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Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • Radar 360 – Economia, IA, Energia e Risco Político no Brasil (29/11–05/12/2025)

    Radar 360 – Economia, IA, Energia e Risco Político no Brasil (29/11–05/12/2025)

    Resumo executivo

    A semana de 29 de novembro a 5 de dezembro de 2025 consolida um cenário de dólar estruturalmente forte, em torno de 5,50 reais nas projeções de mercado, com alta volatilidade de curto prazo.

    No mercado de trabalho, o Brasil renova a mínima histórica de desemprego em 5,4% no trimestre até outubro, mas com taxa de subutilização em 13,9% e renda real praticamente estável, reforçando a ideia de “pleno emprego estatístico” com bolso pressionado. Ao mesmo tempo, permanecem fragilidades metodológicas relevantes: a definição de “ocupado” inclui quem trabalhou apenas uma hora na semana de referência e parte dos beneficiários do Bolsa Família não aparece na taxa de desemprego, enquanto a linha de pobreza usada em algumas leituras ainda se ancora em parâmetros antigos do Banco Mundial. Na prática, o “desemprego real” e a vulnerabilidade de renda são maiores do que sugere a fotografia oficial.

    No tabuleiro energético, o petróleo tipo Brent gira na faixa de 62–64 dólares o barril, com bancos e agências projetando superávit de oferta e preços mais baixos para 2026–2027, ainda que conflitos e tensões comerciais mantenham o risco geopolítico elevado.

    Em tecnologia, a Nvidia reporta nova máxima histórica de receita impulsionada pelo negócio de data centers, enquanto a Amazon Web Services (AWS – Amazon Web Services) expande sua linha de chips de Inteligência Artificial (IA – Inteligência Artificial), com a família Trainium evoluindo para os modelos Trainium3 e Trainium4 e consolidando a “guerra dos chips” entre GPUs tradicionais e silício proprietário de nuvem. Em paralelo, a AWS reforça a integração da computação quântica ao portfólio via Amazon Braket, com casos de uso crescentes em simulação e otimização para energia e utilities, ainda em estágio de P&D, mas já relevantes para a agenda tecnológica de médio prazo.

    Simultaneamente, Palantir, Nvidia e CenterPoint Energy anunciam a plataforma Chain Reaction para coordenar licenciamento, cadeia de suprimentos e infraestrutura de energia para data centers de IA, evidenciando que a expansão da infraestrutura digital passa a ser tratada como problema de rede, energia e obras, não apenas de software.

    No front geopolítico, a guerra na Ucrânia registra novos ataques em larga escala à infraestrutura de energia e transporte, enquanto o governo de Nicolás Maduro aciona formalmente a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para responder à pressão dos Estados Unidos, recolocando Venezuela e petróleo no centro do risco regional.

    No plano institucional doméstico, a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, restringindo ao Procurador-Geral da República a iniciativa para pedidos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF – Supremo Tribunal Federal), intensifica o ruído entre STF e Senado e reaquece debates sobre mandato, critérios de escolha e responsabilização de ministros, adicionando um componente doméstico ao risco político-regulatório.

    Para o Planejamento Estratégico 2026, três premissas são reforçadas:

    1. trabalhar com dólar base em torno de 5,50 reais, com cenários de estresse acima disso;
    2. ler emprego via “desemprego real” (subutilização, rendimento e qualidade da ocupação), não apenas via taxa oficial;
    3. tratar IA, energia, computação quântica nascente e geopolítica como variáveis integradas de risco, investimento e competitividade.
    4. Painel dos indicadores Radar 360

    Escala comum:

    • −2 = fortemente negativo
    • −1 = moderadamente negativo
    • 0 = neutro / misto
    • +1 = moderadamente positivo
    • +2 = fortemente positivo
    IndicadorValorDescrição resumida
    RBA (Risco Brasil Ampliado)0Ambiente de risco misto: câmbio estruturalmente depreciado, sem choque doméstico novo de grande escala, mas exposição alta a geopolítica e petróleo
    PER (Pulso da Economia Real)0Economia em “cruzeiro operacional”: sem crise aguda, sem aceleração; consumo ainda limitado pela renda
    QTR (Qualidade do Trabalho e Renda)-1Desemprego baixo com subutilização elevada, renda comprimida na base e estatísticas oficiais sujeitas a subestimação da vulnerabilidade
    VTT (Vetor de Transformação Tecnológica e IA)+2Semana forte em chips de IA, data centers, plataformas de infraestrutura e avanço de computação quântica gerenciada, consolidando IA como “infraestrutura crítica”
    PEC (Pressão Energética e Climática)0Petróleo em patamar mais baixo, com sinais de superoferta, mas sob risco geopolítico contínuo
    SPG (Stress Político-Regulatório e Geopolítico)-1Guerra na Ucrânia, tensões EUA–Venezuela e ruído STF–Senado, sem ruptura nova, mas em nível elevado de atenção

    Macro e mercados

    • Câmbio: projeções de Relatório Focus, bancos e casas de análise mantêm dólar em torno de 5,50 reais como cenário base para o fim de 2025, com faixa plausível entre 5,00 e 6,30 conforme o balanço entre risco fiscal doméstico e aversão global a risco.
    • Petróleo: o Brent opera próximo de 63 dólares por barril, com bancos projetando preços médios entre 57 e 64 dólares para os próximos anos e a Agência Internacional de Energia indicando superávit relevante de oferta em 2026.

    Leitura para RBA (Risco Brasil Ampliado):

    • câmbio desvalorizado e mais volátil aumenta pressão em custos dolarizados (tecnologia, máquinas, insumos industriais);
    • ao mesmo tempo, melhora o colchão cambial para exportadores e agronegócio;
    • ausência de fatos novos domésticos relevantes de natureza econômica na semana mantém o risco em zona “neutra tensa”, com o câmbio atuando como principal amortecedor, ainda que o ruído institucional STF–Senado entre no radar para horizontes mais longos.

    Implicação de portfólio: empresas com alto passivo em dólar e baixa receita em moeda forte precisam acionar, em 2026, mecanismos de hedge cambial e revisão de contratos de fornecimento; já players exportadores podem usar o dólar forte como motor de caixa e investimento em produtividade.

    Economia real e trabalho

    • Desemprego: a taxa de desocupação no trimestre encerrado em outubro cai para 5,4%, menor nível da série desde 2012, com recuo frente ao ano anterior.
    • Subutilização: a taxa composta de subutilização fica em 13,9%, indicando contingente relevante de trabalhadores em jornada parcial involuntária, bicos e desalento.
    • Renda: o rendimento real habitual se mantém praticamente estável, com ganho moderado em relação a 2024, mas ainda aquém da percepção de “expansão robusta” que os dados de emprego isolados sugerem.
    • Metodologia e “desemprego real”: a definição de ocupação na PNAD Contínua considera como ocupado quem trabalhou ao menos uma hora na semana de referência, enquanto boa parte dos beneficiários do Bolsa Família não entra na força de trabalho oficial. Em paralelo, leituras sobre redução de pobreza ainda utilizam linhas baseadas em parâmetros antigos do Banco Mundial. Resultado: a vulnerabilidade real do mercado de trabalho e da renda é maior do que indica a estatística padrão.

    Consequência para o indicador QTR (Qualidade do Trabalho e Renda):

    • QTR em −1: a quantidade de empregos melhora, mas não se traduz automaticamente em poder de compra nem em estabilidade;
    • a ideia de “desemprego real” acima de 15% (quando se considera subutilização e desalento) continua consistente com o comportamento do varejo, dos serviços voltados à base da pirâmide e dos indicadores de crédito.

    Para planejamento 2026:

    • segmentos expostos à base da pirâmide devem operar com cenários conservadores de demanda, ancorados em dados transacionais e não apenas em estatísticas oficiais;
    • o foco passa a ser mix de produtos com melhor relação “valor percebido/preço”, crédito mais seletivo e gestão fina de estoques, com clusterização regional e por faixa de renda.

    Tecnologia e IA

    Três movimentos estruturais se destacam:

    • Nvidia: a empresa registra receita recorde de 57 bilhões de dólares no trimestre encerrado em outubro, com 51,2 bilhões de dólares vindos de data centers, crescimento de mais de 60% em relação ao ano anterior, consolidando as GPUs de IA como alicerce da nova infraestrutura digital.
    • AWS (Amazon Web Services): a linha de chips de IA Trainium se torna um negócio multibilionário, com cerca de 1 milhão de chips implantados e avanço para os modelos Trainium3 e Trainium4, reduzindo custo de treinamento e inferência e diminuindo dependência de GPUs de terceiros.
    • Cadeia de infraestrutura: Palantir, Nvidia e CenterPoint Energy lançam o projeto Chain Reaction, uma plataforma de IA para organizar licenciamento, cadeia de suprimentos, obras e integração à rede elétrica de data centers de IA, tratando-os explicitamente como cargas equivalentes a “pequenas cidades” em termos de consumo de energia.

    Adicionalmente, a AWS reforça a integração da computação quântica ao portfólio por meio do Amazon Braket e de programas voltados a energia e utilities. Essa camada ainda opera em regime de P&D, com foco em simulação e problemas combinatórios complexos (planejamento de rede, alocação de ativos, otimização de portfólio), mas sinaliza a direção da próxima fronteira de eficiência para empresas intensivas em energia e infraestrutura crítica.

    Ao mesmo tempo, executivos e analistas, como o CEO da Anthropic, alertam para sinais de bolha financeira em IA, com “YOLO” de investimentos em chips e data centers, ciclos de realimentação entre fabricantes e clientes e elevada incerteza sobre a demanda efetiva de longo prazo.

    Leitura para o indicador VTT (Vetor de Transformação Tecnológica e IA):

    • VTT em +2: a IA deixa de ser apenas software e passa a ser lida como infraestrutura crítica (silício, energia, rede, licenciamento), com a computação quântica emergindo como vetor complementar de médio prazo;
    • empresas brasileiras de tecnologia e serviços precisam tratar FinOps (Financial Operations) e arquitetura de nuvem como alavancas de margem, não apenas como pauta de TI;
    • a “guerra dos chips” (GPUs de Nvidia vs. chips proprietários de nuvem) cria uma deflação técnica potencial de custo por unidade de computação, que porém chega filtrada pelo câmbio e pelas decisões de arquitetura;
    • para energia e utilities, a janela 2026–2028 é o momento adequado para pilotos e “sandboxes” em computação quântica aplicada, não para produção.

    Energia, clima e sustentabilidade

    O quadro da semana combina preço moderado e risco elevado:

    • preços: o Brent opera perto de 63 dólares, com bancos projetando preços mais baixos à frente, superávit de oferta em 2026 e possibilidade de o barril cair abaixo de 50 dólares em cenários de tensão comercial e aumento de produção da OPEP+;
    • oferta x demanda: projeções indicam crescimento de demanda mais lento que o da oferta em 2025–2026, com produtores como Brasil, Estados Unidos, Canadá e outros ampliando capacidade offshore;
    • geopolítica: tensões EUA–China, conflitos na Ucrânia e atritos em torno de sanções reforçam o risco de choques pontuais de preço, mesmo em cenário de superávit estrutural.

    Para o indicador PEC (Pressão Energética e Climática):

    • PEC em 0 reflete esse trade-off: alívio potencial de preço pela via da oferta, com risco de picos de volatilidade por eventos geopolíticos;
    • para o Brasil, a matriz majoritariamente renovável segue como ativo estratégico, permitindo contratos de longo prazo mais previsíveis para grandes consumidores, inclusive data centers e indústria eletrointensiva.

    Para projetos 2026, a mensagem é clara: estruturar PPAs (Power Purchase Agreements) de longo prazo ancorados em fontes renováveis, combinando previsibilidade de custos com posicionamento ESG (Environmental, Social and Governance) em um ambiente global de energia ainda volátil. No horizonte pós-2030, tecnologias emergentes como computação quântica aplicada à otimização de redes e portfólios de energia tendem a reforçar esse vetor de eficiência, mas para 2026 permanecem como agenda de P&D e preparação de capacidades internas.

    Política e regulação

    No plano doméstico, a semana traz um movimento institucional relevante: a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, ao restringir ao Procurador-Geral da República a iniciativa para pedidos de impeachment de ministros do STF, é percebida por parte do Senado como tentativa de limitar suas prerrogativas constitucionais. Isso ocorre em paralelo a projetos já em discussão que tratam de mandato para ministros, critérios de escolha e regras de impeachment.

    O cenário segue marcado por:

    • ruído político elevado;
    • agenda econômica e regulatória fragmentada entre Congresso, Executivo e Judiciário;
    • incerteza recorrente em temas como reforma administrativa, marcos ambientais, regulação financeira e telecomunicações, agora somada ao debate explícito sobre freios e contrapesos entre STF e Senado.

    Para o indicador SPG (Stress Político-Regulatório e Geopolítico), o peso da semana vem tanto do eixo externo (guerra na Ucrânia, tensões EUA–Venezuela, petróleo) quanto desse ruído institucional interno, mantendo SPG em −1, porém com composição de risco mais equilibrada entre fatores domésticos e internacionais.

    Do ponto de vista empresarial, isso significa que:

    • o risco regulatório brasileiro permanece “alto, porém conhecido”, exigindo governança robusta, mas com um novo vetor de atenção no relacionamento STF–Congresso;
    • o vetor geopolítico volta a ser tão relevante quanto o vetor regulatório interno para decisões de CAPEX (Capital Expenditure) em energia, logística, tecnologia e exportações, e o “mapa institucional” de cada projeto deve passar a incluir, de forma explícita, dependências críticas de decisões judiciais.

    Cadeias globais e geopolítica

    Dois blocos de eventos moldam o ambiente externo:

    1. Guerra na Ucrânia e Europa
    • novos ataques em larga escala à infraestrutura de energia, transporte e logística mantêm a Europa em modo de alerta operacional, com risco de impacto em preços de energia, fertilizantes e seguros de transporte.
    1. Venezuela, OPEP e Estados Unidos
    • Nicolás Maduro aciona a OPEP em carta formal, acusando os Estados Unidos de buscar controle sobre reservas venezuelanas e pedindo suporte do cartel;
    • analistas lembram que o setor de petróleo venezuelano está fragilizado por anos de subinvestimento e sanções, mas o reposicionamento político reacende incertezas sobre fluxos regionais e estabilidade institucional.

    Somam-se a isso:

    • projeções de superávit global de petróleo em 2026, indicando pressão baixista estrutural de preços;
    • tensões comerciais entre grandes economias, impactando cadeias de suprimento de energia, tecnologia e minerais críticos.

    Para o Brasil, a combinação de matriz renovável, papel crescente como produtor de petróleo e potencial exportador de soluções em energia limpa e alimentos reforça a posição de “porto seguro relativo”, desde que:

    • o país saiba usar câmbio competitivo a favor de exportações;
    • preserve credibilidade regulatória e ambiental para atrair capital de longo prazo em energia, infraestrutura digital e projetos de alto CAPEX.

    Matriz de correlação de eventos

    Clusters de eventos da semana e impacto qualitativo nos indicadores Radar 360:

    A. Dólar estruturalmente forte, com projeções convergentes para 5,50 reais em 2025

    B. Desemprego em mínima histórica, subutilização elevada e renda estável

    C. Nvidia, AWS e cadeia de chips de IA em expansão acelerada

    D. Petróleo em torno de 63 dólares, com previsões de superávit e preços mais baixos

    E. Guerra na Ucrânia com ataques à infraestrutura e tensões EUA–Venezuela/OPEP

    F. Discussões sobre bolha em IA e risco de correção de mercado

    ClusterRBAPERQTRVTTPECSPG
    A. Dólar forte, projeções em 5,50-10-1000
    B. Emprego recorde com renda fraca00-1000
    C. Chips de IA, data centers e Chain Reaction+1+10+200
    D. Petróleo moderado com tendência de superávit+1+100+10
    E. Ucrânia, Venezuela, OPEP e sanções-1-100-1-2
    F. Discurso de bolha em IA e risco de correção-100-10-1

    Leituras:

    • A pressiona margens de setores com custos dolarizados e receita em reais, penalizando RBA e QTR.
    • B reforça a ideia de “desemprego real” e limita a leitura otimista da economia real, sobretudo quando combinada a limitações metodológicas das estatísticas oficiais.
    • C eleva VTT, trazendo oportunidades em produtividade, automação e novos serviços, mas também pressiona CAPEX e OPEX de infraestrutura digital.
    • D melhora PEC e PER ao combinar energia mais barata com demanda ainda resiliente.
    • E e F são os principais vetores de risco externo, deteriorando SPG e impondo disciplina na alocação de capital em IA, energia e infraestrutura; o ruído STF–Senado, embora não explicitado na matriz, adiciona um componente doméstico que reforça a necessidade de gestão institucional ativa.

    Implicações para negócios – lente 2026 setorial

    Aplicando as premissas ajustadas para 2026 (dólar base em torno de 5,50 reais, “desemprego real” elevado, geopolítica volátil, ruído institucional e transformação tecnológica acelerada), a leitura estratégica por setor converge para a seguinte matriz de prioridade:

    SetorFarolAção prioritária
    Agronegócio e exportaçãoVerdeAcelerar produção exportadora, consolidar caixa em reais e travar custos críticos (insumos, câmbio, frete) via hedge e barter
    Energia e data centersAmareloInvestir em eficiência energética, cooling avançado, contratos de energia renovável e pilotos em computação quântica aplicada; disciplina rigorosa em CAPEX dolarizado
    Indústria e tecnologiaAmareloDefender margem com automação e IA voltadas à redução de custo fixo e aumento de produtividade; reposicionamento exportador sempre que possível
    Comércio e varejoVermelhoMáxima cautela: foco em liquidez, rotação rápida de estoque, menor alavancagem e oferta “value for money”, calibrando demanda por dados transacionais, não por estatísticas agregadas

    Desdobrando em ações concretas para 2026:

    1. Tecnologia e software (SaaS/Cloud – Software as a Service / Computação em Nuvem)
    • FinOps (Financial Operations) como disciplina obrigatória: migração para instâncias otimizadas, uso de chips proprietários de nuvem (Trainium, etc.), contratos de nuvem com reserva de capacidade e revisões trimestrais de custo por unidade de computação.
    • Retenção de talentos seniores: programas de retenção e participação para proteger a base de conhecimento, dado o déficit de formação em matemática e áreas quantitativas.
    • Primeiros movimentos em computação quântica gerenciada: casos piloto em simulação, otimização e problemas combinatórios relevantes para o negócio.
    1. Data centers e infraestrutura digital
    • Eficiência energética e hídrica como diferencial competitivo: projetos de cooling líquido, uso de energia renovável dedicada, integração com armazenamento e desenho arquitetural alinhado a requisitos de resiliência.
    • Regionalização e soberania digital: enfatizar baixa latência, conformidade regulatória local e integração com sistemas elétricos mais robustos como argumento competitivo frente a infraestrutura offshore.
    • Monitorar oportunidades de P&D em computação quântica aplicada a planejamento de capacidade, localização de sites e acoplamento com redes elétricas.
    1. Energia
    • Estruturar PPAs de longo prazo com grandes consumidores industriais e digitais, capturando a volatilidade global de petróleo a favor de contratos previsíveis em reais.
    • Acelerar projetos que combinem geração renovável e uso produtivo do solo (ex.: Agri-PV), criando colchão de caixa em setores ligados ao agronegócio.
    • Desenvolver competências internas em ferramentas avançadas de otimização (IA, HPC, pilotos quânticos) para planejamento de redes e portfólios de geração.
    1. Indústria de transformação
    • Automação e IA como alavanca de eficiência, não apenas inovação: projetos focados em reduzir custo unitário e aumentar produtividade, preservando caixa.
    • “Exportar para sobreviver” onde houver produto competitivo: uso do câmbio elevado como vantagem estrutural para reposicionar portfólio em mercados externos.
    • Ajustar decisões de investimento e crédito considerando tanto o risco geopolítico quanto o ruído institucional STF–Congresso, sobretudo em projetos regulados ou intensivos em infraestrutura.
    1. Comércio e varejo
    • Planejamento de demanda baseado em dados transacionais reais (vendas, adquirentes, indicadores de crédito), não em narrativas de “pleno emprego”.
    • Mix orientado a valor: ampliação de marcas próprias, linhas econômicas e embalagens com melhor relação preço/benefício.
    • Gestão de risco com foco em liquidez, capital de giro e flexibilidade de estoques para absorver oscilações de renda na base da pirâmide.
    1. Agronegócio e complexos exportadores
    • Travar custos de insumos (fertilizantes, defensivos, máquinas) via contratos antecipados e hedge cambial, garantindo margens em reais.
    • Investir em conectividade no campo, agricultura de precisão e telemetria para reduzir risco climático e operacional.
    • Aproveitar o câmbio competitivo e a condição de “porto seguro relativo” para consolidar mercados externos e financiar investimentos em tecnologia, energia limpa e logística.

    Em síntese: 2026 tende a ser um ano de defesa de margem nos setores pressionados por câmbio, renda e risco geopolítico-institucional, e de aceleração estratégica em agronegócio, exportações, energia e infraestrutura digital. A chave é combinar leitura realista de risco (incluindo as limitações dos dados oficiais de trabalho e renda) com uso disciplinado de IA, computação de alta performance, pilotos em computação quântica e instrumentos financeiros para transformar volatilidade em vantagem competitiva.

    Como podemos ajudar

    A partir do Radar 360, o recorte para 2026 mostra um cenário desafiador, mas com assimetria positiva para quem atuar com disciplina estratégica: dólar estruturalmente alto, “desemprego real” elevado, geopolítica volátil, aceleração da IA e início da curva de computação quântica aplicada à energia e infraestrutura. Nesse contexto, o papel do think tank é transformar esse ruído em agenda objetiva de decisão: onde defender margem, onde acelerar crescimento e onde reduzir exposição antes que o risco seja precificado pelo mercado.

    A proposta é atuar como parceiro intelectual de alta frequência do conselho e do C-level, conectando macro, tecnologia, energia e regulação em teses concretas de portfólio, CAPEX e eficiência operacional. Em vez de apenas produzir relatórios, o foco é ancorar decisões críticas (investimentos, contratos, PPAs, nuvem, IA, data centers, expansões e desinvestimentos) em análises independentes, comparáveis ao padrão de grandes fundos e corporate ventures, mas adaptadas à realidade brasileira e setorial.

    Tabela – Oportunidades estratégicas mapeadas pelo Radar 360

    EixoOportunidade centralAlavancas práticas para 2026
    Câmbio e exportaçãoMonetizar dólar forte e posição de “porto seguro relativo”Revisão da agenda de exportação, hedge estruturado e arbitragem regulatória
    Trabalho e rendaLer “desemprego real” antes da concorrênciaModelos próprios de demanda, segmentação fina e política de crédito/estoque
    IA e nuvemGanho de margem via FinOps e arquitetura multicloud estratégicaOtimização de contratos, replatforming e negociação técnica com hyperscalers
    Data centersPosicionar-se em infraestrutura crítica e soberania digitalTeses de localização, energia renovável, redundância e parcerias estratégicas
    Energia e PPAsCapturar volatilidade global em contratos previsíveis em reaisEstruturação de PPAs, Agri-PV, eficiência energética e gestão de portfólio
    Computação quânticaEntrar cedo na curva de aprendizagem em energia e otimizaçãoSandboxes quânticos, pilotos com AWS/Braket e parcerias com academia
    Risco regulatórioAntecipar STF–Congresso e marcos setoriaisMapas institucionais por projeto, cláusulas de proteção e cenários legais
    GeopolíticaUsar riscos externos para reconfigurar mercados e cadeiasRedesenho de rotas, diversificação de clientes e contratos de longo prazo
    Governança internaTransformar Radar 360 em rotina decisória e não em relatórioRitos trimestrais de cenário, comitê de risco e célula de IA/estratégia
  • O Risco Cognitivo Estrutural do Brasil em Matemática na Era da IA

    O Risco Cognitivo Estrutural do Brasil em Matemática na Era da IA

    Sumário executivo

    O novo indicador de Matemática do Ministério da Educação (MEC) é um passo na direção correta, mas chega com mais de vinte anos de atraso em relação aos alertas de avaliações internacionais em larga escala, em especial o PISA (Programme for International Student Assessment), coordenado pela OCDE (Organisation for Economic Co-operation and Development). Desde 2000, os dados vêm mostrando que o Brasil está sistematicamente nas últimas posições em Matemática, com avanços pontuais seguidos de estagnação, enquanto vários países comparáveis reestruturaram seus sistemas, subiram de patamar e hoje colhem ganhos em produtividade, inovação e inserção na economia digital.

    Em 2025, o quadro é ainda mais explícito:

    • o MEC define que a proficiência mínima adequada em Matemática, no 2.º, 5.º e 9.º ano, corresponde a 750 pontos na escala do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica);
    • dados preliminares indicam que apenas cerca de 9,1% dos alunos do 9.º ano atingem esse patamar;
    • em termos práticos, mais de 90% dos jovens que se aproximam dos 15 anos não dominam, com segurança, frações, proporcionalidade, porcentagem, leitura de gráficos ou estatística elementar – exatamente as competências mínimas para uso crítico e produtivo de inteligência artificial (IA), automação e robótica no ambiente de trabalho.

    Ao mesmo tempo:

    • o Brasil investe uma parcela relevante do PIB em educação;
    • o gasto por aluno na educação básica é baixo e o gasto por aluno no ensino superior é múltiplas vezes maior que na base, gerando um mix orçamentário que privilegia o topo da pirâmide educacional, enquanto o ensino fundamental – que forma o “estoque de matemática” do país – permanece estruturalmente fragilizado.

    Na prática, estamos formando uma geração que, em grande maioria, não domina o mínimo em raciocínio quantitativo para operar em ambientes intensivos em IA, automação e sistemas digitais. Isso configura um risco cognitivo estrutural: um descompasso persistente entre as competências matemáticas da população e os requisitos de uma economia baseada em dados, algoritmos e sistemas complexos.

    Este texto faz três movimentos:

    1. Parte da nova régua de Matemática anunciada pelo MEC, que define o que uma criança precisa saber no 2.º, 5.º e 9.º ano do ensino fundamental.
    2. Conecta essa régua ao histórico do PISA desde o início dos anos 2000, mostrando que o Brasil praticamente estacionou em um patamar baixo, enquanto outros países avançaram.
    3. Introduz a dimensão de investimento: mostra como a organização atual do orçamento educacional reforça o problema e por que a solução passa por reequilibrar recursos em favor da educação básica, sob pena de colapso funcional do ensino técnico e universitário em horizonte de 10 a 20 anos.
    4. O que muda com o novo indicador de Matemática do MEC

    Uma matéria do Estadão de 2 de dezembro de 2025 informa que o MEC lança um novo índice nacional para a aprendizagem em Matemática, com metas por etapa: 2.º, 5.º e 9.º ano do ensino fundamental e, a partir de 2026, também para o ensino médio. O indicador é construído na escala do Saeb e estabelece a partir de qual pontuação o estudante é considerado “proficiente” em Matemática nessa trajetória.

    No 2.º ano do fundamental, por exemplo, a criança deverá atingir 750 pontos na escala do Saeb para ser considerada com aprendizagem adequada em Matemática. Em termos concretos, isso significa que, aos 7 anos, ela precisa:

    • dominar adição e subtração;
    • saber multiplicar até 5;
    • ter noções de horas e de moedas;
    • identificar figuras geométricas básicas;
    • representar dados simples em um gráfico de colunas.

    O novo indicador integra o Compromisso Nacional Toda Matemática, elaborado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) e será lançado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa). A lógica é semelhante ao Indicador Criança Alfabetizada (ICA – Indicador Criança Alfabetizada), criado em 2023 para leitura e escrita. No ICA, a meta para 2024 era ter 60% das crianças alfabetizadas aos 7 anos; o resultado ficou em 59,2%, mostrando um país que progride, mas não entrega o mínimo que ele mesmo estabeleceu.

    Na Matemática, o próprio diretor de políticas do MEC, citado na matéria, afirma que “a aprendizagem de Matemática no País hoje é um privilégio, e não um direito”. Os dados preliminares do Saeb reforçam essa leitura: apenas uma pequena fração dos alunos do 9.º ano atinge ou supera os 750 pontos. O novo indicador explicita o problema, mas não o resolve sozinho. Sem mudança estrutural na formação docente, na gestão das redes, na governança federativa e, sobretudo, na priorização orçamentária, o risco é apenas sofisticar a régua enquanto se mantém o mesmo patamar baixo de desempenho.

    O que o PISA vem dizendo desde o início dos anos 2000

    O PISA é uma avaliação trienal aplicada a estudantes de 15 anos, desenhada para medir em que medida eles dominam competências necessárias à participação plena na sociedade – não apenas o currículo formal, mas a capacidade de aplicar Matemática, Leitura e Ciências em situações do mundo real.

    Quando se observa a série histórica do Brasil em Matemática, três fatos são críticos para qualquer análise estratégica: houve um ganho relevante entre 2003 e 2012, o sistema praticamente estacionou em um nível baixo a partir de então, e a fotografia de 2022 confirma que seguimos na parte de baixo da tabela mundial.

    Tabela 1 – Desempenho em Matemática no PISA (Brasil x média OCDE, 2003–2022)

    AnoBrasil (pontos)Média OCDE (pontos)Diferença Brasil x OCDE
    2003356499–143
    2006370494–124
    2009386495–109
    2012389494–105
    2015377490–113
    2018384489–105
    2022379472–93

    a) Houve um ganho relevante de patamar entre 2003 e o início da década de 2010

    Notas técnicas sobre o Brasil no PISA 2012 destacam que o desempenho médio em Matemática passou de algo em torno de 356 pontos, em 2003, para cerca de 389–391 pontos em 2012, um dos maiores ganhos entre os países participantes naquele período. Esse avanço, concentrado entre 2003 e 2009 e consolidado em 2012, ocorreu em um contexto de rápida expansão do ensino médio: aumentou o número de jovens de 15 anos na escola e, ainda assim, a média subiu. É um sinal de que políticas de acesso, combinadas com algum foco em aprendizagem, produziram ganhos reais – ainda que insuficientes para aproximar o país da média da OCDE.

    b) Depois desse salto inicial, o sistema praticamente estacionou em um nível baixo

    Relatórios internacionais e análises nacionais convergem em um ponto: após o ciclo de crescimento 2003–2009 (medido em 2012), o desempenho médio brasileiro em Matemática, Leitura e Ciências passou a oscilar em torno de uma linha praticamente horizontal, sem mudanças estatisticamente significativas. Em 2018, a média brasileira de Matemática ficou em torno de 384 pontos, contra aproximadamente 489 pontos da média da OCDE, e em 2022 recuou para algo próximo de 379 pontos. Mesmo depois de quase duas décadas de participação no PISA, o país se mantém com diferença da ordem de 90–100 pontos em relação aos sistemas mais ricos – o que, em termos pedagógicos, equivale a vários anos de escolaridade.

    c) A fotografia de 2022 confirma o alerta: seguimos na parte de baixo da tabela mundial

    No PISA 2022, com foco em Matemática, o Brasil obteve média em torno de 379 pontos, enquanto a média dos países da OCDE ficou em aproximadamente 472 pontos. Mais grave que a média é a distribuição:

    • apenas cerca de 27% dos estudantes brasileiros atingiram pelo menos o Nível 2 de proficiência em Matemática, o mínimo considerado por organismos internacionais para que o jovem possa exercer plenamente sua cidadania em uma sociedade moderna; na média da OCDE, esse percentual é de aproximadamente 69%;
    • em termos complementares, isso significa que algo em torno de 73% dos estudantes brasileiros de 15 anos estão abaixo do nível básico em Matemática, ante cerca de 31% na média dos países da OCDE;
    • apenas cerca de 1% dos estudantes brasileiros atingiram os níveis 5 ou 6 em Matemática, patamar de alta performance associado à capacidade de modelar situações complexas e comparar estratégias de solução; a média da OCDE é de aproximadamente 9%, e países como Singapura e Coreia superam os 20%.

    Sínteses independentes dos resultados de 2022 colocam o Brasil entre os piores desempenhos em Matemática e Ciências no conjunto de países avaliados, mesmo quando comparado a economias de renda média e vizinhos latino-americanos.

    d) A proporção de alunos no mínimo adequado recuou em Matemática entre 2018 e 2022

    Em 2018, estimativas apontam que cerca de 32% dos estudantes brasileiros atingiam pelo menos o Nível 2 em Matemática, contra aproximadamente 76% na média da OCDE. Em 2022, esse percentual caiu para algo em torno de 27%, enquanto a média da OCDE ficou em cerca de 69%. Notas técnicas nacionais registram que a proporção de estudantes abaixo do Nível 2 em Matemática aumentou em relação a 2012. O país perdeu tração exatamente no grupo que precisava avançar para sair da zona de vulnerabilidade cognitiva.

    e) Outros países usaram o PISA para subir de patamar – o Brasil, não

    Relatórios internacionais do PISA destacam que alguns países, partindo de bases muito baixas, conseguiram melhorar, em média, sua performance em Leitura, Matemática e Ciências ao longo do tempo, entre eles Portugal e Peru. Esses casos combinaram reformas de carreira docente, currículos mais claros, metas por escola, uso consistente de dados e mecanismos de responsabilização com suporte técnico. Não se trata de copiar modelos, mas de reconhecer um padrão: em certos sistemas, o PISA foi lido como radar estratégico; no caso brasileiro, prevaleceu um conjunto de avanços modestos, com crescimento “ameno” em Matemática entre 2000 e 2012, seguido de estagnação.

    Investimentos e distorção orçamentária estrutural

    O quadro de aprendizagem seria grave mesmo em um contexto de baixo esforço fiscal. Mas a situação brasileira é mais complexa: o país investe uma parcela relevante do PIB em educação, com um desenho orçamentário que reduz a eficiência na conversão de gasto em aprendizagem.

    Em síntese:

    • o gasto total em educação, como proporção do PIB, é comparável ao de várias economias desenvolvidas;
    • o gasto por aluno na educação básica é baixo, dada a escala de matrículas;
    • o gasto por aluno no ensino superior público é múltiplas vezes maior do que na educação básica, com uma razão “superior/básica” significativamente acima da observada em países da OCDE.

    Uma leitura simplificada, com dados agregados recentes, ajuda a explicitar a assimetria:

    Tabela 2 – Estrutura simplificada de investimento público anual (ordem de grandeza)

    NívelAlunos (milhões)Gasto público anual aproximadoGasto médio por aluno/ano
    Ensino fundamental (rede pública)cerca de 26,5≈ R$ 138 bilhões≈ R$ 5.200
    Ensino superior federalcerca de 1,2≈ R$ 52 bilhões≈ R$ 43.300

    A relação que importa:

    • gasta-se, em ordem de grandeza, cerca de 8,3 vezes mais por aluno em universidades federais do que por aluno do ensino fundamental na rede pública;
    • em países da OCDE, essa razão costuma ser da ordem de duas a três vezes.

    O problema não é o ensino superior ter recursos: o problema é a relação entre o que se investe na base e no topo de um sistema em que a Matemática se revela, repetidamente, o principal gargalo.

    Mantido esse mix, as consequências de médio prazo são claras:

    • escassez de vestibulandos qualificados para cursos de STEM;
    • queda progressiva das notas de corte em processos seletivos;
    • aumento de evasão e alongamento do tempo de graduação em cursos que exigem Matemática;
    • redução da densidade acadêmica média em cursos estratégicos, com perda de competitividade em pesquisa científica e inovação;
    • risco de colapso funcional, em horizonte de 10 a 20 anos, do modelo de universidade pública gratuita de excelência, por falta de base cognitiva suficientemente sólida na origem.

    Em paralelo, a educação profissional técnica de nível médio permanece subdimensionada em escala, exatamente no momento em que a economia pede mais técnicos em automação, robótica, energia, logística e TI.

    O desalinhamento entre a escola brasileira e a economia da IA e da automação

    Quando se traduzem esses indicadores para o contexto da IA e da automação, o recado é direto para conselhos de administração, diretoria executiva, investidores e gestores públicos: a maior parte dos jovens brasileiros que está chegando aos 15 anos não domina as competências matemáticas mínimas para trabalhar, aprender e se adaptar em ambientes altamente digitalizados.

    Em termos de requisitos da economia de IA, esse quadro significa:

    Data literacy insuficiente

    Em um mundo em que praticamente todas as funções de negócio – da operação industrial ao marketing digital – são atravessadas por dados, algoritmos e dashboards, ter cerca de 73% dos jovens abaixo do nível mínimo de proficiência em Matemática implica uma massa de trabalhadores com dificuldade para interpretar gráficos, comparar indicadores ou compreender variações percentuais. Isso afeta desde a leitura de indicadores de produção até a interpretação de relatórios de risco.

    Baixa base para STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics)

    Profissões em engenharia, tecnologia da informação, análise de dados, automação, robótica e finanças quantitativas exigem uma base sólida de raciocínio matemático. Países que avançaram no PISA estruturaram pipelines mais robustos para carreiras STEM; no Brasil, a baixa proficiência média limita a base de recrutamento e aumenta a necessidade de formar quadros “do zero” dentro das empresas, com maior custo e maior risco de não conformidade técnica.

    Risco de polarização do mercado de trabalho

    A combinação de IA com baixa escolaridade matemática tende a ampliar o fosso entre uma elite técnico-cognitiva – formada em poucos nichos de excelência, muitas vezes fora do sistema público – e uma grande massa de trabalhadores restrita a funções operacionais pouco qualificadas, mais facilmente substituíveis por automação, robôs humanoides e sistemas inteligentes.

    Impactos em produtividade, inovação e competitividade

    Em um cenário em que empresas globais colocam IA no core dos modelos de negócio, a ausência de uma base matemática mínima em larga escala:

    • pressiona o custo de capital humano;
    • reduz a produtividade marginal de tecnologias avançadas, porque o usuário final não consegue extrair todo o potencial da ferramenta;
    • torna mais arriscado estruturar hubs de P&D e centros de excelência em IA no país, já que a oferta de talentos intermediários com raciocínio quantitativo adequado é limitada.

    Por que isso é um “risco cognitivo estrutural”

    O termo “risco cognitivo estrutural” ajuda a traduzir, para a linguagem de governança e investimento, algo que muitas vezes é tratado como um problema exclusivamente pedagógico. Esse risco tem, pelo menos, quatro dimensões.

    Risco de longo prazo, não reversível no curto prazo

    Mesmo que o Brasil conseguisse, em cinco anos, melhorar significativamente os resultados nos anos iniciais do ensino fundamental, os jovens que hoje têm entre 12 e 18 anos já entrarão no mercado de trabalho com as lacunas atuais. O efeito é de coorte: durante 15 a 20 anos, teremos ondas sucessivas de trabalhadores com defasagens em Matemática, impactando produtividade e empregabilidade.

    Risco sistêmico de baixa qualidade na base

    Os dados do PISA mostram que a questão não é apenas desigualdade: o problema é de nível geral. A proporção de estudantes em alto desempenho é mínima e a massa abaixo do básico é muito grande, o que indica que não há um “núcleo duro” suficientemente grande de excelência para puxar o sistema em direção a patamares mais altos. As ilhas de excelência existem (olimpíadas científicas, robótica educacional, cursos de engenharia de alta qualidade), mas ainda não alteram o quadro médio.

    Risco regulatório e de políticas públicas reativas

    O fato de o MEC lançar, em 2025, um indicador nacional de Matemática com descrições claras do que o estudante deve saber em cada etapa é positivo, mas também revela a ausência, até aqui, de uma régua explícita de proficiência para gerir a política pública nessa área. Em outras palavras: o país entra na era da IA com uma governança de Matemática que só agora ganha instrumentos básicos de monitoramento e metas.

    Risco reputacional e de credibilidade internacional

    Permanecer entre os piores resultados em Matemática e Ciências em avaliações internacionais, mesmo com um PIB relevante e um parque industrial e tecnológico de porte, fragiliza a narrativa do Brasil como destino confiável para investimentos intensivos em conhecimento, centros de desenvolvimento de IA e infraestrutura crítica de dados.

    Perfeito, vamos fortalecer o fechamento.

    Abaixo está uma versão expandida apenas da parte final do artigo – plano de ação e conclusão – já incorporando as ideias discutidas (circulação de professores universitários para a base, reequilíbrio de orçamento, pós-graduação em STEM, engajamento empresarial etc.). Você pode substituir diretamente os itens 5, 6 e 7 atuais por estes.

    O que isso significa na prática: agenda de ação em múltiplos níveis

    A partir desse diagnóstico, a mensagem para lideranças privadas e públicas deixa de ser apenas descritiva e passa a ser prescritiva. Não basta reconhecer o risco cognitivo estrutural; é necessário desenhar alavancas concretas de intervenção, coordenadas em três planos: Estado, universidades e setor privado.

    Para conselhos de administração e comitês de pessoas

    1- Incorporar “risco cognitivo” na matriz de riscos corporativos

    Tratar a baixa proficiência em Matemática como risco estratégico de primeira linha, com impactos diretos sobre:

    • execução de projetos de digitalização, IA e automação;
    • disponibilidade de workforce técnico minimamente preparado;
    • conformidade com regulações que exigem validação humana de modelos, algoritmos e indicadores críticos.

    2- Rever teses de talento e capacitação

    Partir do pressuposto de que boa parte da força de trabalho não recebeu, na escola, a base quantitativa necessária para ambientes de alta automação. Isso implica:

    • programas estruturados de reforço em Matemática, lógica e estatística elementar para técnicos, operadores e supervisores;
    • trilhas internas que combinem fundamentos matemáticos com uso de ferramentas de IA, em vez de treinamentos puramente operacionais nas plataformas.

    3- Ajustar expectativas de ROI em projetos de IA

    Business cases que assumem adoção rápida e plena de soluções de IA no chão de fábrica, na agência bancária ou no backoffice precisam incorporar a curva de aprendizagem adicional decorrente da lacuna matemática. Caso contrário, o risco é superestimar ganhos de produtividade no curto prazo e subestimar custos de suporte e re-trabalho.

    Para executivos, investidores institucionais e setor financeiro

    1- Integrar educação básica em Matemática à agenda ESG

    Reorientar parte relevante de investimentos sociais privados, patrocínios e recursos incentivados para programas com evidência de impacto em Matemática e raciocínio lógico nos anos iniciais, em articulação com redes públicas. Exemplos de linhas de atuação:

    • apoio a formações continuadas em Matemática para professores do ensino fundamental;
    • expansão de olimpíadas de Matemática, robótica educacional e clubes de ciências, com foco em redes públicas;
    • desenvolvimento e escalonamento de simuladores, jogos e conteúdos digitais conectados a currículos oficiais, com monitoramento de resultados.

    2- Criar consórcios setoriais de recuperação matemática

    Estruturar consórcios setoriais (agronegócio, indústria 4.0, finanças, energia, saúde) com metas claras, por território, de aumento de proficiência em Matemática (Saeb e avaliações estaduais), vinculadas a:

    • compromissos públicos de longo prazo;
    • aportes financeiros plurianuais;
    • uso de indicadores de aprendizagem como KPI de impacto socioeconômico.

    3- Avaliar risco-país também pela lente educacional

    Para fundos de pensão, gestoras de recursos e investidores de longo prazo, incorporar indicadores de proficiência em Matemática e de concluintes em STEM como variáveis de risco-país, ao lado de rating soberano, estabilidade política e ambiente regulatório. Países que não conseguirem recuperar sua base matemática tenderão a apresentar:

    • menor crescimento de PIB per capita;
    • menor capacidade de absorver tecnologias de IA;
    • maior volatilidade social e política.

    Para gestores públicos e a classe política

    1- Tratar Matemática como política de Estado

    Assumir explicitamente que:

    • elevar a proficiência em Matemática no ensino fundamental é tão estratégico quanto garantir energia elétrica, logística e estabilidade macroeconômica;
    • políticas bem-sucedidas exigem horizonte de 10–15 anos, atravessando governos, com continuidade de currículos, avaliações e programas de formação docente.

    2- Reequilibrar o portfólio orçamentário em favor da base

    Com o envelope global de educação próximo de 5–6% do PIB, o desafio central é reequilibrar, gradualmente, o gasto por aluno:

    • reduzir a razão “gasto por aluno no ensino superior / gasto por aluno na educação básica”, hoje muito acima da média internacional;
    • direcionar o incremento marginal de recursos para anos iniciais do fundamental, Matemática no 6.º ao 9.º ano, infraestrutura escolar e condições de trabalho docente.

    3- Usar o novo indicador de Matemática como ferramenta de gestão

    Incorporar a nova régua de Matemática (750 pontos no Saeb por etapa) aos instrumentos de gestão:

    • metas estaduais e municipais pactuadas com a União;
    • incentivos financeiros e técnicos associados ao cumprimento de metas;
    • transparência de resultados por rede e por escola, com foco em apoio e não em punição cega.

    4- Alinhar agendas de IA, inovação e infraestrutura digital à agenda de Matemática

    Qualquer estratégia nacional de IA, governança de dados, hubs de inovação ou atração de data centers deve conter, como pilar explícito, metas de recuperação de Matemática na base. Sem isso, o país reforça a condição de usuário tardio e dependente de soluções produzidas fora.

    Para o ecossistema acadêmico e científico

    1- Circulação estruturada de professores universitários para a educação básica

    Criar programas nacionais e estaduais que:

    • levem professores universitários (especialmente mestres e doutores em áreas de exatas, engenharia e estatística) a atuar, parte da carga horária, em escolas de ensino fundamental e médio, em cooperação com as redes;
    • institucionalizem ações de tutoria, clubes de Matemática, oficinas de resolução de problemas e formação em serviço para professores da educação básica, ancoradas em universidades públicas e comunitárias.

    2- Indução de dissertações e teses em STEM com foco na base

    Orientar parte relevante da pós-graduação em STEM para:

    • desenvolvimento de metodologias, materiais e tecnologias educacionais voltadas ao ensino de Matemática na educação básica;
    • avaliação rigorosa de impacto de programas de intervenção em redes públicas;
    • modelos de formação docente em Matemática que possam ser escalados em larga escala.

    3- Transformar ilhas de excelência em plataformas de transferência

    Usar olimpíadas científicas, institutos de pesquisa, laboratórios e centros de IA como:

    • hubs de formação e produção de conteúdo para professores da educação básica;
    • espaços de experiências de imersão para estudantes do fundamental e médio;
    • núcleos de desenvolvimento de recursos abertos (OER) em Matemática e Ciências, alinhados à BNCC.

    Conclusão ampliada: de risco latente a agenda nacional

    A nova régua de Matemática do MEC, ancorada no Saeb e apresentada na matéria do Estadão, cumpre um papel de “espelho necessário”: mostra, com números, que a aprendizagem em Matemática hoje é privilégio de poucos, não um direito assegurado à maioria dos estudantes brasileiros.

    Os dados do PISA mostram que essa situação não é um acidente recente, mas o resultado de pelo menos duas décadas de avanço inicial seguido de estagnação em patamar baixo, com:

    • distância persistente em relação à média da OCDE;
    • parcela reduzida de estudantes em níveis de alta proficiência;
    • maioria posicionada abaixo do mínimo adequado em Matemática.

    Os dados de financiamento revelam que o problema não é apenas “falta de recursos”, mas a forma como o país organiza o portfólio educacional: gasta muito, em termos relativos, no topo da pirâmide (ensino superior), e pouco, por aluno, na base em que a Matemática é construída ou perdida.

    Em 2025, o contexto torna esse quadro qualitativamente mais grave. IA, automação e robótica deixam de ser “tendências” para se tornar infraestrutura operacional de empresas, governos e serviços essenciais. Nesse ambiente:

    • a baixa proficiência em Matemática converte-se em risco cognitivo estrutural;
    • a sustentabilidade do modelo de universidade pública de excelência passa a depender diretamente da capacidade de reconstruir a base;
    • a competitividade do país em setores intensivos em tecnologia fica condicionada à recomposição do “estoque de matemática” da população jovem.

    O plano de ação não é trivial, mas é claro:

    • reorganizar o orçamento educacional para privilegiar a base, sem destruir o topo;
    • reposicionar a carreira docente do ensino fundamental, especialmente em Matemática, como função estratégica de Estado;
    • acionar universidades e pós-graduação em STEM como alavancas de transferência de conhecimento para a educação básica;
    • estruturar o engajamento empresarial e financeiro em torno de metas objetivas de proficiência, e não apenas de iniciativas pontuais.

    Se essa agenda for tratada como política de Estado, com horizonte de 10–15 anos, há espaço para reverter a trajetória e reduzir o risco cognitivo estrutural que hoje se desenha para 2035–2050.

    Se, ao contrário, continuarmos apenas medindo melhor um problema que não reorganiza prioridades, o Brasil corre o risco de entrar na era da IA com uma base matemática frágil, um ensino superior asfixiado por falta de insumos cognitivos e um lugar subalterno em uma economia mundial cada vez mais ancorada em dados, algoritmos e capacidade de abstração.

    Em termos de decisão estratégica, o recado é direto: ou a Matemática passa a ser tratada como infraestrutura crítica de desenvolvimento nacional, ou o país aceitará, na prática, uma trajetória de baixa produtividade, alta dependência tecnológica e desigualdade estruturada por décadas.

    Como podemos ajudar

    A nMentors já vem operacionalizando, na prática, a agenda de recomposição da base cognitiva em Matemática e Ciências por meio de projetos educacionais estruturados, em especial o programa da EDP Boa Energia nas Escolas – que atua diretamente com professores do ensino fundamental, oferecendo formação continuada, materiais didáticos autorais, simuladores de eficiência energética, metodologias ativas e suporte pedagógico para trabalhar temas de energia, sustentabilidade e raciocínio lógico de forma concreta em sala de aula – e o programa CPFL nas Universidades, que conecta docentes e alunos de cursos universitários a desafios reais do setor elétrico, integrando conteúdos de STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), estudos de caso, projetos aplicados e recursos digitais avançados, incluindo IA educacional e ambientes virtuais de aprendizagem.

    Essas experiências demonstram que, quando há desenho técnico consistente, governança e alinhamento com as redes de ensino, é possível elevar significativamente o nível de conhecimento e engajamento de professores e estudantes, criando um pipeline mais robusto desde a educação básica até a formação superior. Empresas e instituições que desejem se engajar de forma estratégica nessa agenda – apoiando a formação de professores, a produção de conteúdos de alta qualidade e o desenvolvimento de competências matemáticas e científicas em larga escala – são convidadas a nos procurar na nMentors para cocriar projetos sob medida, alinhados às suas teses de ESG e de inovação de longo prazo.

  • Arquiteturas HVAC, HVDC, MVDC e BESS para Datacenters: Como Conectar Clusters Digitais a Fontes Renováveis com Segurança e Eficiência

    Arquiteturas HVAC, HVDC, MVDC e BESS para Datacenters: Como Conectar Clusters Digitais a Fontes Renováveis com Segurança e Eficiência

    Sumário executivo

    Datacenters hiperescaláveis deixaram de ser apenas centros de TI. São nós críticos da economia digital, com consumo de energia comparável a grandes indústrias e praticamente zero tolerância a interrupções. Ao mesmo tempo, a nova capacidade de geração vem de grandes polos solares e eólicos em regiões remotas, a centenas de quilômetros dos principais clusters de datacenters. O problema central passa a ser de arquitetura de suprimento: como ligar esses dois mundos com confiabilidade, qualidade de energia e custo competitivo. 

    Os principais pontos deste artigo reduzido são:

    1. O eixo competitivo dos datacenters migrou para a arquitetura elétrica. A forma como a energia é trazida do polo renovável ao campus digital impacta diretamente CAPEX, OPEX, risco operacional e aderência a metas ESG.
    2. Quatro blocos tecnológicos estruturam as decisões:
      • High Voltage Alternating Current (HVAC) como espinha dorsal tradicional
      • High Voltage Direct Current (HVDC) para longas distâncias e grandes blocos de potência
      • Medium Voltage Direct Current (MVDC) intramuros para redesenhar o campus
      • Battery Energy Storage System (BESS) como amortecedor entre rede, renováveis, diesel e TI
    3. Não se trata de escolher “a tecnologia vencedora”, mas de combinar soluções conforme distância, potência, robustez da rede e metas de descarbonização. Em distâncias curtas e redes fortes, HVAC continua racional. Em longas distâncias com polos renováveis remotos, HVDC e, em especial, conversores VSC-HVDC ganham protagonismo.
    4. MVDC e BESS operam como camadas de sofisticação. O primeiro reorganiza a distribuição interna do campus, reduz conversões e facilita integração com armazenamento. O segundo reposiciona o papel do diesel, cria autonomia em minutos ou horas, suaviza picos e abre espaço para eventual participação em serviços ancilares.
    5. Datacenters são hoje cargas eletrônicas dinâmicas, altamente sensíveis a afundamentos de tensão, distorção harmônica e desvios de frequência. A arquitetura de suprimento precisa entregar qualidade de energia compatível com níveis Tier III/Tier IV, ao mesmo tempo em que conversa com redes em transição para alta participação de renováveis.
    6. O artigo propõe um framework de decisão em duas camadas: uma matriz de enquadramento por distância, potência e perfil de rede; e um conjunto de critérios técnico-econômicos (CAPEX, OPEX, perdas, confiabilidade, flexibilidade) para comparar arranjos HVAC, HVDC, arquiteturas híbridas, MVDC e BESS, organizando um roadmap em fases.

    A mensagem central é pragmática: a infraestrutura elétrica de suporte a datacenters deve ser tratada como ativo estratégico de longo prazo, e não como custo estático de engenharia. A combinação certa de HVAC, HVDC, MVDC, BESS e, em horizonte mais longo, hidrogênio verde é o que vai diferenciar polos digitais competitivos de projetos vulneráveis técnica e economicamente.

    O novo dilema: renováveis remotas, clusters digitais concentrados

    Datacenters hiperescaláveis passaram a operar como “cargas baseload” digitais: grandes blocos de potência, perfil praticamente plano ao longo do dia e do ano, fator de carga elevado e exigência de disponibilidade extrema. Qualquer desvio de tensão ou interrupção de segundos pode derrubar serviços financeiros, comércio eletrônico, governo digital ou aplicações de inteligência artificial em produção.

    Ao mesmo tempo, a expansão da oferta vem de polos solares e eólicos em áreas com bom recurso energético e terrenos mais baratos, longe dos grandes centros urbanos. Entre esses polos e os clusters digitais há, muitas vezes, centenas de quilômetros de linhas, subestações e redes regionais que nem sempre foram dimensionadas para esse fluxo massivo e contínuo de potência.

    A questão deixa de ser “qual tarifa o datacenter paga” e passa a ser “qual arquitetura de suprimento garante, ao menor custo total de ciclo de vida, a energia que esse datacenter precisa por 20 anos”. Esse é o ponto de partida do framework.

    Os quatro blocos tecnológicos

    High Voltage Alternating Current (HVAC)

    A transmissão em corrente alternada de alta tensão é a espinha dorsal dos sistemas elétricos. Tem maturidade técnica, cadeia de suprimentos ampla e enorme base instalada. Em distâncias curtas e médias, com redes robustas, continua sendo a solução com melhor relação custo-benefício.

    O problema começa quando se combinam grandes distâncias, altos blocos de potência e redes frágeis. Linhas longas em HVAC exigem compensação reativa intensa, dispositivos FACTS, bancos de capacitores e reatores, com estabilidade de tensão e de ângulo cada vez mais sensível. Surge a necessidade de “HVAC sintonizado”, com compensação série e shunt cuidadosamente planejadas, para extrair desempenho máximo antes de migrar para corrente contínua.

    High Voltage Direct Current (HVDC)

    A transmissão em corrente contínua de alta tensão aparece como “autoestrada” de energia para longas distâncias e grandes blocos de potência. Em muitos casos, o CAPEX adicional das estações conversoras é compensado por menores perdas, maior capacidade por corredor e melhor controle de fluxo.

    As gerações clássicas de HVDC utilizavam conversores LCC (Line Commutated Converter), dependentes de redes CA fortes e com forte consumo de potência reativa. Hoje, conversores VSC-HVDC (Voltage Source Converter) ampliam o campo de aplicação: operam bem em redes fracas, controlam potência ativa e reativa de forma independente, contribuem para black start e viabilizam esquemas multi-terminais.

    No contexto de datacenters alimentados por renováveis remotas, o par VSC-HVDC + BESS permite desacoplar dinamicamente a variabilidade das fontes da rigidez da carga digital, filtrando distúrbios antes que cheguem aos barramentos do campus.

    Medium Voltage Direct Current (MVDC) intramuros

    Arquiteturas MVDC reorganizam a espinha dorsal interna do campus. Em vez de múltiplas cascatas CA/CC/CA até chegar aos racks, parte da distribuição é feita em corrente contínua em média tensão, com conversores DC/DC e DC/AC próximos às cargas.

    Benefícios típicos:

    • Menos etapas de conversão e, portanto, menos perdas e menor carga térmica
    • Integração mais direta com BESS, que opera nativamente em DC
    • Topologias mais modulares e segmentadas, com facilidades para arranjos N+1, 2N etc.
    • Redução de footprint de salas elétricas em baixa tensão

    Os desafios concentram-se em proteção em DC, padronização, qualificação de equipes e custo inicial. Em campi compactos e de baixa densidade, MVDC pode ser overdesign. Em clusters extensos, de alta potência e forte integração com HVDC e BESS, passa a ser ferramenta relevante de eficiência e disponibilidade.

    Battery Energy Storage System (BESS) e hidrogênio verde

    Tradicionalmente, a continuidade de energia em datacenters foi garantida pela dupla UPS (Uninterruptible Power Supply) + grupos geradores a diesel. O BESS muda esse arranjo. Em vez de o diesel ser a resposta automática a qualquer falha da rede, o BESS assume o papel de “pulmão elétrico” de minutos a horas:

    • Reduz picos de demanda e adia reforços de rede
    • Filtra afundamentos e interrupções curtas, evitando partidas desnecessárias de geradores
    • Apoia a integração de renováveis, suavizando variações na interface com a TI
    • Pode participar de serviços ancilares onde a regulação permite

    UPS, supercapacitores ou volantes de inércia permanecem responsáveis pelos milissegundos e primeiros segundos. BESS governa o intervalo seguinte e o diesel passa a ser “última linha de defesa” para contingências longas.

    Em horizonte de médio e longo prazo, o hidrogênio verde surge como substituto parcial dos geradores a diesel em contingências prolongadas, via células a combustível ou motores adaptados, sempre em combinação com BESS e UPS. O vetor hidrogênio ainda enfrenta desafios de custo, infraestrutura e normas de segurança, mas é componente provável da arquitetura de datacenters com metas agressivas de descarbonização.

    Datacenters como cargas críticas na rede elétrica

    Do ponto de vista do sistema de potência, datacenters são grandes cargas eletrônicas, com:

    • Potência instalada de dezenas a centenas de megawatts por campus
    • Fator de carga elevado, com curva de consumo quase plana
    • Elevada sensibilidade a afundamentos de tensão, distorções harmônicas e desvios de frequência
    • Baixa inércia eletromecânica, devido ao predomínio de eletrônica de potência

    A conexão de um ou mais campi em determinada região altera fluxos, carregamentos, margens de estabilidade e critérios de qualidade de energia. A perda súbita de um datacenter, por exemplo, significa redução abrupta de carga, com impactos em frequência e redistribuição de fluxos.

    A arquitetura de suprimento precisa, portanto, ser desenhada em conjunto com o operador do sistema, considerando:

    • Estudos específicos de fluxo de carga, curto-circuito e estabilidade
    • Critérios mais rígidos de qualidade de energia no ponto de acoplamento comum
    • Estratégias de corte seletivo e coordenação de proteções
    • Potencial do BESS e da própria carga em participar de serviços ancilares, quando isso não compromete os SLAs da TI

    Onde cada tecnologia é ou não racional

    A síntese do artigo pode ser lida como uma matriz de enquadramento:

    • Distâncias curtas, potência moderada, rede forte: HVAC com subestação dedicada continua dominante. BESS é opcional para otimizações tarifárias e mitigação de distúrbios.
    • Distâncias curtas a intermediárias, potência alta em rede fraca: HVAC ainda viável, mas exige reforços pesados. BESS ganha importância para aliviar picos, suavizar rampas e postergar obras estruturais.
    • Longas distâncias, grandes blocos de potência, polo renovável remoto: enlaces HVDC ponto a ponto, preferencialmente VSC, tendem a ser racionalmente superiores a HVAC reforçado. BESS no enlace e no datacenter eleva estabilidade e autonomia.
    • Múltiplos polos renováveis e múltiplos clusters digitais: grades híbridas HVAC–HVDC fazem mais sentido, com HVDC como backbone e HVAC como malha regional. BESS em nós estratégicos amplia o uso de renováveis e a resiliência sistêmica.
    • Campi extensos e de alta densidade: MVDC intramuros, alimentado por HVAC ou HVDC, melhora eficiência interna, modularidade e integração com BESS. Em sites menores, uma boa rede HVAC interna permanece suficiente.

    Framework de decisão e roadmap em fases

    A proposta do artigo é transformar essa leitura em processo estruturado.

    Primeiro, enquadrar o projeto pelos eixos: distância, potência, robustez da rede, requisitos de disponibilidade. Isso reduz o conjunto de arquiteturas candidatas.

    Depois, comparar essas alternativas por critérios:

    • CAPEX: linhas, subestações, conversores, BESS, MVDC
    • OPEX e perdas: perdas em HVAC versus HVDC, consumo de diesel, manutenção
    • Confiabilidade: pontos únicos de falha, possibilidade de N, N+1, 2N
    • Flexibilidade: facilidade de expansão do datacenter e conexão de novos polos renováveis
    • Complexidade operacional: requisitos de operação, proteção e cibersegurança

    Por fim, organizar um roadmap em fases, em vez de buscar a solução “perfeita” de uma vez:

    Fase 1 – HVAC reforçado com visão de futuro

    Subestação dedicada, rotas redundantes em CA, UPS e geradores dimensionados, mas já prevendo espaço físico e interfaces para BESS, MVDC e, se for o caso, futuras estações HVDC.

    Fase 2 – Inserção de BESS

    Instalação de BESS nos pontos de maior impacto econômico e operacional, reduzindo picos, diminuindo acionamento de diesel e testando a integração com a rede e com a operação interna do datacenter.

    Fase 3 – Introdução de HVDC e arquitetura híbrida

    Quando a escala e a distância justificarem, implantação de enlaces HVDC ponto a ponto ou multi-terminais conectando polos renováveis remotos ao cluster digital, em convivência com a malha HVAC existente.

    Fase 4 – Redesenho intramuros com MVDC e hidrogênio verde

    Em estágios avançados, adoção de MVDC no campus, integração profunda entre UPS, BESS e, onde fizer sentido, geração de longa duração baseada em hidrogênio verde, reposicionando o diesel como opção residual.

    Desafios de implementação e agenda futura

    Três frentes concentram os principais desafios:

    • Regulação e mercado
      • Modelos de alocação de custos e remuneração de enlaces HVDC dedicados ou semidedicados
      • Criação ou aprimoramento de mercados de serviços ancilares para reconhecer o valor da flexibilidade dos datacenters e de seus BESS
    • Padronização técnica e interoperabilidade
      • Normas específicas para média tensão DC, proteção em DC e integração entre equipamentos de fabricantes distintos
      • Requisitos de cibersegurança OT–IT em arquiteturas que integram controle de potência, automação de subestações e orquestração de cargas digitais
    • Capacitação e modelagem integrada
      • Modelos que representem datacenters como cargas dinâmicas eletrônicas, e não apenas como demanda estática
      • Equipes de utilities e operadores de datacenters com linguagem comum em HVAC, HVDC, MVDC e BESS

    A agenda futura passa por clusters energéticos digitais em que datacenters, polos renováveis, enlaces HVDC, redes HVAC, MVDC intramuros, BESS e, gradualmente, hidrogênio verde operam como ecossistema integrado. A fronteira entre “consumidor” e “ativo de rede” tende a se diluir: o datacenter passa a ser simultaneamente carga crítica e elemento ativo da transição energética.

    Aplicação prática do framework em projetos reais

    O framework analítico apresentado neste artigo pode ser aplicado em diferentes estágios de maturidade de projetos envolvendo datacenters e infraestrutura de suprimento de energia.

    Em projetos em fase inicial (greenfield), a abordagem apoia estudos de seleção de sítio e enquadramento de cenário, combinando análise de diferentes polos de geração renovável, rotas de transmissão e requisitos de carga dos futuros datacenters. Em datacenters em operação ou em expansão, o framework pode ser utilizado para diagnosticar a arquitetura elétrica existente (interna e de conexão), identificar oportunidades de retrofit com BESS, reforços seletivos em HVAC e eventual adoção de MVDC intramuros em novos módulos, além de avaliar a participação em serviços ancilares quando o ambiente de mercado permitir.

    Do ponto de vista de utilities e operadores de sistema, a mesma lógica pode ser aplicada a estudos de impacto de clusters de datacenters em redes existentes, à avaliação de corredores HVAC/HVDC e à escolha de nós estratégicos para instalação de BESS e desenvolvimento de topologias híbridas HVAC–HVDC.

    Empresas de engenharia e consultoria especializadas em energia e datacenters, como a nMentors Engenharia, podem utilizar esse framework como base estruturada para estudos de viabilidade, planejamento de arquitetura elétrica e suporte à implantação, conectando decisões tecnológicas (HVAC, HVDC, MVDC, BESS, hidrogênio verde) a requisitos de confiabilidade, competitividade e metas de descarbonização dos projetos.

    Conclusão

    A pergunta relevante deixou de ser “quanto custa a energia do datacenter” e passou a ser “qual arquitetura de suprimento maximiza, ao longo de 10 a 20 anos, a combinação entre confiabilidade, custo e descarbonização”. A resposta não está em uma tecnologia única, mas em combinações racionais de HVAC, HVDC, MVDC e BESS, estruturadas em roadmaps que permitam aprender, ajustar e escalar.

    Para operadores de datacenters, utilities e investidores, o recado é claro: decisões elétricas deixaram de ser um tema exclusivamente de engenharia e se tornaram decisões estratégicas de negócio. Quem tratar a infraestrutura de energia como vantagem competitiva – e não apenas como linha de custo – estará melhor posicionado para a próxima década da economia digital.

    Para leitores que desejarem aprofundar a análise, o estudo completo está disponível em formato PDF, com o desenvolvimento formal do framework decisório, as tabelas comparativas de cenários, as discussões técnico-econômicas detalhadas e as referências acadêmicas utilizadas. No artigo integral, cada tecnologia – HVAC, HVDC, MVDC, BESS e hidrogênio verde – é tratada em maior profundidade, com ênfase em limites práticos de aplicação, trade-offs de confiabilidade e exemplos de arranjos arquiteturais para clusters de datacenters em diferentes contextos de rede.

    Recomendo a leitura do texto completo como próximo passo para quem está estruturando investimentos em novos campi de datacenters, avaliando interligações com polos renováveis remotos ou revisando arquiteturas elétricas existentes. O PDF traz a base conceitual e os elementos de modelagem necessários para transformar as ideias deste post em insumos concretos para estudos de viabilidade, projetos executivos e decisões estratégicas de longo prazo.

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  • Radar 360 – Bolsa em recorde, IA em alta, energia em tensão e risco político no Brasil (22–28/11/2025)

    Radar 360 – Bolsa em recorde, IA em alta, energia em tensão e risco político no Brasil (22–28/11/2025)

    1. Resumo executivo

    A semana de 22 a 28 de novembro de 2025 reforçou o cenário de aparente robustez financeira do Brasil, com o Ibovespa batendo recorde em 159.072 pontos, inflação sob controle (IPCA-15 em 0,20% no mês e 4,50% em 12 meses) e expectativas de juros mais baixos no médio prazo. Apesar disso, o crescimento do PIB foi revisto levemente para baixo, a dívida bruta permanece elevada (próxima de 78,6% do PIB) e a Selic segue alta até o final de 2025, o que limita a retomada de investimentos.

    No mercado de trabalho, o desemprego baixo convive com renda média comprimida, alta informalidade e grandes disparidades regionais, indicando que a quantidade de empregos não se traduz automaticamente em qualidade ou poder de consumo.

    No campo tecnológico, a semana foi positiva: destaque para o avanço de modelos multimodais (Gemini 3 Pro), otimização de GPUs para LLMs autohospedados e ferramentas de observabilidade de agentes corporativos, consolidando a IA como estrutura central das operações.

    Em energia e clima, há estabilidade operacional no curto prazo, mas medidas emergenciais para corte de excedente renovável e flexibilização do licenciamento ambiental aumentam o risco regulatório e climático para projetos de longo prazo.

    No ambiente político-regulatório, o stress permanece alto, com prisão preventiva de ex-presidente, disputas no STF e pautas sensíveis no Congresso (anistia 8/1, reforma administrativa, apostas, fintechs, vetos ambientais), além de um contexto geopolítico fragmentado.

    2. Painel dos indicadores Radar 360

    Escala comum:

    −2 = fortemente negativo

    −1 = moderadamente negativo

    0 = neutro / misto

    +1 = moderadamente positivo

    +2 = fortemente positivo

    IndicadorValorDescrição resumida
    RBA – Risco Brasil Ampliado1Ativos em alta, apetite a risco positivo, mas com fiscal e política sensíveis
    PER – Pulso da Economia Real0Economia em “voo de cruzeiro”: sem crise, sem boom
    QTR – Qualidade do Trabalho e Renda-1Emprego formal positivo, porém renda fraca, informalidade e assimetria regional
    VTT – Vetor de Transformação Tecnológica e IA2Semana forte em IA, infraestrutura e observabilidade de agentes
    PEC – Pressão Energética e Climática-1Sistema estável no curto prazo, mas com decisões que elevam risco estrutural
    SPG – Stress Político-Regulatório e Geopolítico-2Conflito institucional elevado e cenário externo fragmentado

    3. Macro e mercados

    • Ibovespa: 159.072 pontos em 28/11, alta de 6,37% no mês, melhor desempenho em 15 meses, puxado por bancos, exportadoras e ações de dividendos.
    • Inflação: IPCA-15 em 0,20% no mês, 4,50% em 12 meses, no teto da meta, indicando desaceleração gradual.
    • PIB e fiscal: Projeção de PIB 2025 revisada de 2,3% para 2,2%; dívida bruta em torno de 78,6% do PIB mantém pressão fiscal; Selic elevada até o fim de 2025, cortes esperados apenas em 2026.

    O RBA em +1 reflete esse balanço: ativos animados e percepção de risco-país favorável, mas com fundamentos frágeis (dívida alta, crescimento modesto, ruído político). O ambiente é bom para operações de equity e empresas capitalizadas; para novos projetos intensivos em CAPEX, exige-se retorno elevado.

    4. Economia real e trabalho

    • Economia real: Sinais mistos. Indústria e serviços não aceleram; agro segue forte, com safra de soja robusta e exportações em alta.
    • Emprego: Geração formal positiva, mas inferior a 2024; informalidade e disparidades salariais regionais continuam elevadas; subocupação e desalento permanecem relevantes.

    PER em 0 indica economia em “cruzeiro operacional”: sem crise, sem boom. QTR em -1 reforça: desemprego baixo não garante mercado saudável – renda fraca, informalidade e assimetrias regionais comprometem a qualidade da recuperação.

    5. Tecnologia e IA

    • Google Gemini 3 Pro: Modelo multimodal para geração de conteúdo visual, com impacto direto em design, marketing e produto digital.
    • ScaleOps: Solução para reduzir em até 50% o custo com GPU em LLMs autohospedados, por meio de orquestração e otimização de recursos.
    • Salesforce: Ampliação de ferramentas de monitoramento e observabilidade de agentes de IA em produção, com telemetria detalhada e métricas de desempenho.

    VTT em +2 reflete avanços estruturais, não só anúncios pontuais. Organizações que ainda tratam IA como projeto periférico já perdem espaço para quem avança em arquitetura alvo (dados, modelos, infraestrutura e governança).

    6. Energia, clima e sustentabilidade

    • ONS: Previsão de crescimento da carga em novembro para 1,4% a.a., com hidrologia menos estressada.
    • Aneel: Aprovação de corte coordenado de excedente de energia renovável, com distribuidoras definindo critérios em 20 dias.
    • Licenciamento ambiental: Derrubada de vetos presidenciais ao PL, gerando críticas de “demolição” da proteção ambiental.

    PEC em -1 mostra o paradoxo: curto prazo estável, mas decisões aumentam risco estrutural para renováveis, infraestrutura e credibilidade ambiental do país. Modelos de “energia por assinatura” e projetos sem contratos sólidos ficam sob risco de prejuízo e judicialização.

    7. Política e regulação

    • STF: Prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro em 22/11, além de condenação de generais.
    • Composição do STF: Indicação de Jorge Messias acirra disputas.
    • Congresso: Câmara discute anistia 8/1 e reforma administrativa; Senado debate regulação de apostas, regras para fintechs, vetos ambientais.

    SPG em -2 reflete alto stress institucional, com várias frentes sensíveis ao mesmo tempo. Isso aumenta a incerteza sobre marcos regulatórios em setores como energia, infraestrutura, financeiro, telecom e economia digital.

    8. Cadeias globais e geopolítica

    • Conflitos na Ucrânia e Oriente Médio sem solução, afetando preços de energia e fertilizantes.
    • Tensões EUA x China pressionam preços de minerais críticos e semicondutores.
    • Eventos climáticos extremos (ex: seca no Canal do Panamá) expõem vulnerabilidades logísticas.
    • Ciberataques em operadores logísticos evidenciam riscos de continuidade operacional.

    Para o Brasil, é fundamental diversificar fornecedores, mapear tiers e usar IA para antecipar rupturas. Seguros, cláusulas contratuais flexíveis e planos de contingência ganham importância em logística, energia e insumos críticos.

    9. Matriz de correlação de eventos

    Clusters de eventos da semana e impacto qualitativo nos indicadores Radar 360

    • A – Ibovespa recorde, incerteza menor, projeções de inflação/juros mais benignas
    • B – PIB revisto para baixo, dívida alta, Selic elevada
    • C – Emprego formal positivo, renda baixa e informalidade elevada
    • D – Avanços em IA e tecnologia (Gemini 3 Pro, LLMs, observabilidade)
    • E – Energia: crescimento de carga, corte de excedente renovável, licenciamento ambiental
    • F – Política interna: prisão de ex-presidente, STF, pautas no Congresso
    • G – Geopolítica: guerras, G20 frágil, cadeias globais pressionadas
    Cluster de eventosRBAPERQTRVTTPECSPG
    A. Ibovespa recorde, incerteza menor, projeções de inflação/juros melhores210000
    B. PIB revisto para baixo, dívida alta, Selic elevada-1-1-1000
    C. Emprego formal com renda baixa e informalidade00-1000
    D. IA e tecnologia: modelos, infraestrutura, observabilidade110200
    E. Energia: carga, corte de excedente renovável, licenciamento ambiental-1000-2-1
    F. Política interna: prisão, STF, pautas sensíveis no Congresso-1000-1-2
    G. Geopolítica: guerras, G20 frágil, cadeias globais tensionadas-1-100-1-1

    Leituras:

    A eleva RBA e PER, consolidando ambiente pró-risco em ativos brasileiros.

    B e C pesam sobre PER e QTR, mostrando que crescimento e renda não acompanham o otimismo do mercado.

    D impulsiona VTT, reforçando a transformação tecnológica.

    E, F e G deterioram PEC e SPG, evidenciando riscos energéticos, climáticos, políticos e geopolíticos.

    10. Implicações para negócios

    • Capital e investimentos: Aproveitar o momento positivo da Bolsa para fortalecer o caixa, financiar projetos de produtividade, digitalização e eficiência energética. Ser rigoroso em projetos intensivos em CAPEX, priorizando retornos robustos e baixa exposição a riscos regulatórios e climáticos.
    • Mercado de trabalho e consumo: O planejamento comercial e de crédito deve levar em conta renda real, informalidade e diferenças regionais, além do desemprego agregado. Programas de qualificação em IA e competências digitais são fundamentais para melhorar a força de trabalho e a cadeia de valor.
    • Estratégia de IA e infraestrutura digital: Definir arquitetura alvo de IA (dados, modelos, infraestrutura, governança) e avançar além de pilotos dispersos. Priorizar casos de uso com ROI mensurável nos setores de energia, logística, financeiro e serviços.
    • Energia, clima e ESG: Revisar contratos de projetos renováveis expostos a cortes de excedente, ajustando matrizes de risco e cláusulas de reequilíbrio econômico-financeiro. Estruturar projetos de transição energética com governança ESG robusta, visando acesso a capital climático e resiliência de longo prazo.
    • Governança regulatória e geopolítica: Incorporar risco político-regulatório como dimensão estratégica de gestão de risco, com cenários e planos de contingência claros. Reforçar resiliência da cadeia de suprimentos por meio de diversificação, monitoramento contínuo com IA e proteção contratual e financeira.

    Como podemos ajudar

    O think-tank por trás do Radar 360 apoia empresas na tradução desse ambiente de alta complexidade em decisões concretas de negócio. A partir dos indicadores proprietários (RBA, PER, QTR, VTT, PEC, SPG) e da matriz de correlação de eventos, estruturamos análises personalizadas por setor, simulando impactos regulatórios, tecnológicos, energéticos e geopolíticos sobre portfólios, CAPEX, receitas e risco operacional. Esse trabalho se desdobra em estudos setoriais, matrizes de risco, cenários macro e setoriais, roadmaps de IA e energia e insumos para planejamento estratégico, orçamento e alocação de capital.

    De forma complementar, atuamos na capacitação de lideranças e equipes para que consigam internalizar esse tipo de leitura e aplicá-la no dia a dia. Fazemos isso por meio de mentorias executivas, cursos e workshops customizados, com foco em leitura de conjuntura, uso de dados e IA no processo decisório, governança de risco e desenho de cenários. O objetivo é construir organizações com capacidade analítica própria, menos reativa, mais preparada para navegar ciclos econômicos, choques regulatórios, transição energética e a adoção acelerada de tecnologias de Inteligência Artificial.