total. O custo da energia é 63% mais barata que o Brasil. A exemplo que ocorreu com o México e os Estados Unidos, onde as empresas americanas se instalaram em território mexicano para produzir para o mercado americano, o mesmo fenômeno deve ocorrer por aqui.

    O Paraguai faz divisa com os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul, do tamanho deste último. A porcentagem da população urbana é de 56,7%. Os habitantes concentram-se nas principais cidades do país, como Assunção, Ciudad del Este, San Lorenzo e Fernando de La Mora. A taxa de natalidade é elevada — cada mulher tem em média 3,8 filhos. A taxa de mortalidade infantil é moderada e gira em torno de 26 por mil. A expectativa de vida é de 68,5 anos para homens e de 73 anos para mulheres.

    A desindustrialização brasileira é um fato. Em 2012 nossa produção foi inferior à de 2008. A indústria no Brasil perdeu seu poder de eixo dinâmico da economia. A indústria automobilística brasileira, motor da economia, tem comprado cada vez mais autopeças de fábricas instaladas no Paraguai. O IBGE mostra que nunca foram tão elevados os investimentos de brasileiros no Paraguai.

    Os locais preferidos pelos brasileiros são os arredores da capital Assunção e, principalmente, a fronteira com o Paraná no “triângulo” formado por Hernandarias, Presidente Franco e Ciudad del Este. Os setores mais visados são autopeças, confecções, calçados e plásticos. Na maior parte dos casos, a estratégia é a mesma: os insumos são importados da China, a manufatura é feita no Paraguai e o produto é vendido no Brasil. Está se tornando cada vez mais comum marcas conhecidas como Buddemeyer, Penalty, Adidas e Fila serem vendidas por aqui com etiquetas “made in Paraguai”.

    Esse cenário cria boas oportunidades para a instalação de data center. Custo de energia baixo, mão de obra barata para as operações básicas de manutenção e operação local e monitoramento remota a partir dos atuais centros de controle e monitoração.

    Obvio que como brasileiros, temos que reverter essa situação. Para isso temos que investir em inovação, geração independente de energia, produtividade e qualificação profissional. Por outro lado, temos que manter nossas empresas vivas para cumprir o seu papel social. Sucumbir em um ambiente desfavorável não é inteligente.

  • Redefinindo a indústria brasileira

    O Brasil continua bem na foto e ainda atrai investimentos do exterior. Entretanto, a política de sustentação que o governo está adotando pode nos complicar no futuro.

    Nossa péssima infraestrutura de transporte, a baixa qualificação  e alto custo da mão-de-obra, o forte intervencionismo do governo que gera incertezas e o alto custo da energia vêm, gradativamente, desestimulando os investimentos.

    Os incentivos para o pleno emprego e manutenção do consumo vem causando sérios prolemas para a indústria e para a inflação. O mecanismo é simples: o mercado de trabalho aquecido eleva os salários; O setor de serviços, protegido da concorrência externa, repassa o custo dos salários para os preços, que eleva a inflação. As empresas competem pelos trabalhadores mais qualificados, que pressiona a alta de salários e os custos da indústria. Como a indústria não consegue repassar o aumento de seus custos, devido a concorrência dos produtos importados, ocorre a queda da competitividade e a redução dos investimentos.

    Nossa indústria tem que investir na transformação de seus negócios, criando um novo portfólio de negócios com projetos de inovação. Investir para competir com produtos fabricados na Ásia inibe enxergar oportunidades de novos negócios para os consumidores brasileiros.

    Insisto em dizer que toda empresa precisa desenvolver um portfólio de novos negócios para apoiar o seu crescimento identificando novos produtos e novos mercados. Um movimento coordenado pelas associações de classe das empresas definindo com o governo as prioridades de investimentos irá redefinir o mercado para a indústria brasileira.