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Tech & Energy Think Tank

Think tank independente com foco em energia, tecnologia e tendências globais. Análises para apoiar decisões estratégicas com visão de impacto.

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Autor: Eduardo Fagundes

  • O modelo de infraestrutura de TI da Netflix deve ser seguido pelas empresas

    O modelo de infraestrutura de TI da Netflix deve ser seguido pelas empresas

    A Netflix é um exemplo de negócio disruptivo. Sua estratégia é fazer crescer o negócio de video streaming global, melhorando continuamente a experiência com os clientes com foco na expansão de conteúdo, melhorando a interface com os clientes e estendendo os serviços para todos os dispositivos conectados na Internet, dentro de metas de lucratividade.

    Em fevereiro de 2016, a Netflix anunciou que completou seu projeto de transferir toda sua infraestrutura de data centers para a AWS (Amazon Web Services). Isso mostra que hoje os data centers são serviços de consumo confiáveis para apoiar grandes negócios.

    Outro exemplo dos novos tempos é o uso intensivo de softwares open source pela Netflix. Eles utilizam o zoológico tecnológico do Hadoop e ferramentas analíticas disponíveis em open source. Ok, eles ainda usam o Teradata para algumas aplicações (afinal, eles podem com o faturamento que tem).

    Acredito que a Netflix hoje é um modelo de infraestrutura de TI para as empresas. Usam o modelo Cloud Computing em um provedor de serviços de data centers, apoiam seus principais serviços em software open source e focam na sua estratégia de negócios.

    A buzzword do momento é “business transformation”, nova roupagem para o e-Business (esses caras de marketing são bons). Uma verdadeira transformação de negócios usa intensamente novos paradigmas digitais. Os novos negócios exigem escalabilidade para serem lucrativos. Com o crescimento exponencial do uso de smartphones e dispositivos IoT (Internet of Things), abrem-se gigantescas oportunidades de novos produtos inteligentes que interagem com os clientes.

    Migrar para Cloud Computing elimina várias preocupações de capacidade computacional e segurança das empresas. Negócios escaláveis não podem ficar esperando aprovação e um longo processo de compras de servidores ou sistemas de armazenamento. Também, não para a empresa comprar uma capacidade imensa e deixar ociosa, isso quebraria a empresa. Os ataques cibernéticos estão cada vez mais sofisticados e profissionais. Hoje é possível contratar hackers para acabar com a reputação de um concorrente. Imaginar que uma pequena equipe de segurança na área de TI irá resolver o problema é pedir para ser enganado. Por mais competentes que sejam, não dá para ficar 24 horas ligado em tudo que acontece no underground da Internet.

    Agora, se sua empresa continuar pagando licenças de uso de softwares proprietários é melhor fechar a empresa agora para não perder dinheiro. Esse é uma boa dica para investidores, analisem a infraestrutura e os planos de TI das empresas que vocês têm ações e que pretendem investir. Se a empresa continuar no antigo paradigma de infraestrutura caiam fora.

    A exceção fica para os ERPs que apoiam os processos operacionais e legais, mas que podem substituir o banco de dados por um software open source. Dica: use o ERP na sua versão standard, nada de achar que sua empresa é diferente das outras em processos operacionais. Seu diferencial está em softwares de relacionamento com os clientes.

    Acho que podemos criar uma nova buzzword, Netflix IT infrastructure model.

    Nota: o único data center que restou na Netflix foi o do negócio de DVD. Afinal, não vale a pena investir em um negócio que vai acabar.

  • Você transforma seu conhecimento em oportunidades de melhoria?

    Você transforma seu conhecimento em oportunidades de melhoria?

    Depois de 100 anos de ser prevista por Albert Einstein em sua teoria da relatividade geral, as ondas gravitacionais foram finalmente detectadas com um nível de confiança de 99,99994%. As ondas gravitacionais são ondulações na curvatura do espaço-tempo que se propagam como ondas a partir de uma fonte. Isso comprova que a teoria da gravitação de Isaac Newton não descreve com exatidão a força de atração entre dois corpos. A teoria de Newton levou 111 anos para ser observada depois do seu livro Principia e 71 anos depois da sua morte.

    Em 11 de fevereiro, a LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) anunciou a detecção das ondas gravitacionais a partir de um sinal pela fusão de dois buracos negros com massas equivalentes entre 29 e 36 massas solares acontecido em torno de 1,3 bilhões de anos-luz de distância. A massa do novo buraco negro equivale a 62 massas solares e uma energia a 3 massas solares foi emitida como ondas gravitacionais. O sinal foi visto por dois detectores da LIGO, um em Livingston e outro em Hanford, com uma diferença de tempo de 7 milissegundos. O sinal veio do hemisfério celestial sul, na direção próxima das Nuvens de Magalhães.

    Esse fato, entusiasticamente, comemorado pela comunidade cientifica, semelhante ao anúncio da comprovação do Boson de Higgs, mostra a evolução da ciência e da tecnologia capaz de detectar fenômenos antes previstos apenas em teorias. Mostra também o quanto ainda estamos distantes de conhecer a nossa própria existência.

    Isso nos leva a pensar como que com tanto conhecimento disponível e agora difundido através da Internet ainda continuamos a viver no obscurantismo de ideias. O conhecimento deveria expandir a capacidade do homem de entender o Universo e transformá-lo em motor para melhorar o convívio e bem-estar das pessoas. Infelizmente, o conhecimento ao longo do tempo tem se mostrado um dos maiores opressores da humanidade.

    Por outro lado, a falta de capacidade de aplicar o conhecimento adquirido também gera impactos negativos na vida das pessoas, nas empresas e no desenvolvimento econômico das nações.

    Pare para pensar um pouco. Quanto do conhecimento que você tem é traduzido em qualidade de vida, eficiência e produtividade para a sua empresa? Porque com todo o seu conhecimento você não consegue remover obstáculos para implementar ações positivas na sua vida e na sua empresa? Como você avalia o impacto dos novos conhecimentos no seu dia-a-dia, tanto pessoal como profissional?

    O conhecimento é inútil se não for transformado em ações para melhorar alguma coisa. Não transformar conhecimento em oportunidades de melhoria é se manter no obscurantismo da Idade Média, onde questionar dogmas era proibido e corria-se o risco de ir para a fogueira. Infelizmente, parece que muitas culturas empresariais ainda vivem na Idade das Trevas, mas você não precisa acompanha-las. Liberte-se.

  • Melhor investir em certificações de entidades de profissionais ou obter uma titulação acadêmica?

    Melhor investir em certificações de entidades de profissionais ou obter uma titulação acadêmica?

    Investir em curso é como qualquer outro investimento, busca-se algum tipo de retorno. Pode ser apenas uma satisfação pessoal ou ganhos adicionais do dinheiro investido. Dentro deste contexto, temos que avaliar o retorno no curto, médio e longo prazo.

    A certificação é uma declaração formal de “ser verdade”, emitida por uma autoridade legal ou moral depois de um processo formal de verificação. Dentro dessa definição se enquadram entidades acadêmicas e instituições formadas por profissionais especializados, incluindo empresas que treinam profissionais para trabalharem com seus produtos.

    Buscar uma certificação em um produto é um investimento de curto prazo, diria de curtíssimo prazo, pois os ciclos de vidas dos produtos estão cada vez menores. Investir em como configurar um software, provavelmente, será valido para os próximos seis meses.

    Certificações para desenvolver ou operar processos desenvolvidos por entidades de profissionais especializados têm duração mais longa, pois usam metodologias e replicam práticas que foram utilizadas com sucesso em outros lugares. Isso acelera a curva de maturidade de processos das empresas e, consequentemente, sua competitividade no mercado.

    Na maioria dos casos, as certificações de profissionais avaliam apenas o conhecimento técnico e não as habilidades comportamentais para que garantem a efetiva implantação dos processos. Embora algumas entidades exijam cartas de recomendação e comprovação de experiência em algumas áreas, os certificados emitidos podem não garantir a efetiva capacidade de um profissional implantar um novo processo ou projetos de alta qualidade.

    Provavelmente, seja mais vantajoso para uma empresa investir em uma auditoria para avaliar se um projeto está dentro das especificações de uma norma internacional, um processo conhecido como accreditation, do que pagar provas de certificação para seus funcionários.

    Células de melhoria contínua de funcionários usando casos reais para auto aprendizado são mais eficientes que muitos treinamentos formais. Essas células criam engajamento do pessoal e fomentam a inovação. O desafio do trabalho ser avaliado por uma auditoria interna ou externa é motivador e as pessoas dão o máximo.  Para adquirir conhecimento externo, a leitura de artigos técnicos e livros, participação em seminários e reunião com fornecedores são importantes. Eventualmente, a participação de um consultor experiente nessas células acelera a convergência para o resultado final.

    Pessoalmente, não recomendo que profissionais busquem certificações de forma independente sem o apoio da empresa, pela simples razão que eles não terão como aplicar de forma imediata, neutralizando todo o esforço e dinheiro investido.

    Agora vamos analisar o investimento em uma titulação acadêmica. Esse é um investimento de médio e longo prazo. A proposta de um curso acadêmico não é apenas transferir conhecimento, e sim habilitar os alunos a construir o conhecimento e desenvolver habilidades de relacionamento e trabalho em equipe. Como o aluno estará mais tempo envolvido com os estudos, os conceitos e a aplicação deles em projetos acadêmicos (muitos relacionados com questões práticas das empresas) é melhor absorvido e passam a fazer parte do seu perfil como profissional.

    Uma vantagem adicional da titulação acadêmica é a possibilidade de no futuro o aluno se tornar professor, ampliando seu leque de oportunidades profissionais. Conheço vários profissionais extremamente competentes que não podem dar aula por falta de uma titulação acadêmica.

    A escolha de um ou outro curso é uma decisão pessoal e depende do momento profissional de cada um. Entretanto, avalie cuidadosamente as opções para evitar gastar seu tempo e dinheiro desnecessariamente.

  • Energia assume alto nível de risco em análises de continuidade dos negócios

    Energia assume alto nível de risco em análises de continuidade dos negócios

    Após um aumento médio de 45,98% na conta de energia da indústria e uma alta prevista entre 5% e 10% (mesmos com a queda das bandeiras tarifárias), muitas empresas estão reavaliando seus negócios. Sem a mão do governo o aumento poderia ser de 12% a 15%, mas como conhecemos a história de muito intervencionismo do governo essa conta virá mais cedo ou mais tarde. Entretanto, existem outros fatores que as empresas devem se preocupar e desenvolver planos de contingência para o fornecimento de energia, entre eles ataques cibernéticos a rede pública de transmissão e distribuição de energia e as mudanças climáticas.

    Ações de eficiência energética são fundamentais para garantir o uso racional de energia, incluindo renovação do parque de máquinas instalado por equipamentos mais eficientes, a troca da iluminação convencional por lâmpadas LED, revisão periódica do sistema de ar condicionado e ações administrativas e educacionais contra o desperdício de energia.

    Veja o caso da operadora de telecomunicações Oi. Ela gastou R$1,1 bilhão em energia em 2015, o equivalente ao consumo de 750.000 residências. Diante desse fato, eles estão construindo um parque solar com investimento de R$1 bilhão para atender cerca de 15% da energia consumida.

    Outra medida para reduzir os custos é a migração para o mercado livre de energia, onde atualmente os preços por MW estão na faixa de R$30,25 nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste.

    Combinando ações de autoprodução de energia, eficiência energética e mercado livre é possível reduzir os custos de energia no curto e médio prazo.

    Uma questão polêmica é se teremos energia disponível para garantir o crescimento da economia brasileira a partir de 2018-19. O setor elétrico está relativamente tranquilo porque a recessão econômica reduziu o consumo de energia pela redução da atividade econômica e pelo controle da demanda dos consumidores devido aos altos custos de energia. Muitas concessionárias de energia estão se recapitalizando depois do desastre da MP 579/2013, transformada na Lei nº 12.783, que criou novas regras para a renovação das concessões de geração e transmissão de energia. A Aneel, está realizando novos leilões de energia para aumentar a capacidade de geração, muitos deles para energia fotovoltaica e eólica. Existe uma disposição do governo para explorar o gás de xisto (shale gas) que tem custos menores que o gás natural, porém tem enfrentado forte resistência das comunidades onde se encontram nossas reservas, devido ao alto risco de vazamento e contaminação dos rios e lençóis freáticos. Por outro lado, precisamos de energia de base que garanta o fornecimento contínuo de energia, fato que não ocorre com as energias fotovoltaicas e eólicas devido as variações bruscas do vento e da irradiação solar (nuvens, por exemplo).

    Outro desafio é enfrentar as mudanças climáticas. Estamos presenciando a cada dia eventos extremos do clima, em Porto Alegre um forte temporal deixou mais de 250 residências sem energia por várias horas. O Sistema de Vigilância Meteorológica de Porto Alegre informou que foi uma tempestade incomum pela violência e longa duração (quase uma hora), uma das mais intensas das últimas décadas.

    Um evento desses que interditou várias ruas e avenidas mostra que a logística de distribuição de alimentos, combustíveis e encomendas pode ser dramaticamente afetada. Isso significa que aquele grupo gerador a diesel adquirido para emergência pode ter tempo limitado de funcionamento.

    Outro evento extremo que presenciamos foi a longa estiagem na região Sudeste que afetou os níveis dos principais reservatórios de água que abastecem as grandes cidades e as usinas hidrelétricas. O resultado foi a falta de água em várias regiões e o aumento brutal do custo da energia pelo acionamento das usinas termelétricas, somado com a baixa adesão das geradoras as novas regras de concessão, o mercado spot de energia chegou a R$822,83/MW. O mercado spot é a energia disponível comprada para atender a demandas extras fora dos contratos entre as geradoras e distribuidoras de energia.

    A região Sudeste é fértil por uma combinação de fatores que mostra que Deus é brasileiro. Graças as correntes úmidas que vêm da região amazônica e a Mata Atlântica temos uma área produtiva que permite uma agricultura forte e chuvas regulares para manter o abastecimento de água de reserva. Diferente de outras regiões na mesma longitude, onde encontramos regiões desérticas, como o deserto do Atacama no Chile, o deserto do Kalahari na África do Sul e o deserto australiano. A má notícia é o desmatamento da região amazônica e da Mata Atlântica, onde a ação do homem está destruindo nosso bioma.

    Os mais pessimistas preveem que a nossa região Sudeste pode voltar a ser desértica como no período entre os anos 1.000 e 1.300, segundo estudos geomorfológicos. Imagine as consequências para uma cidade como São Paulo ficar no meio de um deserto com altas temperaturas e sem água. Muitos deixarão a cidade e a economia colapsará. Como parte da cidade de Santos estará inundada pelo aumento do nível do mar devido ao degelo das calotas polares, a opção será ir para o interior.

    Como se não bastasse ainda temos o risco de ataques cibernéticos ao sistema elétrico. Na busca de eficiência de operação e redução de custos, o sistema elétrico está se digitalizando e, consequentemente, assumindo os riscos inerentes a tecnologia da informação. Se há 40 anos atrás já era possível construir sistemas de rádio com esquemáticos da revista Eletrônica Popular e do curso por correspondência do Instituto Universal Brasileiro para transmitir música no horário da Hora do Brasil na mesma frequência de uma rádio popular, imagine hoje com toda a informação disponível na Internet e o poder computacional da AWS (Amazon Web Services) para quebrar senhas fortes.

    As concessionárias de distribuição de energia estão construindo suas próprias redes de comunicação para suporte os novos serviços de redes inteligentes, o Smart Grid. Isso porque não confiam no serviço das atuais operadoras de telecomunicações. Com razão, uma vez que os níveis de serviços não são bons. Segundo a Anatel, a média de atingimento dos 14 indicadores de qualidade dos serviços da Resolução nº 575/2011 é de apenas 68,1% para telefonia móvel e de 70,4% da telefonia fixa (1T2015). Obviamente, não é possível apoiar um sistema de missão crítica para acionamento de equipamentos de proteção com esses níveis de serviço.

    Cada concessionária de distribuição de energia está adotando, ou testando como elas afirmam para usar os 0,25% do fundo obrigatório de P&D da Aneel, em sistemas de comunicação próprios, muitas utilizando o sistema de comunicação com nós de rádio organizados em uma topologia mesh, ou seja, os roteadores e gateways se comunicam uns com os outros através dos rádios, usando protocolos 802.11, 802.15 ou 802.16.

    Como sabemos não existem sistemas totalmente seguros. Os sistemas de topologia mesh apresentam vulnerabilidades nos protocolos de roteamento, no controle de acessos e autenticações, ameaças na segurança física e na detecção de intrusões.

    O grande desafio é encontrar o ponto de equilíbrio entre as camadas de proteção, como senhas fortes e criptografia, e garantir o tempo de resposta mínimo para acionamento de um dispositivo de proteção do sistema elétrico. Os equipamentos mais antigos não possuem capacidade de processamento para adotar procedimentos mais seguros sem comprometer o tempo de resposta. Imagine o envio de um comando para abrir um seccionador de energia e ele demorar para executar a ação, como as vezes acontece no nosso smartphone. Esse mesmo problema pode ocorrer se algum hacker estiver atacando o sistema. Isso poderá gerar um apagão de energia (blackout).

    Como vimos nossas empresas estão a mercê de um potencial problema de continuidade de negócios. O que fazer para assumir o controle ou pelo mesmo parte dele? Distribuindo a operação da empresa e adotando programas de eficiência energética e autoprodução de energia.

    Se sua empresa não tem uma cultura de inovação e um planejamento de longo prazo você não precisa se preocupar com isso, pois sua empresa deixará de existir antes da falta de energia e das mudanças climáticas.

    Se pretende fazer sua empresa durar, você precisa redefinir seu planejamento fazendo análises de risco considerando o fornecimento de energia e as mudanças climáticas. Busque alternativas de autoprodução de energia e locais onde a energia é mais barata. A Honda investiu R$100 milhões em um parque eólico em Xangri-lá no Rio Grande do Sul para fornecer energia para sua fábrica em São Paulo. O governo do Paraguai está oferecendo a energia da sua parte de Itaipu muito mais barata que no Brasil. Avalie as simulações de clima para decidir onde instalar suas próximas fábricas. A empresas de seguro estão fazendo isso e podem oferecer valores menor de seguro em regiões de baixo risco. Se você exporta, avaliar se instalar em uma ZPE, Zona de Processamento de Exportação, e ganhar duplamente em benefícios fiscais e redução de riscos operacionais.